OPINIÃO Ano XIII – Nº
140 Abril 2007
Neste 18
de abril de 2007 comemora-se o sesquicentenário de lançamento da primeira
edição de O Livro dos Espíritos,
marco inicial e obra fundamental do espiritismo. Com esse livro, Allan Kardec
legou ao mundo as bases teóricas de uma ciência e de uma filosofia cujos
princípios, plenamente atuais e vigentes, convidam o homem a uma profunda
transformação ética e moral.
A atualidade de O Livro dos Espíritos
O Centro Cultural Espírita de Porto
Alegre integra um segmento que propõe a permanente atualização do espiritismo.
Isso não significa considerar O Livro dos
Espíritos uma obra superada. Ao contrário, as reflexões que se fazem em
nosso âmbito sustentam a atualidade da proposta espírita, cujas idéias
fundamentais estão magistralmente expostas na obra lançada por Allan Kardec em
18 de abril de 1857.
Incoerência? Evidentemente, não.
Basta atentarmos para a distinção existente entre princípios e regras
(tecidas estas últimas pelos costumes, crenças, legislações, ou características
culturais e desafios sociais de cada tempo e lugar). Os princípios expostos em O Livro dos Espíritos são permanentes.
Existência de Deus, como inteligência suprema e causa primeira; sobrevivência e
comunicabilidade dos espíritos; evolução; pluralidade de mundos habitados; lei
de causa e efeito a reger a vida física e moral; etc., são princípios
integrantes daquilo que Kardec e os espíritos classificaram como lei natural,
“eterna e imutável”. A aplicabilidade desses princípios no mundo, sua adequação
aos padrões da ciência, sua didática, sua linguagem, seus métodos de investigação,
etc., estes são fatores que reclamam permanente atualização num mundo em
constante mutação.
O espiritismo tem uma clara vocação
para sintetizar uma nova visão de homem e de mundo que parte da realidade
fundamental do espírito. Se essa perspectiva está correta, ela, evidentemente,
não se circunscreverá ao acanhado âmbito do espiritismo. Este, quando
universalizadas suas propostas, talvez não seja mais que um referencial
histórico, sem razões para subsistir como movimento autônomo. E O Livro dos Espíritos nem por isso
estará superado. Sua essência – não, necessariamente, sua linguagem, nem seus
métodos, nem suas análises vinculadas ao tempo e à cultura em que foi produzido
– estará integralmente preservada e confirmada.
É nesse contexto e dentro dessa visão
que saudamos O Livro dos Espíritos,
nos seus 150 anos, não como um livro sagrado ou profético, mas como marco de um
novo tempo em permanente construção pelo esforço coletivo e plural da
humanidade encarnada e desencarnada, na sua inquebrantável vocação progressista.
(A Redação).
Os inventores do pecado
Imaginem
um homem e uma mulher que muito se amam: são ternos, amigos, fazem amor, geram
filhos. Mas, segundo a igreja, estão em estado de pecado: falta ao
relacionamento o selo eclesiástico legitimador.
(Rubem
Alves,
Às vésperas de visitar o Brasil, o
papa Bento XVI publicou carta apostólica onde classifica o segundo casamento
como uma praga (vá lá que seja uma chaga, segundo se apressaram alguns em
corrigir a tradução do vocábulo italiano “piaga” usada pelo pontífice).
Daqui a uns dias, quando for
ovacionado, segundo as tradições de nosso povo, como se fosse um enviado dos
céus, na Basílica de Aparecida, haverá, por certo, entre a multidão, milhares
de pessoas casadas pela segunda, terceira ou quarta vez. Quando aqui esteve, seu antecessor, que
sustentava as mesmas idéias, teve seus pés beijados por um famoso cantor,
acompanhado de sua terceira ou quarta mulher, que, também ela, se prostrou,
reverente, ante o pontífice.
Não merecem crítica. Quando se trata
de fé, não é justo exigir coerência e racionalidade de ninguém. Nem dos
pastores, nem de seu rebanho. Aqueles, protegidos por uma aura de sacralidade,
sustentam dogmas capazes de perpetuar o medo entre as ovelhas. Estas, no
entanto, mesmo atormentadas pela culpa inventada pelo pecado, muitas vezes
optam pelas leis da vida, sem, no entanto, conseguirem se libertar da prisão do
dogma. É a herança produzida por aqueles que, segundo Chico Buarque de Holanda,
inventaram o pecado, mas esqueceram-se de inventar o perdão.
Posicionando-se contra o dogma que
encarcera e em favor das leis divinas (ou naturais) que libertam, há 150 anos,
lançou-se
Os homens mudaram suas leis, mesmo
contra o arbítrio daqueles que inventaram o pecado e insistem em não
“desinventá-lo”. Os crentes, é verdade, por um medo atávico que lhes penetrou
as fímbrias da alma , ainda dobram os joelhos, contritos, ante o dogma e seus
representantes. Mas já não conseguem deixar que razão e sentimentos fluam em
suas vidas, dando curso às leis soberanas e inderrogáveis da natureza. Pouco a
pouco, compreendem que as leis da natureza são as mesmas leis divinas e que
destas dá eloqüente testemunho a própria consciência humana.
Na
Basílica de Aparecida, haverá, por certo, entre a multidão, milhares de pessoas
casadas pela segunda, terceira ou quarta vez.
Opinião em Tópicos
Milton R. Medran Moreira
Chico
Xavier
Quando Chico Xavier ainda se
encontrava entre nós foi vítima de muita exploração e de crendices que se
divulgavam
O
avanço do espiritismo
Agora, segundo me informa o Ademar
Arthur Chioro dos Reis, está circulando na Internet uma espécie de novena.
Enviam um santinho com a figura do Chico, com dizeres mais ou menos assim:
“Estou com Deus. Estive
Ao ver esse tipo de coisa, fico a me
perguntar: as pessoas que procedem dessa forma, quando perguntadas sobre qual
sua religião, responderão que são espíritas? Se muitas ou alguma parcela delas
se declaram espíritas, então estamos diante de um fenômeno que compromete e
contamina radicalmente os censos e as reportagens que se publicam sobre o
chamado avanço do espiritismo no Brasil.
O
perfil dos espíritas
O censo de 2.000 consignou a
existência de 2.337.432 espíritas no Brasil, representando 1,38% da população
de nosso país. As reportagens que estão se tornando freqüentes nas grandes
revistas nacionais apontam para um crescimento bem superior ao dos censos e
estatísticas.
Mais importante que sabermos quantos
espíritas existem no país, será termos o perfil daquelas pessoas que se
declaram espíritas. Isso é o que vai conferir a identidade cultural do
espiritismo O crescimento da chamada “religião espírita” indica, em nível pelo
menos aproximado, um efetivo crescimento do conhecimento doutrinário espírita? Ou
será que uma coisa nada tem a ver com a outra?
Em mensagem ditada na Federação
Espírita Brasileira, em 1984, quando das comemorações do centenário da
entidade, Allan Kardec (espírito), pela psicografia do médium Júlio Cezar
Grandi Ribeiro, teria externado uma preocupação a esse respeito, ao consignar:
“A Codificação Espírita ainda se vê essencialmente desconhecida de tantos
corações que se rotulam de espiritistas, conquanto o movimento regenerador de
almas permaneça lucidamente de pé em terras brasileiras.” (Reformador, março 84).
Regenerar
e libertar
Pela seriedade do médium, ambiente
em que foi produzida e pela própria coerência kardequiana, não há porque
duvidar da autenticidade da mensagem psicografada em pleno cenáculo da FEB. Ela
convida a uma reflexão muito oportuna para estes 150 anos do espiritismo. Ou
seja: regenerar almas é ótimo e as religiões, em geral, se preocupam com isso.
Mas a doutrina espírita, exposta na chamada “codificação”, busca bem mais.
Propõe um novo paradigma de conhecimento, que parte da realidade fundamental do
espírito e que tem como inabalável fundamento a razão.
Há uma forma mágica e outra racional
de ver a vida. O espiritualismo, gênero a que, como espécie, pertence o
espiritismo, pode situar-se numa e noutra corrente. As religiões, adotando
rituais de raízes míticas e mágicas, apostam nisso para seu crescimento. Mas, o
espiritismo tem uma concepção racional de universo, de homem e de mundo.Quando,
buscando o mero crescimento, fazemos concessões à magia e ao mito, poderemos
até “regenerar almas”, mas estaremos adiando a tarefa fundamental de libertar
espíritos.
Espiritnet completa 10 anos com 10.000
internautas cadastrados
A Espirit Net, site
espiritualista criado e coordenado por
Fazendo divulgação do pensamento de
várias correntes espiritualistas, tais como espiritismo, budismo, hinduísmo,
etc., a Espirt Net também veicula mensalmente as versões eletrônicas do jornal Opinião e do boletim América Espírita.
Para
Henrique faz um apelo, neste seu 10º
aniversário: “É que todos vocês se empenhem e procurem lembrar quais de seus
amigos merecem receber um convite para participar dessa comunidade especial!”.
Espirit Net - A sua Comunidade Espiritualista na Internet tem este endereço na
rede web:
http://www.espiritnet.com.br
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Neste dia 2 de abril, como acontece sempre na primeira
segunda-feira do mês, ocorre uma palestra pública, às 20h30, no Centro Cultural
Espírita de Porto Alegre.
O expositor da noite será o
engenheiro
Alexrande discorre sobre o tema
“Evolução Espiritual – Do surgimento da vida aos dias de hoje”.
Livro
dos 70 anos ainda pode ser adquirido no
O
livro que conta a história do Centro Cultural Espírita de Porto Alegre e das
mudanças que protagonizou nas últimas décadas ainda pode ser encomendado. Uma
obra indispensável para quem pretende conhecer um pouco da história do
espiritismo no Rio Grande do Sul e no Brasil.
(Anúncio do livro).
Manhã de 18 de Abril
Amilcar Del Chiaro Filho *
Neste mês de abril, O Livro dos Espíritos completa 150
anos. Se lembrarmos a manhã de 18 de abril de 1857, quando o livro surgiu na
livraria Dentú, de certa forma timidamente, pois dele não se fizera propaganda,
porque ainda não tinha sido liberado pela censura do governo ditatorial de
Napoleão III e ao examinarmos os milhões de exemplares vendidos nestes 150
anos, certamente ficaremos agradavelmente surpreendidos.
Se a segunda edição saiu apenas em 1860, porque o livro foi aumentado
de 501 para 1019 perguntas e inseridos muitos ensaios e comentários do próprio
Kardec e dos espíritos, surpreendemo-nos mais uma vez ao saber que, quando o
corpo de Kardec estava sendo sepultado, estava saindo a 16ª edição francesa,
sem contar as inúmeras edições em outras línguas, especialmente o espanhol e o
português.
Herculano Pires escreveu uma linda e objetiva introdução para a
Editora LAKE, na qual, até hoje, encontramos a beleza, singeleza e lucidez de
um texto escrito com cérebro e coração. Leiam este pequeno trecho:
"Nunca
houve um diálogo como este. Jamais um homem se debruçou, com toda segurança do
homem moderno, nas bordas do abismo do incognoscível, para interrogá-lo, ouvir
as suas vozes misteriosas, contradizê-lo, discutir com ele, e afinal
arrancar-lhe os mais íntimos segredos. E nunca, também, o abismo se mostrou tão
dócil, e até mesmo desejoso de se revelar ao homem em todos os seus
aspectos."
Neste pequeno texto encontramos um verdadeiro filão de ouro de conhecimentos. Mais ou menos na mesma época de Kardec, através do microscópio inventado por Lewenhok e aperfeiçoado por outros, Pasteur lançou o seu olhar perquiridor sobre o mundo dos infinitamente pequenos, para descobrir os microorganismos causadores de doenças. Kardec, não sendo ele próprio médium, como Pasteur não era o microscópio, utilizou médiuns, e debruçou-se sobre o abismo da morte, do mundo dos espíritos, para interrogar e dialogar com os seus habitantes.
Nunca o abismo, ou os moradores deste mundo invisível para nós,
mostrara-se tão dócil e tão desejoso de se revelar. Kardec não se limitou a se
debruçar sobre o abismo. Usando a mediunidade como ponte, ele penetrou esse
mundo, e para conhecê-lo bem, não se limitou a conversar com meia dúzia de
espíritos, o que lhe daria uma falsa idéia deste mundo, e sim, milhares de seus
habitantes.
Ele mesmo escreveu que para se conhecer as condições de vida de uma
cidade, não se pode conversar apenas com uma classe social, mas com
representantes de todas as classes sociais.
Feito o contato, os meios se multiplicaram, e com segurança, todos nós
podemos nos debruçar sobre esse abismo e contatar os que julgamos mortos.
O Espiritismo veio trazer uma grande contribuição às religiões, a
prova provada da imortalidade, porém seus ministros e sacerdotes recusaram essa
colaboração e o anatematizaram, porque perceberam que, com o Espiritismo,
perdiam a chave que lhes dava o poder, porque era a chave que abria as portas
do céu e do inferno.
Cento e cinqüenta anos de O Livro dos Espíritos, e a
nossa maior homenagem, ainda deve ser o estudo constante e aprofundado desta
obra, que se constitui, para nós, como o mais importante livro da humanidade.
Allan Kardec
debruçou-se sobre o abismo da morte, do mundo dos espíritos, para interrogar e
dialogar com os seus habitantes.
* Amílcar Del Chiaro Filho, importante
líder e comunicador espírita que residia na cidade de Guarulhos/SP, desencarnou
no dia 30 de novembro de 2006.
Nota
do editor: O texto acima nos foi enviado por Amílcar, no ano
passado, ao ensejo dos 149 anos de O
Livro dos Espíritos. Esta editoria tomou
a liberdade de fazer pequenas alterações no texto original, apenas substituindo
as referências ao 149º aniversário da obra por alusões à efeméride ora
comemorada do sesquicentenário. Não temos dúvida de que Amílcar nos autoriza
essas alterações, atualizando sua e nossa homenagem a Allan Kardec pela
passagem dos 150 da Doutrina Espírita.
Os senhores do Centro Cultural
Espírita de Porto Alegre sabem muito bem do quanto foram importantes para mim.
Continuam sendo importantes, é claro, porque acompanho essa linda caminhada,
através do Opinião que, normalmente,
recebo, e aquela energia gostosa de amigos queridos chega a mim junto com o
jornal.
Aproveito essa oportunidade para,
nas pessoas dos senhores, parabenizar a CEPA pelo trabalho que realiza, agora
com mais um motivo: o ingresso do Movimento Espírita no Conselho Nacional de
Saúde, através do Sr. Néventon Vargas, Secretário de Comunicação Social da
CEPA.
Que realmente possamos contribuir
mais para a saúde e paz das pessoas, nesses tempos que nos chegam tão
desafiadores.
Lucy Ramos da Silva – Centro Cultural Espírita Jardelino Ramos.
Caxias do Sul/RS.