OPINIÃO Ano XIV – Nº 145 Setembro 2007
Nossa Opinião: Questão
de tempo
Editorial: Espíritas são uma eleite?
Enfoque: Cientista
português fala sobre espiritismo nas Universidades de Cambridge e Oxford
A inédita
ação penal, iniciada nas últimas semanas no Supremo Tribunal Federal, pode ser
mais do que o julgamento de 40 figurões da República. Talvez indique que o
Brasil não suporta mais conviver com a corrupção.
Dois
anos depois
O episódio pode ser considerado a
maior crise política das últimas décadas no Brasil. Teve
início em maio de 2005, quando o então deputado Roberto Jéfferson
(cassado) levou à Câmara Federal a denúncia de que uma rede de corrupção
envolvia ministros, deputados, dirigentes de estatais e empresários. Políticos
receberiam vultosas propinas para votarem a favor
Só
no último mês de julho, depois de apresentada denúncia pelo Procurador-Geral da
República contra 40 indiciados, por peculato, lavagem de dinheiro, formação de
quadrilha e outros delitos, o processo começou a ser examinado no Supremo
Tribunal Federal, a mais alta Corte da Nação.
O
fato é inédito nos anais políticos e judiciários do Brasil. O STF, um tribunal
constitucional, não tem nem estrutura, nem tradição, para instruir e julgar
originariamente ações penais. Por ser o foro privilegiado de alguns dos
denunciados, passou, no caso, a ter competência para a instrução e o julgamento
de todos os implicados.
Espíritas debatem poder e corrupção
A
chegada do chamado processo do “mensalão” ao STF
ocorre no momento em que todos os segmentos da Nação reclamam pela adoção de
melhores padrões éticos na política. Uma forte conscientização parece indicar
que o país já não mais suporta conviver com a corrupção e reclama por mudanças.
Na
lista de discussões na Internet da CEPA –
Para
Leopoldo Daré (São Paulo), “a existência do poder é
exigência primordial para a corrupção”. Sustenta que “dividir a decisão é
contribuir para minimizar o poder”, daí a importância da democracia.
De
Cincinnati, EUA, o integrante do
Para Marcelo, “os espíritas, como
cidadãos, devem engajar-se nessa luta, via educação e demonstrando, com o
exemplo, que é possível construir uma sociedade melhor”. Ele também crê que
“temos que ser mais rígidos quando se trata de princípios morais, sem tentar
suavizar ou racionalizar”. Assim, diz ele, “se nossos políticos são desonestos
ou não conseguem explicar devidamente seus ganhos e suas ações, retiremos todo
o nosso apoio imediatamente”. “Não podemos compactuar com a degradação moral
que alguns corruptos querem nos impor, dizendo que todos são iguais e que
política é isso mesmo”, finaliza.
Questão de tempo
Há dúvidas de que esta geração
veja chegar ao fim o histórico processo recém iniciado na mais alta Corte do
País. E não será justo atribuir aos eminentes ministros do Supremo Tribunal
Federal qualquer política protelatória. É que, simplesmente, o sistema legal e
institucional em que estamos mergulhados, historicamente, se organizou para que
os rigores da lei não atinjam os poderosos.
Só
muito recentemente, o sentimento de cidadania avançou entre nós de forma a
criar mecanismos garantidores dos princípios gerados pela modernidade que
ousaram enunciar serem todos iguais perante a lei. Amadurecida essa consciência
e ao ensaiarmos ações concretas para fazê-la valer, nos deparamos com um cipoal
de mecanismos protetores que se haviam criado para obstaculizar a apuração de
responsabilidades atribuíveis a pessoas até então tidas como “acima de
quaisquer suspeitas”. Coisas tais como: foro privilegiado, agentes com
prerrogativas especiais, ritos e procedimentos diferenciados.
No
caso concreto, mal estão se formalizando os atos preliminares de um processo
que – não nos iludamos – vai se estender por muitos anos. Da decisão coletiva e
complexa, recém prolatada, correspondente, em processos criminais comuns, a uma
fase singela, expressa em duas palavras grafadas de próprio punho pelo juiz -
“recebo a denúncia” - , decorrerá, agora, uma sucessão
de embargos e agravos. Superados estes, daqui a muito tempo, será a vez de
interrogar todos os réus, ouvir testemunhas, examinar documentos, determinar
perícias, expedir cartas precatórias e rogatórias, oportunizar debates,
examinar dezenas de recursos outros a serem interpostos...Tudo
assegurando o que se chama de “amplo direito de defesa”. Em Cortes da nobreza
de um STF, examinando-se processos onde figuram como réus deputados,
ex-ministros, diretores de estatais, banqueiros e empresários, defendidos
invariavelmente por brilhantes advogados, todos os procedimentos revestem-se de
ritualística processual de invulgar solenidade, onde sói imperar extremado
formalismo, com muitas concessões ao decurso do tempo e ao requinte do verbo.
Sequer
deve se afastar a hipótese de que jamais tenhamos uma decisão definitiva a
confirmar responsabilidades criminais e a lhes atribuir penas. É muito
possível, provável mesmo, que os feitos prescrevam, sem que seu mérito seja
apreciado.
Em
poucos anos, quase certamente, a população terá esquecido os fatos e a
impunidade terá escrito mais um capítulo de nossa história. Que não seja isso
motivo de desânimo, contudo. Assim mesmo, a caminhada de um povo em busca de
eqüidade e da justiça terá avançado. Ética e progresso são metas do Espírito e
de suas coletividades, que pedem tempo, experimentam fluxos e refluxos,
provocam muitas frustrações e não mais que pequenas e parciais vitórias, até se
fazerem conquistas definitivas, dando passo a um tempo novo que a outro tempo sucede. (A
Redação)
Espíritas são uma elite?
A grande maioria dos espíritas se acha entre
pessoas esclarecidas e não entre os ignorantes .
Allan Kardec –“Estatística do Espiritismo” –
O jornalista de Veja Lauro Jardim (edição nº 2024,
Mesmo sem maiores dados sobre
a aludida pesquisa, não parece que ela deva levar à conclusão de que os
espíritas, no Brasil, formam uma elite econômica e social. Dados estatísticos anteriormente
divulgados e analisados com mais profundidade têm dado conta de que o segmento
espírita, em nosso país, é constituído fundamentalmente
O
dado é significativo e parece consolidar-se nos últimos anos. Tudo leva crer
que, especialmente depois da explosão das chamadas religiões evangélicas
pentecostais e neopentecostais, o espiritismo
brasileiro tem se caracterizado exatamente por reunir homens e mulheres de boa
escolaridade,
Na
medida em que essa massa descomprometida com o conhecimento migra para os templos
evangélicos, o movimento espírita melhor vai se caracterizando como um segmento
diferenciado no campo comumente denominado religioso ou espiritualista. Longe
de formar uma elite econômica, firma-se, no entanto, pelo índice
Recente
livro do sociólogo
Se é verdade que o segmento espírita ostenta bons padrões
sociais e de escolaridade, é de se concluir que, igualmente, se situa naquela
faixa, lamentavelmente ainda pequena, de brasileiros comprometidos com a ética
individual e coletiva. Em seu tempo, na Europa, Allan Kardec
observou esse mesmo perfil nas pessoas declaradamente espíritas. Orgulhou-se
disso e, como educador, sentiu-se estimulado a trabalhar mais em favor da
educação. Que tipo de educação? Aquela a que ele se referiu ao comentar a
questão 685-a de O Livro dos Espíritos,
consistente “na arte de formar os caracteres, a que cria hábitos, uma vez que a
educação é o conjunto de hábitos adquiridos”.
Tudo leva crer que, especialmente
depois da explosão das chamadas religiões evangélicas pentecostais e neopentecostais, o espiritismo brasileiro tem se
caracterizado exatamente por reunir homens e mulheres de boa escolaridade, em
sua média.
Milton
Em favor da vida
Agir em favor da vida
é um pouco mais do que, por exemplo, levantar bandeiras e fazer passeatas pela criminalização ou agravamento de penas para o aborto.
Em nossa condição
especialíssima de espíritas, temos uma mensagem muito mais profunda, eficaz e
radical, que deveria nortear nossas ações.
No caso específico do
aborto, os espíritas, lamentavelmente, estão sendo levados de roldão pelas
posturas católico/evangélicas, cujos crentes, Bíblia na mão, amaldiçoam
procedimentos e criminalizam ações, sem dispensar
qualquer atenção às razões mais profundas de algumas condutas humanas que
seriam facilmente evitáveis por meio da educação.
Nossa parceria com as
religiões, nesse caso, é equivocada. Particularmente, me sinto mais à vontade
na companhia de humanistas que, em alguns casos - dentre os quais o delicado
tema do aborto - pugnam por uma descriminalização,
mesmo considerando-o, em certos casos, uma atitude moralmente reprovável.
Direito Penal mínimo
Nos
tempos que correm, ganha corpo a idéia do chamado
“Direito Penal mínimo”. Juristas e sociólogos do mundo inteiro estão concluindo
que as penas, tal como foram concebidas na modernidade, centrando-se na
privação da liberdade, não são eficazes para recuperar ninguém e, muito menos,
para a prevenção da criminalidade. O Direito Penal só encontra uma
justificativa nos dias atuais: como defesa social contra a criminalidade
violenta, que é assustadora em países como o nosso. A cadeia deve estar
reservada para indivíduos que perturbam de forma tal a sociedade que sua
liberdade passa a ser um grave perigo à paz e à estabilidade social. Por essa
filosofia da contemporaneidade, somente se justifica a intervenção penal do
Estado, quando os outros ramos do Direito se mostrarem insuficientes. O Direito
Penal, assim, pouco a pouco, faz-se subsidiário dos demais ramos do Direito,
porque o tempo se encarregou de demonstrar sua ineficácia.
Espiritismo e modernidade
A
filosofia espírita não discrepa dessa visão revolucionária e humanista do
Direito. Ao contrário, toda a estrutura do pensamento kardeciano,
fundada no que ele denominou “lei natural”, chega a entrever a possibilidade de
a sociedade reger-se unicamente pelas leis naturais, dispensando as leis
humanas (L.E. q. 794). Poderia ser assim, dizem os espíritos, em resposta à
provocação de Kardec, “se todos compreendessem bem as
leis naturais e quisessem praticá-las”. As leis positivas, dessa forma,
inclusive as de natureza penal, são exigências provisórias da sociedade,
dispensáveis na medida em que a educação e a vontade dos agentes forem capazes
de superá-las.
No
caso específico do aborto, nada mais eficiente do que preveni-lo pela educação.
No plano social e estatal, a prevenção deve se dar por amplas campanhas em favor
da educação sexual, da contracepção e do planejamento familiar.
Particularmente, vejo com simpatia o lema de alguns movimentos de mulheres
A contribuição espírita
E
quando se fala em educação, no plano estritamente espírita, se está falando em
esclarecer sobre aquilo que é a proposta básica, fundamental e a própria razão
de ser do espiritismo: a existência do espírito imortal.
Pessoalmente,
fico contrariado quando vejo o movimento espírita imiscuído entre crentes a
lutar ferozmente pela manutenção ou ampliação de punições criminais para o
aborto, que, via de regra, resulta de dramáticos
estados de miséria e ignorância. Os espíritas deveriam, preferencialmente,
empenhar-se na difusão de nossas idéias acerca da importância da vida, da
paternidade e maternidade responsáveis. Somos detentores de um manancial
filosófico que resgata a importância da encarnação do espírito como instrumento
de progresso. A vida, diferentemente do que ensina o cristianismo, não começa
com a concepção. É anterior a ela e, para que tenha sentido a vida material em
seu projeto evolutivo, é preciso que encontre, sempre, condições de dignidade e
de respeito, neste plano. Convenhamos: sustentar isso não é ser a favor do
aborto.
Grupo Jovem do
CCEPA apresentará trabalho no 10º SBPE
Dentre os trabalhos
previamente aprovados para a 10ª edição do Simpósio Brasileiro do Pensamento
Espírita – SBPE – (
São,
ao todo, 25 trabalhos aprovados, de autores brasileiros e argentinos. O evento
é patrocinado pelo
As
inscrições para participar do 10º SBPE seguem abertas e podem ser feitas pelo
telefone do ICKS: (13) 3284-2918, ou pelo e-mail:
ickardecista@terra.com.br . O valor da
inscrição, incluindo 3 diárias em hotel conveniado,
café e almoço, é de R$ 265,00 por pessoa.
Espíritas
de Pelotas e Santa Maria também apresentam trabalho
Das
cidades gaúchas de Santa Maria e Pelotas também foram aprovados previamente
trabalhos a serem apresentados no 10º SBPE.
Colaboradoras
da
O Espírito e o
Espiritismo em duas palestras mensais do CCEPA
As
tradicionais palestras da primeira segunda-feira do mês, em setembro e outubro
deste ano, no
Na
noite
No
próximo dia 1º de outubro, em homenagem ao aniversário natalício de Allan Kardec (nascido a 3.10.1804), o trabalho estará a cargo do
presidente do CCEPA,
Cientista português fala sobre espiritismo nas Universidades de
Cambridge e Oxford
O Professor Doutor
O Prof.
Doutor
Foi a primeira vez que a
Universidade de Cambridge abriu as portas a um cientista para, abertamente,
falar sobre a doutrina espírita. O público, composto
exclusivamente por cientistas, professores e alunos universitários europeus,
esgotou praticamente a lotação
Aproveitando uma deslocação de
trabalho do cientista português à referida universidade, um
A abordagem realizada
permitiu um constante paralelismo entre Espiritismo e Ciência nos domínios da
Astrofísica e da Cosmologia. Esta por ser uma ciência única, na qual só pode
haver observações, e não experiências – tente-se retirar uma amostra do tecido
do universo, ou arrancar um pedaço do Sol, para colocar numa lamela e levar ao microscópio
-, de igual forma o Professor Allan Kardec criou um
método para melhor se entender a realidade espiritual que nos envolve. Não se precisa observar buracos negros, estrelas nos confins do
universo ou matéria escura para saber que existem. De forma muito semelhante,
não é necessário visualizar espíritos e sua influenciação
para sabermos da sua existência. Em ciência e no espiritismo, a observação, a
reflexão filosófica e a revelação espiritual (espiritismo) ou intuitiva
(ciência) são meios que cooperam na busca da verdade
e, cada um deles, controla o outro. É precisamente a partilha deste princípio
que faz que um espírita ou um cosmólogo possuam um
sentido de análise crítica.
Dos fenómenos espíritas desde os primórdios da história da
humanidade aos que despertaram a curiosidade do
físico-químico inglês Sir William Crooks, do astrónomo francês Camille Flamarion e do pedagogo francês Hippolyte
Léon-Denizard Rivail (Allan
Kardec), entre tantos outros mais homens de ciência,
aos quais a fenomenologia lhes despertou a verdadeira alma do cientista: a
curiosidade.
Prosseguindo
na sua linha de analogia entre “ciência e espiritismo” o cientista português,
afirmou mesmo que ser espírita é ser como um cientista, «… sermos homens e
mulheres dos “Porquês..?” Querermos sempre saber mais
e mais. Compreendermos, para melhor conhecer a Vida e conhecermo-nos
a nós próprios; esta é a proposta impar que a
Com uma linguagem racional e objectiva explicou que, no caso português, a Fundação Bial, da cidade do Porto, concede bolsas aos pesquisadores
que pretendem estudar o “espírito” e que, na sequência,
os congressos da Bial a nível médico são dos mais
conceituados da Europa. No Brasil, o médico psiquiatra Alexander
Moreira-Almeida, a Profª. Doutora
Face ao interesse despertado, a
conferência prosseguiu até às
O
êxito e o entusiasmo gerado entre os assistentes fizeram com que colegas de
várias universidades do Reino Unido tivessem endereçado convites para palestras
semelhantes nas respectivas universidades. Por necessidade de cumprimento do
calendário de trabalho apenas foi possível a
realização de uma única sessão na universidade de Oxford, ocorrida no dia 16 de
Julho, pelas
Indagado
acerca da receptividade das suas palavras, o cientista português respondeu “os
europeus estão bem receptivos à
*
(Nota da redação: Foi preservada a ortografia original, portuguesa,
no texto produzido pela pesquisadora
Religião e re-ligação
Caro Medran,
A
propósito do seu ótimo texto
"Re-ligação = religião, é impossível, por dois motivos:
Primeiro, pela etimologia das palavras. Os doutores Carlos Imbassahy (pai e filho)
ensinam que as duas palavras latinas têm radicais diferentes: religO, religAS, religAT, religAMUS, religATIS, religANT (indicativo
presente) religAVI
(pretérito) religATUM (supino) e religARE (infinitivo) Em nenhuma das formas aparece o "i" de religiO ou ReligiONES."
Essa afirmação, constou do meu artigo publicado no livro "O
Pensamento Atual da CEPA”.
Notando que
você escreveu que "religare =
religião" venho tirar a dúvida sobre o assunto. Sei
que você é versado em latim e por isso, acredito que o tenha afirmado
Um abraço!
Resposta do editor:
É possível, Nícia, que os Imbassahy
tenham razão, com relação à etimologia da palavra. Há controvérsias sobre isso.
Veja:
"A
palavra religião é de origem latina (religio). O significado não é claro. Cícero (106-
De
qualquer sorte, amiga, o que eu pretendi destacar no artigo é que, para
o cristianismo, o conceito que vale de religião é precisamente este, o
de Lactâncio, segundo quem, a religião liga o homem a
Deus (de quem ele havia se desligado). Toda a teologia cristã está baseada no
episódio bíblico do pecado original que desligou a criatura do criador,
necessitando, mais adiante, a vinda de um redentor que, pelos mecanismos
exclusivos da Igreja, poderia resgatar a culpa do homem, devolvendo-lhe o
estado de graça.
Assim que Bento XVI, um teólogo muito cioso de suas verdades eternas,
tem lá suas razões em proclamar que só a dele é Igreja e que só a dele salva.
Os evangélicos preferem dizer que só Jesus salva (e muitos espíritas, sem se
aperceberem, terminam por repetir esse chavão).
Sobre o tema, temos na literatura espírita uma excelente obra de
As lições da tragédia
Parabéns pelo excelente
editorial de Opinião - As lições da tragédia - do último mês de
agosto.
O texto mereceria
figurar em muitos outros jornais, neste momento que sucede ao trágico acidente
aéreo, ocorrido
Mais um trabalho de
"mestre".
José Lázaro Boberg –
jlboberg@uol.com.br – Jacarezinho/PR.