OPINIÃO Ano XIII    Nº 143 Julho 2007

Cremação a opção que cresce

Editorial: Espíritas e meio-espíritas

Nossa Opinião: Os espíritas e a cremação

Notícias:  Semana de Valorização da vida CVV/CCEPA  //  Muitas moradas trouxe muita gente ao CCEPA    

Opinião em Tópicos:  Construção do conhecimento  -  Kardec e Roustaing-   150 anos depois  -  A Identidade espírita  (Milton Medran Moreira)

Enfoque :  Conceitos dinâmicos de propriedade

Opinião do Leitor:

 

 

 

Cremação – A opção que cresce

 

Recente levantamento feito em Porto Alegre mostra que já é de 8% o índice de mortos cremados na capital gaúcha, o maior do país.

 

            Porto Alegre, a capital da cremação

            Em sua edição de 20 de junho último, o jornal Zero Hora publicou reportagem sobre a crescente opção dos gaúchos pela cremação de cadáveres, em substituição ao tradicional sepultamento.

            A prática, largamente utilizada em outros países do mundo, especialmente de tradição não-cristã (no Japão, 99% dos cadáveres são cremados), no Brasil é ainda a opção de poucos, embora em expansão. A capital do Rio Grande do Sul figura como a cidade onde mais cremações são realizadas: 8%. Enquanto isso, em São Paulo, maior cidade do país, o índice é de 5% dos óbitos, e no Rio de Janeiro de 3%.

            A tradição judaico-cristã

            Desde seus primórdios, o cristianismo rejeitou a idéia da cremação. A crença no juízo final era forte obstáculo a que a Igreja aprovasse a cremação. Segundo aquele dogma, a alma um dia retornará à Terra para buscar em suas entranhas o corpo, junto com o qual há de ser julgado.

            Entre os gregos e os romanos, no início do cristianismo, os chamados “pagãos” se utilizavam largamente da cremação para deixarem clara sua rejeição à idéia cristã do juízo-final.

            A partir de 1963/64, com a modernização da Igreja, promovida pelo Concílio Vaticano II, a cremação passou a ser aceita, sob o argumento de que ela não impede a ressurreição, no dia do juízo final, pois aquela se dá em um contexto sobrenatural. Mesmo assim, a Igreja segue recomendando aos católicos que, preferencialmente, optem pela inumação (sepultamento), com os rituais de encomendação do corpo que, assim, descansará, na sepultura, até o dia do juízo, de acordo com a tradição bíblica. Já o judaísmo segue condenando a cremação. Da mesma forma, a Igreja Ortodoxa que reúne a maioria dos cristãos gregos, russos e de outros países do oriente europeu.

                                        

IMAGEM JUIZO FINAL - www.acidigital.com/igreja/conclave/gsistina.htm

O dogma cristão do juízo final foi um obstáculo à aceitação pela Igreja da prática da cremação.

           

Nossa Opinião

Os espíritas e a cremação

            A tradição cristã legou-nos a idéia de que somos um corpo dentro do qual habita uma alma. Isso difere bastante da visão filosófica espírita para a qual somos, essencialmente, um espírito que se utiliza de um corpo material para suas encarnações terrenas.

            O espírito independe do corpo para sua plena vivência, embora este seja útil, indispensável mesmo, a seu progresso e sua evolução. Mas, o indivíduo, em sua plenitude, está contido no espírito imortal.

            Esses princípios deveriam ser suficientemente eficientes para que nenhum espírita temesse a morte e, no caso específico aqui tratado, aceitasse, sem reservas, a cremação do corpo, no momento em que este deixa de servir o espírito. Entretanto, estamos mergulhados numa cultura que supervaloriza a matéria e pouco reflete sobre a realidade espiritual. Por isso mesmo, encontramos, na própria literatura espírita, algumas reservas quanto à cremação. Conhecidas mensagens de Emmanuel e de Humberto de Campos, na prestigiada psicografia de Chico Xavier, sem condenar a incineração do cadáver, recomendam a decorrência de alguns dias até que se consuma a cremação, na suposição de que o desprendimento do espírito se demore algum tempo após a morte biológica.

            São argumentos válidos levando-se em conta aspectos culturais, já que costumes e crenças criam no espírito condicionamentos de lenta remoção. A tarefa do espiritismo, entretanto, é justamente a de possibilitar uma nova consciência, renovadora de crenças, hábitos e costumes, ancorados na realidade do espírito. Em prol dessa nova cultura é que devemos, os espíritas, contribuir no sentido da opção pela cremação, respeitadas, evidentemente, preferências individuais ligadas à tradição ou a cultura do ente que partiu ou de seus familiares.

            A experiência tem demonstrado, ademais, que a crescente prática da cremação do cadáver, em substituição ao sepultamento, é um procedimento mais econômico e ambientalmente recomendado, além de dispensar rituais fúnebres e pesados, que tornam muito mais dramática a morte, tanto para quem parte como para quem fica.

            A cremação, podemos dizer, então, é um procedimento que em nada viola os princípios espíritas. Ao contrário, sua adoção, que cresce entre nós, reflete uma saudável tendência dos novos tempos e de uma nova consciência com os quais o espiritismo está comprometido.(A Redação)

             

Editorial

Espíritas e meio-espíritas

 

            A pior maneira de não chegar a determinado lugar é pensar que já se está lá.

(Roberto Shinyashiki)

 

            A primeira vista, não teve qualquer repercussão no seio do movimento espírita a recente pesquisa do Instituto Datafolha sobre religiosidade no Brasil. Na edição do mês passado, na primeira página deste periódico, repercutimos alguns dados, especialmente aqueles que dizem com o perfil dos espíritas neste país.

            Voltamos ao tema, porque ele oferece delicado e oportuno material para reflexão.

            Antes, porém, de detalharmos algumas graves distorções abrigadas por brasileiros que se dizem espíritas, cite-se um outro dado que, possivelmente, seja responsável por uma sensação de crescimento do espiritismo no Brasil: a pesquisa indicou que 44% das pessoas que se declaram católicas dizem também aceitar a idéia da reencarnação.

            Esse tipo de constatação, feita reiteradamente em outras pesquisas, tem o efeito de conduzir à suposição de que no Brasil a grande maioria de sua população é “meio-espírita”.Isso não é mau, na medida em que só a idéia da reencarnação já promove na mente das pessoas uma forma diferente de ver a vida e de conduzir-se perante ela. É positivo que pessoas que se declaram católicas tenham o discernimento e a liberdade intelectual e moral de aceitar um princípio filosófico/racional, mesmo  contrariando os dogmas de sua religião.

            Assim, a preocupação não está aí. Está no contingente de pessoas que se declaram espíritas, e que, segundo a referida sondagem, são 3% dos habitantes de nosso país. Ocorre que deste universo, ainda conforme a pesquisa, 64% acreditam na concepção virginal de Jesus de Nazaré; 81% crêem que Jesus ressuscitou, três dias após morrer na cruz; mais de 30% declaram-se crentes no céu e no inferno cristão; 80% aceitam a idéia do milagre, que se contrapõe ao conceito de lei natural da filosofia espírita; igual percentual, de 80 entre cem, declara ter um santo de devoção.

            Com isso, chegamos à dramática conclusão de que, neste Brasil, “coração do mundo e pátria do Evangelho”, desenvolveu-se um fenomenal sincretismo religioso que, à revelia dos princípios fundamentais da doutrina filosófico-moral sistematizada por Allan Kardec,  apropriou-se do substantivo espiritismo e enfeitou-se com o adjetivo espírita. A todo esse imenso e respeitado contingente de homens e mulheres, a maioria dotada de bons princípios morais e de razoável posição social e cultural, cabe como uma luva, na verdade e a rigor, a qualificação de “meio-espíritas”. O grande problema é que eles se declaram espíritas por inteiro. Diferentemente da categoria antes referida, não são católicos, não integram comunidades paroquiais, e, provavelmente, nem tenham sido batizados, não se confessem e nem comunguem aos domingos. Engrossam a estatística do “maior país espírita do mundo”, a partir de uma livre, formal e expressa adesão ao movimento espírita, declarada ao pesquisador ou recenseador. Muitos deles provavelmente sejam dirigentes de centros espíritas, médiuns operosos e – por que não? – poderão deter cargos importantes no movimento. É muito natural que quando se referirem a nós outros (que, provavelmente, seríamos “traço” numa estatística ou fiquemos entre os 6% que têm a coragem de se declarar “sem religião”), digam alto e bom-som: “Esses...bem, eles não são espíritas!”.

            É possível que não seja do interesse de grande parte do movimento espírita deste país debruçar-se sobre os dados da pesquisa Datafolha e avaliar seu dramático significado, como o temos feito aqui. Quem aceitar essas informações obtidas, aliás, por métodos de confiável cientificidade, necessariamente concluirá que há muito de ilusório em nossas avaliações internas e que convém refazermos as contas ou assumir, claramente, a realidade de que somos apenas um país meio-espírita.

 

Neste Brasil, “coração do mundo e pátria do Evangelho”, desenvolveu-se um fenomenal sincretismo religioso que se apropriou do substantivo espiritismo e do adjetivo espírita.

           

Opinião em Tópicos

 

            Milton R. Medran Moreira

 

            Construção do conhecimento

O conhecimento pode ser recebido ou construído. De uma maneira geral, nós, espíritas, somos levados a “receber” o conhecimento espírita. Respeitamos o que chamamos de “codificação espírita” e temos sérias dificuldades em opor restrições ao que escreveu Kardec ou outros reputados autores complementares. Adequamo-nos ao critério da “autoridade” de quem transmite o conhecimento, o que, de certa forma, preserva a unidade doutrinária do espiritismo.

 Muito bem. Isso não é mau. Kardec é a baliza. É a “pedra de toque”, como dizia Herculano. Lançou as bases fundamentais da ciência e da filosofia espírita. Mas, também, com clareza e insistência, qualificou o espiritismo como um conhecimento em construção. E quem quer que seja que se lance, como o fez Allan Kardec, à construção de um novo conhecimento não disporá, obviamente, de tempo suficiente para ver definido com clareza todo o universo buscado pelo objeto daquele mesmo conhecimento.

Kardec e Roustaing

Fui levado a essa reflexão quando me deparei, num grupo de discussão espírita pela Internet, com uma crítica a Kardec, pela posição um tanto dúbia que teria tomado ao comentar o lançamento de “Os Quatro Evangelhos” (Revista Espírita – julho-1866). Na oportunidade, assinalou que a obra de Roustaing teria “o mérito de não estar, em nenhum ponto em contradição com a doutrina ensinada pelo Livro dos Espíritos”. Ao aludir à tese roustainguista do corpo fluídico de Jesus, Kardec afirmou: “Nisso nada há de materialmente impossível para quem quer que conheça as propriedades do envoltório perispiritual”. Mas finalizou dizendo que não se colocaria nem pró e nem contra, e esperava que as proposições da chamada “Revelação das Revelações”, sustentadas pelo advogado de Bordéus, fosse submetida “à sanção do futuro”.É verdade que, mais tarde, em 1868, em “A Gênese”, Kardec terminou por rejeitar a tese do corpo fluídico, ao expor as duas posições para concluir ter tido Jesus um corpo carnal, “como todo homem”. De qualquer maneira, sempre que se manifestou sobre o tema fê-lo com reticências e alguma dubiedade. O autor da crítica que li classificava a atitude de Kardec como pusilânime. Até porque é sobre essa possível dubiedade que os “espíritas roustainguistas” se sustentam.

150 anos depois

Volto à questão da construção do conhecimento. Allan Kardec, num curto período de 15 anos, desbravou um vasto campo, antes dominado por crendices e mistérios. Tratava de dar fundamentos racionais e científicos à tese central da sobrevivência do espírito. As questões que giravam em torno dessa centralidade se desdobravam em inúmeros pontos a serem estudados, pesquisados e esclarecidos. Um século e meio depois, se formos capazes de tomar o espiritismo realmente como um conhecimento em permanente construção, teremos tido muitas das questões dúbias do passado claramente resolvidas. Outras passam a ser objeto de novas perquirições Isso quer dizer também que nós, os espíritas de hoje, temos a obrigação de conhecer o espiritismo melhor do que Kardec. Seu arcabouço doutrinário, por outro lado, faz-se cada vez mais bem definido. E, em conseqüência, sua identidade também. 

Identidade espírita

Até algumas décadas atrás, nem os próprios espíritas sabiam bem qual era a identidade do espiritismo. Isso levou, por exemplo, a Federação Espírita Brasileira, em um determinado momento, a definir como espíritas práticas mediúnicas de religiões africanistas e grupos afins, confundindo espiritismo com mediunismo. Mais tarde, a própria FEB retificou o erro para definir melhor o campo de abrangência do espiritismo. É bem verdade que ainda não conseguiu se livrar do roustainguismo que continua recomendado em seus estatutos e pregado em muitas das obras por ela editadas. Ninguém deve condená-la por isso, desde que do próprio seio da instituição já partiram iniciativas, embora frustradas, de sepultar os ranços roustanguistas que hoje lhe são claramente incômodos.

É justamente isso – e sobre isso, também, um dia todos seremos concordes – que confirma não sermos uma religião, mas cultivadores de um conhecimento em construção. Logo, mutável e progressivo. 

 

Notícias

 

Semana de Valorização da Vida – Realização CVV/CCEPA

Uma intensa programação marca os 37 anos do CVV – Centro de Valorização da Vida, Posto de Porto Alegre, na semana de 29 de julho a 3 de agosto, em programação conjunta com o Centro Cultural Espírita de Porto Alegre, em cujo auditório serão realizadas palestras alusivas ao evento.

A programação

29/julho – domingo – No Parque da Redenção – 10h – Abertura, com a Comissão de Divulgação do CVV.

30/julho – segunda-feira – 16h – Restaurante Birra e Pasta do Shopping Total, Chá de Confraternização (investimento: 8 reais – inscrições pelos fones 3231 6111 e 8411-2461); 17h (no mesmo local) palestra: “Saber Ouvir”, a cargo da voluntária Conceição.

31/julho – terça-feira –No auditório do CCEPA: 20h: Relato “35 Anos de Trabalho Voluntário no CVV” com o voluntário de apoio Paulo; 20h30min: Palestra “150 Anos de O Livro dos Espíritos Valorizando a Vida”, com Milton R. Medran Moreira, Diretor de Comunicação Social do CCEPA e Presidente da Confederação Espírita Pan-Americana”.

1º de agosto – quarta-feira – na sede do CCEPA – 20h: Palestra “O Afeto Essencial – Fundamentos Ancestrais da Afetividade”, com o médico obstetra e escritor Ricardo Herbert Jones;

2 de agosto – quinta-feira – na sede do CCEPA – 20h: Palestra: “Transtornos da Bi-Polaridade” com Débora Vilgevani Shaf, médica psiquiatra; 20h50: Palestra: “Transtornos da Sexualidade”, com Davi Freitas de Lucena, médico psiquiatra.

3 de agosto – sexta-feira – na sede do CCEPA – 19h: Coral de Idosos do Asilo Padre Cacique, responsável: Prof.Loreny, voluntário do Asilo; 20h: Palestra “Educação Emocional, um Caminho com o Coração”, com Liane Bastos Vieira e Bárbara dos Santos Alfaya, psicólogas; Encerramento com Confraternização pelos 37 anos do CVV/POA.

 

O médico Ricardo Herbert Jones falará sobre “O Afeto Essencial – Fundamentos Ancestrais da Afetividade”, na semana do CVV, no CCEPA, onde várias palestras enfocarão temas sobre a valorização da vida, uma delas, com Milton Medran, tratará dos “150 anos de O Livro dos Espíritos, valorizando a vida”.

      

       “Muitas Moradas” trouxe muita gente ao CCEPA

A tradicional conferência pública oferecida pelo CCEPA na primeira segunda-feira do mês esteve, neste mês de julho, a cargo de Léo Falkemberg Indrusiak, dirigente espírita vinculado ao Instituto Espírita Terceira Revelação Divina – IETRD – do Bairro Cristal, em Porto Alegre.

Léo discorreu para um numeroso público que lotou o auditório do Centro Cultural Espírita de Porto Alegre, na noite de 2 de julho, às 20h30min. sobre o tema “Muitas Moradas, Muitos Caminhos – Unicidade ou Multiplicidade?”.

Para a conferência de 6 de agosto próximo, no mesmo horário, está convidado.o historiador Jerri Almeida que falará sobre “O Potencial Filosófico de O Livro dos Espíritos”.

 

Clóvis Alberto Oliveira de Souza ceucabrs@yahoo.com.br  Porto Alegre/RS.

 

Enfoque

 

Conceitos dinâmicos de propriedade

 

José Rodrigues*

 

Dos flanelinhas que defendem seus “pontos” nas vias públicas, ao Império Romano, ou dos traficantes, que exploram “bocas” com exclusividade, aos domínios da Microsoft, permeia a propriedade. Os fisiocratas do Século XVIII, com Quesnay e Turgot, afirmavam que toda a riqueza provinha da natureza, enquanto para Adam Smith (1723-1790), da escola liberal, a riqueza resulta do trabalho.

A Revolução Francesa, deflagrada um ano antes da morte do iluminista Adam Smith, viria revolucionar tanto a propriedade quanto o trabalho, transformando-se em inspiração para outras revoluções e, mais tarde, de várias constituições de países.

A tese espírita da propriedade foi anunciada menos de um século depois, de caráter absolutamente universal e talvez por isso venha a manter-se com atualidade, sem tempo para ser esgotada. Sua leitura em O Livro dos Espíritos, mesmo assim, parece ter um fulcro do tempo em que foi exposta, ou seja, a propriedade como algo material, no conceito econômico, infungível. Ocorre que tempos posteriores conheceriam novos entendimentos sobre bens, com mudanças de curta duração. 

No tempo mais recente, os conceitos de propriedade intelectual e sua derivação virtual, ganham importância nas defesas de seus autores. O valor do saber, do conhecimento, surge vantajoso na competição, enquanto as questões ambientais, sequer sonhadas pelos Espíritos dos meados do Século XIX, avolumam-se, com repercussões econômicas indiscutíveis. De fato, qualquer tese que queira ser moderna não pode prescindir de duas componentes: a melhor repartição da riqueza e a sustentabilidade do ambiente.

Por seqüência, uma fórmula química, uma partitura, um trabalho de pesquisa, em qualquer campo, são propriedades pessoais ou empresariais, que podem ser disponibilizados a gosto de seus autores, de graça ou a troco de dinheiro. Mais à frente, o fenômeno Bill Gates, dono da Microsoft, criou valores, com base no campo virtual, que assustam aos proprietários de bens físicos. Essa empresa tem um valor de mercado (US$ 60 bilhões) equivalente a oito vezes seu balanço contábil. Valores de portais na net, alguns recentemente criados por jovens que não usam paletó ou gravata, assumem grandezas extraordinárias, tudo pelo seu potencial de comunicação, paradoxalmente, sobre algo mutável no essencial, “que não existe”, diria, o mundo virtual.   

O desafio de legitimar essa “propriedade” é o mesmo aplicado a bens físicos, usuais ao tempo de Kardec (1804-1869). Mas, de certo modo, aquela propriedade só existe se for constantemente mutável, resultado da corrida do saber e da tecnologia. Daí, a rápida obsolescência dos aplicativos e programas de informática, bem como dos respectivos equipamentos. Digamos que nós, consumidores, é quem legitimamos a propriedade em torno do mundo virtual.

As questões ambientais, que tendem a crescer, surgem como novo aditivo em termos de propriedade e sua legitimação. Os Espíritos cravaram que legítima é a propriedade adquirida sem prejuízo para os outros. O ingrediente da sustentabilidade (as ações produtivas devem garantir o bem-estar de gerações futuras) é uma exigência econômica de vulto, tanto que nações como os Estados Unidos se recusam a assinar o Protocolo de Kyoto, regulador de emissões de gás carbônico para a atmosfera. Vale dizer que uma ação econômica que não respeite o ambiente, segundo os padrões agora exigidos, colidirá com a tese dos Espíritos.

Sobre a renda, há uma discussão interessante. O homem tem buscado não só a sobrevivência confortável, como a acumulação de bens, o aumento da riqueza. Para tanto, ele (nós) despendemos esforços, até acima do razoável. Enquanto outra motivação não se impõe, convém conhecer-se o pensamento de Adam Smith a respeito. Em síntese, o economista escocês disse que cada indivíduo procura seu próprio ganho, mas é como se fosse levado por “uma mão invisível” para produzir um resultado que não fazia parte de sua intenção. “Perseguindo seus próprios interesses, frequentemente promove os da sociedade, com mais eficiência do que se realmente tivesse a intenção de fazê-lo”.

A tese smithiana é verdadeira, mas à luz da solidariedade, é melancólica. Aí está “primeiro eu” e para os outros, “a sobra”. Essa busca, que ainda reflete “o espírito animal” do homem, deve ser um foco de mudanças.

Allan Kardec perguntou se o desejo de possuir é natural. “Sim, mas quando o homem só deseja para si e para sua satisfação pessoal, é egoísmo. Há homens insaciáveis...”, disseram os Espíritos. É nessas bases, no entanto, que o mundo se apóia em maior medida e as experiências históricas que tentaram apressar a repartição das riquezas, via decreto ou fuzil, tiveram que mudar de meios. No contraponto está a “mão invisível” de Smith, de natureza espontânea, que ficaria bem melhor com a visão da imortalidade, antecedida da certeza de que levamos para outros planos apenas os valores da experiência e do conhecimento.

 

IMAGEM: MEIO AMBIENTE - www.pma.es.gov.br

 

A ação econômica que não respeite o meio ambiente colide com a tese dos Espíritos segundo os quais só é legítima a propriedade adquirida sem prejuízo de outrem

 

*José Rodrigues, jornalista e economista, integra o Centro Espírita Allan Kardec, de Santos/SP.

 

 Opinião do Leitor

 

A visita do Papa e as estatísticas sobre religião

Brilhante texto de Opinião em Tópicos da edição de junho. Irretocável: “A César o que é de César”. Ao Papa cabem suas ponderações. Ao cidadão comum aceitá-las ou não.

Fica para nossa reflexão.Certa a afirmativa, com exemplo, de que o povo foi para “ver” o papa, não para “ouvi-lo”.

O povo precisa de uma figura representativa e “viva” de sua esperança e de sua fé.

Mas, questiono: é CATÓLICO quem é a favor do divórcio, do uso da camisinha, do aborto

e do segundo casamento? Continua sendo CATÓLICO? Entra nas estatísticas como

CATÓLICO?

Clóvis Alberto Oliveira de Souza ceucabrs@yahoo.com.br  Porto Alegre/RS.

 

 

Espírito e Modernidade

 

Caro Medran

Parabenizamos pelo artigo constante do Editorial do Jornal Opinião de Junho 2007: Espírito e Modernidade. É o que eu penso. O assunto foi desenvolvido com irrefutável lógica e inteligência. Creio que todo Espírita consciente deveria ler a matéria e refletir sobre seu excelente conteúdo.

 

José Lázaro Boberg jlboberg@uol.com.br  -   Jacarezinho/PR.

 

Resposta do editor

Estimado Boberg:

Sei que escrevemos para pouca gente. É possível até que muitos dos leitores de Opinião passem por cima do editorial, sem sequer lê-lo. Normalmente, o editorial dos jornais é um escrito formal, sem muitos atrativos e o que os leitores querem é novidades.

Mesmo sabendo disso, busco fazer do editorial do Opinião uma mensagem para ficar, que marque o momento histórico que vivemos, que possa mesmo ser lido por algum curioso observador do futuro, que resolva se preocupar com esse jornalzinho um dia editado por um pequeno grupo de irrequietos pensadores espíritas do Sul do Brasil. Ponho sempre um pouco da alma, das inquietações e das esperanças  minhas e de meus companheiros naquelas poucas linhas, mesmo sabendo que serão pouco lidas.

Por isso tudo, fico feliz com sua observação que nos estimula e nos honra.

            Obrigado e um grande abraço.

Milton Medran Moreira – editor