OPINIÃO Ano XII – 126 Dezembro 2005

A CORRUPÇÃO NOS ENVERGONHA

Nossa Opinião:   Lento e doloroso progresso

Editorial:  A mensagem dp presidente do CCEPA

Notícias:   Dr Dálmio foi o conferencista de dezembro  -  Em março 2006 mais um curso de iniciação  -  Gezler encerra exitosa gestão na ABRADE   

Opinião em Tópicos:   Casamento espírita  -   O contraponto  -  A lógica religiosa   -   Kardec e Chesnel (Milton Medran Moreira)

Enfoque:    Caridade e assistencialismo (Matheus  laureano)

Opinião do leitor: Agradecimento

 

 

A CORRUPÇÃO QUE NOS ENVERGONHA

 

2005 passará para a História como um ano de grandes crises políticas provocadas por denúncias de corrupção no Brasil. Mas foi também o ano em que o País começou a encarar de frente o problema da corrupção, da qual é um dos campeões no mundo.

 

             O começo de tudo

            Reportagem da revista “Veja” (maio de 2005) reproduzindo gravação onde aparecia o Chefe do Departamento de Contratação e Administração de Material da Empresa Brasileira de Correios, Maurício Marinho, recebendo R$ 3.000,00 de empresário interessado em participar de licitação daquela estatal, desencadeou ampla investigação sobre a corrupção no Brasil.

            Na gravação, Marinho afirmava agir sob o respaldo de um parlamentar, presidente de um partido que dava apoio ao governo. Seguiu-se revelação, feita por esse mesmo parlamentar, acusando o partido do Presidente da República de manter esquema de beneficiamento financeiro a membros do Congresso Nacional em troca de votação em seus projetos. As denúncias terminaram dando lugar a várias frentes de investigação. Comissões Parlamentares de Inquérito tornaram-se, assim, o centro das atenções da Nação no ano que finda.

            Como resultado, o ano termina contabilizando a ocorrência de queda de Ministros de Estado, renúncias e cassações de Deputados, por conta de presumíveis envolvimentos em grandes esquemas de corrupção. Revela também sinais de favorecimento ilegal do poder econômico a organismos políticos e a utilização de recursos públicos favorecendo grupos políticos e econômicos. Diante disso, intensificam-se propostas de reformas legislativas e fala-se, como nunca, em ética na política.

            Uma posição que envergonha o Brasil

            Recente relatório divulgado pela Transparência Internacional situa o Brasil como um dos países mais corruptos do mundo. A pesquisa abrangeu 99 países. No alto do ranking, como os “menos corruptos” figuraram a Dinamarca, a Finlândia, a Nova Zelândia e a Suécia. O Brasil ficou em 45° lugar, ao lado do Malawi, Zimbábue e Marrocos. Entre os latino-americanos, o melhor colocado é o Chile (19º), seguido da Costa Rica (32º).

            A divulgação desses dados, confirmando pesquisas anteriores, aliados, agora, aos escândalos que foram a tônica no ano de 2005, acaba por levar o País a uma profunda reflexão envolvendo a questão da ética na política e na administração pública.

 

Nossa Opinião

                                                           LENTO E DOLOROSO PROGRESSO

            Como chega o Brasil a este final de ano? Melhor ou pior do que nos anteriores? Mais esperançoso ou francamente desesperançado? Aquele episódio em que uma câmera flagrou o funcionário de uma estatal embolsando propina será historicamente relevante?

            É possível que estejamos no limiar de um novo tempo. Quem sabe, o Brasil, a partir daí, esteja começando a encontrar-se consigo mesmo. Inicie uma grande reflexão acerca de coisas que se passavam sem que percebêssemos. Ou até percebíamos e achávamos normais. Ou, ainda, sequer tínhamos coragem e mecanismos para denunciar.

            Um comportamento só se torna padrão quando a média dos indivíduos que compõem uma sociedade aceita-o como útil e válido. Os valores de um povo não se introjetam em sua alma coletiva sem que antes sejam experienciados pela média das consciências individuas.

            Por isso mesmo, a denúncia com meros fins políticos sempre soa falso. A denúncia provocada por quem não abriga em sua própria alma valores de honestidade e dignidade termina por distorcer fatos, agravando o mal. Gera o escândalo. Este tem como um de seus efeitos deletérios a formação de nuvens de fumaça encobrindo intenções que não são exatamente em favor do bem comum, pois que buscam vantagens individuais ligadas a interesses escusos.

            Não sabemos se o ano que finda será simplesmente caracterizado pela marca do escândalo, ou será o limiar de um novo tempo a se traduzir em reformas. Reforma, para ser sólida e fazer morada na alma coletiva de um povo, precisa, necessariamente, estar ancorada em reais valores plantados e cultivados na consciência de cada componente da sociedade.

            Bem, nós, espíritas, defendemos que isso não é tão fácil de acontecer. Tampouco acontece de uma hora para outra. É um processo lento, porque produto da conjugação dos tantos fatores que despertam e impulsionam a lei da evolução e do progresso. Por isso mesmo, mais do que nos comprazermos com o escândalo, a nós cabe cerrar fileira com aqueles que acreditam na potencialidade humana de progredir ética e moralmente. Mesmo que o impulso inicial desse movimento progressista tenha sido a mera intenção do escândalo. O Homem de Nazaré, cujo aniversário é, simbolicamente, comemorado este mês pelo mundo cristão, numa de suas preciosas lições, afirmou que “o escândalo é necessário”, advertindo, em seguida: “ai daquele, no entanto, através do qual venha o escândalo” (Mateus, Cap.XVIII, 7). Na mesma linha de raciocínio, os espíritos entrevistados por Allan Kardec deixaram escrito: “Faz-se mister que o mal chegue a excesso, para tornar compreensível a necessidade do bem e do progresso” (O Livro dos Espíritos, questão 784).

            O certo é que, individual e coletivamente, somos sempre responsáveis por nossos erros. Eles produzem efeitos que geram dor e sofrimento. A sabedoria, no entanto, consiste em transformar esses efeitos danosos em estímulos que levem ao bem e às reformas.

            Se assim pensarmos, mesmo que envergonhados de nossos erros, como indivíduos ou como nação, sempre haverá lugar para comemorarmos o fim de um período no calendário. Inevitavelmente, ele sinaliza algum progresso. Lento e doloroso. Mas progresso. (A Redação)

 

Editorial

 

                                               MENSAGEM DO PRESIDENTE DO CCEPA

 

Eis o momento de avaliação das atividades da nossa instituição, com a despedida do ano de 2005, que se aproxima, já se impondo uma reflexão para o ano de 2006. Se, por um lado, o CCEPA enfrentou dificuldades comuns a uma instituição espírita, exigindo doação, perseverança e disciplina dos seus trabalhadores, por outro lado resta a satisfação pelo dever cumprido e pelos resultados positivos. O Centro Cultural Espírita de Porto Alegre, uma vez consolidada sua identidade que se assenta numa visão do Espiritismo como doutrina filosófica livre-pensadora, progressista, libertadora, permeada pelo otimismo em relação ao ser humano, fiel aos princípios básicos da obra e do pensamento de KARDEC, planejou e executou suas atividades para os estudos espíritas, concretizados pelos grupos permanentes de estudos, cursos de iniciação, seminários, palestras públicas e em reuniões semanais, abertas ao público, chamadas de Grupo de Conversão.

Desse modo, todos os integrantes do CCEPA mantêm-se em permanente atividade cultural, integrados aos seus respectivos grupos, bem como pessoas interessadas em conhecer o Espiritismo ou iniciar estudos espíritas recebem informações básicas e começam a entrar em contato com a Doutrina Espírita. Aqueles que se interessarem em continuar os estudos espíritas, têm a possibilidade de se integrar no grupo chamado CIBEE, Ciclo Básico de Estudos Espíritas, curso mais alongado, onde o estudo é mais abrangente e aprofundado, mas ainda com a característica de base e generalidade.

No momento em que nos preparamos para o encerramento de mais uma etapa, sem interromper nossas atividades em razão das festas de fim de ano (não existe período de férias no CCEPA), impõe-se enaltecer e agradecer o esforço de cada um dos companheiros desta Casa, que não economizaram dedicação para que se atingissem os objetivos propostos. A liberdade de pensamento, o respeito à opinião do outro e o amor ao trabalho de KARDEC continuam sendo marcas maiores entre nós. Mas a nossa dedicação à Instituição não se limitou à freqüência ao respectivo grupo de estudo. Manter em funcionamento uma casa espírita demanda disciplina e disponibilidade, não só em relação aos estudos, mas também as funções administrativas, a organização, recepção e apoio em eventos etc, que exigiram de todos um esforço a mais. Por isso a gratidão do CCEPA, que se estende a todos os amigos que nos visitaram em eventos abertos ao público.

Esta mensagem de fim de ano tem, ainda, um significado particular, pois que se finda também uma etapa da atual administração do CCEPA, eleita para o biênio 2004/2005. Em nome pessoal e dos companheiros de Diretoria, um agradecimento especial pela colaboração de todos, rogando que nos mantenhamos solidários, coesos e entusiasmados com o ideal de fazer do CCEPA um centro de livre reflexão e difusão da filosofia espírita.

 

A liberdade de pensamento, o respeito à opinião do outro e o amor ao trabalho de KARDEC continuam sendo marcas maiores entre nós.

 

Opinião em Tópicos

Milton R. Medran Moreira.

 

            “Casamento” espírita

            A polêmica do mês, no meio espírita, ficou por conta de notícia que circulou pelos sites e listas espíritas na Internet: José Medrado, conhecido médium baiano, estaria defendendo a idéia do “casamento nas casas espíritas”, em seu programa “Visão Social”, em rede de TV.

            Sempre atento às notícias do movimento, Néventon Vargas, Diretor de Comunicação Social da CEPA, foi direto à fonte. Escreveu a Medrado perguntando-lhe se a notícia era verdadeira e pedindo-lhe que justificasse sua posição.

            Gentilmente, o médium respondeu-lhe que não buscava ritualizar o espiritismo. Quer apenas fazer valer “aquele momento que todos os Centros fazem, ou, pelo menos, a esmagadora maioria, quando da vibração para um casal que se une, casa-se”. Medrado disse buscar “o reconhecimento dos efeitos civis deste momento, como se vê no catolicismo e nas correntes evangélicas”. Acrescentou: “Se amanhã estas religiões começarem a ter direito a expedição de passaportes e carteiras de identidade, também buscarei na Justiça este direito para o Espiritismo”.

            O contraponto

            Néventon, respondendo-lhe, discordou do que chamou de “institucionalização do casamento no Centro Espírita” e argumentou: “Por menos inofensiva que possa parecer, é uma opção que abre as portas para futuros desvios da natureza espírita das reuniões”. Seria “o primeiro passo para ritualização”, mesmo não sendo essa a intenção.

            Para o companheiro da CEPA, “nossa reivindicação, como cidadãos, deve ser exatamente no sentido contrário: de fidelidade à Constituição que consagra o estado laico e, portanto, deve desvincular da religião qualquer direito/dever do cidadão”. Para ele, “o tácito reconhecimento do Espiritismo como religião rompe definitivamente a possibilidade de inserir princípios espíritas nos diversos setores da sociedade, face às naturais barreiras segregacionistas e preconceituosas tão características das religiões”.

            Lembra ainda Néventon que os “efeitos civis” de que fala Medrado independem da formalização. O que é absoluta verdade, especialmente depois que a Constituição de 88 conferiu conseqüências jurídicas idênticas às do casamento para as chamadas uniões estáveis.

            A lógica religiosa

            Quando, nas gestões de Jones e Benchaya (lá se vão 20 anos), colaborei com a FERGS, recordo de reunião onde o representante de uma União Municipal Espírita fez a esdrúxula proposta de que se introduzisse o “casamento espírita” nos Centros. Seu argumento: “Como as outras religiões todas têm essa cerimônia, por que o espiritismo não deveria também celebrar o casamento de seus adeptos?”. Para ele, seria uma estratégia com a qual se ganhariam e não se perderiam “crentes” para “outras religiões”.

            Esse argumento não é de todo destituído de fundamento desde que se pense o espiritismo como religião. Quem parte dessa premissa tem fundamentos lógicos para defender esse e todos os rituais que quiser. Sua lógica interna é perfeitamente demonstrável por este silogismo:

            Toda a religião tem rituais.

            O espiritismo é uma religião.

            Logo: o espiritismo deve ter rituais.

            Kardec e Chesnel

            Nunca é demais lembrar a polêmica entre Kardec e o Abade de Chesnel. Este último, insistindo que havia surgido uma nova religião na França e advertindo os católicos que se precavessem contra essa nova heresia. Kardec, em resposta ao padre, sustentava que o espiritismo não era uma religião. Depois de esgotar todos os argumentos para provar ao sacerdote que se tratava de uma proposta científico-filosófica e não de uma nova religião, Kardec, vendo que não era nada fácil convencer o abade, encerrou a polêmica dizendo-lhe: “Se, entretanto, quiserdes elevá-lo (o espiritismo), a todo o custo, ao plano de uma religião, vós o atirais num caminho novo.” (Revista Espírita, julho 1859).

            Esse “caminho novo” em que padres e freiras desencarnados, em estreita sintonia com ex-padres e ex-freiras de encarnações anteriores, atiraram o espiritismo, não é uma via desprezível. Deu certo no Brasil e, daqui, foi exportado para outros países, como está acontecendo com “outras religiões” que do Brasil se espraiam pelo mundo. Essas outras, diga-se de passagem, na mesma medida em que ampliam seus rituais mágicos com bênçãos, rezas, águas santas, óleos sagrados, sessões de “descarregos”, etc., vão ganhando novos adeptos. Dentro dessa lógica, o espiritismo religioso, para concorrer com elas seria mais coerente valendo-se de idênticas estratégias.  Por que não introduzir, então, essa inocente “vibração” aos nubentes no Centro Espírita? Não faz mal nenhum. Na lógica dos abades. Não na de Kardec.

 

Notícias

 

DR. DÁLMIO FOI O CONFERENCISTA DE DEZEMBRO

            A programação de conferências das primeiras segundas-feiras de cada mês, no Centro Cultural Espírita de Porto Alegre encerrou o ano com um excelente trabalho apresentado pelo Dr. Dálmio Moraes, na noite de 5 de dezembro.

            Dr. Dálmio abordou o tema “Influências dos estados emocionas nas relações interpessoais e espirituais”.

            O CCEPA convida seus freqüentadores, amigos e público em geral para continuarem prestigiando, em 2006, sua programação das segundas-feiras,à noite. Na primeira de cada mês, a atividade consta de um trabalho expositivo. Nas demais, o trabalho fica por conta do Grupo de Conversação Espírita, igualmente aberto ao público, com debate de temas variados à luz dos princípios espíritas. Sempre às 20h30min. Igualmente, às sextas-feiras, às 15h00, realiza-se no CCEPA encontro de um Grupo de Conversação Espírita.

           

EM MARÇO 2006, MAIS UM CURSO DE INICIAÇÃO

            Em 2006, o Centro Cultural Espírita de Porto Alegre realiza mais Curso de Iniciação ao Espiritismo, com duração de seis semanas (às quartas à tarde ou quintas à noite, conforme cartaz que divulgamos a seguir). Maiores informações podem sr obtidas pelo telefone do CCEPA, (51) 32316295 ou pelo e-mail ccepa@terra.com.br .

 

 

GEZSLER ENCERRA EXITOSA GESTÃO NA ABRADE

            Via Internet, recebemos comunicação enviada por Gezsler Carlos West, presidente da ABRADE, informando:

            “Em harmoniosa reunião do Conselho Nacional de Divulgadores do Espiritismo (CNDE), ocorrida em 26 e 27 de novembro de 2005 na cidade de Curitiba-PR, foram eleitos os membros da Diretoria Executiva e do Conselho Fiscal da Associação Brasileira de Divulgadores do Espiritismo (ABRADE) para o biênio 2006 e 2007. A posse será em 01/01/2006. Seguem os seus membros:

 

            Diretoria Executiva

Presidência à Marcelo Firmino Dias (PB)

Diretoria de Política e Metodologias de Comunicação à Wilson Garcia (PE)

Diretoria de Parcerias na Sociedade à Éder Fávaro (SP)

Diretoria Administrativa à Raquel Maia (PB)

Diretoria de Infra-Estrutura Financeira à Fátima Aparecida Ferreira (MG)

Diretoria de Parcerias com ADEs e Congêneres à Marcus Vinícius Ferraz Pacheco (PE)

Diretoria de Tecnologias de Comunicação à Cleber Pinheiro Costa (RN)

Conselho Fiscal

Conselheiro à João Batista Cabral (SE)

Conselheiro à Robson Luis Bueno Balaguer (PR)

Conselheira à Simone Ivo de Sousa (CE)

      Assessorias 

Assessoria de Comunicação (AsCom) à Júlia Nezu (SP)

Assessoria de Política de Comunicação Social Espírita à  Luiz Antônio Signates Freitas (GO)

Acrescido às funções acima citadas, existe um sistema de liderança composto por diversos colaboradores, que serão oportunamente apresentados.

            Informamos que já se encontram na seção "transparência" do site da Abrade (www.abrade.com.br) a "síntese da gestão" e o "balancete financeiro" da Abrade referentes aos anos de 2004 e 2005.

            Faltando menos de 30 dias para o término da atual gestão, agradeço em nome de todos os diretores e colaboradores da Abrade o inestimável apoio recebido nestes últimos 04 (quatro) anos. Solicito que este mesmo apoio seja direcionado para a nova diretoria recentemente eleita, formada por companheiros sérios e idealistas, que com certeza farão um belo trabalho pela nossa sociedade. Recebam o nosso sincero muito obrigado e que Deus seja sempre a fonte das nossas inspirações.

            Um forte abraço para todos e sigamos em frente!  Paz, Gezsler Carlos West - Presidente da ABRADE”.

            Alteridade caracterizou gestões da ABRADE

            As duas gestões presididas pelo pernambucano Gezsler Carlos West, da ABRADE, caracterizaram-se por uma política de respeito às diferenças e de intercâmbio alteritário e fraterno com todos os segmentos do movimento espírita.

            Opinião cumprimenta a ABRADE e deseja igual êxito aos novos dirigentes que assumem em 1° de janeiro próximo.        

           

Enfoque

CARIDADE E ASSISTENCIALISMO

Matheus Laureano*

 

“Fora da Caridade não há salvação”. Esse parece ser o lema do espírita. Parece apenas. Será que temos a noção do que realmente seja caridade? Pelo pouco que temos percebido dos textos, artigos, palestras, e, principalmente da conduta diante de fatos sociais e de relacionamento interpessoal entre os espíritas, temos pouco o que dar exemplo de caridade.

Kardec na Revista Espírita, de dezembro de 1968, diz:

“A caridade é a alma do Espiritismo: ela resume todos os deveres do homem para consigo mesmo e para com os seus semelhantes; eis porque se pode dizer que não há verdadeiro Espírita sem caridade”.

Kardec alerta para a necessidade de autotransformação e para uma transformação social mais ampla. O verdadeiro espírita é aquele que todos os dias tenta melhorar-se, não é aquele que se diz e que os outros dizem que é um santo, mas é aquele que se esforça para melhorar-se. Cada pessoa é que verdadeiramente sabe de sua própria vida, não são julgamentos alheios que fazem de uma pessoa melhor ou pior, mas quais as suas reais intenções e ações. Não é uma questão de os fins justificam os meios ou não, mas uma relação de bom senso entre as ações e as intenções.

A caridade está associada ao outro, é uma relação humana.

Ficarei, no momento, com a questão social. Existe um grande debate sobre caridade e assistencialismo. Existe caridade social sem assistencialismo? Se existe, qual a fronteira entre a caridade e o assistencialismo?

Vamos a alguns pontos antes de voltarmos a essas perguntas e a uma maior reflexão. O assistencialismo é uma ferramenta de manutenção do status quo. É a partir dela que a classe dominante mantém a pobreza e mantém os pobres quietos, sem se rebelarem contra a situação social. O assistencialismo é paternalista, no sentido que usa dos bens materiais doados para dizer: “somos bons, queremos o seu bem”, “temos piedade de sua situação, tome um prato de sopa”. Talvez não digam essas palavras, para não parecer falso, mas são as expressões embutidas nas ações. É através do assistencialismo que não se investe em educação, saúde, melhorias na infra-estrutura, enfim, é dando o mínimo necessário para sobreviver e “manter paz”.

Voltando às questões postas anteriormente, existe sim, caridade social sem assistencialismo. Penso que, a caridade social existe quando é dada não somente a comida ou a roupa necessária para o frio e a fome, mas quando se, a partir daí, tenha uma responsabilidade humana (social) diante do outro. Não é apenas dar, mas educar. Não se trata apenas de “não dar o peixe, mas ensinar a pescar”, mas de conscientizar de sua situação social e humana. Educar para não ter apenas conquistas materiais, mas educar para ter uma conduta ética, consciente, que trabalhe para suas conquistas, mas que trabalhe também para conscientizar-se e conscientizar outros de sua situação. Deixar de ser produto do meio e passar a ser agente de mudança do meio. E só é caridade, se todas essas ações forem feitas sem interesses pessoais. Caridade anda junto com o desinteresse de ganhos pessoais, seja no campo material ou não. Do contrário não seria caridade. A fronteira entre o assistencialismo e a caridade está no bom senso. Ninguém deve negar dar assistência a quem precisa, mas a assistência não deve se transformar em comodismo. Não é uma fronteira definida em termos de tempo e quantidade, mas uma questão de ver se realmente precisa de assistência ou se já pode galgar outros passos em busca de sua consciência e responsabilidade diante do mundo.

Infelizmente, o Movimento Espírita, em sua grande maioria, pratica o assistencialismo com a maquiagem de caridade. As práticas dentro do centro espírita são de dar alimento e de doutrinar as pessoas “espiriticamente” para serem pessoas com “moral elevada”. No máximo, alguns centros oferecem cursos profissionalizantes. Mas será que é só dar o curso e pronto? O SENAI, O SESC e tantos outros serviços e ONG’s oferecem cursos profissionalizantes, mas nenhum deles conscientiza da situação social que vive o país. Essa prática espírita é dogmatizante, pois o que recebe ajuda encontra a mesma situação numa igreja perto da casa espírita, com a mesma proposta. Assim os espíritas igualam o Centro Espírita a uma Igreja de qualquer religião, que dá o pão e oferece os “ensinamentos de amor”. Está na hora de o Movimento Espírita acordar para o seu real papel diante da sociedade, que é imenso. Vai do pão à conscientização, do recebimento ao amor, não da espiritização. Não é de espíritas que a sociedade precisa para melhorar, mas de pessoas conscientes de seu papel diante de si mesmo, do outro e do mundo, sendo espírita ou não.

 

Matheus Laureano é Web Designer, estudante de Psicologia e Vice-Presidente da ASSEPE (Associação de Estudos e Pesquisas Espíritas) de João Pessoa/PB.

 

Opinião do Leitor

      Agradecimento

      Saúde e paz, sob as bênçãos de Deus e a proteção do Espírito de Verdade, o Mestre Jesus (Homem de Nazaré). É profundamente sensibilizado que venho, pela presente, agradecer aos distintos confrades, a gentileza de terem feito referência ao livro de minha autoria intitulado “Severino de Freitas Prestes Filho, meu Pai, meu Mestre”, na seção “Publicações Recebidas” (no boletim América Espírita, encartado em Opinião, outubro de 2005).

      Um grande abraço, e, mais uma vez, meu muito obrigado por terem feito essa referência ao livro biográfico sobre meu pai, que publiquei pela editora CELD. Fraternalmente,

      Erasto de Carvalho Prestes – Rua Visc. de Moraes, 159/702 – Bairro Ingá – Niterói – CEP 24.210-145.