OPINIÃO Ano XII – Nº 131  Junho 2006

VALE A PENA INVESTIR NO DELINQÜENTE?

Nossa Opinião: Caos ou progresso

Editorial: Moral espírita e moral do espírito

Notícias: Curso de iniciação ao espiritismo   -  Sombrio é o conferencista de julho

Opinião em Tópicos:   O código da Vinci  -   Mito x ficção  -  Mito, fé e poder  -  Jesus Cristo e Jesus de Nazaré    (Milton Medran Moreira)   

Enfoque :  Os espíritas, quantos são?

Opinião do Leitor:   70 anos do CCEPA e o roustaingismo da Feb

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VALE A PENA INVESTIR NO DELINQÜENTE?

 

Sob o título “Histórias de um Brasil que funciona” o site da Fundação Getúlio Vargas – http://inovando.fgvsp.br/ - divulgou o artigo que segue, envolvendo trabalho da Juíza de Direito Jacira Jacinto da Silva:

 

            “Até recentemente, a Cadeia Pública de Birigüi (SP) vivia a mesma rotina de quase todo o sistema carcerário brasileiro: fugas, rebeliões, superlotação, denúncias de abusos cometidos pela polícia, etc. No segundo semestre de 1998, uma grande rebelião acabou incendiando e destruindo toda a Cadeia.

            Antes que o barril de pólvora explodisse, porém, a comunidade local havia começado a se mobilizar para mudar a situação dos presos.

            Já em 1995, a juíza Jacira Jacinto da Silva, da Segunda Vara Judicial da Comarca de Birigüi, havia constituído o Conselho da Comunidade para Execução de Sentenças de Acordo com a Lei de Execução Penal. Três anos depois, Jacira começou a discutir com delegados, promotores, empresários, educadores e outros membros da comunidade um novo modelo de funcionamento da Cadeia Pública.

            Formou-se, dessa forma, a Associação de Proteção e Assistência Carcerária - APAC, uma organização civil sem fins lucrativos que tem por objetivo ressocializar as pessoas que cumprem sentença judicial na Cadeia Pública de Birigüi. Na prática, isso significa transformar a prisão num local capaz de reeducar os presos e prepará-los para sua volta à sociedade”.

 

            Jacira: “SEMPRE VALE A PENA INVESTIR NA RECUPERAÇÃO DO SER HUMANO”.

 

            Jacira Jacinto da Silva, que hoje não mais trabalha em Birigüí, pois jurisdiciona uma Vara Cível da comarca de Bragança Paulista, é espírita (integra a Diretoria Executiva da CEPA).

            Opinião foi ouvi-la sobre aquele projeto e também a respeito da criminalidade, numa perspectiva espírita:

 

            Opinião – Fale-nos, Jacira, sobre o projeto que desenvolveu quando juíza de Direito em Birigüi.

            Jacira – O objetivo era transformar a prisão em oportunidade de aprendizado e crescimento. Construímos oficinas de trabalho, escola; implantamos o telecurso, projetos de arte, cultura e lazer. Acompanhávamos o preso, sua família e suas crianças, que eram incluídas em outro projeto. Na saída, os encaminhávamos para oficinas de egressos e fazíamos o acompanhamento.

            O trabalho atraiu a confiança do BNDES, que investiu um dinheiro muito alto num projeto maior que desenvolvemos para tratar a questão da criminalidade em rede, começando pela criança bem pequena, passando pelos adolescentes, pelos dependentes químicos, pelo egresso da prisão, e pelas vítimas também. Este projeto, chamado "Vivendo e Aprendendo" está funcionando parcialmente, pois o espaço está ainda em construção com o investimento do BNDES.

            Opinião – É comum afirmar-se que, em sua maioria, os criminosos que lotam as cadeias já não têm condições de reabilitação e que o Estado estaria desperdiçando recursos com eles. Que pode nos dizer a esse respeito?

            Jacira – No imaginário popular, todos os reclusos são bandidos perigosos do tipo “Fernandinho Beira Mar” ou “Marcola”. Mas são muito poucos os que têm esse perfil, por mais absurdo que isso possa lhe parecer.

            Certa vez, quando queríamos construir um prédio novo, adequado ao trabalho de ressocialização que fazíamos, um politiqueiro, daqueles que não perdem a oportunidade para aparecer, propôs uma audiência pública e usou todas as ferramentas que tinha para jogar a população contra nosso projeto, sob o argumento de que seria construído mais um presídio na cidade, mesmo sabendo que se tratava apenas da troca de prédio. Fizemos uma pesquisa na cadeia e constatamos que 80% dos presos tinham entre 18 e 22 anos de idade. Naquela população carcerária, na época de 130 presos mais ou menos, não tinha dez por cento que se enquadraria no conceito de bandido perigoso, e nenhum que se aproximasse desses ídolos da criminalidade. A maioria eram jovens que cresceram na marginalidade e que davam uma resposta positiva quando incluídos no projeto. Entendo que sempre vale a pena investir na recuperação do ser humano, mesmo que isso exija um trabalho muito árduo e persistente.

            Evidentemente que há exceções. Há os extremamente perigosos e para esses são necessários presídios de segurança máxima, como forma de proteção da sociedade.

            Opinião -  Em tempo de criminalidade violenta, como o que estamos vivendo, sempre se volta a falar em pena de morte. Há, inclusive, pessoas que se dizem espíritas e advogam a pena capital. Qual sua opinião?

            O espírita sabe muito bem que o autor, o ser pensante, o agente, é o espírito e não o corpo físico. Morto o corpo, o espírito continua agindo e com maior liberdade. Ao espírita não resta outra alternativa senão educar, ensinar, criar mecanismos capazes de promover a ressocialização, ainda que isso dure muitas existências para acontecer em sua plenitude, não havendo outra forma. A reencarnação é uma sábia expressão da lei natural, traduzindo-se num modelo que conjuga justiça e misericórdia, pois nos garante meios para alcançar a evolução mediante continuadas oportunidades de aprendizado.

 

Jacira: “Ao espírita não resta outra alternativa senão educar, ensinar e criar mecanismos de ressocialização, ainda que isso dure muitas existências”.

 

 

Nossa Opinião

 CAOS OU PROGRESSO?

            Tempos como este, em que eclodem com força incomum a corrupção e a violência dão o que pensar.

            Um raciocínio simples pode conduzir à idéia de que a civilização está atingindo o caos. Que o mal, definitivamente, assumiu as rédeas do carro da história. E que, se alguma esperança existe, esta depende tão-só da adoção pela sociedade de métodos violentos de extirpação do mal: penas severas e infamantes a quem infamou a sociedade; violência, muita violência, contra quem se fez violento; “olho por olho, dente por dente”, retomando experiências de outrora. Idéias como a prisão perpétua em total isolamento e a pena de morte retornam, nesse contexto, com força total. Pessoas há cujo comportamento atesta sua total irrecuperabilidade, afirma-se. Perde tempo o Estado, querendo investir nelas.

            Um raciocínio, no entanto, que leve em conta a progressividade do bem, de sua compreensão e prática pelo ser humano conduz a políticas e atitudes outras. Sem dúvida, o espiritismo, uma proposta filosófica ao mesmo tempo humanista e espiritualista, se inscreve nesse segmento que crê na viabilidade do homem e da sociedade. Como doutrina humanista, prega o respeito à condição humana, sem renunciar ao direito-dever outorgado pela sociedade ao Estado de punir o delinqüente com o rigor que leis adequadas a seu tempo prescrevem. Como filosofia espiritualista, na qual está ínsita a idéia da evolução e do progresso, recomenda a educação integral, em qualquer circunstância.

            Educar prevenindo e punir reeducando. Outra forma não existe de resgatar o indivíduo e a própria sociedade, quando, no embate de suas experiências, emaranham-se estes pelos descaminhos da corrupção, da violência e do crime.

            Enfim, para quem identifica no espírito humano, seja em que etapa se encontre, a presença da centelha divina apontando no rumo da perfectibilidade, duas conclusões se impõem: não há espírito irrecuperável e o caos não existe. O progresso é lei e a educação, preventiva ou reparadora, há de ser sempre o instrumento exigível em qualquer circunstância.  (A Redação).

           

Editorial

MORAL ESPÍRITA E MORAL DO ESPÍRITO

 

Dia virá em que todos os pequenos sistemas, acanhados e envelhecidos, fundir-se-ão numa vasta síntese, abrangendo todos os reinos da idéia. Ciência, filosofias, religiões, divididas hoje, reunir-se-ão na luz e será então a vida, o esplendor do espírito, o reinado do conhecimento”.  (Léon Denis – “O Problema do Ser, do Destino e da Dor”)

 

            Discute-se, freqüentemente, nos meios espíritas se existe ou não uma “moral espírita”.

            Derivada do termo latino mos-mores (costume), a palavra moral indica, primariamente, aquilo que está relacionado aos costumes. Mas, em sua acepção mais ampla, é o “conjunto de regras de conduta consideradas como válidas, quer de modo absoluto para qualquer tempo ou lugar, quer para grupos ou pessoas determinadas”. (Novo Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa).

            Ora, o espiritismo, definido por seu fundador como uma “ciência que trata da natureza, origem e destino dos espíritos e de suas relações com o mundo material” (O que é o Espiritismo), conduz, necessariamente, a uma postura ético-moral. Kardec, aliás, deixou isso muito claro no preâmbulo daquela definição, ao escrever: “Como ciência prática, consiste (o espiritismo) nas relações que se podem estabelecer com os Espíritos; como filosofia, compreende todas as conseqüências morais que decorrem dessas relações” (Idem). Impossível, uma vez assimilados os pressupostos básicos do conhecimento espírita, tais como a sobrevivência do espírito à morte física, a reencarnação e a lei de causa e efeito, não se assumir perante a vida uma atitude ética diferenciada, eis que nem todos esses postulados se acham incorporados às crenças e costumes gerais de nosso tempo.

            Quando se utiliza a expressão “moral espírita” se está pressupondo, então, um comportamento minimamente compatível com aquele nível de conhecimento derivado das convicções espíritas.

            Cumpre salientar, entretanto, que alimentamos, os espíritas, o entendimento de que, mais cedo ou mais tarde, aquelas mesmas convicções, entre nós comumente adjetivadas de “espíritas” hão de ser universalmente aceitas. Dia virá, cremos, que não mais se há de discutir a existência do espírito como realidade fundamental da vida, nem se duvidará dos mecanismos da reencarnação como instrumento indispensável ao progresso do espírito. Reputamos os pontos fundamentais do conhecimento espírita como princípios universalmente válidos, mesmo que ainda não inteiramente aceitos. No dia que o forem, hão de inspirar, por certo, uma moral igualmente universal.

            Nesse sentido, não cabe, mesmo, se falar numa moral particular, passível de se adjetivar como espírita. Religiões e ideologias, estas sim, por contemplarem a vida e o mundo a partir de crenças, objetivos e interesses particularizados, propõem regramentos morais e comportamentais próprios. A partir desse raciocínio, seria justo falar-se numa “moral cristã”, numa “moral islâmica”, ou, mesmo, numa moral “materialista”, “capitalista”, “comunista”, etc. Não, entretanto, numa “moral espírita”.

            De tudo, o que se pode concluir, sem qualquer sombra de dúvida, e sem que conceitos terminológicos nem sempre unívocos comprometam a clareza das idéias, é que o espiritismo conduz a um contínuo processo de aprendizagem e de conseqüente crescimento ético-moral. Por se fundar em princípios universais, clama por uma ética igualmente universal, válida em qualquer tempo e lugar, supra-religiosa, não-sectária e, por isso, humanista, tolerante e firmemente ancorada na indiscutível prevalência do espírito.

            Sob esse aspecto, ainda que provisoriamente, seria aceitável o uso da expressão “moral espírita”, ou seja: aquela que, um dia, mesmo assim não denominada, sintetize o que Denis chamou de “reinado do conhecimento”, a atestar a plenitude da vida e o esplendor do espírito.

 

Por se fundar em princípios universais, o espiritismo clama por uma ética igualmente universal, válida em qualquer tempo e lugar.

 

Opinião em Tópicos

 

Milton R. Medran Moreira

 

            O Código Da Vinci

            A estréia em Porto Alegre do filme O Código da Vinci foi marcada por um episódio no mínimo de mau-gosto. Num dos shoppings da cidade, onde uma sala de cinema exibia a película baseada no famoso livro de Dan Brown, um vereador ligado à Igreja e um empresário católico desfilaram portando cartazes com os dizeres “O Código da Vinci contraria o Evangelho”, “Não assista a esse filme”.

            Como não poderia deixar de ser, as filas dos cinemas não se tornaram menores, com a advertência dos zelosos defensores da pureza doutrinária dos Evangelhos. Ao contrário, o filme tem lotado os cinemas daqui e de todo o mundo. Antes dele, o livro de Brown, mesmo com sistemáticas campanhas do Vaticano desaconselhando sua leitura, bateu recordes de vendagem. Com certeza, um número pequeno de fiéis terá se eximido de ler o livro e não assistirá, agora, ao filme, em obediência à sua Santa Madre. Com muito mais certeza, entretanto, grande número de pessoas que talvez não se interessariam pela obra, terminarão por consumi-la, estimulados pela própria censura religiosa.

            Mito x ficção

            Teria mesmo Jesus se casado com Maria Madalena? Um dos apóstolos presente na última ceia seria, na verdade, uma mulher? Jesus teria deixado um descendente que deu origem ao Priorado de Sião?

            Cláudio Pereira Elmir, professor de História da Universidade do Vale do Rio dos Sinos, ouvido pelo jornal Zero Hora sobre a forma como a Igreja vem se comportando com relação ao livro e ao filme, declarou:

            - Quando a igreja faz uma crítica muito forte ao livro e ao filme, ela está não só abrindo espaço para que as pessoas queiram consumi-los, mas também legitimando uma obra ficcional, colocando-a no mesmo patamar das discussões de doutrina.

            Durante séculos, os Evangelhos canônicos foram aceitos pela cultura ocidental como fontes indiscutíveis e literais da vida de Jesus de Nazaré. De uns tempos para cá, a descoberta de outros evangelhos, tidos como apócrifos, abriu à discussão outras hipóteses que contrariam, em alguns aspectos, os legados evangélicos de Marcos, Mateus, Lucas e João.

            Mas, O Código Da Vinci sequer tem essa pretensão. É, simplesmente uma obra de ficção. Quando a Igreja quer contrariar o ficcional com o pretensamente verdadeiro, porque narrado nos seus Evangelhos, termina provocando o inócuo debate entre a ficção e o mito.

            Mito, fé e poder

            Não se pode exigir fidelidade histórica de uma obra de ficção. Muito menos, se pode impor ao ficcionista se mantenha fiel aos mitos que construímos. Uma das tarefas da arte e da literatura é precisamente a derrubada de mitos antes mesmo que a própria história e a ciência tenham condições de fazê-lo. Leonardo da Vinci, Dante Alighieri, Marco Pólo, Júlio Verne fizeram isso com fina maestria, antecipando-se, pela arte e pela literatura, à quebra de alguns paradigmas vigentes em seu tempo.

            Com relação a Jesus, o cristianismo se encarregou de construir o mais espetacular mito de nossa civilização. De tal forma que, hoje, é tarefa das mais difíceis separar, na vida do Nazareno, aquilo que pertence ao mito daquilo que pode ter sido real. É possível que boas fontes históricas tenham sido destruídas em favor dos aspectos mitológicos, sustentáculos do sistema de fé e de poder eclesiásticos, pretensamente amparados na vida e na obra de Jesus.

            Jesus Cristo e Jesus de Nazaré

            Allan Kardec, sabiamente, esquivou-se dessas armadilhas que a civilização cristã nos preparou. Quando resolveu escrever uma obra com base nos Evangelhos cristãos, já foi dizendo no seu prefácio: aqui não se leva em conta nada que diga respeito à vida material de Jesus. Porque esses dados são duvidosos, geram controvérsias e repousam unicamente na fé imponderável dos crentes.

            Só um aspecto lhe interessaria, na obra: o ensino moral de Jesus, porque este tem validade universal, fundado que está na própria razão e na lei natural.

            Com isso, Kardec deixou demarcados os limites que separam o Jesus Cristo, mito das religiões, do Jesus de Nazaré, homem admirável que, com sua mensagem, se projetou como modelo ético e guia seguro do proceder humano.

            Quem está apegado ao mito é capaz de tudo para defendê-lo. Mesmo com atitudes infantis como a do vereador e do empresário segurando, na porta do cinema, o cartaz de censura a uma livre expressão artística.

            Quem está a caminho da superação do mito, olha, passa e segue em frente, como o fizeram os espectadores porto-alegrenses.

 

Notícias

CURSO DE INICIAÇÃO AO ESPIRITISMO

 

            Sob a coordenação do Departamento de Eventos Culturais do CCEPA, foi realizado, no dia 4 de maio último, o encerramento de mais um Curso de Iniciação ao Espiritismo. Duas turmas, uma diurna e outra noturna, totalizando 40 alunos, completaram o programa de seis reuniões semanais nas quais, Salomão Benchaya e Maurice Jones desenvolveram e debateram com os participantes, a identidade, fundamentos, objetivos e conseqüências morais do pensamento espírita, destacando sempre sua natureza livre-pensadora, progressista e humanista.

            Já na semana seguinte ao encerramento deste Ciesp o Departamento de Estudos Espíritas inaugurou mais uma edição do consagrado Ciclo Básico de Estudos Espíritas – CIBEE, contando para isto com a matrícula de 20 alunos oriundos do curso de iniciação.

            Segundo esclarece Maurice Herbert Jones, presidente do CCEPA e Diretor de seu Departamento de Estudos, o CIBEE, também destinado a iniciantes, “é um programa com duração de cerca de 10 meses que desdobra mais detalhadamente os temas sinteticamente abordados no curso de iniciação”.

            Acrescenta Jones: “Com maior nível de exigência no que se refere a participação e estudo dos alunos, é com o resultado deste programa que, a pouco e pouco, o CCEPA vai selecionando e recrutando colaboradores com afinidade por sua visão de Espiritismo”.

 

                        Maurice H.Jones (foto) preocupação em selecionar, através do Curso de Iniciação e de um Grupo de Estudos para iniciantes, “colaboradores com afinidade pela visão do CCEPA”.

 

SOMBRÍO É O CONFERENCISTA DE JULHO

            O psicólogo Luis Augusto Sombrio, que, em outras oportunidades já ocupou a tribuna do Centro Cultural Espírita de Porto Alegre, é o palestrante da primeira segunda-feira de julho, dia 3, na tradicional atividade que o CCEPA desenvolve mensalmente.

            Seu tema: “Uma abordagem psicológica do perdão”.

            Todas as segundas-feiras, às 20h30min, o CCEPA oferece uma atividade pública. Habitualmente, o encontro denomina-se Grupo de Conversação Espírita, envolvendo discussão em grupo, a partir de tema proposto por um colaborador da Casa previamente escalado. Apenas na primeira segunda-feira de cada mês, realiza-se uma conferência com convidado especial.

 

Enfoque

 

Os espíritas, quantos são?

 

Wilson Garcia *

 

A comunidade espírita brasileira aceitou passivamente os dados do último censo. Segundo o IBGE, o número de espíritas praticamente não cresceu no Brasil. Foi o que demonstrou a medição. Para se saber quem é espírita, pergunta-se qual é a religião do entrevistado. Sob este ângulo, não há o que contestar: os dados do famoso instituto estão certos. Numericamente, não éramos muito expressivos; continuamos não sendo.

Fica no ar um certo desapontamento. Numa população de cerca de 170 milhões de pessoas, somos pouco mais de um por cento. Para ser exato, 1,8 por cento ou algo em torno de três milhões de espíritas declarados. Deveríamos ser mais. Gostaríamos de ser mais. Pensamos que temos uma grande história de conquista de espaço. E de fato temos. Desde Travassos, ouvimos que do Espiritismo do século XIX aos nossos dias realiza uma trajetória digna de admiração, fornecendo um cenário admirável de pujança. Não um cenário qualquer, mas algo grandioso que deveria refletir-se em quantidade. Temos na mente uma sensação quantitativa muito expressiva. Porém, os números do IBGE são implacáveis.

Surgem alguns consolos. Por exemplo, a idéia da qualidade versus quantidade. Amparados em Kardec, reafirmamos sempre que o proselitismo numérico não é um objetivo da doutrina; devemos lutar pela qualidade. Ninguém, em sã consciência, ficará contra esta idéia de que a qualidade é mais importante que a quantidade. Mas isso não retira um certo desapontamento quando os números nos colocam em posição inferior à religião tradicional e aos diversos ramos evangélicos. Até mesmo os ateus declarados formam um contingente maior que o nosso.

Ah a frieza dos números... Mas o que eles escondem? O que não dá para ver se botamos nossos olhos apenas no valor gráfico? Há algo muito importante, digno de reflexão. Por exemplo, a realidade do cotidiano espírita. Sim, é preciso considerar diversos aspectos do nosso dia-a-dia que influem em qualquer pesquisa desse gênero e com essas características. Vou dar um exemplo: tempos atrás, durante o intervalo de um jogo de futebol na Globo, a famosa jogadora de vôlei de praia Sandra foi mostrada lendo um livro de André Luiz e Chico Xavier. Seu nome: Nosso Lar. Quem assiste a futebol na Globo sabe que, durante algum tempo, a emissora dedicou um espaço à promoção do hábito de leitura, colocando no ar indicações feitas por atletas de diversas modalidades esportivas1. Pois é, apareceu a Sandra, campeã olímpica, com o mais lido livro psicografado de todos os tempos. Alguém sabia que ela gostava de leituras espíritas? Pois a Sandra integra um grupo de simpatizantes da doutrina que, se perguntados qual é sua religião dirão que não têm. E outros, ainda hoje, responderão que sua religião é a católica.

Ninguém se espante com essa constatação. Há simpatizantes espíritas que simplesmente gostam das nossas teses fundamentais, e dos nossos livros. Outros admiram o fato de poderem se encontrar com pessoas queridas que já partiram. Muitos se encantam com as novelas globais inspiradas nos fatos espíritas: pessoas que aparecem a outras, o retorno ao convívio com os vivos; previsões, reencarnações. Pois é, grande parte dessas pessoas continua freqüentando suas religiões e se declarando adeptos delas quando procurados pelo IBGE.

Some-se a elas aqueles que não consideram religião o Espiritismo. Mas que são espíritas, como se diz, de corpo e alma. Todos eles, se perguntados qual é a sua religião, dirão que não têm. Simplesmente. Mas aceitam os princípios fundamentais como a reencarnação, a relação entre vivos e mortos, a existência de Deus entre outros. E lutam pela divulgação do Espiritismo, acreditando na sua força para modificar a sociedade.

Há, também, muitos que jamais diriam que são espíritas. Trata-se de uma contaminação do preconceito. Explico: eles freqüentam muitas vezes os centros, tomam passe, ouvem palestras, mas não podem aparecer como espíritas perante a sociedade. Quando não se incluem entre estes, são do tipo que gostam dos temas inspirados no Espiritismo, mas não fizeram uma adesão formal à doutrina nem pretendem fazê-lo.

A propósito, alguém sabe quantos espíritas estão entre aqueles milhões de brasileiros que deram à novela A Viagem a maior audiência da TV brasileira? Pois é, se 50 por cento dos telespectadores dissessem ao IBGE que eram espíritas seríamos hoje, provavelmente, o segundo contingente do país.

A busca frenética pelos números, essa obsessão norte-americana, nos faz às vezes deixar de lado o aspecto qualitativo, que só aparece quando refletimos sobre o contexto e as realidades que eles, os números, não revelam. Quando milhões de pessoas consomem livros de temática espírita, colocando-os nos primeiros lugares das listas por várias semanas, elas conferem um valor ao Espiritismo que ninguém pode desconsiderar.

Isto é um consolo? Uma leitura equivocada dos fatos? Pode ser. Mas é preciso ser bastante ingênuo para acreditar que o processo de influência do Espiritismo na sociedade deve ser analisado a partir da quantidade de adeptos revelada pelo IBGE. Aquilo que não é mensurável, que não pode ser somado, que não pode ser apresentado em caracteres alfanuméricos tem um peso muito significativo no quadro geral das análises. Estou convicto de que é um peso maior, imensamente maior do que os próprios números. E porque essa questão de dizer qual é sua religião tem complexidades enormes, tem implicações históricas e conseqüências culturais diretas na vida dos indivíduos, a valorização da qualidade ganha ainda mais importância para o Espiritismo. Fornecer conteúdos vale mais do que contar adeptos. Muito mais!

 

 

Wilson Garcia (Recife,PE) é publicitário, professor universitário, escritor espírit

 



1 A excelente idéia da Globo foi retirada no ar.

 

 

Opinião do Leitor

 

            70 anos do CCEPA e o roustaingismo da FEB

            Prezados confrades do CCEPA. Comunico o recebimento da edição n. 130 (Maio, 2006) do Jornal OPINIÃO.

            Fico muito grato. Todas as matérias estão ótimas, com destaque para o editorial e a coluna do Milton Medran.

            Que bom ficar sabendo que a FEB não está mais exigindo o estudo da indigesta e anti-doutrinária obra de Roustaing. ALELUIA!!! 

            Estamos aguardando a visita do confrade Milton Medran, para realizar palestra em nossa Casa, (Centro Espirita Lar da Caridade). Solicitamos trazer também alguns exemplares do livro do Salomão Benchaya. Nossos cumprimentos pelos 70 anos de profícuas atividades do Centro Cultural Espírita de Porto Alegre.

            Um abraço.

            Adão de Araújo -  adaodearaujo@gmail.com -Bento Gonçalves, RS.

 

            Agradecimento e cumprimentos

            Estimado amigo Milton:

            Fraterno saludo.

            Queremos agradecer el envío de la edición especial del periódico Opinião. Tras conmemorar el 70 aniversario, se reconoce el trabajo y el cumplimiento de un proceso de crecimiento institucional permanente que día a día se aprecia y del cual todos reconocemos. Nuestras felicitaciones a todos quienes han sido forgadores a través de los años de la existencia, permanencia y crecimiento del CCEPA.

            Fraternalmente,

            Daniel Torres - Grupo Espírita Nueva Generación – g_nuevag@yahoo.com   Guatemala._