OPINIÃO Ano XII – Nº 132 Julho 2006
PROVA PSICOGRÁFICA NO
JÚRI, NOVAMENTE
Editorial: Novo, mas nem tanto
Enfoque : O que importa é aquilo em que
você acredita
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PROVA PSICOGRÁFICA NO JÚRI, NOVAMENTE
O assunto
não é novo. Há algumas décadas, pelo menos dois casos de cartas psicografadas
por Chico Xavier foram utilizadas no Tribunal do Júri e ajudaram a absolver os
acusados. Agora, na Comarca de Viamão (RS), o defensor de Iara Marques
Barcellos, denunciada como mandante do assassinato do tabelião Ercy da Silva
Cardoso, apresentou uma carta obtida psicograficamente, onde a vítima exime a
ré de culpa.
O fato
Ercy foi assassinado no dia 1º de julho de 2003,
com dois tiros, em sua casa, na cidade de Viamão. Iara, com quem a vítima tinha
um caso extraconjugal, acabou sendo denunciada como mandante do crime. O autor
dos disparos, o caseiro Leandro Almeida, ao ser preso, disse que Iara o havia
contratado por 20 mil reais para dar um susto em Ercy. Com base nessa
informação, depois desmentida pelo caseiro, Iara Marques Barcellos foi
denunciada pelo Ministério Público.
Levada a júri, no último dia 26 de maio, a ré terminou
sendo absolvida. Seu defensor apresentou aos jurados uma carta psicografada
pelo médium Jorge José Santa Maria, da Sociedade Beneficente Espírita Amor e
Luz, de Porto Alegre, onde Ercy (espírito) declarava que a acusada não tivera
participação no fato.
A carta
Trecho da carta que teria sido endereçada,
mediunicamente, por Ercy ao marido de sua ex-amante declara: "O que mais
me pesa no coração é ver a Iara acusada deste feito por mentes ardilosas como a
dos meus algozes. Por isso tenho estado triste e oro diariamente em favor de
nossa amiga para que a verdade prevaleça e a paz retorne aos nossos
corações".
A mensagem supostamente psicografada foi juntada
aos autos pelo advogado da ré, acompanhada de uma declaração de autenticidade
fornecida pelo médium.
As repercussões
Os grandes jornais do Brasil, assim como o rádio e
a televisão, fizeram reportagens sobre o fato. Em Porto Alegre, o editor de Opinião,
Também no Centro Cultural Espírita de Porto Alegre,
no Grupo de Conversação Espírita, espaço que abre temas da atualidade à
discussão pública, à luz do espiritismo (às segundas-feiras à noite), o vice-presidente
da instituição, promotor de Justiça Rui Paulo Nazário de Oliveira levou o
assunto ao debate, no último dia 20 de junho. Rui entende ser improvável que
entidades espirituais se preocupem com esse tipo de comunicação e defende que
contendas judiciais devem ser dirimidas pelos meios probatórios e argumentos
jurídicos produzidos pelos agentes encarnados do processo e não por entidades
espirituais: "Eles não têm nada a ver com isso" – diz Rui – "e
não devem se intrometer nesses assuntos, a não ser em casos muito
excepcionais".
SE A MODA
PEGA
Os dois casos de cartas psicografadas por Chico
Xavier trazem características muito especiais. Num,
Mas, o que importa salientar é que médiuns e
espíritos comunicantes são falíveis. Os primeiros podem ser facilmente vítimas
de alucinação, mistificação, engano ou falsas percepções. Os segundos, mesmo
que autêntica a comunicação, podem estar sendo movidos por sentimentos pessoais
de afeto, paixão, ódio, simpatia ou antipatia, capazes de levá-los a distorcer
a verdade ou de prejudicar a clara percepção dos fatos. Espírito é gente e como
tal pensa e age.
Não se nega a possibilidade da intervenção e
admite-se que bons espíritos desejem contribuir para o justo desfecho de casos
judiciais pendentes entre nós. Mas, não convém esquecer que a melhor linguagem
de que se utilizam os espíritos é a da transmissão do pensamento. Dispõem eles,
ordinariamente, de meios mais sutis de intervenção. Especialmente, intuindo
aqueles que operam o Direito no sentido da obtenção da melhor prova ou do
argumento ou decisão mais justos. Agir da forma explícita, como no caso
recentemente noticiado, conduz facilmente à vulgarização do fenômeno mediúnico
e, por via de conseqüência, do próprio espiritismo, já que, no imaginário
popular um e outro são a mesma coisa.
Se a moda pega, não se estará, com isso, prestando
bons serviços nem à justiça, nem à causa espírita. (A Redação)
NOVO, MAS
NEM TANTO
A
grande maioria dos espíritas se acha entre pessoas esclarecias e não entre as
ignorantes.
Allan Kadec – "Estatística do
Espiritismo" – Revista Espírita janeiro/1869)
Os grandes órgãos da imprensa nacional, com
relativa freqüência, fazem reportagens sobre o espiritismo. Quase sempre, o
mote da matéria são os fenômenos mediúnicos produzidos por sensitivos
excepcionais. Zé Arigó, Chico Xavier, Edson Queiroz e alguns outros nomes de
expressão no campo da fenomenolgia espirítica por muitas vezes foram temas de
grandes reportagens nacionais. Ultimamente, as temáticas, cada vez mais
utilizadas pelas novelas de televisão e pelo cinema, tratando da comunicação
com o além, reencarnação, etc., suscitam reportagens o mais das vezes sensacionalistas
que, de qualquer sorte, terminam pondo em evidência o espiritismo e as
interpretações que, em nome dele, se fazem desses fenômenos.
Bem mais raro será encontrar matérias da grande
imprensa enfocando a realidade de nosso movimento espírita, seu dia-a-dia, o
perfil de seus freqüentadores, os esforços que fazem na busca do conhecimento,
seus movimentos sociais, etc. Por isso mesmo, de uma certa forma, surpreende a
reportagem de capa da revista Época de 3 de julho último, com o
sugestivo título de O Novo Espiritismo.
A importante revista da Editora Globo, em certo
trecho de sua reportagem, destaca: "Esqueça os copos que se movimentam
sozinhos sobre a mesa branca, as operações com canivete e sem anestesia do
médium Zé Arigó e as sessões de exorcismo coletivo transmitidas pelo rádio.
Isso tudo ainda existe, mas o crescimento e a exportação da doutrina se devem
principalmente a seu lado menos místico e mais racional".
Aquilo, pois, que a revista Época qualifica
como "novo espiritismo" é apenas o retrato mais singelo e autêntico
de um movimento que busca suas raízes, valorizando mais seus fundamentos
racionais em detrimento dos desvios místicos e os anseios milagreiros de alguns
freqüentadores e até de dirigentes mal preparados. Essa lenta depuração que, assim
mesmo, ainda não conseguiu arrancar o espiritismo do arcabouço religioso onde o
aprisionaram, deve-se, em parte, ao próprio crescimento das tantas religiões
evangélicas que vicejam
Por todas essas razões, o espiritismo cresce
especialmente entre as pessoas com escolaridade acima da média. A reportagem de
Época salienta que, entre os espíritas, 77% têm entre oito e 15 anos de
escolaridade, dez anos em média a mais que os católicos. Essa característica,
por sua vez, acaba por influenciar também o perfil econômico dos espíritas:
segundo ainda a matéria, a renda dos espíritas é 150% superior à média
nacional, e 52% deles ganham acima de cinco salários mínimos.
Estamos, claramente, pois, diante de uma tendência
que Allan Kardec fora capaz de perceber já nos primórdios da organização do
movimento. Mas essa tendência nascida da própria identidade originariamente
conferida à doutrina espírita, precisa retroalimentar-se de políticas internas
capazes de atrair aos centros espíritas as pessoas com esse perfil cultural.
Isso, absolutamente, não implica em abandonar as políticas da ação social e a
preocupação com a assistência aos necessitados, aspectos que sempre
caracterizaram o movimento e lhe atraíram o prestígio e a simpatia públicos.
Trabalhadores melhor preparados intelectualmente, mais instruídos e socialmente
influentes na sociedade, com mais facilidade hão de pôr em prática corretas
políticas em favor dos excluídos sociais. Jamais poderemos perder de vista,
entretanto, que o espiritismo é, fundamentalmente, uma proposta de
transformação integral do homem e que essa transformação parte sempre do
conhecimento. O centro espírita, assim, precipuamente, escola e não templo, nem
ambulatório ou hospital.
Kardec orgulhava-se dessa característica
fundamental do movimento por ele criado e da condição intelectual de seus
adeptos. Registrava isso freqüentemente nos seus escritos e projetava um
espiritismo permanentemente comprometido com o avanço da ciência, do humanismo
e da evolução social e moral da humanidade. O "novo espiritismo",
pois, a que alude a reportagem da prestigiada revista da Globo, outra coisa não
é senão uma saudável, mas ainda tênue, aproximação do movimento sonhado por seu
insigne fundador. Falta-nos muito ainda para atingir plenamente esse objetivo.
Prova disso está no próprio tema da reportagem que ora comentamos, definindo
como "novo" um movimento que mal desperta para a necessidade de
resgatar os valores que lhe são originários. Na verdade, o espiritismo, para a
maioria dos próprios espíritas, é ainda um desafio, envolvendo concepções difíceis
de serem assimiladas, porque integrantes de um paradigma com o qual ainda não
nos acostumamos.
Aquilo que a revista Época qualifica como
"novo espiritismo" é apenas o retrato mais singelo e autêntico de um
movimento que busca suas raízes, valorizando mais seus fundamentos racionais em
detrimento dos desvios místicos e os anseios milagreiros de alguns
freqüentadores e até de dirigentes mal preparados.
GRUPOS DE
ESTUDO DO
O Grupo de Estudos coordenado por Rui Paulo Nazário
de Oliveira, no
Por decisão do grupo, foi feito convite à bióloga
Jaqueline Rodrigues para, previamente ao início do estudo, ministrar uma aula
sobre "células tronco". Jaque, como é carinhosamente chamada no
Em sua exposição, na quinta-feira, 20 de junho,
Jaque partiu, inicialmente dos conceitos de "seres vivos" e "seres
com vida". Ocupou-se, também, de questões relativas ao início da vida,
destacando as polêmicas existentes entre biólogos a respeito do tema. O grupo
aprofundará o estudo de aspectos éticos e implicações espirituais.
Pela importância do tema, integrantes dos demais
grupos da noite também assistiram à aula, em atividade coordenada pelo Diretor
do Departamento de Estudos, Maurice Herbert Jones.
PROFESSOR
BALAGUEZ É O ORADOR DE AGOSTO
Com o tema, "As Cinco Alternativas da
Humanidade", o Professor Ascêncio José Martinez.Balaguez será o
conferencista da primeira segunda-feira de agosto no Centro Cultural Espírita
de Porto Alegre.
O
Milton R. Medran Moreira
Os "raps" e as "mesas girantes"
Arthur Conan Doyle e J.Herculano Pires referiam-se
ao período dos grandes fenômenos espiríticos na Europa e nos Estados Unidos do
Século 19 como o da "invasão organizada de espíritos". O tempo dos
"raps" e das "mesas girantes" forneceram a matéria prima do
espiritismo, sua base factual. Mas, não tardou para que o movimento nascente se
dividisse em dois grandes segmentos: o "new spiritualism"
anglo-saxônico e o espiritismo kardequiano. O primeiro, marcadamente preocupado
com os fenômenos mediúnicos. O segundo, de caráter mais filosófico,
identificando na idéia da reencarnação a chave dos enigmas humanos e o caminho
para dirimir os grandes questionamentos existenciais.
A aceitação ou não da reencarnação se tornaria,
justamente, o divisor de águas de um movimento nascido a partir dos mesmos
fenômenos, mas que se bifurcou
A reencarnação nos Estados Unidos
Curiosamente, entretanto, lá mesmo, na grande nação
da América do Norte é que o fenômeno da reencarnação, ao curso do Século XX, encontraria
seu mais propício campo de pesquisa e de estudo. Especialmente a partir do
trabalho do Dr.Ian Stevenson, documentado no livro "20 Casos Sugestivos de
Reencarnação", o tema ganhou muito espaço e alguma credibilidade em
setores da pesquisa de ponta. A partir de Stevenson, figuras respeitáveis como
o Dr.H.N.Banerjee, a psicóloga Hellen Wambach, a Dra.Edith Fiore e, mais
recentemente, o psiquiatra Brian Weiss, utilizando-se de metodologia
científica, buscam submeter a temática reencarnacionista ao debate acadêmico.
Estendem uma ponte entre aquilo que antes era só crença e os setores mais
abertos de ramos da ciência como a medicina, a psiquiatria, a psicologia, etc.
O pragmatismo norte-americano que, aliado a seu
conservadorismo religioso, recusara a idéia da reencarnação sugerida pelo novo
espiritualismo, acabou por redescobri-lo, por outras vias, que não a da
revelação ou da filosofia.
Hora do diálogo
Consideradas essas premissas, parece que este é o
momento ideal para se restabelecer o diálogo entre o espiritualismo
anglo-saxônico e o espiritismo kardequiano. O país das irmãs Fox praticamente
desconhece Kardec. Como em outras nações do hemisfério norte, lá existem, é
certo, muitos centros espíritas bastante semelhantes aos nossos. Mas são
mantidos e freqüentados quase que exclusivamente por imigrantes
latino-americanos. O norte-americano típico não conhece a doutrina espírita e
nunca ouviu falar em Allan Kardec, embora conviva bastante com a mediunidade e
com os fenômenos espiríticos em geral.
Dessa realidade nasceu a idéia da temática da
próxima Conferência Regional Espírita Pan-Americana que a CEPA – Confederação
Espírita Pan-Americana – vai realizar
Com a presença já assegurada de grupos genuinamente
norte-americanos que estão se voltando ao estudo de Kardec, o evento pode ser
um acontecimento histórico, pavimentando o caminho do diálogo e da convivência
mais estreita entre aqueles dois segmentos do moderno espiritualismo.
A contribuição do Sul do Continente
A delegação brasileira para a XV Conferência
Regional Espírita Pan-Americana ainda é pequena. Companheiros da Argentina
também se mobilizam para mais esse evento da CEPA. Mediunidade é um tema
fascinante. Base concreta sobre a qual se estrutura a filosofia espírita,
também se aprimora através do permanente estudo e da prática, dentro de
critérios de racionalidade. Estamos apelando para que mais companheiros do
Brasil e da Argentina levem sua experiente contribuição aos irmãos do Norte.
O evento da CEPA, como sempre, abre-se à
participação da comunidade espírita em geral, em seu Fórum de Temas Livres.
Para maiores informações sobre participação e assistência, entre em contato com
a Comissão Organizadora: Ciencia Espiritista Kardeciana, 1875, West Flagler,
Miami, Flórida 33135 – www.cienciaespiritista.com – e-mail: scherum@aol.com
, telefone 305-821-0654 ou 305.408.7832. Os contatos também podem ser feitos
com a Secretaria da CEPA no Brasil: Centro Cultural Espírita de Porto Alegre –
Rua Botafogo, 678, Porto Alegre/RS, fone (51) 32316295, e-mail:
cepamerica@terra.com.br
.
O que
importa é aquilo em que você acredita
Marcelo
Saímos do cinema com esta frase, dita pelo
protagonista no trecho final do filme, ecoando
A argumentação de Brown – apesar de não ser inédita
– alcança outros segmentos ou cenários além das hostes católicas: todos aqueles
que têm uma determinada imagem de Jesus de Nazaré (transformado em Cristo, o
Ungido, o Deus Conosco – Emanuel) Estes podem se sentir atingidos pela forma
como as informações (ou suposições) são apresentadas. Até mesmo os espíritas,
que, em sua maioria, seja pela ascendência católica de líderes e dirigentes
espíritas ou pela "assinatura" dos principais mentores e guias
espirituais do passado e do presente, muitos dos quais religiosos "de
carteirinha" (frades, padres, freiras e membros de igrejas do passado).
A polêmica central paira sobre o caráter da
personalidade existencial de Jesus, e o seu caráter divino ou humano. A idéia
principal difundida pela filosofia espírita é bem diferente dos princípios das
religiões cristãs. Estas últimas apregoam a existência de uma Trindade
(Deus-Pai, Deus-Filho e Deus-Espírito Santo). De modo que a "encarnação do
Verbo" seria a humanização divina, já que Jesus, mesmo "vivendo"
na Terra, possuía atributos de um Ser Divinizado, com seus milagres e feitos
(conforme as profecias bíblicas, o Messias, o Salvador).
Para o Espiritismo, Jesus não é Deus – e nem,
nunca, o será. Ao contrário, é um Espírito, e, assim, a "trindade"
universal seria composta pelo criador (Deus) e os dois elementos do Universo
(Espírito e Matéria). A partir desta noção, o "quilate" espiritual de
Jesus não é, ainda, o de um Espírito perfeito (como muitos espíritas supõem
ser), mas a de um Espírito adiantado, conceituado pela própria questão 625 de O
livro dos espíritos, como guia e modelo para a Humanidade (no grau,
evidentemente, de nossas condições anteriores e atuais de evolução, mas, não
como guia para todos os Espíritos e todos os Mundos, de vez que existem tantos
outros Espíritos em nível evolutivo muito maior do que o ser em comento).
Em paralelo, não podemos deixar de lado uma antiga
polêmica existente no seio das instituições e da bibliografia espiritista de
que Jesus, para eles, não teria tido uma existência "carnal", em
função de seu grande adiantamento (?), e que o corpo que ele teve durante a
vida física teria sido fluídico. Vemos, aqui, uma relativa aproximação entre a
teoria dominante na Igreja – e que foi dogmatizada – com certa
"perfeição" de Jesus, defendida por alguns "espíritas".
Tamanho absurdo encamparia, como já suficientemente dito em escritos que
rechaçam violentamente tal hipótese, que o sofrimento do homem Jesus teria sido
uma farsa, já que o corpo não era físico, para eles. Neste sentido, esta
adulteração da lógica espírita funcionaria como alicerce para a defesa da virgindade
de Maria (aproximando, novamente, o linguajar espírita com a dogmática das
igrejas cristãs acerca da concepção de Jesus por obra do Espírito Santo).
Mas, é prudente que os espíritas não adotem um
comportamento (e um entendimento) extremista - nem tanto ao Céu, nem tanto à
Terra -, de vez que a questão merece, de nossa parte, e com o exercício do
livre-arbítrio e da fé raciocinada, uma análise muito mais acurada. Se Jesus,
para o Espiritismo, não é o "Deus-encarnado", também não pode ser "pintado"
como um homem comum, no nível de nossos comportamentos e vivências (estágio de
prova e expiação), seja na época em que viveu, seja hoje, passados pouco mais
de dois mil anos. Brown talvez tenha ido "longe demais" ao entabular
uma trama que tem como pano de fundo uma possível relação afetivo-sexual, em
termos de relação conjugal, entre Jesus de Nazaré e Maria de Magdala
(Madalena), a ex-prostituta. Se, decisivamente, a influência do primeiro sobre
esta última gerou uma verdadeira revolução interior, capaz de modificar
substancialmente seus hábitos e sua postura, e, pelos relatos evangélicos
(considerando aqueles que foram cuidadosamente escolhidos, a dedo, pela Igreja,
nos concílios, e que resultaram nos quatro evangelhos "oficiais"), a
sua presença é pontual, como discípula do Mestre. Daí a atribuir uma relação
baseada na sensualidade e, mais, que eles teriam tido uma herdeira, é condição
que extravasa completamente o "padrão" da missão de Jesus.
Deixemos bem claro, todavia, que, na hipótese de
realmente existir uma relação daquele jaez e a geração de um(a) filho(a), em
nada desmereceriam o trabalho, a importância e os ensinos de Jesus. O que
ressalta, neste sentido, é que, se assim fosse, qual a relevância disso para a
"atividade espiritual" de Jesus, em sua existência física na Terra?
Mesmo considerando que a Igreja pudesse ter "escondido" tal fato,
para consagrar a crença na divindade (caráter sobre-humano) do personagem, e,
por isso, eliminado, até mesmo, qualquer referência a tais eventos nos relatos
evangélicos (inclusive para sacramentar a idéia do celibato do filho de José,
como base para a instituição do voto de celibato dos ministros religiosos do
catolicismo). Perguntar-nos-íamos (para os espíritas, evidentemente): o fato de
Jesus ter se "casado" com Madalena e tido, realmente, um sucessor
hereditário seria desmerecedor para sua missão? Jesus seria diminuído por tal
fato? Haveria alguma alteração no "objetivo" de sua mensagem à
Humanidade, se ele tivesse procedido desta maneira? Certamente que não! Mas, com
a mesma lógica espírita de raciocínio, a questão fundamental seria: haveria
programação encarnatória para tal ocorrência? Ou, mesmo considerando o atributo
do livre-arbítrio, Jesus – por opção pessoal e intransferível – teria,
realmente, decidido por gerar um filho, com Madalena?
Como reforço à nossa digressão e, até, para sugerir
um maior debruce sobre tais episódios, sugerimos a leitura de duas obras do
saudoso Professor Herculano Pires, intituladas Madalena e Pesquisa
sobre o amor. Em ambas, a referência precisa aos "níveis" ou
"formatações" do amor (em nós), sobretudo pela idéia de que o amor é
a sublime virtude (a mãe de todas elas, poeticamente) e, por isto, pode ter (e
tem) distintas gradações. Se Jesus amou Madalena? Com certeza, e de um modo muito
próximo. Como também amou Pedro e Lázaro, outros expoentes citados nos
evangelhos. Em relação à ex-meretriz, o amor entre ambos não foi um
amor-sensual, mas um legítimo amor-espiritual, sem a necessidade do frenesi e
da busca ansiosa pelo prazer material-carnal, circunstância ainda presente nos
homens (em sua maioria) deste orbe. Um amor sublimado, com expressões de prazer
espiritual que suplantam o gozo e as contrações e expansões celulares,
tão-somente. Uma união verdadeira, de ideais e interesses comuns, um
estar-no-outro, com completude, em face da vinculação de propósitos, a
alimentação e retro-alimentação de vibrações, em essência.
O principal elemento que fica, a partir da obra de
Brown, é a suposição de que muito – muito mesmo – da história sobre Jesus tenha
sido adulterado, destruindo a imagem humano-espiritual do "maior dos
homens", dando lugar a um espectro de mito divino, o homem-Deus ou
Deus-homem, como queiram. Toda a codificação institucional cristã repousa sobre
uma montagem que consolidou dogmas, sacramentos e rituais, base sobre a qual se
assenta toda a crença de grande parte da Humanidade. Todas as vezes que se
"mexe" com isto, surgem os problemas, nascem os conflitos. Eis, aí,
uma excelente motivação para o raciocínio, a lógica, o interesse na
"verdadeira história". A "ousadia" de Brown – que paga um
alto preço – é válida e oportuna, pelo menos para devolver-nos o direito de
pensar e escolher. Afinal, relembrando a frase-título deste ensaio: o que
importa é aquilo em que você acredita!
GRAVURA CÓDIGO DA VINCI
Brown talvez
tenha ido "longe demais" ao entabular uma trama que tem como pano de
fundo uma possível relação afetivo-sexual, em termos de relação conjugal, entre
Jesus de Nazaré e Maria de Magdala (Madalena).
* Marcelo