OPINIÃO Ano XII – Nº 127 Janeiro e fevereiro 2006

CCEPA   -  ANO  70

Editorial: Hegemonia, uma herança religiosa  

Notícias: Nova diretoria do CCEPA  -  Março tem curso de Iniciação no CCEPA  -  “Estudo e Caridade” de Santa Maria com novos dirigentes  

Opinião em Tópicos: Na Bahia  -  A frase e a foto  -  Fome e sede de mistério  -   Rumos   (Milton Medran Morreira)   

Enfoque : O Contestando a prática espírita: a eficácia dos passes e da água fluída

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CCEPA – ANO 70

 

Reconduzindo à presidência Maurice H.Jones, homem-símbolo da histórica vocação progressista da instituição,  o Centro Cultural Espírita de Porto Alegre entra no seu 70º ano de existência.

 

Maurice Herbert Jones: “O espiritismo não tem donos e,  portanto,  devemos respeitar os diversos modelos interpretativos que surgem a partir das idéias básicas”.

 

            Quando da posse de Jones, em 2 de janeiro deste ano, Opinião foi buscar a palavra daquele importante líder que já presidiu a Federação Espírita do Rio Grande do Sul, prestando relevantes serviços à causa da unificação, mas que confessa ser avesso à exposição pública, preferindo o modelo adotado no CCEPA: um grupo pouco numeroso, voltado ao estudo e à reflexão espírita e administrado com a participação de todos os associados.

 

Opinião -  Quantas vezes já esteve na presidência da SELC/CCEPA?

 

Jones - Gostaria que não fossem tantas. Infelizmente somos poucos e, portanto, são escassos os dispostos, disponíveis e capacitados para a direção de uma instituição como a nossa que, além do permanente processo de mudança que vive, tem partilhado seus melhores quadros com instituições federativas como a Federação Espírita do Rio Grande do Sul, no passado, e hoje a Confederação Espírita Pan-Americana.  Mesmo assim temos buscado alternância. A partir de 1968, quando assumimos pela primeira vez a direção da casa, já tivemos seis diferentes presidentes o que nos dá uma média bastante razoável de seis anos para cada um.

 

OpiniãoQuando de sua eleição, você fez referência aos “4D”, uma espécie de lembrete e de estímulo à responsabilidade e à participação dos colaboradores do CCEPA .Fale sobre isso.

 

Jones – A história dos 4D começou em meados da década de 80 quando, diante de uma indagação mental da médium Elba Jones sobre os meios para se obter excelência na atividade mediúnica, o espírito Joaquim Cacique de Barros deu a resposta que temos utilizado há vários anos como instrumento motivador para os colaboradores do CCEPA. Para se conseguir sucesso em qualquer atividade, respondeu ele, os colaboradores devem ser selecionados segundo o critério dos 4D: Disposição, Disponibilidade, Dedicação e Disciplina. Sem isso os resultados de qualquer empreendimento serão medíocres, acrescentou o espírito que, em sua última existência no século XIX, foi um sacerdote católico, nascido na Bahia e que, em Porto Alegre, teve destacada atuação na área de assistência social e da educação. Esta é a razão pela qual, na ocasião em que fui declarado eleito para a presidência da nossa casa, recordei com veemência a receita para o sucesso do nosso Cacique.

 

Opinião -  Depois de dedicar grande parte de sua vida ao ideal da "unificação", como dirigente federativo, o fato de trabalhar numa instituição constituída de pouca gente, com um projeto bem definido e ao alcance de um contingente bastante reduzido, significa decepção com o movimento espírita tradicional? Quais as expectativas que se podem alimentar com relação ao êxito desse projeto?

 

Jones - Admito que vivi com certa paixão os quase vinte anos de atividade unificacionista no movimento federativo gaúcho e nacional. Cada etapa da vida nos oferece oportunidades e aprendizado. Este longo período foi muito rico apesar do grande desgaste emocional devido à minha natureza retraída e avessa a exposição pública. Esta característica, porém, se ajusta perfeitamente ao modelo institucional historicamente adotado no CCEPA.   Construímos aqui um ambiente que favorece, sobretudo, o estudo e a reflexão. Contamos com uma carta de princípios bem definida e aceita, uma administração participativa com decisões abertas a todos os associados e, finalmente, atividades com pequenos grupos, possibilitando maior interação e, portanto, melhores resultados.

O modelo espírita brasileiro que, pouco a pouco, se mundializa não me surpreende nem decepciona. Como dizia Kardec, o espiritismo não tem donos e, portanto, devemos respeitar os diversos modelos interpretativos que surgem a partir das idéias básicas

Onde todas as doutrinas com forte apelo religioso têm falhado sempre, em todas as épocas, é na pretensiosa busca de hegemonia. Os que se supõem detentores da verdade sentem-se no dever sagrado de combater o erro e a mentira gerando uma cultura intolerante com o diferente, idolátrica e, portanto, entorpecida e emasculada pelo sagrado.

Certamente não é este o nosso projeto. Não queremos a hegemonia narcisista que pretende homogeneizar a cultura, pois tudo na natureza nos convida à diversidade.  Queremos sim, espaço maior para oferecer nossa contribuição à multifacetada cultura humana com aqueles princípios espíritas que podem ser racionalmente universalizados e, principalmente, a visão livre-pensadora, humanista e espiritocêntrica que é o cerne da filosofia espírita.

Esse projeto será exitoso? Não sabemos. Isto, porém não nos impede de avançar, pois como diz o slogan que adotamos em nossa casa, “sabemos pouco, não temos certezas definitivas, mas ousamos buscar”.

 

Maurice Herbert Jones reassume a presidência do CCEPA, instituição que completa 70 anos de existência e com a qual, juntamente com sua esposa Elba , tem histórica vinculação.

 

Editorial

HEGEMONIA, UMA HERANÇA RELIGIOSA

 

            Onde todas as doutrinas com forte apelo religioso têm falhado sempre, em todas as épocas, é na pretensiosa busca de hegemonia.

                                                (Maurice Herbert Jones)

 

            O Centro Cultural Espírita de Porto Alegre – CCEPA – está entrando no ano em que completa seu 70º aniversário.

            Seu presidente, Maurice Herbert Jones, em trecho da entrevista da primeira página deste jornal, toca num dos pontos que tem se constituído em tema de constantes reflexões no âmbito do segmento a que pertencemos: a questão da hegemonia no movimento espírita.

            Ao recordar que “os que se supõem detentores da verdade sentem-se no dever sagrado de combater o erro e a mentira gerando uma cultura intolerante com o diferente, idolátrica e, portanto, entorpecida e emasculada pelo sagrado”, Jones deixa claro o que uma significativa parcela de espíritas demonstra extrema dificuldade em compreender. Com efeito, desde que erigiu o espiritismo à condição de uma religião, detentora de um conjunto de verdades prontas e acabadas, vasto segmento do espiritismo encaminhou-se também pela opção de organizar-se de forma hegemônica e, em conseqüência, altamente suscetível à intolerância e ao conservadorismo tão próprios das religiões.

            Doutrina libertadora, progressista, fundada essencialmente na realidade do espírito – “princípio inteligente do universo”,  item 23, L.E. -  o espiritismo, por essência e vocação, deve se fazer aberto à liberdade de pensamento e à livre organização dos diferenciados grupos que o compõem. Na medida em que se fecha em conceitos, ainda que atribuídos aos assim chamados “espíritos superiores” e transformados em dogmas por grupos dirigentes, estará opondo barreiras ao desenvolvimento de conceitos inovadores em cenário cujos horizontes possam se alargar por força do pluralismo, do estudo, da pesquisa e da diversidade de opiniões.

            A posição que defendemos não é a do isolamento das instituições, nem tampouco do anarquismo inconseqüente e insano. Ao contrário, a história do CCEPA atesta, por si só, uma inesgotável disposição à agregação, à união dos espíritas em torno da  bem definida essência filosófica que configura a genuína identidade doutrinária. Isso requer, no entanto, e de forma indispensável, o cultivo do clima de fraternidade e de respeito à diversidade e à criatividade. Esse estágio, confirma-o a História, não se obtém com a imposição de pretensas verdades religiosas, sempre provisórias e peremptas, mas cultivando-se o pensamento livre e estimulando-se a livre associação de pessoas e instituições, a partir das peculiaridades que lhe são inerentes.

            Em suma, não há verdadeiro progresso de idéias a não ser em ambiente de liberdade. Respeitando-se a diversidade e o pluralismo. Como asseverou Kardec, os postulados básicos do espiritismo - aceitos, hoje, aliás, sem contestação, em quaisquer de seus segmentos organizados - devem se constituir no laço a unir toda a comunidade espírita mundial. Ressalvou, no entanto, o fundador de nosso movimento a conveniência de os espíritas se organizarem de acordo com as diferenciadas culturas, inspiradas na história e na geografia das pessoas que o compõem. Em uma palavra: unidade na essência e pluralismo na construção e aceitação das idéias derivadas da pesquisa, do estudo e das vivencias individuais e coletivas dos espíritas e dos estudiosos da realidade espiritual.

            Os 70 anos do CCEPA, que começamos a comemorar neste mês de janeiro, e que terá seu ponto alto em abril próximo, oferecem um somatório de experiências, vivências e aprendizados que não queremos guardar exclusivamente conosco. Fazemos, sim, questão de compartilhar esse patrimônio com a comunidade espírita em que, queiram ou não, estamos inseridos e com a qual temos compromissos históricos e irrenunciáveis. Mesmo não concordando com a política hegemônica e excludente que se instalou em setores desse movimento, seguiremos oferecendo nossa contribuição para que a união se dê a partir do essencial. Que, enfim, a rica essência espírita não seja jamais sufocada pelas insistentes investidas hegemônicas e autoritárias do moribundo modelo religioso, mas permanentemente irrigada pelas generosas águas da liberdade, nos infindos campos abertos pelo pensar e pelo labor humano.

 

Que a rica essência espírita não seja jamais sufocada pelas insistentes investidas hegemônicas e autoritárias do moribundo modelo religioso.

 

 

CCEPA LANÇA PROGRAMA DE ESTUDOS ESPÍRITAS PARA 2006

 

O Departamento de Estudos Espíritas do CCPA inicia a divulgação do programa 2006 para grupos de estudos mais avançados. Diferentemente dos grupos de estudos básicos, que têm programação mais dirigida, os grupos mais avançados, não só escolhem os assuntos a serem estudados e as técnicas de abordagem, como apresentam, no final de cada trimestre, uma exposição oral e um trabalho escrito com o resultado dos estudos.

 

TEMA DE OUTONO – 09/03 A 08/06

  

    GRUPO GEE-N1      O EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO

    Rui N. de Oliveira      Estudo detalhado da introdução.

                                          Não vim destruir a lei. Bem-aventuranças.

    

    GRUPO GEE-N2      IDENTIDADE DO ESPIRITISMO

    Carlos Grossini           Estudo analítico da introdução e conclusão do Livro dos

                                          Espíritos

                                          Discurso de Abertura – R.E.dez. 1868, pg351

                                          Revista “A Reencarnação” out. 1986 – coletânea de textos

                                          de A.Kardec.

 

   GRUPO GEE-D1       COLÔNIA NO PLANO ESPIRITUAL

    Leda Beier                   NOSSO LAR – Organização administrativa, localização, 

                                          atividades, alimentação, transportes etc.

                                          Estudo comparativo com relatos de outros autores

  

  GRUPO GEE-D2         HISTÓRIA DO ESPIRITISMO    

  Eloá Bittencourt             Fontes:

                                           História do Espiritismo – Arthur Conan Doyle

                                           Fundamentos do Espiritismo – Jon Aizpurua

 

TEMA DE INVERNO – 14/06 A 21/09

 

  GRUPO GEE-N1        CLONAGEM DE CÉLULAS TRONCO

  Rui N. de Oliveira         Implicações éticas e espirituais

                                          Visão espírita

 

 GRUPO GEE-N2         O PENSAMENTO ATUAL DA CEPA

 Carlos Grossini              Estudo e reflexão sobre a visão livre-pensamento de

                                          diversos autores ligados à CEPA

 

 GRUPO GEE-D1         MEDIUNIDADE E EDUCAÇÃO

 Leda Beier                       O Livro dos Médiuns – Allan Kardec

                                          Mecanismos da mediunidade – A. Luis

 

GRUPO GEE-D2         VIDA DEPOIS DA VIDA

Eloá Bittencourt             Corpo espiritual e desencarnação

                                          Projeciologia – EQM – Experiência de quase morte

                                          Raymond Moody Jr – Elisabeth Kübler-Ross

 

 

TEMA DE PRIMAVERA – 27/09 a 14/12

 

GRUPO GEE-N1          ESTUDO DA OBRA “EVOLUÇÃO EM DOIS

  Rui N. De Oliveira         MUNDOS” do espírito André Luis – (primeira parte)

                                          Destaque:

                                          Corpo espiritual – Evolução – Alma e reencarnação

                                          Simbiose e vampirismo espiritual. 

 

 GRUPO GEE-N2         ESTUDO DA OBRA “EVOLUÇÃO EM DOIS

  Carlos Grossini              MUNDOS” do espírito André Luis – (segunda parte)

                                           Destaque:

                                           Corpo espiritual e alimentação, linguagem, volitação,

                                           linhas morfológicas e apresentação.

                                           Justiça e vida social no mundo espiritual.

 

 GRUPO GEE-D1         REFLEXÃO SOBRE A FÉ

 Leda Beier                      Conceitos

                                          Fideismo e racionalismo

                                          A síntese espírita (Fé raciocinada) Ev. Cap. XIX

                                         

GRUPO GEE-D2         ESTUDO DA OBRA “OBREIROS

Eloá Bittencourt             DA VIDA ETERNA” do espírito André Luis

                                          Estudo de casos de desencarnação.

                                          Almas e desencarnação – Cap. XII de Evolução em

                                          dois mundos.

                                          Reencarnação – Cap. XII de Missionários da Luz.

 

 

 

Grupo coordenado por Eloá Bilttencourt trabalhará com a História do Espiritismo, a partir das obras de Arthur Connan Doyle e Jon Aizpúrua.

 

 

 

 

 

           

Opinião em Tópicos

Milton R.Medran Moreira

 

            Na Bahia

            A estrada de chão batido nos levava de Sítio do Conde, no Litoral Norte da Bahia, para Siribinha, mais uma praia encantadora das tantas que percorríamos naqueles 10 dias de férias pela região.

            À nossa direita o mar estonteantemente azul. À esquerda, casinhas feitas de barro e pequenas construções de alvenaria, distribuídas por entre coqueiros e mangueiras carregadinhas de frutos. De repente, no povoado de Poças, nos chamou a atenção o letreiro por sobre a porta de humilde prédio: “Centro Espírita Santa Cruz de Caridade. Material espiritual com a luz de Deus”.

            Paramos o carro. Bianca fez questão de me fotografar diante do “centro espírita”: “Não podemos deixar de registrar, pai” – disse – “Foi a única referência espírita com que nos deparamos na viagem”, acrescentou. De fato, igrejas de todos os tipos e tamanhos eram uma constante por onde passássemos. Mas, alguma coisa que falasse em espiritismo só víramos aquela.

            A frase e a foto

            Ficaram registradas a frase e a foto suscitando perguntas: Que tipo de centro espírita pode ser esse que anuncia no seu frontispício empregar como material de trabalho nada menos que a própria “luz de Deus”? Que estranhos materiais serão ali produzidos tendo por matéria prima essa luz divina?  Que poderão cogitar acerca de espiritismo os habitantes da pacata Poças a partir do referencial inscrito na fachada de seu “centro espírita”? E lá dentro, que tipo de práticas se realizarão, em nome e sob o título de “espiritismo”?

            Se fôssemos uma igreja, poderíamos, em nome dos princípios da fé revelada formadora de nossa estrutura, normatizar procedimentos e garantir a unidade doutrinária. Mas, não somos. Somos apenas um movimento de idéias cuja proposta original se embasa em cinco ou seis conceitos filosóficos deduzidos das experiências comprobatórias da existência do espírito e de sua comunicabilidade.

            Fome e sede de mistério

            Os chamados movimentos de “unificação” não foram capazes de estabelecer uma política compatível com a objetividade científico/filosófica do espiritismo. Optaram por conferir-lhe um caráter marcadamente místico, ancorado no fenômeno mediúnico e voltado a um estilo comportamental evangélico/religioso.

            As igrejas evangélicas, espalhadas, hoje, por todo o Brasil, perceberam que, facilmente, seriam mais atrativas ao povão que tem fome e sede de mistério. A partir justamente das populares práticas espíritas da desobsessão, do passe, da água fluidificada (que, entre nós, se sobrepuseram à proposta filosófica), pentecostais e neopentecostais evangélicos criaram seus rituais de expulsão dos “encostos”, de consagração de óleos, de rezas e cultos, de libertação e cura. Tudo em nome de Jesus. Muito apelo ao misticismo, à magia e ao mistério e, rigorosamente, nenhuma concessão ao conhecimento e à verdadeira auto-libertação.

            Rumos

            Os centros espíritas perderam muito da força prestadora de serviço, na qual haviam apostado, para esse novo modelo evangélico que viceja e cresce por todo o Brasil. Não têm, absolutamente, condições de competir com ele. Os ingênuos apelos ao misticismo, ao mistério e à magia, como os que vimos no Centro Espírita Santa Cruz de Caridade, terminam fazendo deles pálidas sombras dos templos evangélicos. Mais do que nunca, ao espiritismo cabe retomar a proposta científica, filosófica e ética de seu insigne fundador. Assumir de vez seu caráter humanista, progressista e livre-pensador, a partir da realidade do espírito, antes que o materialismo, de um lado, e o fanatismo religioso, de outro, terminem por sufocá-lo.

 

Notícias

 

NOVA DIRETORIA DO CCEPA

            Eleitos em Assembléia Geral, realizada em 13 dezembro último, assumiram, em 2 de janeiro deste ano, respectivamente a presidência e a vice-presidência do Centro Cultural Espírita de Porto Alegre, Maurice Herbert Jones e Rui Paulo Nazário de Oliveira.

            Os novos dirigentes

            Para a gestão 2006/2008. ficou assim constituída a nova Diretoria do CCEPA:

            - Presidente: Maurice Herbert Jones.

            - Vice-presidene: Rui Paulo Nazário de Oliveira.

            - Tesoureira: Marta Samá.

            - Secretário: Rui Paulo Nazário de Oliveira.

            - Diretora do Depto. de Assistência Social: Leda Beier.

            - Diretora do Depto. de Eventos Sociais: Sílvia Pinto Moreira.

            - Diretora da Livraria: Tereza Samá.

            - Diretor do Depto de Estudos Espíritas: Maurice Herbert Jones.

            - Diretor de Patrimônio: Milton Lino Bittencourt.

            - Diretor de Comunicação Social: Milton Rubens Medran Moreira.

            - Diretor de Estudos Mediúnicos: Carlos Grossini.

            - Diretor de Eventos Culturais: Salomão Jacob Benchaya.

 

Assembléia Geral em 12/12, presidida por Rui Nazário de Oliveira (E) e coordenada por Comissão Eleitoral da qual fizeram parte Maria José e Milton Bittencourt , elegeu os novos dirigentes do CCEPA.

 

MARÇO TEM CURSO DE INICIAÇÃO NO CCEPA

            Os Cursos de Iniciação ao Espiritismo, exitosa iniciativa do Departamento de Eventos Culturais do CCEPA, coordenado por Salomão Jacob Benchaya, voltam a ser ministrados já a partir de março do corrente ano.Funcionarão às quartas-feiras à tarde e às quintas à noite, conforme anúncio a seguir.

           

“ESTUDO E CARIDADE” DE SANTA MARIA COM NOVOS DIRIGENTES

            Recebemos da Sociedade Espírita Estudo e Caridade, de Santa Maria, RS, comunicação de eleição e posse de sua nova Diretoria.

            A presidência para o biênio 2006/2008 será exercida por Almerinda Dias Brandi. Para vice-presidente foi eleito José Setembrino Dorneles Budó, que também é Delegado da CEPA naquela cidade gaúcha e que esteve na presidência daquela instituição, mantenedora do Lar de Joaquina, nas duas últimas gestões.

                        José Budó transmitiu a presidência da S.E.Estudo e Caridade, de Santa Maria, para Almerinda Dias Brandi, permanecendo na 1ª vice-presidência daquela importante instituição, mantenedora da obra social “Lar de Joaquina”.

           

 

Enfoque

 

 

Contestando a prática espírita: a eficácia dos passes e da água fluida

 

Marcelo Henrique*

 

            Feliz é o movimento de homens e idéias que “olha para o seu próprio umbigo” visando implementar as transformações necessárias, alavancando o progresso. Há, evidentemente, em muitos casos, um hiato suficientemente grande entre a teoria filosófica e a prática nas Instituições Espíritas. Estudo é confundido com leitura de obras básicas e discussão, as mais das vezes, significa discordância, e esta, com regularidade, é encarada como “ação das trevas, visando desestabilizar o ambiente”.

Nossa herança cultural tem, no Brasil, raízes católicas. Muitos dos simpatizantes, adeptos e freqüentadores do Espiritismo, como nós, foram educados nas hostes do Catolicismo. E, em paralelo, um bom número de mentores, guias e espíritos comunicantes, sérios e dedicados, foram, em suas últimas romagens terrenas, sacerdotes ou pregadores daquele movimento. Assim, generalizadamente, percebe-se que o movimento espírita é muito parecido com a estrutura do “cristianismo oficial” e, neste sentido, gostaríamos de tecer considerandos sobre duas modalidades da prática espírita de nosso tempo: o passe e a água fluida.

            Sobre o primeiro, Kardec aduz no capítulo XIV, item 7, de O livro dos médiuns acerca da existência de uma categoria especial de médiuns, os curadores, que desempenham atividade medianímica com inegáveis resultados, utilizando-se dos “dons” de que são portadores. Veja-se, a propósito, o trecho: “Todos os magnetizadores são mais ou menos aptos a curar, desde que saibam conduzir-se convenientemente, ao passo que nos médiuns curadores a faculdade é espontânea e alguns até a possuem sem jamais terem ouvido falar de magnetismo.” Quanto à segunda, da mesma obra, em seu capítulo VIII, tem-se: “O Espírito atuante é o do magnetizador, quase sempre assistido por outro Espírito. Ele opera uma transmutação por meio do fluido magnético que, como atrás dissemos, e a substância que mais se aproxima da matéria cósmica, ou elemento universal. Ora, desde que ele pode operar uma modificação nas propriedades da água, pode também produzir um fenômeno análogo com os fluidos do organismo, donde o efeito curativo da ação magnética, convenientemente dirigida.”

E, neste tópico, como a unir ambas as atividades energéticas, há a conclusão: “Tanto quanto do Espírito errante, a vontade é igualmente atributo do Espírito encarnado; daí o poder do magnetizador, poder que se sabe estar na razão direta da força de vontade. Podendo o Espírito encarnado atuar sobre a matéria elementar, pode do mesmo modo mudar-lhe as propriedades, dentro de certos limites. Assim se explica a faculdade de cura pelo contacto e pela imposição das mãos, faculdade que algumas pessoas possuem em grau mais ou menos elevado.”

            Assim, a teoria espírita sobre a fluidoterapia (direta em relação ao paciente ou sobre o meio material, a água), encontra anteparo na atividade mediúnica, com fins específicos para a promoção da saúde e do equilíbrio psíquico das pessoas. Em muitas partes do mundo, paralelamente, a ciência oficial vem promovendo estudos e investigações (independentemente do fenômeno espiritista – isto é aquele que se processa nos ambientes dos das Instituições Espíritas), com resultados expressivos e comprovando a ação energética sobre a matéria.

            O que nos preocupa – e nos motivou a escrever este artigo – é o uso “indiscriminado” das terapias (do passe e da fluidificação da água) nos ambientes espíritas, tanto em relação a quem os ministra (médium), quanto nos beneficiários das atividades (os pacientes).

Em primeiro lugar, quem pode aplicar o passe “curativo” e fluidificar a água? Que tipo de “operadores” materiais temos? Que preparo e noção do complexo mecanismo de intervenção dos Espíritos Superiores sob nosso intermédio, têm tais pessoas?        Até que ponto somos bons executores destas práticas, convertendo-nos em boas ferramentas no trabalho assistencial espírita?

            Secundariamente, que noção têm os freqüentadores dos locais espíritas acerca do mecanismo, da eficácia, do envolvimento pessoal e da responsabilidade no recebimento do atendimento? Que tipo de esclarecimento cumulativamente é prescrito a cada reunião ou trabalho? É franqueado, nestes locais e momentos, oportunidade para o diálogo, a solução de dúvidas e o aprofundamento nas questões teóricas da Doutrina Espírita?

            Quanto ao primevo assunto, dirão os mais apressados que “formamos médiuns” e que não se pode duvidar da “idoneidade moral” de quem está à frente deste ou daquele trabalho... No último, afirmarão que a Casa disponibiliza reuniões de palestras públicas e espaços de estudo para que os “interessados” saciem suas indagações com a intervenção de monitores ou expositores.Será?

            Temos visto que as pessoas acodem aos Centros Espíritas com necessidades e intenções bastante distintas, na particularidade. Entretanto, um grande contingente busca consolo e (alguma) orientação. No atendimento em geral ou nas reuniões públicas, não há informações precisas e permanentes sobre a “dinâmica” do trabalho espírita, à exceção de alguns cartazes exortando, por exemplo, ao silêncio e/ou à prece. No mais, alguém fala que “água fluidificada é bom” ou o passe “renova as energias”, ou promove um “descarrego” das vibrações e influências ruins, comuns ao dia-a-dia. Assim, temos uma enorme massa que vem e vai das reuniões espíritas, tomando passe e água fluida exatamente como os católicos tomam comunhão ou se benzem na pia com água benta. Fazem quase como obrigação e há, inclusive, os que dizem que se forem ao Centro e não tomarem o passe, não sairão de lá bem e harmonizados.

            Não discutimos, aqui, a eficácia e o alcance do “pensamento positivo” ou da crença pessoal de quem quer que seja. Todavia, quando nos auto-definimos como doutrina da fé racional, é imperioso e imprescindível que se divulgue, repise e oriente que tais práticas não terão eficácia se: 1) o médium que atende, na imposição de mãos sobre o paciente e na fluidificação da água, não seja uma pessoa cônscia de suas responsabilidades na tarefa mediúnica; 2) haja médiuns “curadores” (“de cura”), pois nem todos os médiuns o são, de modo que, em essência, o atendente até pode converter-se em meio de transporte dos eflúvios espirituais, mas não estará apto a realizar outra tarefa que não seja a de “transmitir energias” e estas, quase sempre, serão as que o próprio médium possui – daí a necessidade do preparo adequado para a tarefa; e, 3) o paciente ou o beneficiário não procure refletir sobre as causas de suas enfermidades e problemas, procurando colaborar consigo mesmo na busca do equilíbrio, serenidade e saúde físico-psíquica.

            Quanto ao preparo dos ministrantes de passes ou fluidificadores de água (estes, inclusive, muito rarefeitos nas Instituições Espíritas, de vez que não se vê nenhum médium impondo mãos sobre os frascos com água), o problema ainda é mais preocupante. Muitos, é claro, freqüentam as sessões de “desenvolvimento” mediúnico (termo que, aliás, é totalmente equivocado, porque não se desenvolvem tais dons, mas educam-se), e, até (!) participam de cursos e encontros sobre mediunidade, promovidos pelas federativas ou pelos Centros. Contudo, dificilmente se tem a prática do trabalho, com a instrução teórica, a experimentação, a observação da forma como se trabalha, e, principalmente, a discussão séria sobre os procedimentos considerados adequados, corretos ou aceitáveis. Entra-se na “roda-viva” dos trabalhos, observa-se (de canto de olho) o que o outro faz, e “toque em frente, que atrás vem gente”, ou seja, vamos logo, que há mais gente para atender...

            O Espiritismo não pode transformar-se numa seita, calcada na repetição irrefletida de máximas e posturas que acabam tornando-se sacramentos, ritos ou, até, dogmas. O trabalho espírita relevante, verdadeiramente, é aquele centrado no esclarecimento, na explicação racional de fenômenos e contingências espirituais, através da informação segura e da prática sem misticismo. Caso contrário, continuaremos a ser “cegos guiando outros cegos”.

 

PASSE

Até que ponto somos bons executores destas práticas, convertendo-nos em boas ferramentas no trabalho assistencial espírita?

 

* Marcelo Henrique Pereira  é dirigente espírita em São José, SC. Bacharel e Mestre em Ciências Jurídicas e Sociais. Secretário de Promoção da Juventude da Confederação Espírita Pan-Americana – CEPA