OPINIÃO Ano XIII – Nº
141- Maio 2007
Mensagem atribuída a João Hélio é contestada
Editorial:
Comecemos pelo
autoperdão
Nossa
Opinião: Uma
“justiça” nem humana, nem divina
Enfoque
: Reflexões de um médico sanitarista (espírita)
sobre a violência
Mensagem atribuída a
João Hélio é contestada
O Brasil todo chocou-se com a morte brutal do menino João
Hélio Fernandes (6 anos), dia 6 de fevereiro último. O garoto foi arrastado por
sete quilômetros, preso ao cinto de segurança, na Zona Norte do Rio de Janeiro.
Agora, a Internet
foi inundada por uma presumível mensagem mediúnica de João Hélio, que se
declara “em paz” e “na luz”, por ter resgatado crimes do passado.
A mensagem
“Nasci na
Gália, no ano de 22, e desencarnei na Libia no ano 20 da era cristã. Fui
oficial da legião dos leões que estava na Líbia, Núbia. Como governador de Al
Katrim, me comprazia atrelar na minha biga puxada por dois cavalos velozes,
crianças, homens, mulheres, novos, velhos e eram puxados através da estrada
seca e pedregosa daquela região da África. Os corpos se despedaçavam e eu era
exaltado pelos meus pares...Morri em combate com tropas egípcias e me deparei
em uma região de treva profunda, talvez uma caverna. Muitos gritos e rostos
aterradores me esperavam. Fui levado a um estado de total animalidade por 1.500
anos, quando os servos de Maria me resgataram. Sendo levado a outro plano, fui
aos poucos tendo meu perispírito reajustado, minha mente normalizada e meus
pensamentos corrigidos. E compreendi os horrores que cometi. Que tristeza,
Deus! Por 300 anos permaneci em preparo para reencarnação e pedia a graça de
receber para desencarne o mesmo destino dado por mim a outros. No ano do Senhor
de 2001, após busca incessante por quem me recebesse por filho, um casal
tiranizado por mim, aceitou. Reencarnei.
Agora, em
comoção generalizada, como irmão Joãozinho, desencarnei e agradeço ao Pai ter
me atendido dando destino igual ao que dei às minhas vítimas. Estou em paz,
estou na luz. Resgatei um pouco do meu passado. Outros momentos virão. Confio
em Deus.
Titus Aelius”
A contestação
A
seguir, os principais argumentos mediante os quais a empresária
- Mensagem cuja autoria carece
de comprovação. Pode ser autêntica, pode ser apenas produto de uma
mente fértil e/ou fantasiosa, encarnada e/ou desencarnada. Se for realmente de
caráter mediúnico, seu autor(a) pode ser do tipo pseudo-sábio(a),
existente em todas dimensões espirituais. Quem desencarna não ganha imediatamente,
"status" diferente do que tinha, quando na Terra. Toda mensagem deve
ser analisada friamente. Se aqui existe gente ignorante e mesmo
má, etc., lá também há.
- O médium não
está identificado. Um médium sério sempre expressa o nome do espírito
comunicante, quando ele o diz; e também o seu, pela psicografia.
- Pode
ser ainda, um texto produzido por médium, mas de caráter anímico. Isto é,
o teor da mensagem não provém de algum espírito, mas do inconsciente profundo
do próprio médium.
- A
expressão "Servos de
Maria" é bem típica de misticismo religioso. Ao
que tudo indica, refere-se à Nossa Senhora dos católicos e seus grupos
espirituais. Considerando-se que Maria tenha sido um espírito adiantado,
por esta mesma condição, jamais se permitiria ter servos, pois a
escravidão já passou. Mensagens desse teor, de natureza mística,
dogmática e religiosista, são comuns no espiritismo neo-católico, que
é majoritário no Brasil.Traduzem uma incorreta orientação.Uma verdadeira
desorientação sobre a filosofia kardecista, que não reconhece a virgindade
e a santidade de Maria, muito menos cheia de servos.
- A Lei de
Ação e Reação não pode ser entendida assim, tão radicalmente ao pé da
letra. Matou? Tem que morrer "matado". Se possível do mesmo
jeito... Se assim fosse, a matança jamais se acabaria,
continuaria em eterno círculo vicioso.
- O rígido
postulado do tipo "bateu levou" é uma autêntica negação da idéia
de evolução pessoal e dos mundos, que é o cerne do espiritismo.. É
uma interpretação atávica das leis do Antigo Testamento, que preconiza: "Olho
por olho, dente por dente".
-
Desencarnações em massa, ou em circunstâncias horríveis tendem a receber
explicações fantasiosas, esdrúxulas. Como no caso de João
Hélio. Mortes "por atacado" em desastres
naturais ou não, (terremotos, tsunamis, carros, aviões,
etc.) geralmente são explicadas como "resgate coletivo"
de grupos envolvidos em práticas maléficas, no passado.
- O
espiritismo filosófico científico e moral, dito laico, explica tudo isso
como mera circunstância de tempo, condições e lugar.
Mais especificamente, como resultante do baixo nível de
educação formal e espiritual de indivíduos e de populações
atrasadas.
- Exemplo: se
você mora nos pólos, é bem mais provável que venha a falecer no
desmoronamento de uma geleira, do que de uma bala perdida, como no Rio.
Se mora numa floresta tropical, estará mais sujeito a morrer de
malária ou dengue, do que de atropelamento e assalto à mão armada. Em tudo, por
tudo, é necessário contextualizar.
- A morte,
temida e interpretada como sofrimento e castigo de Deus, nada mais é do que um
dos fenômenos das Leis Naturais e Divinas, (Lei
da Destruição) cuja tarefa é a renovação do mundo.
Uma “justiça” nem humana, nem
divina
Aos precisos
argumentos
Manuel
Porteiro, o pensador argentino que, magnificamente, tratou das questões da
causalidade espírita, considera “simplista” o conceito de que toda a ação ou
situação humana do presente há de ter, necessariamente, um antecedente causal
Causalidade,
sim. Mas, violência como solução para a violência, não. Isso nem mais humano é.
Será assim a justiça divina? Só se for a dos deuses do passado. Nunca do Deus
“inteligência suprema”, concebido pela moderna filosofia espírita. (A Redação).
Comecemos
pelo autoperdão
A justiça inflexível é freqüentemente a suma injustiça
Terêncio
Esta edição de Opinião oferece duas reflexões sobre o fenômeno da violência.
A primeira está contida na reportagem de capa.
Um tipo de violência que, embora concebido como instrumento de resgate, justiça
e paz, tem componentes psíquicos ainda vinculados a uma estrutura violenta.
Constitui o núcleo do discurso de espíritos (encarnados ou desencarnados)
dominados pela convicção de que para se liberarem de erros graves cometidos em
estágios anteriores, necessitam sofrer na carne os mesmos males a outros
infligidos. Com essa idéia plantada em suas almas, anseiam pela violência,
chamam-na para si, abençoam-na e sublimam-na, conferindo-lhe, inclusive, uma
dimensão divina. Não se dão conta de que, concretizada a violência que julgam
constituir-se na única forma de exculpação individual, a dor por ela gerada
atinge indistintamente culpados e inocentes, causando generalizados
desequilíbrios emocionais e psíquicos a contribuir de forma dramática com a
deterioração do todo social em que estão envolvidos.
A segunda diz com aquela violência que,
escapando das intricadas estruturas psíquicas de seus autores e de suas
vítimas, espalha-se e contamina povos inteiros, como ocorre agora no Brasil. É
causa dramática do terror e do medo que modificam comportamentos sociais e
deixam resultados cada vez mais trágicos. Sobre essa violência que a sociedade não
está conseguindo controlar, mesmo com leis fortes e complexos aparatos de
defesa, ocupa-se o artigo que se publica na última página deste periódico.
Escreve-o um médico sanitarista espírita que a trata como verdadeira epidemia e
nos concita todos a um gigantesco exercício para debelá-la. Para que isso seja
possível, sustenta não só a necessidade da correta ação punitiva estatal, mas,
especialmente,
O primeiro tipo de violência, aquele que,
frequentemente, chamamos para nós, como se fora o único caminho à conquista da
paz interior, pode começar a ser debelado a partir da reflexão filosófica
acerca dos objetivos da reencarnação. Se a tomarmos, sempre, como um precioso
instrumento de progresso que se dá pela prática do amor e do serviço,
estaremos, pouco a pouco, extirpando de nosso psiquismo mais íntimo a sinistra
idéia de que somente sofrendo as mesmas dores a outros causadas poderemos
acalmar nossa consciência do tormento da culpa.Caminhos arejados pelo amor e
pelo serviço, e não somente os pavimentados de espinhos e dores, podem conduzir
à paz.
O segundo tipo também está ligado a um amplo
processo de educação. Educação para a vida, a partir da compreensão de seu
sentido profundo e de suas finalidades mais nobres. Esse sentido e essas
finalidades, corretamente entendidos, conduzem-nos a ver o outro, em qualquer
circunstância e seja em que posição estiver, como um ser viável. Se assim nos
acostumarmos a visualizá-lo, mesmo estando ele mergulhado nas piores misérias
humanas, haveremos de concluir que sempre há um jeito de investir nele.
Ambos os processos de reeducação, individual e
coletivo, exigem uma tomada de posição que já não mais se coaduna com algumas
crenças e práticas até aqui vigentes. Pressupõem uma anistia geral e irrestrita
a iluminar os cantos mais escuros de nossa própria alma e da alma coletiva em
que estamos integrados e que vive, pensa e age a partir da soma de nossas
crenças, valores e sentimentos pessoais.
É preciso, em uma palavra, começarmos a
aprender a nos perdoar, capacitando-nos, assim, ao pleno exercício da caridade,
no amplo e libertador sentido proposto pela doutrina espírita.
Uma
anistia geral e irrestrita a iluminar os cantos mais escuros de nossa própria
alma e da alma coletiva em que estamos integrados.
Milton
O frade
Manhã
Na rodoviária de Santos, chamou-me
a atenção aquele jovem frade. Teria no máximo 25 anos. Envergava o hábito
fransciscano, marrom, corda branca em volta da cintura, sandálias nos pés e, na
cabeça, a tonsura
Aquela presença remetia-me à
infância de seminarista capuchinho, nos idos dos anos 50 (Ih! do século
passado...). Depois disso, viera o Concílio Vaticano II que modernizara os
costumes. Padres e frades deixaram de usar batina. A tonsura redondinha dos
eclesiásticos seculares ou aquela em forma de coroa, dos franciscanos, tudo, de
repente, tornou-se coisa do passado.
Virtude ou alienação?
Agora, ali em minha frente, uma
imagem de meio século. Viva, mas parecendo ter saído das páginas da revista Ave
Maria, uma das únicas que se podia ler no seminário.
Sentada no mesmo banco do frei,
uma jovem bonita, pernas bem torneadas. Mas, ele, imperturbável, olhos
semi-cerrados, os dedos passeando sobre o grande terço que pendia do cordão do
hábito. Era como se a bela moça não existisse. Como pode? Fiquei a pensar. Que
será isso? Virtude ou alienação? Força de vontade ou desvio psicológico? Fé
exacerbada ou carência de testosterona?
De onde saíra aquele frade para
aterrissar ali num
O início da vida
Dois dias se passaram. Agora em
São Paulo, na
A tese vem de tempos bem mais
antigos que a tonsura e o hábito, já em desuso entre os frades, menos do que eu
vira em Santos. É o dogma cristão de que Deus cria uma alma, novinha em folha,
para dar vida ao embrião, desde o momento da fecundação. Diferente da tese
espírita. Esta admite a preexistência do espírito que se não reencarna agora,
terá nova oportunidade amanhã.
O hábito e a toga
Cientistas de renome desfilaram
pela tribuna do STF para dizer dos benefícios da utilização das células-tronco
embrionárias em um futuro que pode estar cada vez mais próximo, desde que o
dogma não mais interfira nas magnânimas leis da vida. Doenças degenerativas,
acidentes cardíacos hoje fatais, mal de Parkinson, poderão amanhã ser evitados
ou curados, com a correta utilização daquelas células presentes em embriões, a
maioria dos quais já sem
O frade da rodoviária e o
procurador do STF habitam o mesmo universo do mito e da magia. O primeiro veste
o hábito que torna explícitas suas idéias e claras suas opções. Mas, o segundo
enverga a toga. Esta lhe confere a obrigação de, sem tergiversações, defender a
sociedade contra o atraso, o preconceito, o fanatismo e a irracionalidade.
Violência e Paz foram temas de Encontro Jurídico-Espírita
A
Associação Jurídico-Espírita do Rio Grande do Sul realizou, dia 31 de março
último, o 3º Encontro Jurídico-Espírita do Rio Grande do Sul.
Com
numerosa participação de magistrados, membros do Ministério Público, advogados,
estudantes de Direito e pessoas interessadas na temática central - “Violência e Espiritualidade – a Construção
da Paz – o evento teve lugar no auditório da Procuradoria-Geral de Justiça do
Estado,
Atendendo
convite da AJERS, fizeram-se presentes ao evento o Procurador de Justiça,
Na
programação, desenvolveram-se os seguintes temas: “Violência e Espiritualidade
– a Construção da Paz, com Izaías Claro; “Criminalidade e Regeneração”, com
Gilmar Bortolotto; “A Violência na Visão de Kardec”, com Cristian Macedo; “A
Construção da Paz pelo Espírito”,
Mesa de Abertura do 3º Encontro
Jurídico-Espírita, aparecendo, ao centro, quando abria o evento, o presidente
da AJERS, Dr. João Alessando Muller e, também, o vice-presidente do
O
Relembrando
aspectos históricos e algumas figuras destacadas na vida da tradicional
instituição espírita do Bairro Menino Deus, da Capital gaúcha, o presidente da
Casa,
Também
o presidente da CEPA,
Depois
da breve e singela reunião feita no auditório do
Casos de Regressão a Vidas Passadas na Ótica de um
Psicoterapeuta
A
conferência pública da primeira segunda-feira de maio (dia 7) está a cargo do
médico homeopata e psicoterapeuta Mauro Kwitko, de Porto Alegre. Seu tema:
“Casos de Regressão a Vidas Passadas” tem exposição programada para as 20h30min
no auditório do
Reflexões de um médico
sanitarista (espírita) sobre a violência
Ademar
A violência se transformou em um grave problema
epidemiológico, na medida em que já se constitui na segunda causa de
mortalidade geral da população brasileira e na primeira causa da nossa juventude.
Ao mesmo tempo, evidencia a profunda crise da segurança púbica que se manifesta
por meio de crimes hediondos e tragédias urbanas (como a do menino João Hélio,
no Rio de Janeiro), mas que se expressa cotidianamente no acirramento das
relações sociais, no terror que amedronta e alimenta a permanente sensação de
medo e insegurança, em diferentes expressões de corrupção política e de assalto
ao orçamento público (inclusive o da saúde), em ataques de grupos e facções
criminosas contra a população e as forças de segurança (agravada pela disputa
com milícias para-militares e esquadrões de “justiceiros”) e no seqüestro e
morte de empresários e cidadãos comuns.
Amedrontada
e perplexa com tanta barbárie, a sociedade tem a percepção de que as medidas
tradicionais são insuficientes para garantir que o Estado tenha controle sobre
a violência. Somem-se a tudo isso os crônicos problemas sociais, responsáveis
pela exclusão social de milhões de cidadãos, em particular da juventude,
sobretudo a miséria, o desemprego, o tráfico de drogas e de armas, o
preconceito e violência física contra as minorias (raciais e de orientação
sexual, por exemplo), a desagregação do núcleo familiar, a exploração e
destruição implacável do meio ambiente, etc.
Tudo isso tem enorme repercussão sobre a saúde (física e
mental) dos brasileiros e impede o pleno exercício da cidadania e do direito à
vida.
Urge, portanto, que a sociedade (aí incluídos aqueles que se
orientam pela filosofia espírita) e o Estado brasileiro construam respostas
concretas para a violência social, promovendo o direito a uma segurança cidadã, baseada nos seguintes eixos, propostos no último Congresso Mundial
de Saúde Pública, realizado em agosto de 2006, no Rio de Janeiro:
o
a convivência pacífica
e a tolerância das diferenças sociais;
o
a proteção
o
a eficiência policial
frente ao crime;
o
a integração de
políticas sociais – inclusive de saúde – e as políticas de segurança pública;
o
a preservação dos direitos
à segurança dos cidadãos;
o
a punição exemplar dos
atos de corrupção e
o
a punição dos delinqüentes
que individualmente ou em grupos promovem seqüestros, assaltos, aterrorizam a
população, sobretudo nas comunidades carentes;
o
a re-socialização dos
que cometeram crimes, promovendo a aplicação da lei de execuções penais,
sobretudo pelo acesso dos presos à educação e ao trabalho;
o
o respeito e proteção
dos direitos das vítimas e de suas famílias.
Lutar pela segurança cidadã é lutar pela democratização da
sociedade brasileira. A maioria dos problemas de saúde que afligem os
brasileiros é determinada pelos estilos, situações e condições de vida. Não há
alternativa à barbárie que não seja pela responsabilização social, a construção
Cabe ao cidadão espírita, portanto, assumir uma atitude
consciente e militante, de mãos dadas com aqueles que clamam pela paz, pela
vida e pela civilidade.
* Ademar
Código Penal dos Espíritos
A Editora EME acaba de lançar o meu livro Código Penal dos Espíritos - a Justiça do
Tribunal da Consciência. Ele está sendo distribuído pelo Clube do Livro.
Sou leitor e admirador do Opinião, onde essa matéria é,
frequentemente, enfocada. Faço várias citações do livro Direito
e Justiça, um olhar espírita”, do editor desse jornal, especialmente nas
páginas 30, 31, 34 e 111.
Abraço fraterno.
José
Lázaro Boberg –
jlboberg@uol.com.br - Jacarezinho/PR
E a filosofia?
Tenho acompanhado as homenagens muito oportunas dos
150 anos do livro dos espíritos, entretanto vejo, ouço e leio grandes articulistas
falarem mais de Moisés e Jesus do que propriamente da importância ímpar deste
livre pensador que foi Kardec e da importância da codificação que
mudou a filosofia a partir do século XIX.
Sarah Kilimanjaro –
sarahkili@terra.com.br – Bagé/RS.
Os inventores do pecado
Ao
acusar o recebimento do último Opinião
(abril 2007), quero consignar que gostei
muito do editorial: “Os inventores do pecado”. Havia levado o texto de Rubem
Alves do qual foi extraída a frase inicial daquele editorial, para o