OPINIÃO Ano XIV – Nº 149  Jan e fev 2008

Há 150 anos, era lançada a Revista Espírita

Nossa Opinião: O retrato de Kardec

Notícias: CCEPA tem novos dirigentes//     Jones e Elba homenageados por companheiros do CCEPA//  Rui é conferencista de março//    Desencarna Hélio Burmeister

Opinião em Tópicos:   Ateísmo    -   Os livros     -   Deus, espírito e ética     -  Causa primeira  (Milton Medran Moreira)

Enfoque :  A síndrome da reflexão

Opinião do Leitor:

 

 

Há 150 anos, era lançada a Revista Espírita

 

“Estudar a natureza dos Espíritos é estudar o homem”

(Allan Kardec/ Janeiro 1858, na Introdução da Revista Espírita, Ano I, Nº1)

 

1858-2008 o sesquicentenário da Revista Espírita e da SPEE

            Janeiro de 1858 assinala o lançamento da Revista Espírita, mensário dirigido por Allan Kardec. No mesmo ano, no mês de abril, fundava-se a Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas, a primeira associação espírita, que tinha, também, como diretor, o insigne fundador do espiritismo.

            André Moreil, biógrafo francês de Allan Kardec, registra dessa forma a importância do ano de 1858 para a vida de seu biografado: “Tendo fundado o espiritismo doutrinário, o antigo discípulo de Pestalozzi lembrou-se que era mais do que nunca desejável o contato com aqueles que compartilhavam as suas idéias. O ano de 1858 ficou assinalado pela fundação da Revista Espírita e da Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas”, acrescentando: “O autor de O Livro dos Espíritos não se isolava numa glória de esfinge retirada do mundo, semelhante aos filósofos inacessíveis. Permanecia educador, amigo dos homens, combatente ativo da nova luz”.

            Um empreendimento ousado, sob a garantia da espiritualidade

            É ainda André Moreil que descreve os obstáculos enfrentados e a determinação de Kardec, ao registrar: “Para fundar um jornal, é necessário ter dinheiro e Allan Kardec dispunha de pouco. Apelou para o Sr. Tiederman, amigo seu e dos espíritas, mas Tiederman mostrou-se reticente. Enquanto isso, Allan Karde solicitou o conselho dos Guias por intermédio da Srta. E. Dufaux. Responderam-lhe que levasse avante a idéia e que não se preocupasse com coisa alguma”.

            Allan Kardec, segundo ainda o biógrafo, relataria, mais tarde: “Apressei-me a redigir o primeiro número, que fiz publicar em 1º de janeiro de 1858, sem ter dito nada a ninguém. Não havia nenhum assinante, nem financiador algum. A publicação foi feita, portanto, por minha conta e risco mas não tive que me arrepender, pois o sucesso ultrapassou a minha expectativa. A partir dessa data, os números saíram sem interrupção e, como o tinha previsto o Espírito, a revista, tornou-se para mim eficiente auxiliar. Mais tarde, reconheci a vantagem de não ter recorrido à ajuda de algum capitalista, porque assim eu ficara mais livre, enquanto que um sócio capitalista poderia ter tentado impor as suas idéias e a sua vontade, entravando a minha marcha; estando só eu não tinha de prestar contas a ninguém, embora fosse bastante pesada a minha tarefa”.

            O homem na sua dimensão integral – objeto dos estudos da revista

            Na introdução do primeiro número da Revista Espírita, Allan Kardec reporta-se à rapidez com que as idéias espíritas avançavam em várias partes do mundo. Traçou os rumos da nova publicação, concluindo por dizer que “nosso quadro compreende tudo quanto se liga ao conhecimento da parte metafísica do homem. Estudá-la-emos no seu estado presente e no futuro, pois estudar a natureza dos Espíritos é estudar o homem, por isso que este um dia participará do mundo dos Espíritos”.

 

Nossa opinião

O retrato de Kardec

 

            Quantos espíritas têm em sua biblioteca a coleção da Revista Espírita publicada por Allan Kardec de 1858 a 1869 (ano de seu desencarne)?

            Poucos, muito poucos. E, no entanto, ali está a fonte mais genuína onde se pode sorver o pensamento e as idéias do lúcido pedagogo que, no ano anterior ao da fundação da revista, lançara as bases da filosofia espírita em “O Livro dos Espíritos”.

            O próprio Kardec, em “Obras Póstumas”, deixaria registrado que a Revista Espírita fora “uma obra pessoal, visto que fazia parte de nossas obras doutrinárias, constituindo os Anais do Espiritismo”, acrescentando: “Por seu intermédio é que todos os princípios novos foram elaborados e entregues ao estudo”. Justifica, depois: “Era pois necessário conservar o seu caráter individual, para que se estabelecesse a unidade.” (“Constituição do Espiritismo”).  Um verdadeiro laboratório de idéias, pois. Mais do que isso: a confirmação de que, em se tratando de doutrina espírita, nada nunca está pronto e acabado, porque a própria natureza, nela incluindo-se o homem, está em constante mutação. E o ser humano, na sua dinâmica essencial de espírito, sempre foi a preocupação central de Kardec.

            Ao editar a Revista, Kardec demonstrou não ter medo de ousar. Teorias ali foram lançadas. Nem todas o tempo haveria de confirmar. A liberdade de pensamento e de expressão e a vocação investigativa de seu editor marcaram indelevelmente essa obra gigantesca, fonte riquíssima de estudo e de consulta para o verdadeiro espírita.  

            Janeiro de 2008 assinala, assim, o sesquicentenário da imprensa espírita, nos moldes preconizados pelo lúcido fundador desse movimento de idéias.  A Revista Espírita é o próprio retrato de Kardec.

 

Mensagem do Presidente

 

Suceder é fácil. Difícil é substituir

 

Mais uma vez, os companheiros do CCEPA convocam-me para presidir a administração da nossa instituição. A tarefa não seria de causar maior preocupação, não fosse o fato de estar sucedendo Maurice Herbert Jones. Suceder alguém numa função até pode ser de relativa facilidade; difícil é substituir alguém, especialmente alguém como Jones, um líder espírita, pensador detentor de uma cultura espírita incomum. Jones tem sido nossa referência no CCEPA. Companheiro incansável, inimigo declarado da inércia e da acomodação, num instante, encontramo-lo consertando alguma coisa ou recolocando algo que esteja fora do lugar. Noutro momento, lá está o Jones afixando algum cartaz por ele confeccionado com arte e criatividade, posto que excepcional dominador dos recursos da informática. Mas, em seguida, já encontramos o Jones num grupo, não importa a hora e o local, mas sempre no CCEPA, instigando-nos e incentivando-nos ao debate e à reflexão, com seu estilo peculiar, que se caracteriza por uma reflexão sempre profunda, uma abordagem filosófica livre, mas sem abrir mão da argúcia e objetividade. Jones nos ensina a pensar o Espiritismo filosoficamente, não se contentando jamais com a reflexão superficial. Com ele aprendemos a questionar, evitar as certezas, repelir verdades absolutas e a conviver com naturalidade e respeito pelas opiniões divergentes. Evidentemente, quando se fala em Jones e no CCEPA, não dá para não falar em Elba. A história do CCEPA se confunde com a própria história do casal Jones e Elba. Todos nós que passamos pela instituição podemos dizer do nosso privilégio de poder conviver com esse casal. Se o CCEPA chegou até aqui, consolidando a atual identidade, foi graças à liderança, perseverança e disposição com que Jones e Elba dedicam-se à tarefa de edificação da casa e motivação dos companheiros. Certamente, permaneceremos juntos.

            Sem continuísmo, mas dando continuidade às atividades da nossa casa, iniciamos mais um ano com entusiasmo e voltados para os nossos objetivos, que são muito claros na nossa carta de princípios. Como é sabido, as decisões no CCEPA não são centralizadas. Somos, antes de tudo, uma associação em torno de idéias. Temos a Oficina de Colaboradores, que é um espaço de discussão e de deliberações. Na Oficina, todos os companheiros, dirigentes ou não, têm liberdade para expor idéias, debater, discordar. Disso é que tiramos um consenso para nortear as decisões, fortalecendo a nossa união.

 

O CCEPA continuará inserido no movimento liderado pela Confederação Espírita Pan-Americana, pelo seu papel da mais alta relevância para o fortalecimento e difusão do pensamento Espírita nas Américas, servindo de elo entre pessoas e instituições integrantes desse movimento laico, que quer dar atualidade e vigor à Doutrina Espírita, interpretando fielmente o pensamento de KARDEC e vivenciando um Espiritismo efetivamente libertador, progressista e de livre-pensamento.

Um bom 2008 para todos nós.

 

 Jones nos ensina a pensar o Espiritismo filosoficamente, não se contentando jamais com a reflexão superficial.

 

Opinião em Tópicos

 

Milton R. Medran Moreira

 

Ateísmo

            Quando, há uns 15 anos, visitei Venice, na Califórnia, um detalhe me chamou a atenção. O famoso balneário, autêntico cenário do pós-modernismo, se caracteriza por abrigar barraquinhas, onde produtos, serviços e idéias, os mais diversificados e esdrúxulos, são oferecidos. Ali você pode fazer consultas com médiuns, ter suas mãos lidas por ciganas, receber orientação espiritual de pastores e gurus, etc. Mas, também vi uma barraca especial que divulgava o ateísmo. Cartazes, livros e oradores inflamados defendiam o direito de o cidadão americano expressar sua descrença em Deus e não ter sua vida privada e social perturbada pelas práticas e crenças religiosas.

            Nos Estados Unidos, um país predominantemente cristão, assim como, de maneira geral em todo o Ocidente, os ateus sempre foram vistos e tratados com muita reserva e com extremo preconceito. Tanto que a maioria deles preferia ocultar essa condição. Agora eles estão “saindo do armário”, a se julgar pela repercussão de alguns livros defendendo o ateísmo.

            Os livros

            Dois livros, especialmente, estão causando furor nos meios religiosos, indignados estes com a audácia de escritores que vêm a público sustentar a inexistência de Deus: os britânicos Cristopher Hitchens, com seu “Deus não é grande”, e Richard Dawkins, autor de “Deus, um delírio”.

            Não li ainda o primeiro. Estou a ler o segundo e, até onde pude ver, há mais argumentos, ali, contra a visão judaico-cristã-muçulmana de Deus do que se opondo a uma concepção puramente filosófica que permita admitir a existência, no universo, de uma “inteligência suprema”. Temos de reconhecer que o deus das religiões abrâmicas (judaísmo, cristianismo, islamismo) é totalmente incompatível com a visão evolucionista da ciência e com os conceitos modernos de justiça emanados de um direito natural, fundado na dignidade do homem, como ser livre e inteligente.

            Rebelando-se e rechaçando esse deus que a cultura judaico-cristã nos impingiu, os autores prestam uma contribuição intelectual importante à pós-modernidade.

            Deus, espírito e ética

            Dos princípios básicos do espiritismo, certamente o de mais difícil e complexa sustentação é justamente o da divindade. O tema central do espiritismo e seu objeto fundamental de estudo não é Deus, embora sua existência seja afirmada na questão número 1 de O Livro dos Espíritos. A rigor, e reduzido à sua expressão mais simples, o espiritismo não é mais do que o estudo do espírito, sua existência real, sua imortalidade, sua comunicabilidade e seu destino. Como ciência experimental, assim classificado por Kardec, o espiritismo existe concretamente para experienciar o fenômeno da sobrevivência do espírito, e, logo, da consciência individual após a morte. Disso, é claro, defluem conseqüências ético-morais que integram o corpo doutrinário do espiritismo. Mas, nem aí a questão da existência de Deus é fundamental. Há pessoas, no mundo atual, que, declaradamente atéias ou agnósticas, são, no entanto, exemplos de solidariedade humana, afetividade e sentimento de justiça. Nesse aspecto, a crença no homem e em seus valores intrínsecos funciona como estímulo. E se a esse humanismo se agregar o aspecto espiritual e imortal, como propõe o espiritismo, o estímulo tende a ser bem mais eficiente.

            Causa primeira

            Por tudo isso, a nós, espíritas, que somos deístas, não deve apavorar a proliferação de obras divulgando e sustentando o ateísmo. Os autores são livre-pensadores que trazem boa contribuição a esse importante tema. O deus que eles combatem, por outro lado, não é exatamente a divindade a que alude a questão número l da obra fundamental espírita: “inteligência suprema e causa primeira de todas as coisas”. Esse conceito é um corolário racional do princípio aceito por Kardec, da inexistência de efeito sem uma causa. Deus, nessa visão filosófica, seria a causa primeira de todos os efeitos que nos são perceptíveis e compreensíveis.

        Mas, é preciso convir: Deus, na sua essência, segue sendo um enigma também para nós, espíritas. No mundo de relativismo em que se debate nossa existência, impossível apreender o Absoluto, onde se situa Deus.

 

Notícias

 

CCEPA tem novos dirigentes

            Em assembléia geral realizada no último dia 3 de janeiro, assumiram os novos dirigentes do Centro Cultural Espírita de Porto Alegre.

            O ato de posse foi coordenado pela Comissão Eleitoral composta por Walmir Gamboa Schinoff, Maria José Torres e Ana Cony. Usaram da palavra, na oportunidade: o ex-presidente Maurice Herbert Jones, que encerra seu mandato e fez reflexões acerca do processo de mudança que presenciou ao curso de sua longa vida institucional; o novo presidente, Rui Paulo Nazário de Oliveira, destacando a difícil tarefa que enfrenta ao suceder o operoso companheiro Maurice H.Jones; o presidente da CEPA, Milton Medran Moreira, saudando, em nome da entidade que dirige, os novos dirigentes da Casa.

            Ao final, o coordenador da Comissão Eleitoral, Walmir Gamboa, fez interessante alocução destacando o compromisso histórico do CCEPA com a proposta de Kardec e destacando o papel de alguns nomes da Casa no processo de resgate do pensamento kardequiano.

            Seguiu-se uma confraternização com salgadinhos e refrigerantes.

            Os dirigentes do CCEPA, no biênio 2008/2010, serão os seguintes:

Presidente: Rui Paulo Nazário de Oliveira

Vice-Presidente: Salomão Jacob Benchaya

Departamento de Estudos Espíritas: Salomão Jacob Benchaya

Departamento de Eventos Culturais: Salomão Jacob Benchaya

Departamento de Comunicação: Mílton Rubens Medran Moreira

Departamento Social: Sílvia Pinto Moreira

Departamento de Ação Social: Leda Beier

Departamento de Material e Patrimônio: Marta Samá

Tesouraria: Marta Samá

Departamento de Livraria: Teresa Samá Landardt de Mayo

 

Conselho Fiscal: Mílton Lino Bittencourt, Valdir Ahlert e Maria José Torres de Moraes

 

 

 

            Jones e Elba homenageados por companheiros do CCEPA

Em jantar de confraternização realizado pelos colaboradores do Centro Cultural Espírita de Porto Alegre, na noite de 1º de dezembro último, na sede do Clube de Mães, foi prestada uma homenagem ao casal Maurice e Elba Jones, por sua destacada atuação na história da Casa. Jones encerra seu mandato presidencial e, mantendo-se associado e colaborador da instituição, tomou a decisão de não mais ocupar cargos diretivos.

Na oportunidade, o Diretor de Comunicação do CCEPA, Milton Medran, usou da palavra para, em nome da instituição, registrar a importância histórica de Elba e Jones na formação do perfil da instituição e, por decorrência, do próprio movimento espírita gaúcho. Recordou que, por vários anos, Jones presidiu a Federação Espírita do Rio Grande do Sul, implementando históricas mudanças, a partir de idéias e procedimentos gerados no âmbito da antiga S.E.Luz e Cariade (hoje CCEPA).

Na oportunidade, Salomão Benchaya fez a entrega de um mimo a Jones e a associada Eloá Bittencourt entregou flores a Elba.

 

 

Rui é o conferencista de março

            O reinício das conferências mensais do CCEPA, na primeira segunda feira de cada mês, contará no próximo dia 1º de março (às 20h30min) com o trabalho de Rui Paulo Nazário de Oliveira: “Ian Stevenson e os Casos Sugestivos de Reencarnação”.

            O presidente do CCEPA vai recordar o importante trabalho realizado pelo pesquisador norte-americano Ian Stevenson, falecido em janeiro de 2007, sobre a reencarnação a partir do estudo de casos que sugerem o fenômeno.

 

Desencarna Hélio Burmeister

Desencarnou, em 23 de dezembro último, o ex-presidente da Federação Espírita do Rio Grande do Sul (mandatos de 1972/1976 e 1988/1991)., Hélio Burmeister.

De destacada atuação do movimento espírita gaúcho, Hélio era também vinculado ao Instituto Espírita Amigo Germano, de larga atuação no campo social e educativo.

À sua despedida e ao sepultamento de seu corpo estiveram presentes os companheiros do Centro Cultural Espírita e da CEPA Maurice Herbert Jones, Salomão Jacob Benchaya, Milton Medran Moreira e José Joaquim Marchisio, companheiros que com ele dividiram responsabilidades em várias gestões da Federação Espírita do RGS, nas décadas de 70 e 80 do século passado.

 

 

Enfoque

A Síndrome da Reflexão

Amely B. Martins*

Existe uma síndrome, denominada Síndrome de Williams, que recentemente despertou meu interesse. A Síndrome de Williams atinge 1 em cada 20.000 pessoas no mundo, não é hereditária e está ligada a deleções de aproximadamente 17 a 19 genes do cromossomo 7. As alterações gênicas promovem efeitos sobre o sistema cardiovascular, em decorrência da deleção do gene da elastina, além de redução do volume cerebral em cerca de 20% [i].

Os portadores da síndrome apresentam déficit na capacidade cognitiva, no raciocínio lógico, habilidades espaciais e coordenação motora. Contrastantemente, as pessoas portadoras da síndrome apresentam grande habilidade para música, criatividade para composições musicais, fortes reações emocionais à música e não apenas sensibilidade para audição musical, mas também para a execução instrumental dos mais variados e complexos tipos de melodias.

A descoberta e caracterização da síndrome têm trazido á tona uma discussão no mínimo intrigante sobre a reencarnação. Muitos espíritas ao conhecer pessoas com a Síndrome de Williams, normalmente não diagnosticada como tal principalmente no Brasil, apontam como sendo um exemplo clássico de evidência da reencarnação. Isso porque normalmente quando ainda crianças, os portadores da síndrome mesmo sem nenhum contato com a música são capazes de executar complexas composições musicais, fato esse caracterizado pelos espíritas como “lembranças de outras vidas”, onde certamente o indivíduo já tenha sido um grande músico em uma existência anterior.

Não estou aqui querendo pôr abaixo a certeza na existência da reencarnação, mesmo porque pelo simples raciocínio lógico é possível concebê-la com clareza. O que quero é chamar a atenção dos espíritas para uma situação que se torna cada vez mais alarmante: a distância e incompatibilidade cada vez maiores entre a ciência e a doutrina espírita, ou melhor, a incompatibilidade entre o avanço da ciência e a postura dos espíritas que engessaram o conhecimento espírita, impedindo seu avanço em conformidade com o progresso científico.

Fazendo um breve histórico sobre o surgimento da doutrina, onde Allan Kardec brilhantemente soube aliar os conhecimentos científicos mais avançados de sua época às informações trazidas pelos espíritos, fica mais fácil ainda perceber o quanto nos distanciamos dessa origem que garantiu, por muito tempo, a identificação do caráter científico e progressista da doutrina.

Nesse contexto, os avanços da ciência não devem servir para denegrir os conhecimentos espíritas, muito pelo contrário, devem ser utilizados como fonte de crescimento, ou pelo menos como estímulo a novas indagações aos espíritos ou novas formulações de conhecimento.

Para que isso se torne uma realidade, é necessária uma reformulação na visão geral dos espíritas, que normalmente tendem a “sacralizar” ou “biblificar” a doutrina espírita e seus princípios. É preciso entender que, reformular e crescer não implica em descaracterizar ou perder a base, não se trata de desrespeito ao que existe, mas sim de uma valorização daquilo que o próprio Kardec colocou como essencial para o engrandecimento do espiritismo: a sua evolução em parceria com a das ciências e do próprio ser humano. E aqui se entenda parceria no real sentido da palavra, onde não só a doutrina cresce com o apoio das ciências, mas as ciências e o homem também encontram fontes de crescimento pelo contato com a doutrina.

O exemplo da Síndrome de Williams convida-nos a muitas reflexões, não sobre a existência ou não da reencarnação, ou seja, sem querer discutir ou mudar o princípio básico, mas sobre os mecanismos da reencarnação, sobre como o espírito ou perispírito age na seleção ou até mesmo deleção de genes para garantir suas necessidades atuais de sobrevivência, sobre a ligação ou não desses espíritos com a música em reencarnações passadas, ou ainda sobre o fato da afinidade pela música ser em decorrência apenas das características da matéria.

Muitos questionamentos construtivos podem ser tirados de novos conhecimentos adquiridos nas várias áreas do conhecimento humano, e esses questionamentos, se bem conduzidos, podem trazer crescimento também para a doutrina espírita. Dessa forma o espiritismo se torna cada vez mais completo em sua essência, e torna-se capaz de ajudar a ampliar os horizontes das ciências com sua base espiritual.

 

*Amely B. Martins é bióloga, educadora espírita e membro da ASSEPE – Associação de Estudos e Pesquisas Espíritas de João Pessoa.

 

 

 



[i] Referência: LEVITIN, D. J. et al. Neural Correlates of Auditory Perception in Williams Syndrome: An fMRI Study. Elsevier Science. V. 18, p. 74-82. 2002.

 

 

Opinião do Leitor

 

Tudo é recomeço

 

Assim como chega o dia ao seu final, também o ano se finda.
Traz promessas diversas, todas esquecidas nos primeiros clarões do novo ano.
Mas que importa?

Tudo é recomeço.
Mas pode ser mais brando. Mais sereno.

Podemos andar mais devagar.
Caminhar descalços vendo o chão sob os pés.
Olhar a folha tenra, nascendo no pé de maracujá.
Atentar ao Bem-te-vi, no peitoril da janela.

Podemos andar mais devagar.
Ver os olhos dos amigos quando mareados de lágrimas.
Sentir em silêncio ao seu lado e ser apenas: presença.

Podemos andar mais devagar.
E sorrir ao idoso.
Se em voz alta, este diz inconveniências.

Podemos andar mais devagar.
Sonhando os velhos sonhos, mas sem a antiga angústia.
Devagar vem um novo dia e o galo um dia ainda vai cantar.
Afinal não há interruptor para o clarão do amanhã.

Podemos andar mais devagar.
Olhar tudo o que já disseram e pensaram os grandes homens.
E fazer disso bússola de uma firme orientação.

Podemos andar mais devagar.
Muitos milionários passaram por este planeta.
Mas apenas os pensadores e poetas marcaram seu nome pelos caminhos

Podemos andar mais devagar.
O afã de viver assassina os sonhos.
E sonhos sempre foram alavancas do progresso real.

Podemos andar mais devagar.
A pressa agride a vida.
E a vida mais importante são as pessoas ao nosso redor.

Devemos andar mais devagar.
Pois calmos são os passos que nos levam adiante.
Na rota segura rumo ao portal da sabedoria.


2008  pode ser uma promessa, mas DEVE ser realização ! ! !
Paz  a  todos!!!

Paulo Cesar Fernandes - pcfernandes1951@bol.com.br – Santos/SP