OPINIÃO Ano XIII – Nº 135 Outubro 2006
CEPA 60 anos fazendo a
diferença
Editorial: Direito a felicidade
Enfoque :
A juventude tem
identidade e não vai a reboque!
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CEPA – 60 ANOS
FAZENDO A DIFERENÇA
A Confederação Espírita Pan-Americana
completa, neste mês de outubro, 60 anos de existência. Em São Paulo, eventos
programados pela CEPAmigos marcaram a presença diferenciada desse movimento de
idéias progressista e livre-pensador, nascido na Argentina em 1946, e que, há
10 anos, ganha espaço no Brasil.
Há 60 anos
Fundada no 1º Congresso Espírita
Pan-Americano (instalado em 5 de outubro de 1946,
Há
10 anos
Em outubro de 1996, acontecia o XVII
Congresso Espírita Pan-Americano,
CEPAmigos:
a cara da CEPA no Brasil
Por ocasião do 8º Simpósio
Brasileiro do Pensamento Espírita (Santos, SP, outubro/2003), foi fundada a
Associação Brasileira de Delegados e Amigos da CEPA – a CEPAmigos. A entidade
reúne pessoas físicas, delegados da CEPA, dirigentes e colaboradores de
instituições filiadas ou adesas à entidade no Brasil. Em vez de um “órgão
unificador”, a CEPA optou por congregar pessoas físicas, gente que pensa e age
a partir dessa visão de espiritismo e se disponha a trocar experiências no
campo da divulgação e do avanço do pensamento espírita genuinamente kardecista.
Por dois anos, a CEPAmigos foi
presidida por
Serviço:
Conheça
melhor a CEPA:
- Acesse
seu site
www.cepanet.org
- Leia
os livros “A CEPA e a Atualização do Espiritismo” e “O Pensamento Atual da
CEPA” (pedidos para a Secretaria deste jornal).
- Acesse
a Rádio Boa Nova –
www.radioboanova.com.br e, na grade de
programação dos domingos, procure os programas “América Espírita” (18h30min) e
“Diálogos Espíritas” (9h) onde o presidente da CEPA deu entrevista, na edição
de 8.10.06, que permanece disponibilizada no site.
SER
OU NÃO SER.
A CEPA chega aos seus 60 anos como um movimento espírita
diferenciado. No entanto, é de se indagar: diferente de quê?
Diferente de Kardec e do que propôs ele, com toda a certeza
não é.
Trabalha e divulga o
espiritismo como uma ciência de conseqüências filosófico-morais.
Exime-se de mostrá-lo
como uma religião, porque isso confundiria quem quisesse conhecer sua
verdadeira natureza. Exatamente consoante a recomendação de Kardec.
É deísta,
espiritualista, reencarnacionista, progressista, evolucionista. Estimula o
livre-pensamento, a atualização permanente do conhecimento (inclusive o
espírita) e divulga que a prática do amor, da caridade e da justiça são o
caminho da evolução humana. Não a fé, nem os dogmas, nem o apego incondicional
a qualquer crença ou segmento religioso, por mais respeitáveis que sejam..
Diferente? Diferente de quem e de quê? Quem responder
estará, quem sabe, dirimindo o dilema hamletiano: “Ser ou não ser, eis a questão”.
(A Redação)
Editorial
DIREITO À FELICIDADE
Não temos o direito de consumir a felicidade
sem produzi-la.
(Bernard Shaw)
Na visão filosófica espírita, o
homem é um ser para a felicidade. A infelicidade é circunstancial, temporária e
excepcional. Se atentarmos para a definição de “lei divina ou natural”,
proposta pelos interlocutores de Kardec, na questão 614 de O Livro dos
Espíritos, assimilaremos o sentido revolucionário desse princípio. Ali está
escrito que o homem “somente” é infeliz quando se afasta da lei natural. E como
a lei natural está gravada na própria consciência, violá-la será sempre, e em
qualquer circunstância, um ato de ignorância ou de errôneo exercício de
vontade.
Assim, a evolução, que vai do
binômio simplicidade/ignorância (somos criados simples e ignorantes) ao do
conhecimento/moralidade (perfeição, em harmonia plena com a lei natural),
necessariamente conduz à felicidade.
Essa visão contraria frontalmente a
teologia cristã. Por esta última, o homem só está neste mundo porque carrega,
como marca de nascença, a culpa original do pecado que não cometeu. É uma
maldição que, bem a gosto dos deuses primitivos e da mitologia da antigüidade,
não tem qualquer compromisso com a justiça e com a bondade. É um artificioso
sistema, que reserva a uma única crença com seus respectivos dogmas e
sacerdotes, o poder mágico de limpar a alma que já nasce contaminada. Mesmo
tendo conquistado a “graça”, o espírito, nessa visão mitológica, ainda não tem
assegurada sua sorte futura. Terá que agir de acordo com dogmas e procedimentos
que não precisa entender e que nem sempre se harmonizam com sua consciência.
Dependendo do momento em que a morte o surpreender, estará selada sua
destinação para toda a eternidade: um estado absoluto de bem-aventurança ou a danação
para todo o sempre.
Na visão capaz de identificar no
espírito essa semente divina em processo contínuo de crescimento, a felicidade
é construção pessoal e intransferível. Somos os responsáveis por ela e, ao
mesmo tempo, habilitamo-nos a indicar seu caminho a todos quantos queiram
trilhá-lo, contribuindo para fazer melhor o mundo
Quem, podendo compreender esse
racional processo de construção individual e coletiva, preferir manter-se à
margem do mesmo, não tem, enquanto isso, direito à felicidade. Referimo-nos,
aqui, àquela felicidade que brota da nobre sensação do dever cumprido, seja
qual for a posição daquele espírito no mundo. É bom não confundi-la com prazer.
Prazer nem sempre é sinônimo de felicidade. Aquele pode ser usurpado,
engendrado, tomado pela violência ou até comprado. E o mais das vezes o é. Esta
é construção individual, alicerçada no conhecimento e cultivada pelo reto agir.
Velho ditado assegura que é
impossível ser feliz sozinho. Daí a indispensável conexão entre felicidade e
serviço. Que o digam aquelas almas nobres capazes de doar-se inteiramente, sem
jamais exigir coisa qualquer
Felicidade é direito, mas sua
conquista é obra de cada um.
Na
visão capaz de identificar no espírito essa semente divina em processo contínuo
de crescimento, a felicidade é construção pessoal e intransferível
Milton R.Medran Moreira
De
novo, o aborto
Fique claro, em primeiro lugar, que sou contra o aborto.
Mas, confesso que não sei, e acho que não temos condição de saber, quando
começa a vida do ser humano. Juridicamente, é a partir do nascimento com vida.
Biologicamente, há diferentes teorias. Muitos defendem existir vida humana a
partir da fecundação do óvulo por um espermatozóide. Outros sustentam que isso
se dá somente seis ou oito dias depois, quando o blastócito se implanta no
útero e se transforma
O
direito de nascer
Fugindo dessas questões, que são um
tanto quanto arbitrárias, o legislador preferiu conceder direitos ao nascituro
desde a concepção. E dentre esses direitos o de nascer, cominando à interrupção
da gestação sanções penais. Isso não
resolve o problema, sob o aspecto científico e filosófico. É uma decisão
política que atende, especialmente, reclamos de ordem religiosa. A questão que
está por de trás disso é a crença, sustentada em um dogma cristão, de que a
alma é soprada por Deus ao Ser, no momento da concepção.
A teoria espírita não é essa. Para
nós, o espírito preexiste ao corpo. É uma individualidade, portadora de
direitos e obrigações preexistentes à encarnação. Aceita-se, teoricamente, a
tese de que a união da alma ao corpo “começa” na concepção, através de um “laço
fluídico”, inicialmente tênue e que “vai se apertando”, cada vez mais, até o
nascimento. Foi dessa forma que os espíritos responderam a Kardec quando este
buscou resposta à velha indagação de quando começa a vida.
Relativizar
e humanizar
Ora, se o espírito preexiste à
concepção e se sua ligação ao material biológico tem um caráter meramente
energético (laço fluídico/psicológico/não-material) não dá para sairmos
cantando em coro com as igrejas que a vida humana começa na concepção.O
espírito que busca a reencarnação existe antes mesmo da concepção. A posição
espírita não é a mesma dos cristãos para quem Deus cria simultaneamente uma
alma e um corpo. Por isso, permite relativizar adequadamente as conseqüências
da interrupção voluntária da gestação, levando em conta suas motivações. Os
próprios espíritos relativizaram-na, quando entenderam lícito o aborto em caso
de perigo de vida para a gestante (o que a Igreja não aceita até hoje). As
legislações modernas, fundadas em princípios humanistas, cautelosamente, vão
estendendo a exclusão da condição de crime a algumas hipóteses, profundamente
dolorosas, de aborto. É o caso do abortamento provocado pela gestante, quando a
gravidez resulta de estupro. Decisões judiciais, igualmente embasadas em
sentimentos de humanismo, têm permitido o aborto, em caso de anencefalia,
provada que estiver a inviabilidade de o feto sobreviver.
A
posição espírita
Posicionar-se filosoficamente contra
o aborto é obrigação do espírita. Mas, isso não nos autoriza a adesão
incondicional ao dogma de que a vida humana começa na concepção e que, por ser
esta de ordem divina, nunca pode ser interrompida. O debate sobre a
descriminalização do aborto não pode ser reduzido aos termos em que as
religiões, inclusive a religião espírita, o estão tratando. Descriminalizar é
deixar de tratar esse tema como crime, como conduta que dá cadeia. Nosso
terreno de atuação não é este. O campo do espiritismo é o da educação e da
conscientização a partir da realidade do espírito. Não o da criminalização de
condutas. Deixemos que a ciência penal trate disso, com mais competência e,
certamente, com muito mais humanismo do que as religiões. Humanizar, no caso de
alguns tipos de aborto, é levar em conta que, no processo de gestação, há
também outros direitos em jogo que não apenas o direito à vida do presumível
nascituro.
Recorde-se que toda vez em que as
religiões se arvoraram em legisladores penais espalharam o terror no mundo.
BENCHAYA NA FEIRA DO LIVRO CONTANDO A HISTÓRIA
DO
Salomão J.Benchaya, Diretor do
Centro Cultural Espírita de Porto Alegre, terá sessão de autógrafos na 52ª
Feira do Livro de Porto Alegre.
O livro “Da Religião Espírita ao
Laicismo – a trajetória do Centro Cultural Espírita de Porto Alegre” terá
lançamento pela editora Imprensa Livre, com sessão de autógrafos do autor,
domingo, dia 29, à 17h30min.
(INSERIR ANÚNCIO)
DIVERSIDADE E DISCRIMINAÇÃO É A PALESTRA DE
NOVEMBRO
A psicóloga Maria da Graça Serpa é a
palestrante da primeira segunda-feira do mês de Novembro (Dia 6, 20h30) no
Centro Cultural Espírita de Porto Alegre.
O
Enfoque
A juventude tem identidade e
não vai a reboque!
O que os pais criam? Maquetes?
Fantoches? Cópias de si mesmos? Na ânsia de cumprir bem o seu papel, acabam por
tentar estabelecer todo o formato e rumo da vida dos filhos. Geralmente o
script definido por estes roteiristas amadores é a reprodução da vida que eles
próprios quiseram ter um dia.
James Hillman, autor de
“O Código do Ser”, afirma que quando a criança resolve por assumir os rumos da
própria vida, “você fica ressentido com ela, passa até a odiá-la, apesar dos
bons princípios e da ética”. Se observarmos atentamente, Hillman traduz uma
realidade que costuma passar despercebida. Quantos pais conhecemos, que rompem
relações com os filhos, pois estes resolveram seguir a profissão de seu agrado,
e não a de agrado dos pais? Quantas vezes vemos pais que rompem com seus
filhos, porque estes se apaixonaram por pessoas que não são as opções
pretendidas por eles?
É preciso que estes pais compreendam que seus
filhos são espíritos. E que estes espíritos não são suas criações
cromossômicas. O corpo é, mas o espírito não. E é o espírito que traz a
personalidade. Que traz a vivência de tantas encarnações.
É necessário afirmar que juventude e
adolescência são coisas diferentes, embora os diplomas legais não tenham a
capacidade de diferenciá-las. Esta visão equivocada nos leva a um formalismo
temporal, como se pudéssemos definir a juventude como sendo estanque e
inflexível. Como se dormíssemos jovens e acordássemos adultos (!!!).
É justamente na juventude que estes espíritos
encontram a transitoriedade e os conflitos de cada encarnação. E é também nesse
período que fica mais evidente a falta de compreensão com relação à juventude,
ou às juventudes, como seria mais correto referir.
Juventudes, no plural, mesmo! Não existe uma
juventude, nem duas, mas muitas juventudes. A juventude é uniforme? Pensa
igual? Age da mesma forma? Claro que não! Temos skinheads neonazistas e anarquistas libertários. Temos jovens
socialistas e neoliberais. Temos jovens rapper’s,
punk’s, tradicionalistas, skatistas, surfistas, etc... Jovens
estes que organizam-se em tribos e que identificam-se pelo estilo, pela música,
pela escola, pelo trabalho, etc...
Precisamos entender que a juventude é um
setor social que, como todos os outros, influencia e sofre influência do meio.
Precisamos entender que a juventude é agente ativo na construção da sociedade,
e não um agente passivo sendo construído por ela.
A família – pais em
especial - deve dar-se conta de que seus filhos têm de ser respeitados na sua
individualidade. Devem dar-se conta de que é preciso romper com esse modelo de
educação conservadora, que prega a supremacia de certas instituições e valores
absolutamente discutíveis em nossa sociedade.
A opressão social sobre o jovem – iniciada
pela família – se completa no tal “mercado” de trabalho, que rebaixa o jovem à
condição de mero tarefeiro, como se não pudesse dar qualquer tipo contribuição
intelectual. Completa-se, também, pelas telinhas dos meios de comunicação, que
constrangem o jovem a estar sempre na moda; a competir “estilo” com outros
jovens e, assim, sempre consumindo mais e mais. O utilitarismo empregado sobre
a juventude pelo mercado de consumo é tal que o retiraram dos parques e praças
e os “socaram” em shopping-centers, apresentando-os como supostos “locais da
moda”.
É preciso que a família
entenda, de forma definitiva, que seus fracassos e insucessos pessoais, não
devem ser transferidos aos seus filhos. É preciso que o oprimido de ontem e
o opressor de hoje quebrem o ciclo de violência
e atentados aos direitos individuais e à personalidade de seus filhos.
Os pais devem, na educação dos filhos, ter
sempre em mente aquele conceito básico do espiritismo: “O corpo provém do
corpo, mas o espírito não provém do espírito”.
Filhos serão sempre
diferentes dos pais, sob pena de tornarem-se pessoas frustradas no futuro.
Quanto aos pais, tenham sempre
A juventude é agente ativo na construção da sociedade, e não
um agente passivo sendo construído por ela.
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