OPINIÃO Ano XIII – Nº 138  Jan e fev 2007

PENA DE MORTE ATÉ QUANDO

Editorial: Escrevemos um livro

Nossa Opinião: Martírio e vingança

Notícias: CCEPA promove Curso de verão para iniciação ao Espiritismo CIESP-Verão//     Doutrina Espírita 150 anos//  História do Espiritismo

Opinião em Tópicos:   Judaísmo messiânico    -   Judeus x gentios    -   Terceira revelação  -  150 anos depois  (Milton Medran Moreira)

Enfoque :  A saudade de Amilcar

Opinião do Leitor:

 

PENA DE MORTE - ATÉ QUANDO?

 

O noticiário internacional do último dia de 2006 foi assinalado por uma imagem dramática: a foto de Saddam Hussein com o pescoço envolvido em cordas para ser enforcado, por ordem de um tribunal de Bagdá que o processou e condenou a partir de sua prisão após a invasão do Iraque pelos Estados Unidos,  iniciada em 2003.

 

            Civilização ou barbárie?

            Saddam Hussein foi um dos governantes mais sanguinários da história contemporânea. Encarnando os interesses políticos e religiosos de uma facção muçulmana de seu país – os sunitas - perseguiu com mão de ferro todos aqueles que contrariavam seu projeto ditatorial.  Milhares de pessoas, inclusive dois genros seus, foram executados por meios os mais cruéis, durante seu governo.

            Mesmo reconhecendo esses fatos, a maioria dos países condenou a execução de Saddam, dia 30 de dezembro, noticiada e documentada fotograficamente na primeira página dos principais jornais do mundo, no último dia do ano.

            A esmagadora maioria dos países democráticos condena a pena de morte. A União Européia, bloco que congrega os países daquele continente, adotou como princípio, aceito por todos os Estados membros, a inteira abolição da pena capital.

            Justificam esse posicionamento argumentos de caráter humanitário e de política criminal. No caso de Saddam, um ícone da barbárie sectária que persiste em determinadas comunidades mundiais, com raízes religiosas e políticas, um questionamento muito particular pairava sobre a execução: não iria ela servir para fazer do facínora um mártir?

            Xiitas x sunitas

            O temor de agravamento da situação interna do Iraque se confirmou. Desde a execução de Saddam cresce diariamente o clima de terror. Não há dia em que xiitas e sunitas não protagonizem atentados, com homens-bomba, resultando em centenas de mortes de civis. Enquanto isso, os Estados Unidos, por decisão do Presidente George Bush, anunciou o envio de mais 22.000 homens para o Iraque. A iniciativa encontrou forte resistência entre os próprios americanos. No mundo inteiro, a opinião pública vê com ceticismo as alegadas intenções dos EEUU de combater o terrorismo iraquiano, mediante a intimidação da presença militar.

            A posição espírita

            O Livro dos Espíritos, que completa em abril próximo 150 anos, foi publicado em tempos onde a pena de morte ainda era largamente utilizada, sendo regra nas legislações de, praticamente, todos os países. Questionados por Kardec, os espíritos, na questão 760, previram: “A pena de morte desaparecerá incontestavelmente e sua supressão marcará um progresso na Humanidade”. A essa previsão que, pouco a pouco, se confirma na atualidade, acrescentaram os interlocutores espirituais de Allan Kardec: “Quando os homens estiverem mais esclarecidos, a pena de morte será completamente abolida sobre a Terra”.

            A execução de Saddam, noticiada no último dia do ano, mereceu algumas repercussões dos debatedores espíritas que participam da Lista de Discussão da CEPA, na Internet. O médico santista Ademar Arthur Chioro dos Reis, em comentário postado na lista no dia 1º.01.07, argumentou sobre a inocuidade da pena de morte como instrumento de reparação. No caso Saddam, entende que os Estados Unidos, a serviço de quem estaria o tribunal iraquiano, terminaram outorgando ao sanguinário ditador “o status de mártir que ele nunca mereceu”. Sob o ponto de vista espírita, Ademar manifestou que a execução “é mais inócua ainda, pois aquele atormentado e vingativo espírito continuará, uma vez reassumindo a consciência após o trauma da morte, a sua trajetória de ódio, perseguições e tirania”.

            Pura Argelich, dirigente do Centro Barcelonês de Cultura Espírita (Barcelona, Espanha), na mesma lista, concordou com Ademar, acrescentando: “Grande parte da humanidade ainda está totalmente mergulhada na ignorância acerca do verdadeiro sentido da vida”. Só por isso, entende ela, subsiste, em algumas legislações, a barbárie da pena de morte.

 

IMAGEM: SADDAN NA FORCA

A última imagem do ano: um ato de barbárie num mundo que sonha com o fim da violência.

 

Nossa Opinião

Martírio e Vingança

 

            Não há forma mais emblemática de execução da pena de morte do que o enforcamento. Antes que o humanismo moderno começasse a lançar alguma luz sobre o escuro campo da penalogia, as execuções, pela forca ou pelo fogo, eram feitas em grandes espetáculos públicos. Equivocadamente, julgava-se que, com esses meios insidiosos, se sufocariam as tendências criminosas dos homens e se queimariam seus instintos maléficos ou heréticos.

            A experiência demonstrou o contrário. Quanto mais cruel o Poder e quão mais espetaculosa sua reação diante da conduta tida em um dado momento como ilícita, mais estímulo se estará dando ao sentimento de vingança. O círculo vicioso daí resultante nunca cessará. Vingança respondida com vingança implica em agravamento do mal.

            E quando o mal que se visa combater teve sua prática “legitimada” por posturas de fanatismo, seja político, religioso ou racial, a reação estatal é, invariavelmente, recebida como glorificação. Grupos sectários se multiplicam e se fortalecem impulsionados pela glória de seus mártires.

            Os fanáticos sunitas agora têm um mártir que morreu com o Corão nas mãos citando Alá e Maomé. Os não menos fanáticos xiitas não darão trégua enquanto todos os seus históricos opositores não forem exterminados. O imperialismo norte-americano, também sem tréguas, aposta em seu poderio militar para, alegadamente, combater o terrorismo.

            Distante, cansada e enojada desse círculo vicioso, a humanidade quer paz. E paz só se constrói com respeito, ajuda e solidariedade. Estes são valores universais, possíveis de se compatibilizar com qualquer cultura. Porque estão enraizados no espírito, essa fagulha divina que alumia a marcha progressista do homem sobre o planeta.(A Redação)

           

 

Editorial

ESCREVEMOS UM LIVRO

 

"Un hombre, para ser completo, ha de plantar un árbol, tener un hijo y escribir un libro." (José Martí)

 

            Não fizemos muito. Mas semeamos, por estas sete décadas de vida, algumas sementes que, pouco a pouco, germinam e crescem, fortalecendo a idéia de que é possível, sim, fazer espiritismo, sem abrir mão da liberdade de pensar e de criar. Sabemos que, assim, corremos riscos de errar. Afinal, não há como aprender sem enfrentar riscos.

            Esse jeito de ser também tem capacidade de agregar. Embora lentamente e, sem a prolificidade das religiões fideístas, gera novos filhos da razão e do pensar, concebidos carinhosamente no ventre de uma instituição dos moldes da nossa que adotou como lema esta singela sentença: “Sabemos pouco, não temos certezas definitivas, mas ousamos buscar”.

            Ao semear e ao gerar idéias no ainda restrito campo da liberdade de pensar, nada nos garante o êxito de nosso futuro mais próximo. Com escassos recursos materiais e pessoais, poderemos nos tornar, logo ali adiante, apenas uma referência histórica, nada mais que um foco de resistência que, um dia, terá sido sufocado. É assim mesmo que idéias novas e atitudes renovadoras nascem, vivem, resistem e, mesmo que momentaneamente, definham, para renascer em outros tempos e em diferentes cenários.

            Por isso, era importante deixar essa experiência documentada em livro, idéia que foi possível materializar no ano do 70º aniversário do CCEPA. Num esforço pessoal do companheiro Salomão J. Benchaya, personagem e testemunha de uma das mais fascinantes histórias do movimento espírita do Rio Grande do Sul e do Brasil, lançamos, no ano findo, o livro “Da Religião Espírita ao Laicismo – A trajetória do Centro Cultural Espírita de Porto Alegre”. Esse documento, singelo na forma e no conteúdo, poderá assumir importância cada vez maior, na medida em que o decurso do tempo tornar mais distantes os fatos ali historiados. Um relato como esse só consegue descolar-se das idiossincrasias e das motivações pessoais de seus autores e personagens quando estes já não mais integrem seus cenários. O tempo, e só ele, confere-lhe vida própria e submete-o ao julgamento da História.

            Semeamos idéias, agregamos os que com elas sintonizam, geramos energias novas para um cenário que acreditamos possível e factível. Só nos faltava mesmo escrever um livro. Seu lançamento marcou o ano de nosso 70º aniversário, que acaba de ficar para trás.

            Agora, é esperar os novos desafios de um novo ano e de um novo tempo.

           

Era importante deixar essa experiência documentada em livro, idéia que foi possível materializar no ano do 70º aniversário do CCEPA.

 

 

Opinião em Tópicos

Milton R. Medran Moreira

 

                                                   Judaísmo messiânico

Eu estava em Anápolis, há cerca de dois anos. Fora a convite da LEPPLE, Liga de Estudos Progressivos e Práticas à Luz do Espiritismo, fazer uma palestra no Sanatório Espírita da cidade. No hotel, liguei a televisão e deparei com um programa religioso diferente. Não era um pastor concitando à gente a “aceitar Jesus como único Senhor e Salvador”. Nem apregoavam “descarregos” para nos libertar dos “encostos”. Nada disso. Eram homens com paramentos judaicos, em cenário como de uma sinagoga, falando em Jesus. As legendas, sob a imagem dos falantes, indicavam nomes não judeus. Algo como “João da Silva, “José Pereira”, mas seguidos do crédito “rabino”.

            Fiquei confuso. Pensei que já havia visto tudo em matéria de religião. Mas aquilo para mim era novidade. Pesquisei, depois, na Internet, e fiquei sabendo que há um forte movimento, nascido nos Estados Unidos, chamado Judaísmo Messiânico, que, partindo das tradições e dos cultos judaicos, aceita o cristianismo e defende que para obter a salvação, qualquer pessoa tem que ser, primeiro, judeu (integrando, assim o “povo de Deus”) para, depois, batizar-se e tornar-se cristão. Acho que o programa era de um grupo assim.

Judeus x gentios

            Na pesquisa, pude ver que não se trata de uma invenção saída do nada. Desde seus primórdios, sempre existiram correntes “judaizantes” do movimento cristão. Nos primeiros anos, a partir da crença na profecia de que um messias, descendente do Rei Davi, viria reconstruir a Nação de Israel, muitos defenderam a idéia de que o cristianismo, pelas Escrituras, viera para ser um privilégio exclusivo dos judeus. Gentios não poderiam ser cristãos. Paulo de Tarso combateu fortemente essa posição, defendendo o caráter universal do cristianismo e sua adaptabilidade a todos os povos e culturas. Foi, enfim, o posicionamento que terminou por vigorar fazendo do cristianismo a grande religião do Ocidente, herdeira do Império Romano e mãe de nossa civilização.

            Mesmo assim, perdurou no seio do cristianismo essa idéia de que a verdade e a própria presença de Deus entre os homens são fenômenos exclusivos da tradição judaico-cristã. O “plano divino da salvação” não admitira outro caminho que não o judaísmo/cristianismo. No fundo, essa base subsiste fortemente em todas as religiões e seitas cristãs. Mesmo nas igrejas que assumem posturas externas mais compatíveis com o pluralismo moderno.

Terceira revelação

            Tão impregnados ficamos desse mito que tampouco o espiritismo, uma doutrina surgida em pleno Século 19, filha do racionalismo da modernidade, conseguiu se libertar dele. Nem Kardec logrou (ou, por estratégia, não quis, naquele momento) evitar que acorressem padres, freiras, mártires e santos desencarnados, ansiosos por trazer sua contribuição àquilo que chamariam de “revelação espírita”. Aportando na “Pátria do Evangelho” e “Coração do Mundo”, essa característica se tornaria ainda mais forte. Na tríade Moisés/Jesus/Espiritismo se concentraria toda a história da espiritualidade. A 3ª revelação seria o “fim da história”, mito que os primeiros cristãos atribuíam ao “plano da salvação”, num “fim dos tempos” que estaria por chegar.

            A condição de “3ª revelação divina”, atribuída ao espiritismo, até pode se aplicar à história de espíritos cujas encarnações tenham se dado, por séculos e milênios, dentro da cultura judaico-cristã. Não poderá, entretanto, conduzi-lo à universalização. Mesmo que os princípios por ele defendidos sejam, por natureza, universais, consoante ao que Kardec denominou “leis naturais”.

150 anos depois

            Tudo tem seu tempo. O espiritismo, mesmo trabalhando com a lei natural, “eterna e imutável”, oferece horizontes de progressiva ampliação. No cenário cultural cristão e eurocêntrico do século 19 poderia servir ao espiritismo apresentar-se, de forma linear, como a “3ª revelação”. O mesmo já não vale para este século 21, tempo de cultura globalizada. Queremos ser entendidos pelo homem de hoje? Temos, então, de falar sua língua: plural, laica, ecumênica. Precisamos compatibilizar nossa mensagem com as tendências do conhecimento contemporâneo, com a ética universal, sonhada pela humanidade inteira, e com as crenças e intuições mais íntimas que sempre dormitaram na alma humana e, agora, racionalizadas e compreendidas, pedem a síntese que o espiritismo é capaz de fazer.

            O que Paulo de Tarso fez com o cristianismo, universalizando-o, é o que o espiritismo pede façamos nós, 150 anos depois de seu surgimento. 

 

Notícias

 

CCEPA promove Curso de Verão para Iniciação ao Espiritismo – CIESP-Verão

 

            Com a intenção de “aquecer” as atividades da instituição no período de verão que, em Porto Alegre, afasta da cidade uma grande parcela da população, o Departamento de Eventos Culturais resolveu, experimentalmente, realizar o já tradicional Ciesp numa versão ligeiramente mais compactada – cinco reuniões de 1h30min – no mês de janeiro.

A reunião inaugural com a apresentação do tema “O que é o Espiritismo” por Maurice Jones ocorreu na noite de 22 de janeiro e contou com a surpreendente presença, para a época, de cinqüenta participantes.

O curso tem seu encerramento previsto para 19 de fevereiro e já na segunda quinzena de março estaremos iniciando um outro curso.

 

Doutrina Espírita - 150 anos

A LEPPLE - Liga de Estudos Progressivos e Práticas à Luz do Espiritismo lança material impresso comemorativo referente aos 150 anos de “O LIVRO DOS ESPÍRITOS”, marco inicial do espiritismo para a humanidade.

O material tem sido largamente distribuído em todas as instituições espíritas de Anápolis - GO e cidades circunvizinhas, bem como em estabelecimentos comerciais e outros locais públicos.

A iniciativa é apenas uma primeira chamada para as comemorações do sesquicentenário do espiritismo, sendo que a LEPPLE está programando um grande evento para o mês de abril.   (De nosso correspondente em Anápolis, Luiz Antônio de Sá).

 

(Reprodução do material divulgativo da LEPPLE)

 

 

História do Espiritismo

Dalmo Duque dos Santos, Mestre em Comunicação, Bacharel em História, Licenciado em Pedagogia anunciou a publicação prevista para o início de 2007 do seu mais recente: NOVA HISTÓRIA DO ESPIRITISMO / Dos Precursores de Allan Kardec até Chico Xavier. Desde 1926, com o clássico de Conan Doyle, nenhuma obra foi publicada contendo uma síntese histórica desses acontecimentos. O livro vai ser editado e distribuído pela Editora Corifeu - Rio (www.corifeu.com.br) - (atendimento@corifeu.com.br

 

Enfoque

A saudade de Amílcar

Denize de Assis Ribeiro*

Uma pequena biografia de um grande espírita que desencarnou dia 30/11/06, em São Paulo.

AMÍLCAR DEL CHIARO FILHO, nascido em Catalão-GO, em 16 de  abril de 1935.

Em 1944, portanto com apenas nove anos de idade, foi internado no Asilo Colônia Cocais em Casa Branca-SP, uma das colônias para onde eram, compulsoriamente, levados os portadores de hanseníase, doença de que se viu acometido já em sua infância

 Em 1948, foi transferido junto com as demais crianças para o Sanatório Padre Bento - em Guarulhos - ficando aos cuidados do extraordinário Hansenologista Dr. Lauro de Souza Lima, por quem ele, Amílcar, tinha um grande carinho e respeito. Recebendo alta em 1951, aos dezesseis anos, foi morar  em Minas Gerais, apenas por um ano, pois volta para Guarulhos, indo trabalhar como auxiliar de enfermagem no mesmo Sanatório Pe. Bento, onde conheceu Leonil Maria Bucheroni, com quem se casou em 1958.

Como não tiveram filhos, adotaram Carlos e Marcos Allan. Marcos desencarnou aos trinta e um anos, num acidente anestésico num consultório dentário. Carlos, que sobrevive, é portador de esquizofrenia e deverá ser cuidado por parentes mais próximos.

 Seu início no Espiritismo foi em 1954, no Centro Espírita Nova Era, em São.Paulo. Foi Presidente da Sociedade Espírita Discípulos do Evangelho, construído dentro do Sanatório Pe. Bento pelos hansenianos.

Fundador da  USE-Guarulhos, em 1976, foi presidente, por várias gestões, do Grupo de Estudos e  Pesquisas Espíritas Herculano Pires - GEPEHP.

 Tornou-se radialista em 1977,  com a criação do programa "Sol nas Almas", pela Rádio Boa Nova de Guarulhos.  Criou também o programa "Gente como a Gente", cujo conteúdo é voltado às pessoas com  necessidades especiais, além de ser participante e colaborador de vários outros programas.

 Recebeu em 1982, o título de "Cidadão Guarulhense". Sem formação escolar, mas  como um dedicado autodidata, era colaborador de vários periódicos, autor de  vários livros. Com relação à última de suas obras "Alma Vigilante", cujo lançamento oficial ele não teve tempo de fazer, Amílcar cedeu seus direitos autorais à USE para organização do próximo Congresso que terá sede em Guarulhos.

 Delegado da CEPA para Guarulhos, sempre abriu as portas do  GEPEHP e da USE para receber os amigos da Cepa, à qual o grupo é  adeso. Amílcar mereceu e continuará merecendo o carinho e a admiração de todos aqueles que tiveram o privilégio de conviver com ele, pela grande figura humana que foi e pelo espírito brilhante que é - luz das estrelas como ele, poeticamente, costumava dizer.

Denize de Assis Ribeiro – denizedeassis@ig.com.br -, é dirigente espírita e Delegada da CEPA – Confederação Espírita Pan-Americana, em Guarulhos/SP

 

Um pouco da alma de Amílcar

Dançando com a saudade

Amílcar Del Chiaro Filho

Foi no dia de finados. Seguimos a nossa opção de décadas e não fomos ao cemitério que abrigou e abriga ainda os restos mortais de pessoas tão queridas para mim. Fiz as minhas preces, logo pela manhã, envolvendo todos aqueles que passaram pela minha vida, deixando marcas profundas, iluminadas pela amizade e pelo amor.

À tarde, estava escrevendo textos para a Rádio Boa Nova e resolvi ouvir música enquanto trabalhava. Era uma seleção de boleros que amávamos muito, eu e ela, minha companheira que desencarnou há um ano, deixando uma intensa saudade.

Parei de digitar e fechei os olhos. Imaginei-me dançando com ela nas nuvens, entre flocos brancos de algodão.Vi-a jovem e feliz.

Eu a conduzia na contradança por um salão infinito, um vestido branco, com
ligeiros tons rosa, amplamente rodado, envolvia seu corpo delicado. Com uma das mãos ela segurava a minha mão e uma das pontas do vestido, com a outra envolvia-me num carinhoso abraço. Eu sentia-me jovem e saudável, vestindo um terno azul marinho.

Dançávamos enlevados, na marcação romântica do bolero, dois pra lá, dois pra cá, como fizéramos muitas vezes na Terra. Tinha tanta coisa a perguntar, mas não ousava falar com medo que tudo aquilo se desvanecesse, como o cessar de um encantamento. Afastei-me um passo e olhei sua perna que fora doente, reverberando luz.

Comecei a perceber que havia outras pessoas queridas presentes, mas postavam-se distantes, como a dizer que aquele era o nosso momento.

Quanto tempo rodopiamos pelo salão sem sentir e sem ver nossos pés, ou a orquestra, não sei. Mas senti que o meu tempo se escoava, e pensei em escrever sobre esse encontro, mas tive receio. Olhei para ela, e recebi um ligeiro sinal afirmativo da sua cabeça. Porque era o momento de dizer, com o apóstolo Paulo: O último inimigo a ser vencido é a morte.

A música foi cessando. Seu corpo desvaneceu em meus braços. Meus olhos ficaram marejados de lágrimas, e a saudade pungente foi balsamizada por aqueles instantes encantadores.

 

Obrigado, meu Deus. Sinto-me mais fortalecido e sei, com certeza, que ela me espera em algum lugar do infinito.

 

(texto publicado no site www.universoespirita.com.br )

 

Opinião do Leitor

 

Governantes e políticos

Mui caro amigo, competente e, por isto, admirado redator de nosso Opinião. Venho lhe agradecer pela maneira gentil e sábia como respondeu às minhas angustiosas questões (Opinião em Tópicos, agosto.06). Lembra do Governador de São Paulo que deixou os infratores, demolidores a ver navios? E que navios!...

Ando procurando alguém para me auxiliar na redação e angariação de subscrições para um abaixo-assinado contra esses políticos vis, egoístas (e orgulhosos) que querem se auto assalariar em cerca de R$ 35.000,00, deixando o verdadeiro trabalhador com 367 reais, sem mordomia. É bonito isso?

Ody Costa Ferreira – Xerém/RJ.

 

Amílcar del Chiaro Filho

Ao tomar conhecimento da desencarnação de Amílcar (“O Adeus de Amílcar – Opinião, dez/06), recordei-me de um encontro com ele, em 1987 ou 88, não lembro bem.

Estávamos na casa do Roberto Palazzi reunidos (Eugênio Lara, Carlos Roberto de Messias, o Betinho e outros que não me recordo bem) Todos ali muito jovens, muito "anti-religiosos" e pouco tolerantes... No meio da moçada um senhor muito simpático e bem entrosado com a turma... A certa altura da noite perguntei a ele como se sentia em meio a tantos "não-religiosos", ele que defendia a Religião Espírita. Com a sabedoria de sempre o grande Amílcar respondeu: "Nenhum problema. Eu sei que vocês amam o Espiritismo tanto quanto eu".

Jamais me esqueci da lição e da presença amiga, ainda que nem todos os pontos-de-vista fossem os mesmos. Grande Amílcar, siga em frente! E não esqueça dos menos sábios, apesar de mais instruídos!!!

Saulo Albach – Curitiba/PR,

            Cumprimentos

Prezado Medran.

Acabo de ler o Opinião, encantando-me com a maneira de dizer as coisas, liberta de ranços e verdades incontestáveis. Do livro de Luís Roberto Barroso, intitulado Interpretação e Aplicação da Constituição, recolho a primeira frase, que li há poucos minutos: "A Terra é plana, e todos os dias o sol nasce, percorre o céu de ponta a ponta e se põe do lado oposto. Por muito tempo isto foi tido como uma obviedade..." 

Aproveito a oportunidade (fim de ano) para cumprimentá-lo pelo seu belo trabalho na esfera do conhecimento espírita.

Cordialmente,

Mário Lange de S. Thiago – Florianópolis/SC.