OPINIÃO Ano XII – Nº 127 Janeiro e
fevereiro 2006
Editorial: Hegemonia, uma herança
religiosa
Enfoque : O Contestando a prática
espírita: a eficácia dos passes e da água fluída
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Reconduzindo à presidência Maurice H.Jones, homem-símbolo da histórica vocação progressista da instituição, o Centro Cultural Espírita de Porto Alegre entra no seu 70º ano de existência.
Quando da posse de Jones, em 2 de janeiro
deste ano, Opinião foi buscar a
palavra daquele importante líder que já presidiu a Federação Espírita do Rio
Grande do Sul, prestando relevantes serviços à causa da unificação, mas que
confessa ser avesso à exposição pública, preferindo o modelo adotado no
Opinião - Quantas vezes já esteve na presidência da
SELC/
Jones - Gostaria que não fossem tantas. Infelizmente somos poucos e, portanto, são escassos os dispostos, disponíveis e capacitados para a direção de uma instituição como a nossa que, além do permanente processo de mudança que vive, tem partilhado seus melhores quadros com instituições federativas como a Federação Espírita do Rio Grande do Sul, no passado, e hoje a Confederação Espírita Pan-Americana. Mesmo assim temos buscado alternância. A partir de 1968, quando assumimos pela primeira vez a direção da casa, já tivemos seis diferentes presidentes o que nos dá uma média bastante razoável de seis anos para cada um.
Opinião – Quando de sua
eleição, você fez referência aos “4D”, uma espécie de lembrete e de estímulo à
responsabilidade e à participação dos colaboradores do
Jones – A história dos 4D começou
em meados da década de 80 quando, diante de uma indagação mental da médium Elba
Jones sobre os meios para se obter excelência na atividade mediúnica, o
espírito Joaquim Cacique de Barros deu a resposta que temos utilizado há vários
anos como instrumento motivador para os colaboradores do
Opinião - Depois de
dedicar grande parte de sua vida ao ideal da "unificação", como
dirigente federativo, o fato de trabalhar numa instituição constituída de pouca
gente, com um projeto bem definido e ao alcance de um contingente bastante
reduzido, significa decepção com o movimento espírita tradicional? Quais as
expectativas que se podem alimentar com relação ao êxito desse projeto?
Jones - Admito que vivi com certa
paixão os quase vinte anos de atividade unificacionista no movimento federativo
gaúcho e nacional. Cada etapa da vida nos oferece oportunidades e aprendizado.
Este longo período foi muito rico apesar do grande desgaste emocional devido à
minha natureza retraída e avessa a exposição pública. Esta característica,
porém, se ajusta perfeitamente ao modelo institucional historicamente adotado
no
O modelo espírita brasileiro que, pouco a pouco, se mundializa não me surpreende nem decepciona. Como dizia Kardec, o espiritismo não tem donos e, portanto, devemos respeitar os diversos modelos interpretativos que surgem a partir das idéias básicas
Onde todas as doutrinas com forte apelo religioso têm falhado sempre, em todas as épocas, é na pretensiosa busca de hegemonia. Os que se supõem detentores da verdade sentem-se no dever sagrado de combater o erro e a mentira gerando uma cultura intolerante com o diferente, idolátrica e, portanto, entorpecida e emasculada pelo sagrado.
Certamente não é este o nosso projeto. Não queremos a hegemonia narcisista que pretende homogeneizar a cultura, pois tudo na natureza nos convida à diversidade. Queremos sim, espaço maior para oferecer nossa contribuição à multifacetada cultura humana com aqueles princípios espíritas que podem ser racionalmente universalizados e, principalmente, a visão livre-pensadora, humanista e espiritocêntrica que é o cerne da filosofia espírita.
Esse projeto será exitoso? Não
sabemos. Isto, porém não nos impede de avançar, pois como diz o slogan que
adotamos em nossa casa, “sabemos pouco,
não temos certezas definitivas, mas ousamos buscar”.
HEGEMONIA, UMA HERANÇA RELIGIOSA
Onde
todas as doutrinas com forte apelo religioso têm falhado sempre, em todas as
épocas, é na pretensiosa busca de hegemonia.
(
O
Centro Cultural Espírita de Porto Alegre –
Seu
presidente,
Ao recordar que “os que se supõem detentores da verdade sentem-se no dever sagrado de combater o erro e a mentira gerando uma cultura intolerante com o diferente, idolátrica e, portanto, entorpecida e emasculada pelo sagrado”, Jones deixa claro o que uma significativa parcela de espíritas demonstra extrema dificuldade em compreender. Com efeito, desde que erigiu o espiritismo à condição de uma religião, detentora de um conjunto de verdades prontas e acabadas, vasto segmento do espiritismo encaminhou-se também pela opção de organizar-se de forma hegemônica e, em conseqüência, altamente suscetível à intolerância e ao conservadorismo tão próprios das religiões.
Doutrina
libertadora, progressista, fundada essencialmente na realidade do espírito –
“princípio inteligente do universo”,
item
A
posição que defendemos não é a do isolamento das instituições, nem tampouco do
anarquismo inconseqüente e insano. Ao contrário, a história do
Em suma, não há verdadeiro progresso de idéias a não ser em ambiente de liberdade. Respeitando-se a diversidade e o pluralismo. Como asseverou Kardec, os postulados básicos do espiritismo - aceitos, hoje, aliás, sem contestação, em quaisquer de seus segmentos organizados - devem se constituir no laço a unir toda a comunidade espírita mundial. Ressalvou, no entanto, o fundador de nosso movimento a conveniência de os espíritas se organizarem de acordo com as diferenciadas culturas, inspiradas na história e na geografia das pessoas que o compõem. Em uma palavra: unidade na essência e pluralismo na construção e aceitação das idéias derivadas da pesquisa, do estudo e das vivencias individuais e coletivas dos espíritas e dos estudiosos da realidade espiritual.
Os
70 anos do
Que a rica essência espírita não seja jamais sufocada pelas insistentes investidas hegemônicas e autoritárias do moribundo modelo religioso.
O Departamento de Estudos Espíritas do CCPA inicia a divulgação do programa 2006 para grupos de estudos mais avançados. Diferentemente dos grupos de estudos básicos, que têm programação mais dirigida, os grupos mais avançados, não só escolhem os assuntos a serem estudados e as técnicas de abordagem, como apresentam, no final de cada trimestre, uma exposição oral e um trabalho escrito com o resultado dos estudos.
TEMA DE OUTONO – 09/03 A 08/06 |
GRUPO
GEE-N1 – O EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO
Rui N. de Oliveira Estudo detalhado da introdução.
Não vim destruir a lei. Bem-aventuranças.
GRUPO
GEE-N2 – IDENTIDADE DO ESPIRITISMO
Carlos Grossini Estudo analítico da introdução e conclusão do Livro dos
Espíritos
Discurso de Abertura – R.E.dez. 1868, pg351
Revista “A Reencarnação” out. 1986 – coletânea de textos
de A.Kardec.
GRUPO
GEE-D1 – COLÔNIA NO PLANO ESPIRITUAL
Leda Beier NOSSO LAR – Organização administrativa, localização,
atividades, alimentação, transportes etc.
Estudo comparativo com relatos de outros autores
GRUPO GEE-D2 – HISTÓRIA DO ESPIRITISMO
Eloá Bittencourt Fontes:
História do Espiritismo – Arthur Conan Doyle
Fundamentos do Espiritismo – Jon Aizpurua
TEMA DE INVERNO
– 14/06 A 21/09 |
GRUPO GEE-N1 – CLONAGEM DE CÉLULAS TRONCO
Rui N. de Oliveira Implicações éticas e espirituais
Visão espírita
GRUPO GEE-N2 – O PENSAMENTO ATUAL DA CEPA
Carlos Grossini Estudo e reflexão sobre a visão livre-pensamento de
diversos autores ligados à CEPA
Leda Beier O Livro dos Médiuns – Allan Kardec
Mecanismos da mediunidade – A. Luis
GRUPO GEE-D2
– VIDA DEPOIS DA VIDA
Eloá Bittencourt Corpo espiritual e desencarnação
Projeciologia – EQM – Experiência de quase morte
Raymond Moody Jr – Elisabeth
Kübler-Ross
TEMA DE PRIMAVERA – 27/09 a 14/12 |
GRUPO GEE-N1 – ESTUDO DA OBRA “EVOLUÇÃO EM DOIS
Rui N. De Oliveira MUNDOS” do espírito André Luis – (primeira parte)
Destaque:
Corpo espiritual – Evolução – Alma e reencarnação
Simbiose e vampirismo espiritual.
GRUPO GEE-N2 – ESTUDO DA OBRA “EVOLUÇÃO EM DOIS
Carlos Grossini MUNDOS” do espírito André Luis – (segunda parte)
Destaque:
Corpo espiritual e alimentação, linguagem, volitação,
linhas morfológicas e apresentação.
Justiça e vida social no mundo espiritual.
Leda Beier Conceitos
Fideismo e racionalismo
A síntese espírita (Fé raciocinada) Ev. Cap. XIX
GRUPO GEE-D2
– ESTUDO DA OBRA “OBREIROS
Eloá Bittencourt DA VIDA ETERNA” do espírito André Luis
Estudo de casos de desencarnação.
Almas e desencarnação – Cap. XII de Evolução em
dois mundos.
Reencarnação – Cap. XII de Missionários da Luz.
Grupo coordenado por Eloá Bilttencourt trabalhará com a História do Espiritismo, a partir das obras de Arthur Connan Doyle e Jon Aizpúrua.
Milton R.Medran
Moreira
Na Bahia
A estrada de chão batido nos levava de Sítio do Conde, no Litoral Norte da Bahia, para Siribinha, mais uma praia encantadora das tantas que percorríamos naqueles 10 dias de férias pela região.
À nossa direita o mar estonteantemente azul. À esquerda, casinhas feitas de barro e pequenas construções de alvenaria, distribuídas por entre coqueiros e mangueiras carregadinhas de frutos. De repente, no povoado de Poças, nos chamou a atenção o letreiro por sobre a porta de humilde prédio: “Centro Espírita Santa Cruz de Caridade. Material espiritual com a luz de Deus”.
Paramos o carro. Bianca fez questão de me fotografar diante do “centro espírita”: “Não podemos deixar de registrar, pai” – disse – “Foi a única referência espírita com que nos deparamos na viagem”, acrescentou. De fato, igrejas de todos os tipos e tamanhos eram uma constante por onde passássemos. Mas, alguma coisa que falasse em espiritismo só víramos aquela.
A frase e a foto
Ficaram registradas a frase e a foto suscitando perguntas: Que tipo de centro espírita pode ser esse que anuncia no seu frontispício empregar como material de trabalho nada menos que a própria “luz de Deus”? Que estranhos materiais serão ali produzidos tendo por matéria prima essa luz divina? Que poderão cogitar acerca de espiritismo os habitantes da pacata Poças a partir do referencial inscrito na fachada de seu “centro espírita”? E lá dentro, que tipo de práticas se realizarão, em nome e sob o título de “espiritismo”?
Se fôssemos uma igreja, poderíamos, em nome dos princípios da fé revelada formadora de nossa estrutura, normatizar procedimentos e garantir a unidade doutrinária. Mas, não somos. Somos apenas um movimento de idéias cuja proposta original se embasa em cinco ou seis conceitos filosóficos deduzidos das experiências comprobatórias da existência do espírito e de sua comunicabilidade.
Fome e sede de mistério
Os chamados movimentos de “unificação” não foram capazes de estabelecer uma política compatível com a objetividade científico/filosófica do espiritismo. Optaram por conferir-lhe um caráter marcadamente místico, ancorado no fenômeno mediúnico e voltado a um estilo comportamental evangélico/religioso.
As
igrejas evangélicas, espalhadas, hoje, por todo o Brasil, perceberam que,
facilmente, seriam mais atrativas ao povão que tem fome e sede de mistério. A
partir justamente das populares práticas espíritas da desobsessão, do passe, da
água fluidificada (que, entre nós, se sobrepuseram à proposta filosófica),
pentecostais e neopentecostais evangélicos criaram seus rituais de expulsão dos
“encostos”, de consagração de óleos, de rezas e cultos, de libertação e cura.
Tudo
Rumos
Os centros espíritas perderam muito da força prestadora de serviço, na qual haviam apostado, para esse novo modelo evangélico que viceja e cresce por todo o Brasil. Não têm, absolutamente, condições de competir com ele. Os ingênuos apelos ao misticismo, ao mistério e à magia, como os que vimos no Centro Espírita Santa Cruz de Caridade, terminam fazendo deles pálidas sombras dos templos evangélicos. Mais do que nunca, ao espiritismo cabe retomar a proposta científica, filosófica e ética de seu insigne fundador. Assumir de vez seu caráter humanista, progressista e livre-pensador, a partir da realidade do espírito, antes que o materialismo, de um lado, e o fanatismo religioso, de outro, terminem por sufocá-lo.
NOVA DIRETORIA DO
Eleitos
em Assembléia Geral, realizada em 13 dezembro último, assumiram, em 2 de
janeiro deste ano, respectivamente a presidência e a vice-presidência do Centro
Cultural Espírita de Porto Alegre,
Os
novos dirigentes
Para
a gestão 2006/2008. ficou assim constituída a nova Diretoria do
- Presidente: Maurice Herbert Jones.
- Vice-presidene: Rui Paulo Nazário de Oliveira.
- Tesoureira: Marta Samá.
- Secretário: Rui Paulo Nazário de Oliveira.
- Diretora do Depto. de Assistência Social: Leda Beier.
- Diretora do Depto. de Eventos Sociais: Sílvia Pinto Moreira.
- Diretora da Livraria: Tereza Samá.
- Diretor do Depto de Estudos Espíritas: Maurice Herbert Jones.
- Diretor de Patrimônio: Milton Lino Bittencourt.
- Diretor de Comunicação Social: Milton Rubens Medran Moreira.
- Diretor de Estudos Mediúnicos: Carlos Grossini.
- Diretor de Eventos Culturais: Salomão Jacob Benchaya.
Assembléia
Geral em 12/12, presidida por Rui Nazário de Oliveira (E) e coordenada por
Comissão Eleitoral da qual fizeram parte Maria José e Milton Bittencourt ,
elegeu os novos dirigentes do
MARÇO TEM CURSO DE INICIAÇÃO NO
Os
Cursos de Iniciação ao Espiritismo, exitosa iniciativa do Departamento de
Eventos Culturais do
“ESTUDO E CARIDADE” DE SANTA MARIA COM NOVOS DIRIGENTES
Recebemos da Sociedade Espírita Estudo e Caridade, de Santa Maria, RS, comunicação de eleição e posse de sua nova Diretoria.
A presidência para o biênio 2006/2008 será exercida por Almerinda Dias Brandi. Para vice-presidente foi eleito José Setembrino Dorneles Budó, que também é Delegado da CEPA naquela cidade gaúcha e que esteve na presidência daquela instituição, mantenedora do Lar de Joaquina, nas duas últimas gestões.
José Budó transmitiu a presidência da S.E.Estudo e Caridade, de Santa Maria, para Almerinda Dias Brandi, permanecendo na 1ª vice-presidência daquela importante instituição, mantenedora da obra social “Lar de Joaquina”.
Contestando a prática espírita: a eficácia dos passes e da água
fluida
Marcelo Henrique*
Feliz é o movimento de homens e idéias que “olha para o seu próprio umbigo” visando implementar as transformações necessárias, alavancando o progresso. Há, evidentemente, em muitos casos, um hiato suficientemente grande entre a teoria filosófica e a prática nas Instituições Espíritas. Estudo é confundido com leitura de obras básicas e discussão, as mais das vezes, significa discordância, e esta, com regularidade, é encarada como “ação das trevas, visando desestabilizar o ambiente”.
Nossa herança cultural tem, no Brasil, raízes católicas. Muitos dos simpatizantes, adeptos e freqüentadores do Espiritismo, como nós, foram educados nas hostes do Catolicismo. E, em paralelo, um bom número de mentores, guias e espíritos comunicantes, sérios e dedicados, foram, em suas últimas romagens terrenas, sacerdotes ou pregadores daquele movimento. Assim, generalizadamente, percebe-se que o movimento espírita é muito parecido com a estrutura do “cristianismo oficial” e, neste sentido, gostaríamos de tecer considerandos sobre duas modalidades da prática espírita de nosso tempo: o passe e a água fluida.
Sobre o primeiro, Kardec aduz no
capítulo XIV, item 7, de O livro dos médiuns acerca da existência de uma
categoria especial de médiuns, os curadores, que desempenham atividade
medianímica com inegáveis resultados, utilizando-se dos “dons” de que são
portadores. Veja-se, a propósito, o trecho: “Todos os magnetizadores são mais
ou menos aptos a curar, desde que saibam conduzir-se convenientemente, ao passo
que nos médiuns curadores a faculdade é espontânea e alguns até a possuem sem
jamais terem ouvido falar de magnetismo.” Quanto à segunda, da mesma obra,
E, neste tópico, como a unir ambas as atividades energéticas, há a conclusão: “Tanto quanto do Espírito errante, a vontade é igualmente atributo do Espírito encarnado; daí o poder do magnetizador, poder que se sabe estar na razão direta da força de vontade. Podendo o Espírito encarnado atuar sobre a matéria elementar, pode do mesmo modo mudar-lhe as propriedades, dentro de certos limites. Assim se explica a faculdade de cura pelo contacto e pela imposição das mãos, faculdade que algumas pessoas possuem em grau mais ou menos elevado.”
Assim, a teoria espírita sobre a fluidoterapia (direta em relação ao paciente ou sobre o meio material, a água), encontra anteparo na atividade mediúnica, com fins específicos para a promoção da saúde e do equilíbrio psíquico das pessoas. Em muitas partes do mundo, paralelamente, a ciência oficial vem promovendo estudos e investigações (independentemente do fenômeno espiritista – isto é aquele que se processa nos ambientes dos das Instituições Espíritas), com resultados expressivos e comprovando a ação energética sobre a matéria.
O que nos preocupa – e nos motivou a escrever este artigo – é o uso “indiscriminado” das terapias (do passe e da fluidificação da água) nos ambientes espíritas, tanto em relação a quem os ministra (médium), quanto nos beneficiários das atividades (os pacientes).
Em primeiro lugar, quem pode aplicar o passe “curativo” e fluidificar a água? Que tipo de “operadores” materiais temos? Que preparo e noção do complexo mecanismo de intervenção dos Espíritos Superiores sob nosso intermédio, têm tais pessoas? Até que ponto somos bons executores destas práticas, convertendo-nos em boas ferramentas no trabalho assistencial espírita?
Secundariamente, que noção têm os freqüentadores dos locais espíritas acerca do mecanismo, da eficácia, do envolvimento pessoal e da responsabilidade no recebimento do atendimento? Que tipo de esclarecimento cumulativamente é prescrito a cada reunião ou trabalho? É franqueado, nestes locais e momentos, oportunidade para o diálogo, a solução de dúvidas e o aprofundamento nas questões teóricas da Doutrina Espírita?
Quanto ao primevo assunto, dirão os mais apressados que “formamos médiuns” e que não se pode duvidar da “idoneidade moral” de quem está à frente deste ou daquele trabalho... No último, afirmarão que a Casa disponibiliza reuniões de palestras públicas e espaços de estudo para que os “interessados” saciem suas indagações com a intervenção de monitores ou expositores.Será?
Temos visto que as pessoas acodem aos Centros Espíritas com necessidades e intenções bastante distintas, na particularidade. Entretanto, um grande contingente busca consolo e (alguma) orientação. No atendimento em geral ou nas reuniões públicas, não há informações precisas e permanentes sobre a “dinâmica” do trabalho espírita, à exceção de alguns cartazes exortando, por exemplo, ao silêncio e/ou à prece. No mais, alguém fala que “água fluidificada é bom” ou o passe “renova as energias”, ou promove um “descarrego” das vibrações e influências ruins, comuns ao dia-a-dia. Assim, temos uma enorme massa que vem e vai das reuniões espíritas, tomando passe e água fluida exatamente como os católicos tomam comunhão ou se benzem na pia com água benta. Fazem quase como obrigação e há, inclusive, os que dizem que se forem ao Centro e não tomarem o passe, não sairão de lá bem e harmonizados.
Não discutimos, aqui, a eficácia e o alcance do “pensamento positivo” ou da crença pessoal de quem quer que seja. Todavia, quando nos auto-definimos como doutrina da fé racional, é imperioso e imprescindível que se divulgue, repise e oriente que tais práticas não terão eficácia se: 1) o médium que atende, na imposição de mãos sobre o paciente e na fluidificação da água, não seja uma pessoa cônscia de suas responsabilidades na tarefa mediúnica; 2) haja médiuns “curadores” (“de cura”), pois nem todos os médiuns o são, de modo que, em essência, o atendente até pode converter-se em meio de transporte dos eflúvios espirituais, mas não estará apto a realizar outra tarefa que não seja a de “transmitir energias” e estas, quase sempre, serão as que o próprio médium possui – daí a necessidade do preparo adequado para a tarefa; e, 3) o paciente ou o beneficiário não procure refletir sobre as causas de suas enfermidades e problemas, procurando colaborar consigo mesmo na busca do equilíbrio, serenidade e saúde físico-psíquica.
Quanto ao preparo dos ministrantes de passes ou fluidificadores de água (estes, inclusive, muito rarefeitos nas Instituições Espíritas, de vez que não se vê nenhum médium impondo mãos sobre os frascos com água), o problema ainda é mais preocupante. Muitos, é claro, freqüentam as sessões de “desenvolvimento” mediúnico (termo que, aliás, é totalmente equivocado, porque não se desenvolvem tais dons, mas educam-se), e, até (!) participam de cursos e encontros sobre mediunidade, promovidos pelas federativas ou pelos Centros. Contudo, dificilmente se tem a prática do trabalho, com a instrução teórica, a experimentação, a observação da forma como se trabalha, e, principalmente, a discussão séria sobre os procedimentos considerados adequados, corretos ou aceitáveis. Entra-se na “roda-viva” dos trabalhos, observa-se (de canto de olho) o que o outro faz, e “toque em frente, que atrás vem gente”, ou seja, vamos logo, que há mais gente para atender...
O Espiritismo não pode
transformar-se numa seita, calcada na repetição irrefletida de máximas e
posturas que acabam tornando-se sacramentos, ritos ou, até, dogmas. O trabalho
espírita relevante, verdadeiramente, é aquele centrado no esclarecimento, na
explicação racional de fenômenos e contingências espirituais, através da
informação segura e da prática sem misticismo. Caso contrário, continuaremos a
ser “cegos guiando outros cegos”.
PASSE
Até que ponto
somos bons executores destas práticas, convertendo-nos em boas ferramentas no
trabalho assistencial espírita?
*
Marcelo