OPINIÃO Ano XIV – Nº 150  Março 2008

Por que o ser humano acredita em Deus?

Editorial: Crente x liberdade de imprensa

Nossa Opinião: O fator Deus e o fator homem

Notícias: CCEPA investe nas bases do conhecimento espírita//  Pense – Pensamento Social Espírita

Enfoque :  “Destruição criativa”, e desigualdades

Opinião do Leitor

 

 

Por que o ser humano acredita em Deus?

 

Investigadores britânicos vão desenvolver uma abordagem científica sobre a crença em Deus e outros temas relativos à natureza e à origem da crença religiosa.

 

Uma pesquisa de dois milhões e meio de euros

A notícia foi publicada pelo jornal The Times de 19 de fevereiro último: Um grupo de cientistas da Universidade de Oxford, Reino Unido, vai gastar dois milhões e meio de euros para descobrir por que as pessoas acreditam em Deus.

Os investigadores do Centro Ian Ramsey para a Ciência e Religião e do Centro de Antropologia e da Mente, em Oxford, não tentarão responder se Deus existe ou não. Pretendem investigar se a crença em Deus foi um fator que contribuiu para a sobrevivência e evolução da espécie humana, ou se, ao contrário, a fé é um produto dessa evolução.

 

Fenômeno natural?

O psicólogo Justin Barret, que integra a equipe, entende que a crença em Deus é um fenômeno natural na espécie humana. Para o pesquisador, da mesma forma que a tendência de todas as crianças é acreditar na onisciência dos adultos, o ser humano guarda por toda a existência a crença em um ser onisciente, que é Deus. Para ele, essa atitude da criança “é necessária para permitir que os seres humanos se socializem e cooperem”, e que, “mesmo atenuada pela experiência ao longo do crescimento, perdura no que diz respeito à crença em Deus”. Conclui dizendo que “acreditar é intuitivo e natural”.

A questão da sobrevivência após a morte

A pesquisa a ser feita com recursos financiados pela Fundação John Templeton, que apóia estudos sobre religião, ciência e espiritualidade, deverá durar três anos. Será investigada também a crença na vida após a morte, mas apenas sob aspectos psicológicos e sociológicos. Os pesquisadores pretendem averiguar se ela resulta de ensinamentos ou se é uma característica inata do homem, produto da seleção natural. Os cientistas vão relacionar essas questões da espiritualidade com a biologia evolutiva, recorrendo ainda a outras disciplinas científicas ligadas à mente, à neurociência e à lingüística.

 

Nossa Opinião

O fator Deus e o fator homem

            Malgrado, hoje, pensadores eminentes afirmem poder, definitivamente, provar que Deus não existe, uma coisa é inegável: o “fator Deus” subsiste, firme, na alma de todos os povos. Os conceitos, sempre provisórios e mutáveis da ciência, não conseguem abalar esse valor intuitivo presente em todos os tempos e épocas. Léon Denis, pensador espírita francês, detectou: “A Ciência, à proporção que se adianta no conhecimento da Natureza, tem conseguido fazer recuar a idéia de Deus, mas esta se engrandece, recuando”.

            Tanto quanto a ciência, também a fé religiosa envolve conceitos provisórios que se contrapõem ao dinamismo do conhecimento. O espiritismo, no que se refere a Deus, adotou uma concepção que vai além dos arcaicos conceitos religiosos da divindade judaico-cristã. Quando O Livro dos Espíritos conceitua Deus como “inteligência suprema e causa primeira de todas as coisas”, propõe a superação da concepção ainda vigente de um deus pessoal (na fé cristã, representado por três “pessoas”), para buscar uma visão de Deus universal, cósmica e de um absolutismo que paira acima de todos os relativismos humanos. Com essa amplitude de visão, o espiritismo encara o fator Deus como um valor filosófico fundamental, indispensável, mas cuja compreensão está além da capacidade humana. Por isso, ao contrário das religiões, o objeto central da proposta kardeciana é o espírito e não a divindade.

            É natural, pois, que nos entusiasme mais a idéia da investigação preferencial da questão da sobrevivência humana após a morte física do que a da crença em Deus. Mas o ideal seria se essa pesquisa não se circunscrevesse a meros conteúdos sociológicos e partisse para experiências concretas e factualmente demonstráveis. No caso noticiado, entretanto, a fundação patrocinadora, reconhecidamente vinculada a uma organização cristã, pode estar, a priori, comprometida com dogmas que não a deixam inteiramente à vontade para uma pesquisa científica sobre a verdadeira natureza, origem e destino do espírito. Daí a tendência de derivar para aspectos laterais, fugindo, da questão central. Por isso mesmo, a nós, espiritualistas livre-pensadores, abertos à honesta e ampla pesquisa científica, causa certa frustração notícia como esta de que se vai investigar o imponderável, deixando-se sempre de lado questões bem mais suscetíveis à  experimentação científica.

            Ou, para sermos mais claros: os dias de hoje, emparedados, entre o materialismo cego e a crença fanática, se ressentem de pesquisadores como William Crookes, Gustavo Geley, Ernesto Bozzano, Friedrich Zöllner, e tantos outros que, nos séculos 19 e 20, superando o preconceito científico ou o temor religioso, direcionaram claramente o objeto de suas pesquisas para o fator humano, considerado este na sua dimensão espírito-matéria. É de se perguntar: o que seriam aqueles homens capazes de fazer, hoje, caso dispusessem dos modernos recursos de pesquisa, e com uma fundação que lhes pusesse em mãos 2 milhões e meio de euros? (A Redação)

 

Editorial

 

Crentes x liberdade de imprensa

 

A grande ouvidoria do brasileiro é a imprensa. O Estado não tem ouvidos
(
Marco Antônio Villa, historiador e professor universitário)

 

            Um fato sem precedentes movimentou setores da imprensa e do Judiciário, no último mês de fevereiro. Tudo teve início com a publicação, na Folha de São Paulo, de uma reportagem da jornalista Elvira Lobato sobre o império da Igreja Universal do Reino de Deus, no Brasil. Segundo a matéria, em 30 anos de existência, a IURD tornou-se detentora de um patrimônio imenso, distribuído nominalmente entre seus bispos. Dezenas de emissoras de rádio e TV, imobiliárias, seguradoras, jornais, empresas de táxi aéreo, etc., formam esse império, sob a visível e indisfarçável coordenação do fundador da Igreja, o bispo Edir Macedo. Trata-se de imensa fortuna, nascida, como se sabe, da pregação religiosa e da prática imposta a seus crentes da contribuição monetária e regular de valores em dinheiro, sob a forma do dízimo.

            Os fatos são facilmente comprováveis, incontroversos e de domínio público. Mesmo que, em tese, possam dissimular abjetas formas de lavagem cerebral, as atividades dessa e de outras tantas igrejas estão respaldadas por norma constitucional garantidora da liberdade de crença. Em princípio, adere a esses cultos e assume suas decorrentes obrigações quem quer. Cabe à imprensa, no entanto, investigar e apontar a responsabilidade social desses conglomerados que, em nome da fé, abocanham fatias cada vez mais amplas de concessões públicas de rádio e televisão. Só essa organização religiosa já detém hoje 23 canais de televisão e 40 emissoras de rádio, no país, embora a titularidade nominal das empresas de comunicação pertença a “pastores” e “bispos” da IURD, como denuncia a reportagem da Folha.

            A partir da publicação da matéria jornalística, começaram a pipocar por diferentes fóruns de todo o Brasil ações criminais intentadas por pessoas que se qualificaram como “crentes” da referida igreja, contra o periódico e a jornalista. Declaravam-se ofendidos pela reportagem e, por isso, avocavam legitimidade para a demanda. O curioso é que as petições iniciais, distribuídas em fóruns os mais distantes desse imenso país e firmadas por diferentes advogados, tinham características comuns, inclusive com idêntica redação, o que denunciou tratar-se de uma formidável orquestração jurídico-processual, feita com o objetivo de obstaculizar a ampla defesa dos réus que, simultaneamente, deveriam comparecer a varas criminais do Rio Grande do Sul ou do Rio Grande do Norte, entre outros tantos e distanciados pontos geográficos. Não foi difícil concluir: o que se visava era tumultuar de tal forma os procedimentos judiciais que a jornalista e a empresa a que pertence dificilmente deixariam de ser condenadas, pois que a manobra impossibilitaria seu comparecimento a todos os pretórios em um mesmo tempo para se defenderem.

            Graças, novamente, à imprensa, a manobra foi detectada. Decisões que se seguiram em diferentes processos, encaminharam-se para uma unanimidade: os feitos passaram a ser rechaçados liminarmente, com base na evidente litigância de má-fé, fundamento jurídico que inibe aventuras judiciais dessa natureza. A sintonia entre a imprensa livre e um Judiciário atento ao que aquela investiga possibilitou, dessa forma, uma extinção em seu nascedouro de mais uma agressão à liberdade, em nome da fé.

            O episódio que, a esta altura, se encaminha para uma decisão uniforme e sensata, traz à discussão esse fenômeno tipicamente brasileiro: o poderio cada vez mais avassalador, na política e nos meios de comunicação, de grupos religiosos, muitos deles de feição fundamentalista e, todos eles, de concepções arcaicas. A laicidade, que deve ser inerente ao Estado e pressuposto indispensável à independência dos meios de comunicação social, vem, com isso, sofrendo sérias ameaças. Aí está uma situação que, no mínimo, deve servir de alerta à consciência cívica dos cidadãos brasileiros e, também, sugerir ao Poder Público a adoção de uma política mais clara e transparente na concessão dos meios eletrônicos de comunicação social.

 

Cabe à imprensa investigar e apontar a responsabilidade social desses conglomerados que, em nome da fé, abocanham fatias cada vez mais amplas de concessões públicas de rádio e televisão.

 

Nota da Redação: O texto deste editorial foi publicado na edição de 1º.03.08, no jornal Zero Hora de Porto Alegre, assinado pelo jornalista Milton Medran Moreira.

 

Opinião em Tópicos

 

Milton R.Medran Moreira

 

 

Antônio Vieira

            As comemorações dos 400 anos de nascimento do Padre Antônio Vieira (6 de fevereiro último) estão motivando várias reedições de suas obras e oportunas apreciações sobre a vida desse jesuíta português do Século 17 que viveu por muitos anos no Brasil, aqui tendo produzido a maior parte de suas obras.

            Os pesquisadores estão destacando o humanismo de Vieira, um sacerdote católico que assumiu posições de vanguarda em sua época. Lutou contra a escravização dos índios e dos negros. Foi amigo dos judeus, defendendo-os das perseguições cristãs. Em memoráveis passagens de seus “Sermões”, Vieira combateu os preconceitos de seu tempo, especialmente defendendo a igualdade de todas as criaturas humanas, independentemente de raça ou credo. Foi um homem de vanguarda, em tempos onde a ciência despontava e o humanismo começava a iluminar consciências provocando o necessário choque do homem racional contra a Igreja e suas revelações. Por tudo isso, Padre Vieira acabou, inclusive, punido pela Inquisição.

            Milenarismo

            Mas, apesar de humanista e pensador até certo ponto livre, Vieira era padre e tinha compromissos de fé que o prendiam à religião e a seus mitos. Dentre os misticismos do jesuíta português, talvez o mais forte tenha sido o milenarismo que adotou. Milenarismo é uma crença muito arraigada na tradição judaico-cristã e que ganha força especialmente às vésperas de um novo milênio. Vieira viveu parte de sua vida no período em que Portugal perdera a Coroa para a Espanha, com o episódio da morte do jovem rei Sebastião pelos mouros, sem deixar sucessor (1580). Foi quando surgiu o mito de que o Rei Dom Sebastião iria voltar para retomar o trono e fundar o Quinto Reinado. Este duraria mil anos de muito esplendor, governados pelos Papas e pelos reis de Portugal. Antônio Vieira, mesmo sem sustentar o mito do retorno de Sebastião, predizia o advento desse reinado esplendoroso e glorioso, onde os ritos judaicos voltariam a ser praticados, tendo Jerusalém por capital espiritual e Portugal como nação dominante desse mítico reinado judeu-cristão.

            O paradoxo que fez Vieira flutuar entre a racionalidade e o mito marcou sua existência, como segue marcando a vida de quem tem que se dividir entre a razão e a fé.

            Milenarismo espírita

            O espiritismo cristão está eivado desse mesmo paradoxo. Mesmo assimilando a essência da proposta kardeciana, com seu racionalismo e com idéias generosas de igualdade entre todos os seres e respeito a todas as crenças e culturas, sob a lei do progresso universal, a religião espírita demora-se em ranços que pregam claramente o privilégio de um povo e de uma cultura sobre as demais. O livro “Brasil, Coração do Mundo e Pátria do Evangelho”, de autoria espiritual do escritor brasileiro Humberto de Campos, com psicografia de Francisco Cândido Xavier, é o mais notável exemplo dessa modalidade de “milenarismo espírita”. Ali, Jesus elege o Brasil para ser a Terra Prometida, onde se há de dar a revivescência do cristianismo primitivo, sob a coordenação da Federação Espírita Brasileira.

            É muito difícil conciliar a obra e a proposta de Kardec com as posições espíritas-cristãs. Forçada a conciliação, ela conduz a um sincretismo que está na contramão das tendências humanistas, igualitárias, assectárias e laicas do atual estágio de desenvolvimento humano.

            Depois de Vieira, Emmanuel

O mito milenarista, sustentado por Vieira, de um império comandado por Papas e monarcas portugueses, é claro, nunca se concretizou. Mas outros o sucederiam. Entre eles este formulado por Emmanuel, também jesuíta, em “A Caminho da Luz”, prevendo para o Século XX (que já se foi sem deixar muita saudade), “uma nova aurora”, onde “luzes consoladoras envolverão todo o orbe regenerado pelo batismo do sofrimento” e “o homem espiritual estará unido ao homem físico”, pois que “o Espiritismo terá retirado de seus escombros materiais a alma divina das religiões”, com “o abraço acolhedor do Cristianismo renovado”.

O progresso humano não se dá nesse nível, a partir de uma única vertente, onde se concentraria todo o “plano divino”. Nem tem esse caráter linear, sujeito a datas marcadas previamente. Tampouco dá saltos. Faz-se lenta e sofridamente, com altos e baixos, por força da ação do homem, iluminado pelo pluralismo cultural e pela progressiva compreensão da lei natural. Esta não se confunde com religião. Revela-se e se aperfeiçoa no mais íntimo da consciência humana e no indistinto seio de todas as culturas.

 

Notícias

 

CCEPA INVESTE NAS BASES DO CONHECIMENTO ESPÍRITA

- Curso Básico de Iniciação Espírita começa dia 27

- Na palestra mensal de abril (dia 7) Salomão fala sobre “Espiritismo – Caráter e Fundamentos”.

 

Pense – Pensamento Social Espírita

 

“Conceito Espírita de Sociologia”, de Manuel S. Porteiro, é o mais novo livro traduzido para o português, inserido no site Pense – Pensamento Social Espírita, que soma oito obras do ramo, à disposição do público. A edição em espanhol já estava disponível desde 2003, juntamente com os livros “Espiritismo Dialético” e “Orígen de las Ideas Morales”, também de Porteiro.

Um total de 22.724 downloads foram feitos em 2007 de livros disponibilizados pelo Pense, que recebeu cerca de 47.500 visitas de internautas no ano, média de 4 mil por mês, de todas as partes do mundo. “La Conservación de Médio Ambiente Físico e Siquico”, de Orlando Villarraga, foi a obra que liderou as baixas, no total de 10.248 cópias, seguida de “Racismo e Espiritismo”, de Eugenio Lara, com 3.251 cópias. Ainda em 2007, foram registradas 112.516 visitas, com possíveis baixas de artigos e entrevistas contidos no site. Nestas, a liderança ficou com um artigo sobre sociologia, com 19.485 citações. O artigo é de autoria de Alfredo Marcos Ribeiro.

O Pense encontra-se indexado em mais de 70 outros sítios da rede mundial de computadores, no tema ‘Pensamento social espírita’. No buscador Google, com 81.400 citações (21/02/2008), o Pense aparece em primeiro lugar.

Atualmente, o site contém oito livros, 38 artigos, duas biografias, bibliografia com citação de 44 autores sobre a temática social e sociológica, oito debates, sete tiras de humor e uma galeria com nove fotos. Iniciado em março de 2001, o Pense, entre outras finalidades, serviu para auxiliar o resgate do pensamento sociológico e espírita de Porteiro, pensador argentino, desencarnado em 1936. Sua principal obra “Espiritismo Dialético”, em português, traduzida por José Rodrigues, já teve cerca de sete mil cópias obtidas no site, nos últimos sete anos. 

A próxima meta do site é colocar, também em português, a terceira obra de Manuel S. Porteiro, sob o título de “Origem das Idéias Morais”. Está em andamento uma reformulação do site, para introdução de novas formas de mídia ligadas ao seu tema básico.

Eugenio Lara e José Rodrigues coordenam o Pense, com a atuação na área visual e tecnológica do jornalista e webdesigner Mauri Alexandrino. O endereço é www.viasantos.com/pense .

 

Enfoque

 

‘Destruição criativa’ e desigualdades

 

José Rodrigues*

 

“Para todos há lugar ao Sol, mas com a condição de que cada um ocupe o seu e não o dos outros”. Allan Kardec

 

 

As várias fases pelas quais passa o capitalismo, como um centro dinâmico de difícil controle é tema que se encontra em franca discussão no mundo, vencidas as fases da ‘guerra fria’, do sistema bipolar político e econômico, da reunificação da Alemanha com a queda do Muro de Berlim e o fim da União Soviética. Mas tanto lá, nos idos do princípio do Século XX, com a Revolução Russa, quanto cá, tempos de um capitalismo financeiro desenfreado, põe-se de lado o fator-homem, a natureza nossa, com o estímulo de levar vantagem, ganhar no mole e culpar a outrem pelas mazelas pessoais e coletivas.

Das fases fisiocrática e mercantilista da economia, ao capitalismo industrial, nascido em seqüência à revolução trazida pelas máquinas a vapor, pouco antes do findar do Século XVIII, permeia o espírito da acumulação. As inovações aceleradas com a tecnologia da informação praticamente nada mudaram no sentido animal da nossa espécie. Ao contrário, tem sido graças a elas que os cálculos de ganhos, infinitesimais na unidade, porém grandiosos no todo, são aplicados ao hoje mundo globalizado das finanças. É um sistema que atua nas 24 horas do dia, atento aos fusos horários, à abertura e fechamento dos mercados, às instabilidades políticas e econômicas de cada país, com fins de tirar o melhor partido. O on line em nada se interessa se alguém vai à bancarrota, se apostou mal, se especulou com informações erradas. Ordens de compra e venda não têm qualquer vínculo ético ou moral.

A abordagem do tema vem a título de avaliação de tendências. De fato, o próprio sistema de ampla liberdade de iniciativas, sem apontar para o lado egoísta do homem, está preocupado com o amanhã de si mesmo. Há pouco, as bolsas internacionais ‘balançaram’, ante a crise dos chamados subprimes do mercado norte-americano, com base em hipotecas de imóveis, pelos quais as famílias fizeram crescer suas dívidas e ampliar o consumo em geral. A ‘bolha’ estourou e os bancos centrais, para evitar uma quebradeira geral, socorreram os bancos emprestadores, talvez um paliativo.

Convém um breve enunciado de números para melhor compreensão do tema. Em resumo, o sistema financeiro, entendido como finança pura, tem crescido muito acima do de bens físicos. Há liquidez no mundo (dinheiro farto), aliada à tecnologia da transmissão de dados, de tal modo que se formou um descompasso com a chamada economia real. Os ativos financeiros de todo o mundo, que em 1980 representavam 109% da produção real, saltaram para o equivalente a 316%, em 2005. Neste ano, nos Estados Unidos, a proporção atingiu a 405%. A dívida das famílias representava 135% do PIB daquele país.

Os mercados costumam tornar-se fins em si mesmos, mediante sofisticações, seguidas de tentativas de reduzir riscos, mas quando a ambição domina, o irracional avança.

Joseph Schumpeter (1883-1950), economista austríaco, a propósito, está sendo muito lembrado nos dias recentes. Ele é o autor do conceito de “destruição criativa”, base do capitalismo, sistema que, para se manter de pé e em expansão, destrói hoje o que produziu ontem e assim o fará, amanhã, com o que produziu hoje. Mas tanto o planeta está dando sinais de doença precoce, sob o ponto-de-vista físico, quanto um senso comum que se espalha, condena as desigualdades sociais. A pobreza, enfim, começa a incomodar neste mundo interativo. Ou seja, o rumo não pode ser o da acumulação, mas o da repartição. Pelo menos das oportunidades.

Espero que não esteja implícita neste texto uma idéia contrária ao espírito inovador, ao empreendedorismo, necessários e vindos como respostas à procura do bem-estar de cada um. A diferença entre uma coisa e outra está na motivação e nos fins que se procuram. Allan Kardec mostrou preocupação com essa aparente contradição, ao tratar da Lei de Conservação. Em comentário pessoal, ele diz que “se a civilização multiplica as necessidades, multiplica também as fontes de trabalho e os meios de viver (...). A natureza não pode ser responsável pelos vícios da organização social, nem pelas conseqüências da ambição e do amor-próprio”.

Perguntas cruciais que teóricos do capitalismo fazem no momento podem ter aí um caminho para reflexão.

 

(*) José Rodrigues é jornalista e economista. Integra o Centro Espírita Allan Kardec, de Santos (SP) e preside a Ação de Recuperação Social –ARS, entidade atuante no segmento de famílias de baixa renda.

 

        

 

 

Opinião do Leitor

 

Sociedade Kardecista de Estudos  e Desenvolvimento Humano

 

Sobre a notícia “Livre-pensadores fundam instituição espírita em Ibatiba/ES (Boletim América Espírita, encartado em Opinião jan/fev 2008), trata-se de belíssimo trabalho.  Parabéns a todos os integrantes do SKEDH pelo que estão fazendo, divulgando o Espiritismo por todos os meios de que dispõem, estudando-o e promovendo seu estudo.  Um trabalho sério e digno. Abraços, e muito sucesso.

Vicente Moreira Crispim - vimocris@terra.com.br – São Paulo (mensagem postada na lista de discussão da CEPA na Internet).

Boicote evangélico ao Congresso da CEPA em Porto Rico

Sobre a notícia “Evangélicos porto-riquenhos querem boicotar o Congresso da CEPA” (América Espírita Nº 112): O fundamentalismo cristão tem se tornado algo preocupante em todo nosso continente. As idéias desses fanáticos aparecem em políticas
públicas na administração Bush. Exploram cultural e financeiramente pessoas sem muita instrução e tentam atravancar até mesmo o progresso científico como foi a campanha dos carismáticos contra as pesquisas com células tronco embrionárias, campanha essa, que até a AME-Brasil se empenhou com a ridícula Carta de São Paulo.

Aqui no Brasil, temos praticamente três manifestações do fundamentalismo cristão: os católicos tradicionalistas, que ainda vivem no tempo do movimento "Deus, Pátria e Família", e desejam um catolicismo mais ritualístico e tradicional, com missas novamente em latim; os católicos carismáticos que preferem esquecer dos rituais,mas defendem uma rigidez maior na vivência dos sacramentos e, por fim, o das diversas igrejas evangélicas, ainda mais intolerantes e contrárias ao pluralismo.

Mas, felizmente, esses movimentos estão na contramão do progresso e não detêm a hegemonia da opinião pública. Porém, mesmo assim, são muito gritantes e chegam mesmo a querer impor seu modo anacrônico de pensar através da política e da mídia. Eu penso que cabe às pessoas esclarecidas e que defendem a liberdade de expressão também manifestarem o seu "grito", se mostrarem mais perante a sociedade e deixar de lado essa extrema tolerância com o fanatismo, tal como alguns políticos americanos e europeus fizeram em ocasiões recentes, ao criticar publicamente a interferência que religiosos vêm tentando realizar em assuntos que dizem respeito ao Estado.

Herivelto Carvalho - heriveltocarvalho@gmail.com -  Ibatiba ES (opinião postada na Lista de Discussão da CEPA pela Internet);