OPINIÃO Ano XIV – Nº
148 Dezembro 2007
Nossa Opinião: E
se Jesus não tivesse
existido?
Enfoque: Falando sobre felicidade
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Envolvido em mitos dos quais
o mais forte é de que se trata do próprio Deus encarnado, nascido de uma
virgem, em uma manjedoura
O Jesus Cristo dos cristãos não é um personagem
histórico. É um mito produzido pela fé. Além dos Evangelhos de Lucas, Mateus,
Marcos e João, base da fé cristã, as referências históricas sobre Jesus são
muito escassas. Quase inexistentes. Há apenas uma menção direta sobre ele que
teria sido feita pelo historiador judeu Flávio Josefo,
ao escrever sobre sua morte no livro Antiguidades
Judaicas, ao fim do século 1. Entretanto, não
existem os originais da obra e há quem sustente que a referência foi ali
inserida por copistas cristãos.
Mesmo assim, antropólogos e
historiadores, nas últimas décadas, têm envidado esforços para reconstituir a
história de um homem extraordinário de nome Yeshua
que teria vivido na Palestina, há 2.000 e poucos anos atrás. Os resultados
obtidos nem sempre confirmam os relatos evangélicos. Muitas datas, nomes e
fatos relativos à vida material de Jesus recebem, agora, outras versões, com
base nessas pesquisas.
Belém
ou Nazaré?
Bem antes da intensificação dessa pesquisa
histórica, alguns pensadores contestavam, por exemplo, a versão de que Jesus
tivesse nascido em Belém. O filósofo espírita brasileiro José
Os esforços de reconstituição da vida real de Jesus já
levaram especialistas a um quase consenso de que ele não nasceu em Belém, e sim
em Nazaré. O nascimento em Belém, em uma manjedoura, é mítico, construído para
associar Jesus ao rei Davi. A fuga
Enfim, um homem apenas. Mas, um
homem muito especial cuja mensagem revolucionou a História.
Segundo
J.Herculano Pires, há um verdadeiro abismo entre a figura mítica de Jesus
Cristo,
E se Jesus não tivesse
existido?
Em meio às tantas incógnitas acerca
da vida material de Jesus, alguns pensadores chegam a alimentar dúvidas de ter
ele realmente existido. Toda a vida material de Jesus não passaria de um imenso
mito, como os têm todas as civilizações da Terra.
Kardec e o
espiritismo, no entanto, não consideram a tese da não-existência de Jesus. Trabalham
com os indícios de que, de fato, um homem extraordinário viveu na Palestina, há
cerca de 2.000 anos e nos legou uma mensagem libertadora.
A mensagem, justamente a mensagem, é
tudo o que interessa ao espiritismo. Como escreveu Allan Kardec
na introdução de O Evangelho Segundo o
Espiritismo, as questões da vida material de Jesus, seus milagres, suas profecias
e os dogmas em seu nome promulgados estão fora do âmbito do estudo e das
interpretações espíritas. Essas questões ou pendem de confirmação histórica ou se
situam no terreno da fé, patrimônio exclusivo da dogmática cristã.
Jesus, na visão kardeciana,
foi, justamente pela mensagem trazida, um extraordinário intérprete da lei
natural, aquela que, segundo O Livro dos
Espíritos, está gravada “na consciência” do homem, indicando-lhe o que deve
e o que não deve fazer. Exaltou, pela palavra e pelo exemplo, a caridade, a
justiça e o amor, sem tê-los, no entanto, inventado.
Assim, mesmo que isso pareça ousado,
pode-se dizer, à luz da filosofia espírita: ainda que Jesus não houvesse
existido, ou não tivéssemos certeza de sua passagem pelo Planeta, assim mesmo
sua mensagem brotaria e fluiria, íntegra, na mente e
nos corações dos homens de bem. E terminaria por se impor como regra de conduta
geral da humanidade.
Talvez aí, justamente aí, resida
toda a diferença entre a religião cristã e a filosofia espírita. Para aquela, se
Jesus não houvesse existido não haveria salvação para ninguém. Para esta, mesmo
se ele não tivesse estado aqui, o núcleo de sua mensagem subsistiria, pois se ocupa ela de valores universalmente válidos, atributos
inalienáveis do espírito e garantia da dignidade a que está ele predestinado. (A Redação)
O melhor Natal
Os males deste
mundo estão na razão das necessidades artificiais que criais para vós mesmos.
(O Livro dos Espíritos, questão 926)
Quem ainda não ouviu ou leu pelos meios de comunicação,
nesta quadra final do ano, prognósticos otimistas segundo os quais teremos o
melhor Natal dos últimos tempos?
Entenda-se que “o melhor” de que aí se fala tem apenas
conotação econômica. Animados pela baixa do dólar e por algum índice de
crescimento da produção e da massificação de consumo, os especialistas prevêem
um aumento
Ótimo, é muito bom isso, num país marcado pela pobreza e
que, não faz muito, tinha crescimento econômico e social quase inexpressivo. Há
alguns indícios apontando para a revitalização da economia e já se fazem
avaliações positivas de crescimento social nos últimos anos.
Mas, nessas mesmas previsões não é difícil identificar
praticamente tudo o que simboliza o Natal, em uma
sociedade competitiva, consumista e materialista. É certo que, em todos os
shoppings das grandes cidades vemos símbolos religiosos e, no ar, espalham-se
os mais belos cânticos natalinos. Mas eles ali estão apenas a serviço do
mercado. No imaginário coletivo, os sonhos de Natal que povoam as mentes e os
corações são, pura e simplesmente, de mais consumo e de mais posse de bens, às
vezes muito além das autênticas necessidades materiais de cada um.
Nesta edição, estamos publicando, em Enfoque, da última página, algumas reflexões feitas por uma nossa
colaboradora sobre felicidade. Aponta para coisas singelas da vida e termina
por concluir que o maior motivo para sermos felizes é o simples fato de
vivermos. No mundo onde o ter sobrepuja o ser, costuma-se avaliar os índices de
felicidade a partir dos níveis econômicos das pessoas. Entretanto, os espíritos
que com Allan Kardec dialogaram, na estruturação de O Livro dos Espíritos, sabiamente situaram
a medida da verdadeira felicidade nestes parâmetros: “para a vida material, a
posse do necessário; para a vida moral, a consciência tranqüila e a fé no
futuro.” (q.922).
Na vida prática, quase sempre já tropeçamos no primeiro
item. Dificilmente administramos nosso patrimônio material a partir de reais e
genuínas necessidades. A vida de muitos é uma contínua obsessão por amealhar e
aumentar patrimônio. Isso obnubila a vivência de uma
filosofia moral fundada nos dois itens seguintes da sábia proposta dos
espíritos: a consciência tranqüila e a fé no futuro. A consciência de quem está
permanentemente imantado ao mundo do ter acaba ensombrecida pela ganância e obstaculiza os vôos do
espírito em busca da plenitude futura que lhe é reservada.
O melhor Natal, consoante os critérios estabelecidos pelos
lúcidos guias da humanidade entrevistados por Allan Kardec,
será aquele em que a justiça, o amor e a solidariedade experimentarem índice
tal de crescimento capaz de implantar na alma humana a paz de consciência e a
certeza acerca do futuro liberto do espírito e de seu destino de luz.
Desimportante o crescimento econômico e o desenvolvimento social?
Claro que não. Mas, estes deixarão de ser metas preferenciais. Hão de ser
conseqüências. Benefícios que a nós chegarão “por acréscimo”, no dizer do jovem
carpinteiro cujo simbólico aniversário o mundo cristão comemora neste mês.
No imaginário coletivo, os sonhos de Natal que povoam as
mentes e os corações são, pura e simplesmente, de mais consumo e de mais posse
de bens.
Milton
Unificação,
de novo
Volto ao tema, em atenção a carta enviada pelo leitor Luiz Manoel Acioli Matos, de Fortaleza/CE
(a íntegra da carta está
Parabéns, Acioli, pela perspicácia.
Mas, a toda evidência, não era dessa unificação que eu falava. E nem Kardec referendou, em qualquer ponto de sua obra, esse
dogma criado no movimento espírita brasileiro de que, por determinação “do
Alto”, todas as instituições espíritas do mundo devem estar subordinadas a um
organismo central. No texto, aludia à gestação da
Fraternidade
sem subordinação
Pois é justamente nesse texto,
publicado, depois, também em Obras
Póstumas, que se pode ver com meridiana clareza que Kardec
rejeitava a idéia de um organismo centralizador, impondo “uma única maneira de proceder” e sujeitando os espíritas de todo
mundo “a um regime uniforme”. Antes, concretamente, propunha: “Os espíritas do mundo inteiro terão
princípios comuns, que ligarão a grande família pelos laços sagrados da
fraternidade, mas sua aplicação poderá variar conforme as regiões, sem que, nem
por isso, seja rompida a unidade fundamental, sem que se formem seitas
dissidentes trocando pedradas e anátemas, o que seria acima de tudo
anti-espírita”, acrescentando: “Poderão,
pois, formar-se, e inevitavelmente se formarão,
centros gerais nos diferentes países, sem outro laço senão a comunhão de crença
e a solidariedade moral, sem subordinação de uns a outros, sem que o da França,
por exemplo, tenha a pretensão de se impor aos espíritas americanos e
vice-versa”.
O
modelo eclesiástico
Fica claro, assim, que
Sempre gosto de recordar o
extraordinário movimento desfechado no século passado entre as igrejas cristãs,
denominado ecumenismo cristão. As diversas denominações foram capazes de
estabelecer, mútua e consensualmente, os princípios gerais do cristianismo: é cristão quem for batizado e crer em Jesus
Cristo como Deus, terceira pessoa da Santíssima Trindade, único Senhor e
Salvador. Até aí vão as convergências. As divergências estão nos
desdobramentos desses princípios e suas aplicações, seus ritos e suas
organizações institucionais.
O grande obstáculo à união dos
cristãos, no entanto, está no poder e na força da Igreja Romana. Esta sustenta
querer a união, mas sob uma condição: que todas as demais igrejas submetam-se a
ela.
O
laço desfeito
A chamada unificação do movimento espírita,
entre nós, não é diferente. Parte-se da idéia de que emanou “do Alto” uma
revelação segundo a qual um organismo, em um determinado país, “coração do
mundo e pátria do evangelho”, está predestinado a comandar todo o movimento
mundial.
Allan Kardec,
mesmo que, episodicamente e uma única vez, haja usado a expressão unificação,
muito bem detectada pelo leitor cearense, recusou se submetesse o espiritismo a
esse engessamento. Defendeu a idéia do pluralismo, da liberdade de organização
e, especialmente, da união a partir do essencial. Reservou aos diferentes
segmentos, nas diversas regiões do Planeta, a faculdade de se unirem a partir
de suas especificidades, por ele denominadas “comunhão de pensamento”.
Recomendou que seria preferível a formação de pequenos
grupos, em clima de unidade interna, a grandes grupos díspares e com confrontos
internos.
Que haja um organismo central, tudo
bem. Desde que este seja capaz de respeitar o pluralismo e a alteridade,
trabalhando apenas em prol da união dos princípios gerais, chamados por Allan Kardec de “inamovíveis”. Esta a única forma de preservar o laço moral proposto por Kardec
O editor de Opinião
recebeu convite do
Acusando o recebimento do convite,
Palestra de Joaquim encerrou ciclo de
conferências 2007 no CCEPA
Como ocorreu em todas as primeiras
segundas-feiras do ano, neste 3 de dezembro mais uma
conferência pública foi oferecida ao freqüentadores do
A última palestra do ano esteve a
cargo de
Joaquim abordou o tema “O
Espiritismo no Contexto das Relações Atuais”, evocando acontecimentos
históricos da modernidade e suas conexões
A partir de março, se reiniciarão as
conferências mensais do CCEPA, mas, durante os meses de dezembro, janeiro e
fevereiro, seguem as atividades do
Assembléia
O processo eleitoral foi coordenado
por Comissão composta dos associados Walmir Gamboa Schinoff,
Falando sobre felicidade
Geci
Afinal
o que é felicidade? Ela existe? Onde está?
Parece até pretensão e audácia falar sobre um sentimento
tão complexo e profundo, mas que ao mesmo tempo é tão simples, tão maravilhoso!
Assistindo a um programa de televisão onde o assunto era
felicidade, vimos muitas pessoas falando sobre esse sentimento tão controverso.
Todas, sem exceção, responderam que ser feliz é tudo
aquilo que está ao nosso alcance, mas muitos por não saberem valorizar as
situações, deixam escapar de suas mãos oportunidades valiosas para serem felizes.
Interrogados sobre felicidade, uma senhora simples e
humilde falou que para ela ser feliz bastava ver crianças sorrindo, brincando,
pessoas andando de um lado para outro; outra pessoa falava que para ela bastava
poder deitar a cabeça no travesseiro e dormir com a consciência tranqüila;
alguém falou que um salário digno que lhe proporcionasse segurança naquilo que
lhe era necessário como casa, comida, saúde, lhe faria feliz; uma outra pessoa
falava que fazer o que gosta e ter dignidade de fazer o que não gosta era
motivo de felicidade; outra, agradecia à mãe por lhe
ter dado noções de espiritualidade e que ter alguém ao seu lado que lhe amasse
também era motivo para ser feliz. Outro participante ainda falou que felicidade
está nas coisas mais simples como um sorriso, um abraço gostoso e também na
natureza: numa manhã de sol radiante, numa lua cheia refletida na água do mar,
nas flores, no vento, etc...
Nada mais gratificante do que nos sentirmos úteis e
podermos fazer alguma coisa para alguém. Nada mais emocionante do que
segurarmos nos braços uma criança recém-nascida totalmente dependente e saber
que você é responsável por aquela vida.
Todos esses motivos e muitos outros que não foram citados
são importantes para sentirmos a felicidade. Depende de nós, de como encararmos
cada situação, cada momento.
Não existe receita de felicidade, mas existem sim
inúmeros motivos para sermos felizes. Basta estarmos vivos!
GRAVURA: http://www.normankoren.com/Weingarden/Mother_child_720.jpg
Nada mais emocionante do que segurarmos nos braços uma
criança recém-nascida totalmente dependente e saber que você é responsável por
aquela vida.
* Assessora de Patrimônio da ASSEPE -
Opinião do
Leitor
A arte dos
encontros
O magnífico Vinicius de Morais enfatiza: “A vida é a arte
dos encontros”. Neles permutamos sorrisos, beijos, anseios e abraços. Longe das
minhas amizades domina-me a saudade. Na vida não passo de vertebrado emocional.
Spinosa definiu os encontros como oportunidades
potenciais que nos permitem afetar e sermos afetados por outros seres.A aproximação do Natal remete-nos a Carlos Drumond de Andrade que reitera: “Quem fatiou o ano em 12
meses só pode ser um gênio”. Se a Natureza é o Primeiro Ministro de Deus a
genialidade que zera o ano velho, enseja retomar a recontagem durante todo o
percurso do Ano Novo; nela recobramos esperanças, arquitetamos sonhos,
elaboramos planos. A vida afigura-se eterno recomeço. Na sua aparente impermanência, se segue o futuro cujos contornos se revelam
radiosos. Mas, a despeito de provas, expiações, circunstâncias, na vida
contemplada sob ótica da realização-fecundidade, permitam-me desejar-lhes Feliz
Natal.
Lybio Magalhães – Nova Iguaçu/RJ.
Equívoco
Ao receber Opinião/
Agradeço a honraria, mas não fui eu
quem escreveu. Um abraço.
União e
Unificação
Prezado Sr. Milton
Luiz Manoel Acioli Matos - Fortaleza – Ceará.
O missivista transcreve da
obra de Kardec:
"O Espiritismo
teve, como todas as coisas, seu período de criação, e até que todas as questões,
principais e acessórias, que a ele se ligam, tivessem sido resolvidas, ele não
pôde dar senão resultados incompletos; pode-se lhe entrever o objetivo,
pressentir-lhe as conseqüências, mas unicamente de maneira vaga. Da incerteza
sobre os pontos ainda não determinados deveriam, forçosamente, nascer
divergências sobre a maneira de considerá-los; a unificação não poderia ser
senão a obra do tempo; ela é feita gradualmente, à medida que os princípios são
elucidados. Não será senão quando a Doutrina houver abarcado todas as partes
que ela comporta, que formará um todo harmonioso, e
será somente então que se poderá julgar verdadeiramente o Espiritismo\". (
Nota da Redação:
A resposta do editor
de Opinião está na coluna Opinião em Tópicos, deste periódico.