OPINIÃO Ano
XIII –
Nº 143 Julho 2007
Editorial: Espíritas e meio-espíritas
Nossa Opinião: Os espíritas e a cremação
Notícias: Semana de Valorização da vida
CVV/CCEPA // Muitas moradas trouxe muita gente ao CCEPA
Recente levantamento feito
Porto
Alegre, a capital da cremação
Em
sua edição
A
prática, largamente utilizada em outros países do mundo, especialmente de
tradição não-cristã (no Japão, 99% dos cadáveres são cremados), no Brasil é
ainda a opção de poucos, embora
A tradição judaico-cristã
Desde
seus primórdios, o cristianismo rejeitou a idéia da cremação. A crença no juízo
final era forte obstáculo a que a Igreja aprovasse a cremação. Segundo aquele dogma,
a alma um dia retornará à Terra para buscar em suas entranhas o corpo, junto
com o qual há de ser julgado.
Entre
os gregos e os romanos, no início do cristianismo, os chamados “pagãos” se
utilizavam largamente da cremação para deixarem clara sua rejeição à idéia
cristã do juízo-final.
A
partir de 1963/64, com a modernização da Igreja, promovida pelo Concílio
Vaticano II, a cremação passou a ser aceita, sob o argumento de que ela não
impede a ressurreição, no dia do juízo final, pois aquela se dá em um contexto
sobrenatural. Mesmo assim, a Igreja segue recomendando aos católicos que,
preferencialmente, optem pela inumação (sepultamento), com os rituais de
encomendação do corpo que, assim, descansará, na sepultura, até o dia do juízo,
de acordo com a tradição bíblica. Já o judaísmo segue condenando a cremação. Da
mesma forma, a Igreja Ortodoxa que reúne a maioria dos cristãos gregos, russos
e de outros países do oriente europeu.
IMAGEM JUIZO FINAL -
www.acidigital.com/igreja/conclave/gsistina.htm
O dogma cristão do juízo final foi um obstáculo à
aceitação pela Igreja da prática da cremação.
Os espíritas e a cremação
A
tradição cristã legou-nos a idéia de que somos um corpo dentro do qual habita
uma alma. Isso difere bastante da visão filosófica espírita para a qual somos,
essencialmente, um espírito que se utiliza de um corpo material para suas
encarnações terrenas.
O
espírito independe do corpo para sua plena vivência, embora este seja útil,
indispensável mesmo, a seu progresso e sua evolução. Mas, o indivíduo, em sua
plenitude, está contido no espírito imortal.
Esses
princípios deveriam ser suficientemente eficientes para que nenhum espírita
temesse a morte e, no caso específico aqui tratado, aceitasse, sem reservas, a
cremação do corpo, no momento em que este deixa de servir o espírito. Entretanto,
estamos mergulhados numa cultura que supervaloriza a matéria e pouco reflete
sobre a realidade espiritual. Por isso mesmo, encontramos, na própria
literatura espírita, algumas reservas quanto à cremação. Conhecidas mensagens
de Emmanuel e
São
argumentos válidos levando-se em conta aspectos culturais, já que costumes e
crenças criam no espírito condicionamentos de lenta remoção. A tarefa do
espiritismo, entretanto, é justamente a de possibilitar uma nova consciência, renovadora
de crenças, hábitos e costumes, ancorados na realidade do espírito. Em prol
dessa nova cultura é que devemos, os espíritas, contribuir no sentido da opção
pela cremação, respeitadas, evidentemente, preferências individuais ligadas à
tradição ou a cultura do ente que partiu ou de seus familiares.
A
experiência tem demonstrado, ademais, que a crescente prática da cremação do
cadáver, em substituição ao sepultamento, é um procedimento mais econômico e ambientalmente
recomendado, além de dispensar rituais fúnebres e pesados, que tornam muito
mais dramática a morte, tanto para quem parte como para quem fica.
A
cremação, podemos dizer, então, é um procedimento que em nada viola os
princípios espíritas. Ao contrário, sua adoção, que cresce entre nós, reflete
uma saudável tendência dos novos tempos e de uma nova consciência com os quais
o espiritismo está comprometido.(A
Redação)
Espíritas e meio-espíritas
A
pior maneira de não chegar a determinado lugar é pensar que já se está lá.
A
primeira vista, não teve qualquer repercussão no seio do movimento espírita a
recente pesquisa do Instituto Datafolha sobre religiosidade no Brasil. Na
edição do mês passado, na primeira página deste periódico, repercutimos alguns
dados, especialmente aqueles que dizem com o perfil dos espíritas neste país.
Voltamos
ao tema, porque ele oferece delicado e oportuno material para reflexão.
Antes,
porém, de detalharmos algumas graves distorções abrigadas por brasileiros que
se dizem espíritas, cite-se um outro dado que, possivelmente, seja responsável
por uma sensação de crescimento do espiritismo no Brasil: a pesquisa indicou
que 44% das pessoas que se declaram católicas dizem também aceitar a idéia da
reencarnação.
Esse
tipo de constatação, feita reiteradamente em outras pesquisas, tem o efeito de conduzir
à suposição de que no Brasil a grande maioria de sua população é
“meio-espírita”.Isso não é mau, na medida em que só a idéia da reencarnação já
promove na mente das pessoas uma forma diferente de ver a vida e de conduzir-se
perante ela. É positivo que pessoas que se declaram católicas tenham o
discernimento e a liberdade intelectual e moral de aceitar um princípio
filosófico/racional, mesmo contrariando
os dogmas de sua religião.
Assim,
a preocupação não está aí. Está no contingente de pessoas que se declaram
espíritas, e que, segundo a referida sondagem, são 3% dos habitantes de nosso
país. Ocorre que deste universo, ainda conforme a pesquisa, 64% acreditam na
concepção virginal
Com
isso, chegamos à dramática conclusão de que, neste Brasil, “coração do mundo e
pátria do Evangelho”, desenvolveu-se um fenomenal sincretismo religioso que, à
revelia dos princípios fundamentais da doutrina filosófico-moral sistematizada
por Allan Kardec, apropriou-se do
substantivo espiritismo e enfeitou-se com o adjetivo espírita. A todo esse
imenso e respeitado contingente de homens e mulheres, a maioria dotada de bons
princípios morais e de razoável posição social e cultural, cabe como uma luva,
na verdade e a rigor, a qualificação de “meio-espíritas”. O grande problema é
que eles se declaram espíritas por inteiro. Diferentemente da categoria antes
referida, não são católicos, não integram comunidades paroquiais, e,
provavelmente, nem tenham sido batizados, não se confessem e nem comunguem aos
domingos. Engrossam a estatística do “maior país espírita do mundo”, a partir
É
possível que não seja do interesse de grande parte do movimento espírita deste
país debruçar-se sobre os dados da pesquisa Datafolha e avaliar seu dramático
significado, como o temos feito aqui. Quem aceitar essas informações obtidas,
aliás, por métodos de confiável cientificidade, necessariamente concluirá que
há muito de ilusório em nossas avaliações internas e que convém refazermos as
contas ou assumir, claramente, a realidade de que somos apenas um país
meio-espírita.
Neste Brasil, “coração do
mundo e pátria do Evangelho”, desenvolveu-se um fenomenal sincretismo religioso
que se apropriou do substantivo espiritismo e do adjetivo espírita.
Milton
Construção do
conhecimento
O conhecimento pode ser
recebido ou construído. De uma maneira geral, nós, espíritas, somos levados a
“receber” o conhecimento espírita. Respeitamos o que chamamos de “codificação
espírita” e temos sérias dificuldades em opor restrições ao que escreveu Kardec
ou outros reputados autores complementares. Adequamo-nos ao critério da “autoridade”
de quem transmite o conhecimento, o que, de certa forma, preserva a unidade
doutrinária do espiritismo.
Muito bem. Isso não é mau. Kardec é a baliza.
É a “pedra de toque”, como dizia Herculano. Lançou as bases fundamentais da
ciência e da filosofia espírita. Mas, também, com clareza e insistência,
qualificou o espiritismo como um conhecimento
Kardec e Roustaing
Fui levado a essa
reflexão quando me deparei, num
150 anos depois
Volto à questão da
construção do conhecimento. Allan Kardec, num curto período de 15 anos,
desbravou um vasto campo, antes dominado por crendices e mistérios. Tratava de
dar fundamentos racionais e científicos à tese central da sobrevivência do
espírito. As questões que giravam em torno dessa centralidade se desdobravam em
inúmeros pontos a serem estudados, pesquisados e esclarecidos. Um século e meio
depois, se formos capazes de tomar o espiritismo realmente como um conhecimento
em permanente construção, teremos tido muitas das questões dúbias do passado
claramente resolvidas. Outras passam a ser objeto de novas perquirições Isso
quer dizer também que nós, os espíritas de hoje, temos a obrigação de conhecer
o espiritismo melhor do que Kardec. Seu arcabouço doutrinário, por outro lado,
faz-se cada vez mais bem definido. E, em conseqüência, sua identidade
também.
Identidade espírita
Até algumas décadas
atrás, nem os próprios espíritas sabiam bem qual era a identidade do
espiritismo. Isso levou, por exemplo, a
É justamente isso – e
sobre isso, também, um dia todos seremos concordes – que confirma não sermos
uma religião, mas cultivadores de um conhecimento
Semana de Valorização da Vida – Realização
CVV/CCEPA
Uma intensa programação
marca os 37 anos do CVV –
A programação
29/julho – domingo – No Parque da
Redenção –
30/julho – segunda-feira –
31/julho – terça-feira –No
auditório do CCEPA:
1º de agosto – quarta-feira – na sede
do CCEPA –
3 de agosto – sexta-feira – na sede
do CCEPA –
O médico
“Muitas
Moradas” trouxe muita gente ao CCEPA
A tradicional conferência
pública oferecida pelo CCEPA na primeira segunda-feira do mês esteve, neste mês
de julho, a cargo de Léo Falkemberg Indrusiak, dirigente espírita vinculado ao
Léo discorreu para um
numeroso público que lotou o auditório do
Para a conferência
Clóvis
Conceitos dinâmicos
de propriedade
Dos flanelinhas que
defendem seus “pontos” nas vias públicas, ao Império Romano, ou dos
traficantes, que exploram “bocas” com exclusividade, aos domínios da Microsoft,
permeia a propriedade. Os fisiocratas do Século XVIII, com Quesnay e Turgot,
afirmavam que toda a riqueza provinha da natureza, enquanto para Adam Smith
(1723-1790), da escola liberal, a riqueza resulta do trabalho.
A Revolução Francesa,
deflagrada um ano antes da morte do iluminista Adam Smith, viria revolucionar
tanto a propriedade quanto o trabalho, transformando-se em inspiração para
outras revoluções e, mais tarde, de várias constituições de países.
A tese espírita da
propriedade foi anunciada menos de um século depois, de caráter absolutamente
universal e talvez por isso venha a manter-se com atualidade, sem tempo para
ser esgotada. Sua leitura
No tempo mais recente, os
conceitos de propriedade intelectual e sua derivação virtual, ganham
importância nas defesas de seus autores. O valor do saber, do conhecimento,
surge vantajoso na competição, enquanto as questões ambientais, sequer sonhadas
pelos Espíritos dos meados do Século XIX, avolumam-se, com repercussões
econômicas indiscutíveis. De fato, qualquer tese que queira ser moderna não
pode prescindir de duas componentes: a melhor repartição da riqueza e a
sustentabilidade do ambiente.
Por seqüência, uma
fórmula química, uma partitura, um trabalho de pesquisa, em qualquer campo, são
propriedades pessoais ou empresariais, que podem ser disponibilizados a gosto
de seus autores, de graça ou a troco de dinheiro. Mais à frente, o fenômeno
Bill Gates, dono da Microsoft, criou valores, com base no campo virtual, que
assustam aos proprietários de bens físicos. Essa empresa tem um valor de
mercado (US$ 60 bilhões) equivalente a oito vezes seu balanço contábil. Valores
de portais na net, alguns recentemente criados por jovens que não usam paletó
ou gravata, assumem grandezas extraordinárias, tudo pelo seu potencial de
comunicação, paradoxalmente, sobre algo mutável no essencial, “que não existe”,
diria, o mundo virtual.
O desafio de legitimar
essa “propriedade” é o mesmo aplicado a bens físicos, usuais ao tempo de Kardec
(1804-1869). Mas, de certo modo, aquela propriedade só existe se for
constantemente mutável, resultado da corrida do saber e da tecnologia. Daí, a
rápida obsolescência dos aplicativos e programas de informática, bem como dos
respectivos equipamentos. Digamos que nós, consumidores, é quem legitimamos a
propriedade em torno do mundo virtual.
As questões ambientais,
que tendem a crescer, surgem como novo aditivo em termos de propriedade e sua
legitimação. Os Espíritos cravaram que legítima é a propriedade adquirida sem
prejuízo para os outros. O ingrediente da sustentabilidade (as ações produtivas
devem garantir o bem-estar de gerações futuras) é uma exigência econômica de
vulto, tanto que nações como os Estados Unidos se recusam a assinar o Protocolo
de Kyoto, regulador
Sobre a renda, há uma
discussão interessante. O homem tem buscado não só a sobrevivência confortável,
como a acumulação de bens, o aumento da riqueza. Para tanto, ele (nós)
despendemos esforços, até acima do razoável. Enquanto outra motivação não se
impõe, convém conhecer-se o pensamento de Adam Smith a respeito. Em síntese, o
economista escocês disse que cada indivíduo procura seu próprio ganho, mas é
como se fosse levado por “uma mão invisível” para produzir um resultado que não
fazia parte de sua intenção. “Perseguindo seus próprios interesses,
frequentemente promove os da sociedade, com mais eficiência do que se realmente
tivesse a intenção de fazê-lo”.
A tese smithiana é
verdadeira, mas à luz da solidariedade, é melancólica. Aí está “primeiro eu” e
para os outros, “a sobra”. Essa busca, que ainda reflete “o espírito animal” do
homem, deve ser um foco de mudanças.
Allan Kardec perguntou se
o desejo de possuir é natural. “Sim, mas quando o homem só deseja para si e
para sua satisfação pessoal, é egoísmo. Há homens insaciáveis...”, disseram os
Espíritos. É nessas bases, no entanto, que o mundo se apóia em maior medida e
as experiências históricas que tentaram apressar a repartição das riquezas, via
decreto ou fuzil, tiveram que mudar de meios. No contraponto está a “mão
invisível” de Smith, de natureza espontânea, que ficaria bem melhor com a visão
da imortalidade, antecedida da certeza de que levamos para outros planos apenas
os valores da experiência e do conhecimento.
IMAGEM: MEIO AMBIENTE -
www.pma.es.gov.br
A ação econômica que não respeite o meio ambiente
colide com a tese dos Espíritos segundo os quais só é legítima a propriedade
adquirida sem prejuízo de outrem
*
A visita
do Papa e as estatísticas sobre religião
Brilhante texto de Opinião em Tópicos da edição de junho. Irretocável:
“A César o que é de César”. Ao Papa cabem suas ponderações. Ao cidadão comum
aceitá-las ou não.
Fica para nossa
reflexão.Certa a afirmativa, com exemplo, de que o povo foi para “ver” o papa,
não para “ouvi-lo”.
O
povo precisa de uma figura representativa e “viva” de sua esperança e de sua
fé.
Mas,
questiono: é CATÓLICO quem é a favor do divórcio, do uso da camisinha, do
aborto
e
do segundo casamento? Continua sendo CATÓLICO? Entra nas estatísticas como
CATÓLICO?
Clóvis
Espírito e Modernidade
Caro
Medran
Parabenizamos pelo artigo constante
do Editorial do Jornal Opinião de
Junho 2007: Espírito e Modernidade. É
o que eu penso. O assunto foi desenvolvido com irrefutável lógica e
inteligência. Creio que todo Espírita consciente deveria ler a matéria e
refletir sobre seu excelente conteúdo.
José Lázaro
Boberg
–
jlboberg@uol.com.br - Jacarezinho/PR.
Resposta do
editor
Estimado Boberg:
Sei que
escrevemos para pouca gente. É possível até que muitos dos leitores de Opinião passem por cima do editorial, sem sequer
lê-lo. Normalmente, o editorial dos jornais é um escrito formal, sem muitos
atrativos e o que os leitores querem é novidades.
Mesmo
sabendo disso, busco fazer do editorial do Opinião uma mensagem para ficar, que marque o momento histórico que vivemos,
que possa mesmo ser lido por algum curioso observador do futuro, que resolva se
preocupar com esse jornalzinho um dia editado por um pequeno
Por isso
tudo, fico feliz com sua observação que nos estimula e nos honra.
Obrigado
e um grande abraço.