OPINIÃO Ano XIII – Nº 134 Setembro 2006

ATITUDES DE AMOR NO MOVIMENTO ESPÍRITA

Editorial: Em busca de uma ética universal

Notícias:  Antropóloga francesa estuda espiritismo no CCEPA   -   Brasileiros na Conferência de MIAMI   - CCEPA amplia espaços para conferências públicas  -   Salomão fará sessão de autógrafos na feira do livro       

Opinião em Tópicos:   Planeta-anão    -   Espiritismo e ciência  -   Revelação espírita e verdade  -   Humanização do espiritismo (Milton Medran Moreira)   

Enfoque :  Opiniões conflitantes e unificação

Opinião do Leitor

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ATITUDES DE AMOR NO MOVIMENTO ESPÍRITA

O que você pensa a respeito desse tema?

(Por Salomão J. Benchaya)

Nos últimos anos, têm surgido diversos movimentos e campanhas direcionados aos militantes espíritas, com o objetivo de "humanizar" o movimento. Deseja-se a melhoria das relações humanas entre os espíritas. É o próprio movimento diagnosticando suas mazelas e buscando sua cura. Na base de tudo, está a busca da alteridade, da fraternidade e da tolerância. Nesta breve introdução ao tema, queremos saber o que você pensa a respeito disso.

Movimento Atitude de Amor

Opinião noticiou, em sua edição anterior, a visita de Daniel Valois, de Santa Catarina, ao CCEPA divulgando o Movimento Atitude de Amor, originado no INEDE - Instituto Espírita de Estudos e Divulgação do Evangelho - de Belo Horizonte, com o lançamento, no ano 2000, do livro “Seara Bendita”, psicografado pelo casal de médiuns Wanderley e Maria José Soares de Oliveira. A obra foi estruturada a partir de uma mensagem do espírito Cicero dos Santos Pereira, presidente da União Espírita Mineira nos anos de 1937/40, desencarnado em 1948. Relata um pronunciamento que teria sido feito por Bezerra de Menezes, após o encerramento do Congresso Espírita Brasileiro, de outubro de 1999, na cidade de Goiânia, em comemoração aos 50 anos do Pacto Áureo. No encontro, realizado no mundo espiritual, diz Cícero Pereira que estavam presentes cerca de 5.000 participantes, incluindo destacadas personalidades desencarnadas do movimento espírita, representando todos os seus segmentos. Unanimemente, os espíritos que subscrevem a obra apontam para a necessidade de uma nova postura do movimento espírita, condizente com os novos tempos, marcados pela diversidade e pelo pluralismo. Embora a autoria dessas mensagens tenha merecido uma bem elaborada crítica do escritor Wilson Garcia, não se pode negar a superioridade da proposta alteritária contida no movimento que passou a ser designado de "Atitude de Amor", um autêntico desafio às atitudes hegemônicas e exclusivistas do movimento oficial.

Evangelizar ou Educar?

O movimento espírita brasileiro, como é sabido, tem forte conotação religiosa e evangélica. Tanto que ainda se fala em “evangelização espírita” ao invés de “educação espírita”. Exemplos disso são a Campanha Nacional de Evangelização Infantil, da FEB e a Escola de Aprendizes do  Evangelho, da FEESP, dentre outros. Diz-se, com a maior naturalidade, que a missão do Espiritismo é “evangelizar” o homem, tarefa que, no nosso entender, pertence às religiões evangélicas.

O Espiritismo busca o aperfeiçoamento moral do Homem, porém vinculado a uma ética universal, não necessariamente religiosa. O fato é que os espíritas estão despertando para a necessidade da convivência respeitosa e tolerante entre os próprios integrantes do movimento espírita

O movimento chamado de “Unificação”, coordenado pela FEB e amparado no “Pacto Áureo”, começa a ser contestado por sua imposição de um modelo hegemônico marginalizando os grupamentos que deitam sobre o Espiritismo um olhar diferente em relação ao discurso dominante. Dessa postura decorrem atitudes e comportamentos excludentes, discriminatórios e anti-fraternos assumidos, não raramente, por religiosos, "em nome de Jesus". Apregoa-se uma falsa disposição para o diálogo, desde que os que se afastaram do movimento oficial se disponham a “retornar ao redil”.

Num espectro mais amplo, fala-se na Educação Moral, na Educação dos Sentimentos, na Pedagogia da Sensibilidade, assunto que será abordado em próxima edição. Nesse sentido, mobilizam-se federações, institutos, associações, médiuns e espíritos. Livros são lançados, mensagens distribuídas, cursos são realizados. Há um forte apelo à chamada "reforma íntima" conceito que, de certa forma, distorce a visão evolucionista do Espiritismo por estabelecer uma associação à idéia do pecado original, da perdição do homem, da religação com a divindade da qual o homem teria se apartado por sua rebeldia.

Iniciativas concretas

No último congresso que a CEPA realizou, no ano de 2004, em Rafaela, na Argentina, o tema central foi “Evolução Consciente” que, embora fugindo do evangelismo, tocou nessa questão, sob diversos ângulos.

Em nível mais restrito, especificamente voltadas para as relações internas do movimento espírita, surgiram movimentos com o propósito de estimular a união, a tolerância e a fraternidade entre os espíritas que, paradoxalmente, têm oferecido maus exemplos nessa área.

Algumas iniciativas, nesse campo, merecem destaque: a Campanha de Humanização da Seara Espírita, objeto de discussão em uma das listas da ABRADE-Associação Brasileira de Divulgadores do Espiritismo. É também da ABRADE uma campanha em torno da Alteridade no Movimento Espírita cujo mérito deve-se, em grande parte aos estudos e às propostas formuladas, desde 1999, pelo jornalista e professor goiano Luiz Signates, baseado, principalmente no pensamento do filósofo judeu Emmanuel Lévinas. Alteridade pode ser definida como a relação pacífica, respeitosa e construtiva com o diferente. Signates propõe o que chama de “ética de fraternidade” que, conforme seu artigo “Nós não é o plural de eu”, já publicado, há cinco anos, no Opinião e no livro “A CEPA e a atualização do Espiritismo”, define-se por: a) primeiro, superação da indiferença (o contrário ético de diferença não é igualdade, mas indiferença); b) segundo, aceitação da presença da diferença (o outro, nesse caso, é o "próximo", na majestosa ética de Jesus); c)  terceiro, aprendizado com a diferença (não se trata de mudar o outro, "divulgando-lhe" nossas idéias, e sim aprender com ele - eis a questão que pouca gente no espiritismo percebe, quando confunde comunicação com divulgação); d) e, quarto, amor ao outro na diferença dele (que melhor definição para o amor incondicional?).

            A CEPA e o pluralismo

Essa visão alteritária do movimento espírita é a que a CEPA defende, numa postura tolerante e pluralista. Pensamos que, forçosamente, o movimento espírita deverá assumi-la no futuro.

No XVIII Congresso da CEPA, realizado em Porto Alegre, no ano 2000, dois trabalhos foram apresentados acerca dessas questões de relacionamento entre os espíritas: "Fraternidade como paradigma da identidade espírita", de Luiz Signates, e "O Laço Espírita - É preciso renová-lo. As bases do ecumenismo aplicáveis ao movimento espírita", de nosso editor Milton Medran Moreira.

Através desta edição, Opinião está propondo, entre os seus leitores, um debate sobre esse tema, dispondo-se a publicar, em Opinião do Leitor, a síntese de opiniões eventualmente manifestadas. Dentre as questões que podem ser discutidas, perguntamos:

 Como o leitor vê essas propostas ao movimento espírita?

Responda para ccepa@terra.com.br .

 

Editorial

EM BUSCA DE UMA ÉTICA UNIVERSAL

 

A vida só pode ser compreendida olhando-se para trás; mas só pode ser vivida olhando-se para a frente.

(Sören Kierkegaard)

 

Por longo tempo da história de nossa civilização judaico-cristã, estabeleceu-se uma crucial divisão entre crentes e não-crentes. A hegemonia eclesiástica sedimentou a idéia de que a simples condição da fé em um conjunto de dogmas privilegiava os cristãos em absoluto detrimento daqueles que se convencionou chamar hereges.

Essa dicotomia foi, finalmente, vencida pelo humanismo, movimento da modernidade que reviu o homem, a partir de seus valores intrínsecos, reconhecendo sua titularidade a direitos naturais, entre os quais estão a liberdade de crença, de expressão e de auto-organização social. O poder, a partir do qual se organizaria a sociedade, passou, então, a ter como instrumento a política, uma arte eminentemente humana, não mais atribuível aos deuses, mas de elaboração dos próprios homens. Consagrou-se o princípio de que todo o poder emana do povo e em seu nome será exercido.

Como formas de realização política surgiram as ideologias. Duas grandes correntes ideológicas se digladiaram pelo poder ao curso do Século XX: de um lado o liberalismo político e econômico, privilegiando a liberdade e gerando o moderno capitalismo. De outro, o socialismo, amparado na idéia da igualdade, dando lugar ao comunismo, que se definia materialista e ateu. Por decênios, assim, a dicotomia ideológica foi tomando o lugar da dicotomia da fé. Em nome das duas ideologias que dividiram o mundo, também se pretendia dividir os homens e os povos entre bons e maus, certos e errados.

Tanto uma como outra das ideologias geraram governos cruéis. Ditaduras insanas que anulavam as conquistas democráticas da modernidade, provocando graves violações aos direitos humanos, imaturos ainda na consciência de muitos povos. Guerras e revoluções sangrentas, genocídios cruéis, foram perpetrados em nome de uma ou de outra ideologia.

Chegamos a um ponto da História em que, parece, estamos desencantados com as ideologias. Mais ainda com os partidos que pretenderam representá-las. Mas crepita forte na consciência humana a chama dos valores humanistas conquistados no despertar da modernidade. Esta ninguém apaga. Fortalece-se a convicção de que homens bons e maus, honestos e desonestos, decentes e corruptos, podem abrigar-se sob a capa de qualquer das ideologias e em todos os partidos que pretendam representá-las.

Começamos a descobrir, por fim, que o compromisso do espírito humano é e será sempre com o bem e com o justo. E que existe, no íntimo de cada indivíduo, um direcionamento natural rumo a uma ética universal, assectária, apartidária, supra-ideológica, baseada no amor e na solidariedade, no serviço e no progresso em favor de todos. E que só a adequação do agir humano a essa ética pode fazer nações e povos felizes.

A política, tão maltratada até aqui, também pode ser instrumento em favor da ética e da felicidade humana. Mesmo que ainda se valha, formalmente, das propostas ideológicas. Estas, pouco a pouco, terão de se harmonizar entre si, reconhecendo igual importância aos reclamos de liberdade, de igualdade e de fraternidade que nascem do espírito humano. Por piores que tenham sido os erros dos homens e dos povos na superação dialética dos contrários, a vocação do espírito, consciência imortal, é no sentido da busca do progresso no campo intelectual, moral e social. Já é tempo de assimilarmos as lições do passado, rumando definitivamente para uma síntese de amor, fraternidade, respeito e paz.

 

A política, tão maltratada até aqui, também pode ser instrumento em favor da ética e da felicidade humana. 

 

Opinião em Tópicos

Milton R. Medran Moreira

 

Planeta-anão

            Escrevo esta coluna no dia em que 3.500 cientistas e astrônomos do mundo inteiro, na cidade de Praga, decidiram rebaixar Plutão à condição de planeta-anão. Desde 1930, quando foi descoberto, Plutão era considerado o 9º planeta do sistema solar. Perdeu hoje essa condição porque os potentes telescópios que, daqui de nosso planetinha, vasculham o espaço, há muito já descobriram a existência de outros corpos celestes bem maiores que Plutão girando em torno do Sol. Nenhum deles, entretanto, tem o tamanho mínimo hoje exigido para se lhes conferir o status de planeta. O jeito foi rebaixar Plutão para não ter de se admitir outros tantos a esse seleto clube ao qual a Terra pertence: o de planeta do sistema solar.

            No tempo em que Kardec editou A Gênese (1868), os cientistas ainda não sabiam disso. Nem sabiam da existência de Plutão. Também desconheciam, por exemplo, que Marte tem duas luas: Fobos e Deimos, descobertas em 1877. Expressamente, no capítulo Uranografia Geral, está dito que Marte não tinha nenhum satélite. Era a ciência de então, compartilhada por encarnados e desencarnados.

            Espiritismo e ciência

            Tivessem os espíritos com os quais se comunicou Kardec (todo aquele capítulo é atribuído ao espírito Galileu em comunicação dada a Camille Flamarion, na SPEE), um pouco mais de conhecimento do que os astrônomos encarnados, poderiam ter adiantado essas descobertas. Teriam também evitado alguns equívocos relativos, por exemplo, à existência de vida em Marte e outros planetas, de que dão notícias comunicações acolhidas e publicadas por Kardec.

            O que comprova isso? Pelo menos, duas coisas: l) que o espiritismo, no que diz com as questões da ciência, não trabalha com verdades prontas e acabadas, mas com aproximações compatíveis com o momento em que se vive, suscetíveis de serem modificadas ao decurso do tempo; 2) que são inteiramente pertinentes estas duas sentenças de Kardec: a) “Não sendo os espíritos senão as almas dos homens, não têm eles nem a suprema sabedoria e nem o pleno conhecimento” (Obras Póstumas), e b) “Marchando passo a passo com o progresso, o Espiritismo jamais será ultrapassado por ele, pois se novas descobertas lhe demonstrem estar errado sobre um certo ponto, ele se modificará nesse ponto, e se uma nova verdade se revelar, ele a aceitará” (A Gênese).

            Revelação espírita e verdade

            É justamente nesses termos que devemos aceitar a existência de uma ciência espírita. Não como revelação fadada a ser, posteriormente, confirmada pela ciência humana, mas como instrumento e produto do intercâmbio entre a humanidade encarnada e a humanidade desencarnada, a partir de dados acessíveis por uns e outros, em um dado momento.

            Há, nesse campo, um pressuposto do qual nenhum espírita honesto e sincero pode se apartar: a prévia convicção de que as comunicações espirituais não são mais que meras opiniões dos espíritos. Erigi-las à condição de verdades às quais um dia a ciência há de, necessariamente, chegar é assumir postura arrogante, candidatando-se a “quebrar a cara”, logo ali adiante.

            Humanização do espiritismo

            Esse é o único jeito de não sofrermos o vexame por que passam todas as religiões, na medida em que seus mitos vão sendo derrubados. E é precisamente aí que o espiritismo se humaniza: quando assume sua falibilidade. O dogma da infalibilidade não é nosso. Deixemo-no para as religiões. O nosso propósito, a rigor, é um só: mostrar ao mundo que a morte física não nos destrói nem nos separa. E, por isso, seguimos, como espíritos, sendo seres pensantes e comunicantes. A morte, que não nos faz anjos nem demônios, também não nos transforma em sábios. É perfeitamente possível, assim, que os espíritos entrevistados por Kardec e Flamarion não soubessem muito daquilo que, algumas décadas após, os cientistas vieram a descobrir. E daí? Isso os desmerece? Claro que não. Humaniza-os e humaniza o próprio espiritismo.

A comunicação entre encarnados e desencarnados tem tudo para ser uma eficiente ferramenta de aperfeiçoamento do conhecimento e da ciência, como a concebeu Kardec. Desde que aqueles que dela se utilizem não se deixem tomar pela arrogância e pelo orgulho que sempre foram marcas da religião.

           

ANTROPÓLOGA FRANCESA ESTUDA ESPIRITISMO NO CCEPA

Maeva Mahy, doutoranda da Universidade Paris X, antropóloga, socióloga e historiadora veio ao Brasil para melhor conhecer o espiritismo.

Maeva que fez mestrado em antropologia/sociologia, está agora trabalhando em sua tese de doutorado, com o tema: “A visão do espiritismo através do corpo, numa perspectiva comparativa entre o Brasil e a França”.

Seus estudos a respeito do espiritismo, suas origens, suas propostas e suas visões, começaram na França. Lá, em contato com Jacques Peccatte, do Cercle Spirite Allan Kardec, instituição adesa à CEPA, soube da existência da Confederação Espírita Pan-Americana., interessando-se por sua visão laica e livre-pensadora com base no pensamento de Allan Kardec. Já esteve, ano passado, no Brasil, concentrando suas pesquisas em São Paulo, onde entrevistou Ademar Arthur Chioro dos Reis, Alcione Moreno e outros pensadores espíritas ligados à CEPA. Agora, em Porto Alegre, onde permaneceu de 29 de agosto a 9 de setembro, aprofundou suas pesquisas sobre a história da CEPA e do Centro Cultural Espírita de Porto Alegre. Fez entrevistas com o presidente da CEPA, Milton Medran Moreira e com o presidente do CCEPA, Maurice Herbert Jones. Ambas as instituições disponibilizaram à pesquisadora francesa ampla documentação sobre suas histórias e as idéias ali desenvolvidas.

 

BRASILEIROS NA CONFERÊNCIA DE MIAMI

            As dificuldades que se apresentavam para ir a Miami não eram poucas: a ameaça de furacões e tormentas da época; as dificuldades de vôos em face da crise aérea brasileira, tornando ainda mais gravosos os custos de viagem; os obstáculos habitualmente postos pelo Governo dos Estados Unidos à concessão de vistos de entrada. Superando todos os impasses, uma delegação de 15 brasileiros participou ativamente da XV Conferência Regional Espírita Pan-Americana da CEPA, na bonita capital da Flórida, de 6 a 9 de setembro.

            Vários painéis relativos ao tema central da Conferência - De Hydesville a Kardec: Mediunidade, do Fenômeno ao Método-, assim como temas livres, estiveram a cargo de pensadores espíritas ligados ao movimento da CEPA no Brasil. Os expositores brasileiros foram: Ademar Arthur Chioro dos Reis, Jacira Jacinto da Silva, Mauro de Mesquita Spínola, Milton Medran Moreira, Moacir Costa de Araújo Lima e Rafael Regis dos Reis

            Expositores da Argentina, dos Estados Unidos, de Porto Rico e da Venezuela também levaram excelente contribuição cultural ao evento de Miami.

            A CEPA já está trabalhando na programação de seu próximo grande evento internacional: o XX Congresso Espírita Pan-Americano, a se realizar em Porto Rico, de 4 a 8 de junho de 2008.

 

           

CCEPA AMPLIA ESPAÇOS PARA CONFERÊNCIAS PÚBLICAS

            O Centro Cultural Espírita de Porto Alegre está ampliando seus espaços de palestras públicas. Realizadas habitualmente na primeira segunda-feira de cada mês, agora também estão sendo programadas para as primeiras sextas-feiras à tarde, assim como para outros espaços das segundas à noite, substituindo, eventualmente, a atividade dos Grupos de Conversação Espírita.

            Dentro desta nova sistemática, o CCEPA realizou na noite de 21 de agosto último atividade para a qual foi convidado o médico homeopata Ricardo Herbert Jones que expôs o tema “Raízes Antropológicas da Afetividade”.

            Já na primeira segunda-feira de setembro (4), a conferência pública esteve a cargo da psicóloga Jussara Gandolfi, com o tema “Educação dos Sentimentos”.

            Próximas conferências

            O CCEPA está convidando para estas próximas atividades públicas:

            - Dia 2/10  (primeira segunda-feira de outubro), às 20h30: “Viagens fora do corpo”, com Antônio Carlos Fraquelli.

            - Dia 6/10 (primeira sexta-feira do mês) às 15h: “De Comenius a Kardec”, c/Maurice Herbert Jones.

Local: Auditório do CCEPA, Rua Botafogo, 678, Bairro Menino Deus, Porto Alegre

           

SALOMÃO FARÁ SESSÃO DE AUTÓGRAFOS NA FEIRA DO LIVRO

            Anote em sua agenda: Dia 29/10, domingo, às 17h30min, Salomão Jacob Benchaya estará autografando seu livro “Da Religião Espírita ao Laicismo – A História do Centro Cultural Espírita de Porto Alegre” (Ed.Imprensa Livre).

            A obra de Salomão constitui-se em importante relato para a história do movimento espírita no Rio Grande do Sul, a partir da influência da antiga S.E.Luz e Caridade, hoje Centro Cultural Espírita de Porto Alegre, nas últimas décadas. O livro foi lançado em comemoração aos 70 anos do CCEPA e sua edição é restrita.

 

Enfoque

 

OPINIÕES CONFLITANTES E UNIFICAÇÃO

Mário Lange de S. Thiago*

 

O processo de unificação do movimento espírita supõe uma profunda compreensão doutrinária. Nos primórdios do Pacto Áureo, em “sugestão” apresentada ao Congresso Brasileiro de Unificação Espírita, realizado em São Paulo, nos dias 31 de outubro a 5 de novembro de 1948, cujos Anais tenho em mãos, o Professor Leopoldo Machado com o subtítulo “Entraves à Unificação”, comentava a existência de “duas espécies de espíritas que, a cada passo, se nos defrontam: os compenetrados de seus infalíveis pontos de vista, a que chegaram à força de seus estudos, e os que, sem estudo algum, se deixam arrastar pela orientação de seus guias ...”, o que o levou a questionar: “Unidade doutrinária entre as duas correntes?”.

O Professor certamente denunciou posições radicais, como a daqueles que se isolam nos seus sistemas particulares, e a dos que “conservam, ainda, no substrato da consciência a velha passividade”, substituindo o vigário pelos guias, visíveis e invisíveis. Mas, também se referiu a uma terceira espécie, que não obstaculiza a unificação, embora tendo opinião própria, posto que, divergências e discordâncias, mormente se elevadas, sem ódios e inimizades, são a prova maior do espírito de liberdade que a doutrina nos confere. Segundo o Professor, “A disciplina tipo perinde ac cadaver não é para espírita e para o Espiritismo”. Sugere, por isso, que ainda não saímos “da fase de nossa adaptação à Doutrina”, esta mesma, ainda na fase de sua consolidação definitiva. Daí ser necessário aos espíritas em geral ampliar o que chamou de consciência espírita (e nas conclusões, apelidou de consciência religiosa), que se consegue pelo estudo, através dos livros e/ou dos fatos; pela compreensão, em conseqüência; pelo sentimento profundo da Doutrina e pela vivência, o que levará à obra de unificação doutrinária. Leopoldo clama contra os perigos da unificação à força do poder temporal, de dogmas e hierarquias infalíveis, de leis humanas e obediências totalitárias, porém, propõe que a unificação social é a que primeiro deve interessar aos espíritas, por se tratar de “Unificação de corações que palpitem no mesmo ritmo de confraternização, embora os cérebros concebam teorias e pontos de vista diferentes”. Indo mais longe, sugere se dediquem os espíritas à formação das crianças, em inteligência e sentimentos, e aos congressos, que valem mais por seu espírito de aproximação e confraternização, do que pelas resoluções tomadas, produzindo frutos para o futuro. O Professor Leopoldo parte do princípio que a unidade doutrinária está feita, na codificação, e que a unificação desejada deve vir expontaneamente, com o crescimento da consciência espírita, ao que ajunto, mais pela educação (da inteligência e do sentimento) que pela instrução (transferência de conhecimento dogmatizado) de crianças e adolescentes, e pelas constantes comunicações e exposições de idéias e experiências através de congressos.

Pessoalmente, tenho presente que a unificação do movimento espírita passa necessariamente pelo reconhecimento da diversidade de percepção e interesse dos espíritas em relação às matérias doutrinárias ou delas decorrentes. Passa, também, pelo reconhecimento das bases metodologicamente construídas de um edifício doutrinário, cujo corolário é a assertiva: “Fora da caridade não há salvação”. Que bases são essas?

Em O Livro dos Espíritos, Introdução, item I, 1º parágrafo, é o próprio Codificador que nos adverte: “Diremos, pois, que a doutrina espírita ou o Espiritismo tem por princípio as relações do mundo material com os Espíritos ou seres do mundo invisível”. Adiante, item VII, 4º parágrafo, Kardec, em mais uma afirmativa de síntese, confirma: “... o Espiritismo está todo na existência da alma e no seu estado depois da morte”. Acrescente-se, por categórico imperativo, que a morte não separa o espírito definitivamente do plano material e social em que vivemos. Conforme resume magistralmente o mestre de Lión, no item VI, 17º parágrafo: “Deixando o corpo, a alma volve ao mundo dos Espíritos, donde saíra, para passar por nova existência material, após um lapso de tempo mais ou menos longo, durante o qual permanece em estado de Espírito errante”. De modo que, parece absolutamente impossível afastar esses três vetores conceituais entre si e na construção do edifício doutrinário, que importa em uma nova visão do homem no seu ambiente existencial e de Deus.

Assim, obedecendo a uma ordem de enunciação lógica, consoante o precário, mas necessário, ponto de vista humano enlaçado aos conhecimentos revelados pelos espíritos, o Espiritismo se assenta em cinco princípios que servem como guias (estes sim) à pesquisa, à reflexão filosófica e à multifária rede de relações do homem consigo mesmo e com Deus, com os outros e com o ambiente. Primeiro, a transcomunicabilidade entre os espíritos encarnados e desencarnados que, por ser mais ampla como princípio, não se confunde com a mediunidade, antes a envolve. Segundo, a transcontinuidade da vida, independente da matéria, cuja influência sobre o espírito se esvai a cada passo, mas que se reflete na organização psico-social das comunidades do plano de erraticidade. Terceiro, a pluralidade das existências materiais a que se submete o espírito, cujas experiências não se perdem, mas dão o entorno à personalidade e ao caráter do ser humano. Quarto, a evolutividade da condição espiritual, ou evolução, pela aquisição de novos caracteres em inteligência e amor, transcendentes às concepções culturais do homem. É admissível a divisão deste princípio, para sua melhor compreensão, considerando-se que o espírito é “creado” simples e ignorante: providencialidade natural ou divina; mutabilidade, segundo o livre arbítrio e a lei de causa e efeito; e evolutividade pelo amor. E, quinto, a aceitação da divindade única, nos termos da questão 1, de O Livro dos Espíritos, da qual nos aproximaremos, na justa medida do nosso próprio auto-conhecimento. Nossa razão científica repousa nos três primeiros postulados. A razão filosófica está no processo evolutivo do espírito, com supedâneo e transbordamentos psicológicos e sociológicos, objeto do quarto postulado. E, se quisermos, no quinto postulado revela-se nossa compreensão religiosa.

Ora, aceitas essas bases, há muito o que discutir, e permanentemente, por isso que, o Espiritismo possui, nos seus desdobramentos, elementos verdadeiramente revolucionários, constituindo-se em um novo paradigma para a humanidade. É justo, por conseguinte, que haja opiniões conflitantes, até porque, o campo está aberto, seja para a ampliação do conhecimento, seja para a adaptação (lembrando Leopoldo Machado) do nosso comportamento (mores), esta última área em que se há de remover um imenso entulho de sentimentos incompatíveis com a nova era implicitamente anunciada. Nem podemos imaginar que, enquanto se desenrola o debate, todos se comportem igualmente, em nível de compreensão, respeito e desinteresse pessoal.

Assim, as instituições espíritas precisam, pouco a pouco, encontrar novos caminhos para a convivência participativa, crítica e fraterna, único endereço possível para a unificação. Essa revisão institucional e dos procedimentos é fundamental em um programa dessa natureza, aliás recomendada pelos espíritos (e, portanto, por Allan Kardec), quando abordam o egoísmo, vício que se pode considerar como estando na raiz de todos os demais. Na questão 914, o Codificador perquire sobre a sua extirpação do coração humano, obtendo como resposta uma indicação sobre a superior hierarquia dos valores espirituais e uma advertência: “necessário é que se reformem as instituições humanas que o (egoísmo) entretêm e excitam. Isso depende da educação”. Iniciemos pelas instituições espíritas, sem esquecermos o que vai por dentro de nós.

 

 

Opinião do Leitor

 

Eunice Leite e Silva

Muito me emocionei com a reportagem de homenagem à minha querida mãe, Eunice Leite Silva. Suas palavras de reconhecimento ao seu trabalho dentro do espiritismo muito me sensibilizaram. Fui também testemunha de seu empenho na divulgação de um espiritismo sem fronteiras e livre de preconceitos.

Quero agradecer de coração suas palavras e também ao conforto que recebi na ocasião do seu sepultamento em Porto Alegre.

            Estou agora residindo em Florianópolis e, desde já, me coloco à sua inteira disposição para qualquer informação que necessitem.

            Um abraço carinhoso a todos vocês.

 

                                    Sílvia Brandão – Florianópolis, SC