OPINIÃO Ano XIV – Nº 147 - Novembro 2007
Nossa
Opinião: O Estado e a fé
Editorial: Aborto: solução à criminalidade?
Enfoque: Matando a saudade em sonho
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Serra veta projeto “Deus
na Escola” e espíritas aplaudem
Projeto que implementava
o ensino religioso como atividade extracurricular e facultativa no ensino
fundamental da rede estadual paulista, da Deputada Estadual Maria Lúcia Amary
(PSDB), aprovado na Assembléia Legislativa, foi vetado pelo Governador José
Serra. Pensadores espíritas manifestaram-se contra o projeto. Tema repercutiu
na lista de discussão da CEPA na Internet.
Projeto
vetado
O governador de São Paulo, José Serra (PSDB), vetou, dia
13 de outubro último, o projeto de lei aprovado pela Assembléia Legislativa que
implementava o ensino religioso como atividade
extracurricular e facultativa no ensino fundamental da rede estadual.
Na justificativa, Serra afirma que a
decisão de incluir religião como disciplina extracurricular cabe às próprias
escolas e não pode ser imposta pelo Executivo ou Legislativo.
“Lugar
de ensino religioso é na igreja”
Antes do veto, o tema mereceu ampla
discussão, inclusive no cenário espírita. Na lista de discussão da
Para Monteiro, o país “necessita
preservar a condição de Estado laico e, para tanto, precisa evitar a indevida
intromissão estatal como a de promover o ensino religioso nas escolas; não é
preciso dizer que tal preservação não o torna ateu”,
diz. Sustenta que é necessário “alertar nossa sociedade para o perigo do ensino
religioso nas escolas da rede pública do Estado de São Paulo, através do
projeto ‘Deus na Escola’, pois, embora seja tal ensino facultativo ao aluno,
sua inclusão legal em carga horária curricular poderá acender
atavismos segregadores do ódio entre religiões, que
já causou tanto sofrimento à humanidade”.
O
debate espírita
O artigo de Gerson, inserido na
lista pelo debatedor Sérgio Maurício, mereceu o aplauso do Secretário-Geral da
CEPA,
Na mesma lista, Edvaldo Tavares
(Salvador/BA), opinou: “Se essa idéia medíocre sair do papel, certamente as
escolas passarão a ter uma igrejinha e stands para a venda de bíblias e
santinhos”. E acrescenta: “Como dizia meu amigo
O Estado e a fé
Sem dúvida, uma sociedade que
alimente a crença racional na existência da divindade tem um estímulo a mais
para agir eticamente. Mas, desde que o homem percebeu que as religiões se
haviam apoderado da idéia de Deus, manipulando-a de acordo com seus interesses,
o princípio da total separação entre fé e Estado impôs-se como garantia
inerente à liberdade de pensamento, à ordem e à democracia.
Mesmo no âmbito do Estado moderno, laico por definição,
ainda são comuns investidas legislativas e práticas políticas que buscam o
perigoso conluio da religião com o Estado. Especificamente, no que diz com a
introdução ou o mantenimento do ensino religioso em
currículos escolares, as reiteradas tentativas aparecem invariavelmente sob o
argumento de que os princípios a serem desenvolvidos são os comuns a todas as
religiões e que tenderão a uma síntese ética e moral delas emanadas.
O argumento esconde, via de regra,
intenções proselitistas e parte de um equívoco
conceptual que já não cabe sustentar. A moral religiosa nem sempre coincide com
a ética universal, aquela que a filosofia espírita identifica como sendo a “lei
natural”, sinônimo de “lei divina”. Historicamente, a moral religiosa, sob o
pretexto
A própria idéia de Deus, nas religiões, é quase sempre
sectária, discriminatória e segregadora. Dela não
emanam a moral natural e a ética universal. Por isso, a liberdade religiosa, garantia
de todas as Constituições modernas, não se compatibiliza com pleitos em prol da
estatização de normas, práticas e ensinos religiosos.
Em suma, como bem sustentou Gerson Simões Monteiro:
lugares reservados às práticas, aos dogmas e aos ensinos religiosos são os
respectivos templos ou, mesmo,os lares, inspirados na
fé de cada um. Não a escola. (A Redação)
Aborto: solução à criminalidade?
A pobreza é a pior forma de violência.
Gandhi
Ganhou repercussão, no último mês de
outubro, pronunciamento do governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral Filho,
defendendo a legalização do aborto como forma de conter a violência no Estado
que administra. Segundo Cabral, as taxas
Em primeiro lugar, convém salientar
que o economista Steven Levitt
e o jornalista Stephen J.Dubner,
autores do livro “Freakonomics”, buscaram, naquela
obra, justamente demonstrar o equívoco de algumas conclusões tiradas das
estatísticas ou apressadamente apoiadas nestas. Recomendam em seu tratado que
se tome muito cuidado com alguns tipos de ilações que se tiram das
estatísticas. Citam, como exemplo, o fato de haver
decrescido a criminalidade nos bairros pobres de Chicago, na década de 90,
coincidentemente 20 anos após a Suprema Corte dos Estados Unidos haver decidido
que aborto não é punível criminalmente. No caso, porém, segundo apontam
inúmeros estudos, outros fatores teriam determinado aquela redução,
especialmente, no campo econômico e social, não se podendo, absolutamente,
estabelecer um nexo de causa e efeito entre legalização do aborto e queda de
criminalidade.
Estatísticas à parte, a declaração
do governador foi das mais infelizes já feitas por um político,nos
últimos tempos, no Brasil. Mesmo que se pudesse, cientificamente, concluir que
o aborto fosse causa da redução de criminalidade, por eliminar algumas vidas
geradas em ambientes hostis à ordem e à legalidade, seria lamentável que o
Estado viesse a recomendar aquela prática como solução para o fim da violência.
Acima de tudo, compete ao Poder Público criar condições sócio
educativas e econômicas eficazmente capazes de reduzir a tragédia da violência
e da criminalidade no país.
Não resta dúvida de que a miséria, num país injusto como
o nosso, é uma das causas mais agudas da violência. Também é certo que nos
meios social e economicamente menos desenvolvidos a taxa de natalidade é maior
do que naqueles mais abonados socialmente. Querer debelar, no entanto, a
tragédia da criminalidade por meio do aborto praticável pelos pobres, além de
discriminatório, é desumano. Compete, sim, à sociedade
e ao Estado o desenvolvimento de políticas capazes de estender às camadas
socialmente desamparadas os mesmos recursos que estão, normalmente, ao alcance
das classes mais favorecidas, tais como: a educação e a informação. As taxas de
aborto, por exemplo, podem ser sensivelmente reduzidas com a educação sexual e
com o amplo acesso de todas as camadas sociais aos meios anticoncepcionais.
Embora, mesmo à luz da filosofia
espírita, seja defensável um debate mais amplo e profundo sobre alguns aspectos
da atual legislação sobre o aborto, não é razoável, nem ético, que se o
recomende e se o incentive como solução à violência. Eliminarem-se vidas em
formação, a partir da presunção de que elas seriam socialmente danosas, é
solução em tudo e por tudo comparável aos genocídios fundados em crenças
Felizmente, o Brasil, pela maioria
de sua
Estatísticas
à parte, a declaração do governador foi das mais infelizes já feitas por um
político, nos últimos tempos, no Brasil.
Milton R.Medran
Moreira
Progresso
Filho genuíno do Século XIX, o
espiritismo está radicalmente comprometido com a idéia do progresso.
Especialmente porque, de forma diversa do pensamento materialista ou
judaico-cristão, não cremos num fim de nada. Nem numa hecatombe universal, nem
em um juízo final a condenar os maus e a premiar os bons. O espírito está
destinado à imortalidade num projeto ascensional e progressivo, rumo à
plenitude. Nessa visão que temos do espírito – “princípio inteligente do
universo” – está ínsita a idéia do progresso.
A Modernidade vigente no Século XIX,
a partir da Revolução Industrial, do Iluminismo e da Revolução Francesa, apesar
de ter no progresso um de seus mais fortes ícones, evidentemente não levava em
consideração a realidade do espírito, até então aprisionado nos dogmas da
religião de cujo domínio a Europa, ao tempo de Kardec,
ainda lutava para se libertar definitivamente.
O
mito do eterno progresso
O progresso como lei, tal qual
apregoava o positivismo, mas desvinculado de qualquer visão metafísica, só
podia dar no que deu. Como muito bem salientou Alfonso López Quintás, pensador espanhol, em conferência feita, há alguns
anos, em São Paulo, a modernidade criou o mito do eterno progresso, que poderia
ser expresso nesta equação:
1 - Um pouco de conhecimento
científico daria lugar a um pouco de conhecimento
técnico;
2 – Um pouco de conhecimento técnico
geraria um pouco de domínio da realidade, com a produção de muitos artefatos
capazes de trazer bem-estar;
3 – Assim, um pouco de conhecimento
científico traria um pouco de felicidade;
4 – Isto, elevado à enésima
potência, significaria que muito conhecimento científico haveria de trazer
muita felicidade.
A equação não funcionou e,
aparentemente, a idéia do progresso entrou em crise. Mas, o espiritismo, embora
filho do Século 19, tem todas as condições de continuar sustentando sua crença
no progresso, porque, por seus parâmetros, a felicidade humana não está
vinculada exclusivamente ao conhecimento técnico-científico e ao bem-estar
material por ele gerado.
A
velhinha de Taubaté
Não se trata de assumirmos a posição
da “velhinha de Taubaté”, personagem do escritor
Em tempo de violência, corrupção e
impunidade, fatores que levam ao descrédito de tudo e de todos, convém, a
partir dos paradigmas espíritas, ver a realidade sob
outros ângulos, que não aqueles dos derrotistas e decepcionados.
É preciso, em primeiro lugar,
considerar que violência, corrupção e impunidade sempre houve. E que, quanto
mais recuarmos na História, mais presentes estarão esses fatores. Quase sempre
estavam embutidos no próprio sistema que os institucionalizava e protegia. Não
eram elementos subjetivos que nos inibiam da prática do mal. Era o temor.
Aqueles que impunham o terror e o medo, protegidos pelas imunidades religiosas
ou de classe, arrogavam-se o direito de serem corruptos e violentos.
Reencarnação
e progresso
O progresso no qual a filosofia espírita crê propõe a
institucionalização de valores como liberdade, igualdade, fraternidade,
justiça, solidariedade e respeito a direitos humanos, que, ao tempo de Kardec, mal começavam a esboçar o Estado Moderno de
Direito.
Se já temos isso – e teoricamente o
temos – é porque progredimos muito. Em 150 anos, demos um salto de qualidade
que significa, sim, progresso moral.
Porque, na proposta filosófica espírita, todos esses valores coletivos são
conquistas do espírito, que não admitem retrocesso.
Agora, se na prática, é
assustadoramente grande o número de pessoas desajustadas, incapazes de
vivenciar essas conquistas da humanidade, de duas uma: ou é porque a maioria
aparentemente “ajustada” desenvolveu a falsa idéia de progresso consubstanciada
no mito do pensador espanhol e, em conseqüência, redobrou em si o orgulho e o
egoísmo (questão
Em uma ou outra das hipóteses, ou
conjugando-as ambas, há que se crer no progresso. Ele é instrumentalizado
pela reencarnação. Esta é o elemento que faz a diferença, construindo e
sustentando a visão
Notícias
Condomínios mentais foi
tema de Aureci em novembro
O dirigente espírita gaúcho
Para um público de, aproximadamente,
60 pessoas, Aureci discorreu sobre o tema
“Condomínios Mentais”, desenvolvendo reflexões sobre aspectos doutrinários
espíritas acerca das relações mentais que se estabelecem entre encarnados e
desencarnados.
Professor Moacir: Quântica
– Espiritualidade e Sucesso
O lançamento, na 53ª Feira do Livro
de Porto Alegre, ocorreu em movimentada sessão de autógrafos, na tarde de domingo,
28 de outubro, na Praça da Alfândega, cenário da tradicional promoção cultural
da capital gaúcha. Os autógrafos foram precedidos de uma palestra sobre
Quântica e Espiritualidade para um público de, aproximadamente, 500 pessoas,
que lotou a Sala dos Jacarandás, do Memorial do Rio Grande do Sul, na mesma
Praça da Alfândega. Em sua palestra, o Professor Moacir discorreu sobre as
novas tendências da física e identificou em Allan Kardec,
entre outros autores e doutrinas citadas, conceitos inteiramente coincidentes
com a física atual.
Uma delegação do CCEPA prestigiou a
conferência e a sessão de autógrafos do escritor gaúcho.
Neste 9 de
novembro,
O Professor Moacir será também um
dos conferencistas convidados do XX Congresso Espírita Pan-Americano, a
realizar-se em Porto Rico, em junho do próximo ano.
Na segunda-feira, 3
de dezembro, o economista J.Joaquim Marchisio ocupará
a tribuna do CCEPA para falar sobre o tema “O Espiritismo no Contexto das
Relações Atuais”.
Matando
a saudade em sonho
Martha Medeiros*
Como vencer a saudade com algo que seja mais parecido com
presença? Através do sonho.
A saudade não tem nada de trivial. Interfere em nossa vida de um modo às vezes sereno, às vezes não. É um sentimento bem-vindo, pois confirma o valor de quem é ou foi importante para nós, e é ao mesmo tempo um sentimento incômodo, porque acusa a ausência, e os ausentes sempre nos doem.
Por sorte, é relativamente
fácil exterminar a saudade de quase tudo e de quase todos, simplesmente pegando
o telefone e ouvindo a voz de quem nos faz falta, ou indo ao encontro dessa
pessoa. Ou daquele lugar que ficou na memória: uma cidade, uma antiga casa.
Podemos eliminar muitas saudades, enquanto outras vão surgindo. A saudade do
gosto de uma comida, de um cheiro do passado, de um abraço. Há muitas saudades
possíveis de se conviver e possíveis de matar. A única saudade que não se mata
é a de quem morreu. Matar, morrer. Que verbos macabros para se falar de
nostalgia.
Já ouvi vários relatos sobre a
saudade que se sente de um pai, de um avô, de um filho, de uma amiga, dos
afetos que nos deixaram cedo demais - sempre é cedo para partir, não importa a
idade de quem se foi. Ficam as cenas guardadas na lembrança, mas elas se esvanecem, recordações são sempre abstratas. De concreto,
palpável, tem-se as fotos e as imagens de gravações
caseiras, mas de tanto vê-las, já não vemos. Já a sabemos de cor. Não há o
rosto com uma expressão nova, a surpresa de um gesto inusitado.
Como, então, vencer a saudade
com algo que seja mais parecido com presença?
Através do sonho.
Uma mãe que perdeu seu filho
quatro anos atrás me conta que todos em casa sonham com ele, menos ela. Para
sua infelicidade, ela não tem controle sobre isso, simplesmente não recebe essa
bênção, e queria tanto. E eu a entendo, porque através do sonho a pessoa que se
foi nos faz uma visita. Pode até ser uma visita aflitiva, mas a pessoa está de
novo ali, ela está interagindo, ela está sorrindo, ou está calada, ou está
dançando, ou escapando de nossas mãos, mas ela está acontecendo em tempo real,
que é o período em que estamos dormindo, e que faz parte da vida, e não da
morte.
De vez em quando sonho com
minha avó e sempre acordo animada por ela ter
encontrado esse meio de me dar um alô, de me fazer recordá-la. Observo seu
jeito, ouço sua voz e penso: quem roteirizou esse sonho? De onde vieram suas
palavras para mim? A resposta lógica: meu inconsciente falou através dela, só
que isso tira todo o encanto da cena. Prefiro acreditar que ela é que esteve no
comando da sua aparição, me dizendo o que tinha para dizer, nem que fosse uma
frasezinha à toa.
Um colega de trabalho falecido há 20 anos num acidente de carro também já me apareceu em
sonhos algumas vezes, e quando isso acontece acordo com a sensação de que
morte, mesmo, é esquecimento: enquanto eu abrir as portas do sonho para ele
entrar, meu amigo seguirá existindo.
Nesse feriado de Finados, o que
se pode desejar para os inúmeros saudosos de mães, de maridos, de netos? Que os
sonhos abracem a todos.
Martha Medeiros: através do sonho a pessoa que se foi nos faz uma visita.
Martha Medeiros é colunista do
jornal Zero Hora, de Porto Alegre. Esta crônica foi publicada em sua coluna na
edição dominical de 4.11.07.
Nota da Redação: Este espaço é destinado normalmente a veicular a opinião e o pensamento de colaboradores espíritas que nos
enviam seus trabalhos inéditos. Não é praxe reproduzir, aqui, textos já
publicados em outros órgãos de imprensa. Entretanto, o excelente artigo da consagrada
cronista gaúcha, publicado em jornal não-espírita e de grande circulação,
sugere íntima conexão com a visão espírita do sonho como veículo de contato
entre encarnados e desencarnados. Por isso, esta editoria julgou oportuna sua
reprodução.
3 de outubro
Saludos hermanos,
Les escribo en esta
memorable fecha para que juntos recordemos con alegría que un 3
Un día como hoy
regresa entre nosotros un individuo que sin saberlo, y ni siquiera buscarlo,
por lo menos conscientemente, ha tocado nuestras vidas de una manera singular.
Gracias a su trabajo, en constante amparo y orientación por los Espíritus que
trabajan en la evolución de todos los que transitamos en este planeta escuela,
hoy somos libres.
Libres de irnos
conociendo sin ataduras fantasiosas, místicas y subjetividades delirantes.
Libres de creencias arcaicas que se enfrentan a la evidencia científica y
objetiva de que somos inmortales, poderosos, destinados hacia la realización completa y fraternales al mantener la
comunicabilidad entre las dos realidades a través de las que perennemente
transitamos, la física y
Mucho tenemos que
agradecer a este paladín de la Era del Espíritu y a su legado.
Escuela Espírita Allan Kardec
www.educacionespirita.com
Dois modelos
de espiritismo: o de Kardec e o de Chico
Estimado
Estoy convencido de que si el
Espiritismo tiene una vía de evolución, ella resultará de ese tipo de análisis.