OPINIÃO Ano XII – Nº
126 Dezembro 2005
Nossa
Opinião: Lento e doloroso
progresso
Editorial: A mensagem dp presidente do CCEPA
Enfoque: Caridade e assistencialismo (Matheus laureano)
Opinião
do leitor: Agradecimento
A CORRUPÇÃO QUE
NOS ENVERGONHA
2005 passará para
a História como um ano de grandes crises políticas provocadas por denúncias de
corrupção no Brasil. Mas foi também o ano em que o País começou a encarar de
frente o problema da corrupção, da qual é um dos campeões no mundo.
O
começo de tudo
Reportagem da revista “Veja” (maio de 2005) reproduzindo
gravação onde aparecia o Chefe do Departamento de Contratação e Administração
de Material da Empresa Brasileira de Correios, Maurício Marinho, recebendo R$
3.000,00 de empresário interessado em participar de licitação daquela estatal,
desencadeou ampla investigação sobre a corrupção no Brasil.
Na gravação, Marinho afirmava agir
sob o respaldo de um parlamentar, presidente de um partido que dava apoio ao
governo. Seguiu-se revelação, feita por esse mesmo parlamentar, acusando o
partido do Presidente da República de manter esquema de beneficiamento
financeiro a membros do Congresso Nacional em troca de votação em seus
projetos. As denúncias terminaram dando lugar a várias frentes de investigação.
Comissões Parlamentares de Inquérito tornaram-se, assim, o centro das atenções
da Nação no ano que finda.
Como resultado, o ano termina
contabilizando a ocorrência de queda de Ministros de Estado, renúncias e
cassações de Deputados, por conta de presumíveis envolvimentos em grandes
esquemas de corrupção. Revela também sinais de favorecimento ilegal do poder
econômico a organismos políticos e a utilização de recursos públicos
favorecendo grupos políticos e econômicos. Diante disso, intensificam-se
propostas de reformas legislativas e fala-se, como nunca, em ética na política.
Uma posição que envergonha o Brasil
Recente relatório divulgado pela
Transparência Internacional situa o Brasil como um dos países mais corruptos do
mundo. A pesquisa abrangeu 99 países. No alto do ranking, como os “menos
corruptos” figuraram a Dinamarca, a Finlândia, a Nova Zelândia e a Suécia. O
Brasil ficou em 45° lugar, ao lado do Malawi,
Zimbábue e Marrocos. Entre os latino-americanos, o melhor colocado é o Chile
(19º), seguido da Costa Rica (32º).
A divulgação desses dados,
confirmando pesquisas anteriores, aliados, agora, aos escândalos que foram a tônica no ano de 2005, acaba por levar o País a uma
profunda reflexão envolvendo a questão da ética na política e na administração
pública.
LENTO E DOLOROSO PROGRESSO
Como chega o Brasil a este final de
ano? Melhor ou pior do que nos anteriores? Mais esperançoso ou francamente
desesperançado? Aquele episódio em que uma câmera flagrou o funcionário de uma
estatal embolsando propina será historicamente relevante?
É possível que estejamos no limiar
de um novo tempo. Quem sabe, o Brasil, a partir daí, esteja começando a
encontrar-se consigo mesmo. Inicie uma grande reflexão acerca de coisas que se
passavam sem que percebêssemos. Ou até percebíamos e achávamos normais. Ou,
ainda, sequer tínhamos coragem e mecanismos para denunciar.
Um comportamento só se torna padrão
quando a média dos indivíduos que compõem uma sociedade aceita-o
como útil e válido. Os valores de um povo não se introjetam
em sua alma coletiva sem que antes sejam experienciados
pela média das consciências individuas.
Por isso mesmo, a denúncia com meros
fins políticos sempre soa falso. A denúncia provocada por quem não abriga em sua própria alma valores de honestidade e
dignidade termina por distorcer fatos, agravando o mal. Gera o escândalo. Este
tem como um de seus efeitos deletérios a formação de nuvens de fumaça
encobrindo intenções que não são exatamente em favor do bem comum, pois que
buscam vantagens individuais ligadas a interesses escusos.
Não sabemos se o ano que finda será
simplesmente caracterizado pela marca do escândalo, ou será o limiar de um novo
tempo a se traduzir em reformas. Reforma, para ser sólida e fazer morada na
alma coletiva de um povo, precisa, necessariamente, estar ancorada em reais
valores plantados e cultivados na consciência de cada componente da sociedade.
Bem, nós, espíritas, defendemos que
isso não é tão fácil de acontecer. Tampouco acontece de uma hora para outra. É
um processo lento, porque produto da conjugação dos tantos fatores que
despertam e impulsionam a lei da evolução e do progresso. Por isso mesmo, mais
do que nos comprazermos com o escândalo, a nós cabe cerrar fileira com aqueles
que acreditam na potencialidade humana de progredir ética e moralmente. Mesmo
que o impulso inicial desse movimento progressista tenha sido a mera intenção
do escândalo. O Homem de Nazaré, cujo aniversário é, simbolicamente, comemorado
este mês pelo mundo cristão, numa de suas preciosas lições, afirmou que “o
escândalo é necessário”, advertindo, em seguida: “ai daquele, no entanto,
através do qual venha o escândalo” (Mateus, Cap.XVIII,
7). Na mesma linha de raciocínio, os espíritos entrevistados por Allan Kardec deixaram escrito: “Faz-se
mister que o mal chegue a excesso, para tornar compreensível a necessidade do
bem e do progresso” (O Livro dos Espíritos, questão 784).
O certo é que, individual e
coletivamente, somos sempre responsáveis por nossos erros. Eles produzem
efeitos que geram dor e sofrimento. A sabedoria, no entanto, consiste em
transformar esses efeitos danosos em estímulos que levem ao bem e às reformas.
Se assim pensarmos, mesmo que
envergonhados de nossos erros, como indivíduos ou como nação, sempre haverá
lugar para comemorarmos o fim de um período no calendário. Inevitavelmente, ele
sinaliza algum progresso. Lento e doloroso. Mas progresso. (A Redação)
MENSAGEM DO PRESIDENTE DO CCEPA
Eis o momento de avaliação das atividades da nossa
instituição, com a despedida do ano de 2005, que se aproxima,
já se impondo uma reflexão para o ano de 2006. Se, por um lado, o CCEPA
enfrentou dificuldades comuns a uma instituição espírita, exigindo doação,
perseverança e disciplina dos seus trabalhadores, por outro lado resta a
satisfação pelo dever cumprido e pelos resultados positivos. O
Centro Cultural Espírita de Porto Alegre, uma vez consolidada sua identidade
que se assenta numa visão do Espiritismo como doutrina filosófica livre-pensadora,
progressista, libertadora, permeada pelo otimismo em relação ao ser humano,
fiel aos princípios básicos da obra e do pensamento de KARDEC, planejou e
executou suas atividades para os estudos espíritas, concretizados pelos grupos
permanentes de estudos, cursos de iniciação, seminários, palestras públicas e
em reuniões semanais, abertas ao público, chamadas de Grupo de Conversão.
Desse modo, todos os integrantes do CCEPA mantêm-se em
permanente atividade cultural, integrados aos seus respectivos grupos, bem como
pessoas interessadas em conhecer o Espiritismo ou iniciar estudos espíritas
recebem informações básicas e começam a entrar em contato com a Doutrina
Espírita. Aqueles que se interessarem em continuar os estudos espíritas, têm a possibilidade de se integrar no grupo chamado CIBEE,
Ciclo Básico de Estudos Espíritas, curso mais alongado, onde o estudo é mais
abrangente e aprofundado, mas ainda com a característica de base e
generalidade.
No momento em que nos preparamos para o encerramento de mais
uma etapa, sem interromper nossas atividades em razão das festas de fim de ano
(não existe período de férias no CCEPA), impõe-se enaltecer e agradecer o
esforço de cada um dos companheiros desta Casa, que não economizaram dedicação
para que se atingissem os objetivos propostos. A liberdade de pensamento, o
respeito à opinião do outro e o amor ao trabalho de KARDEC continuam sendo
marcas maiores entre nós. Mas a nossa dedicação à Instituição não se limitou à
freqüência ao respectivo grupo de estudo. Manter em funcionamento uma casa
espírita demanda disciplina e disponibilidade, não só em relação aos estudos,
mas também as funções administrativas, a organização, recepção e apoio em
eventos etc, que exigiram de todos
um esforço a mais. Por isso a gratidão do CCEPA, que se estende a todos os amigos que nos visitaram em eventos
abertos ao público.
Esta mensagem de fim de ano tem, ainda, um significado
particular, pois que se finda também uma etapa da atual administração do CCEPA,
eleita para o biênio 2004/2005. Em nome pessoal e dos companheiros de
Diretoria, um agradecimento especial pela colaboração de todos, rogando que nos
mantenhamos solidários, coesos e entusiasmados com o ideal de fazer do CCEPA um
centro de livre reflexão e difusão da filosofia espírita.
A liberdade de pensamento, o respeito à opinião do outro e o
amor ao trabalho de KARDEC continuam sendo marcas maiores entre nós.
Milton R. Medran
Moreira.
“Casamento”
espírita
A polêmica do mês, no meio espírita,
ficou por conta de notícia que circulou pelos sites e listas espíritas na
Internet: José Medrado, conhecido médium baiano, estaria defendendo a idéia do
“casamento nas casas espíritas”, em seu programa “Visão Social”, em rede de TV.
Sempre atento às notícias do
movimento, Néventon Vargas, Diretor de Comunicação
Social da CEPA, foi direto à fonte. Escreveu a Medrado perguntando-lhe se a
notícia era verdadeira e pedindo-lhe que justificasse sua posição.
Gentilmente, o médium respondeu-lhe
que não buscava ritualizar o espiritismo. Quer apenas
fazer valer “aquele momento que todos os Centros fazem, ou, pelo menos, a
esmagadora maioria, quando da vibração para um casal que se une, casa-se”.
Medrado disse buscar “o reconhecimento dos efeitos civis deste momento, como se
vê no catolicismo e nas correntes evangélicas”. Acrescentou: “Se amanhã estas
religiões começarem a ter direito a expedição de passaportes e carteiras de
identidade, também buscarei na Justiça este direito para o Espiritismo”.
O
contraponto
Néventon, respondendo-lhe, discordou do que chamou de
“institucionalização do casamento no Centro Espírita” e argumentou: “Por menos
inofensiva que possa parecer, é uma opção que abre as portas para futuros
desvios da natureza espírita das reuniões”. Seria “o primeiro passo para ritualização”, mesmo não sendo essa a intenção.
Para o companheiro da CEPA, “nossa
reivindicação, como cidadãos, deve ser exatamente no sentido contrário: de
fidelidade à Constituição que consagra o estado laico e, portanto, deve
desvincular da religião qualquer direito/dever do cidadão”. Para ele, “o tácito
reconhecimento do Espiritismo como religião rompe definitivamente a
possibilidade de inserir princípios espíritas nos diversos setores da sociedade,
face às naturais barreiras segregacionistas e preconceituosas tão
características das religiões”.
Lembra ainda Néventon
que os “efeitos civis” de que fala Medrado independem da formalização. O que é
absoluta verdade, especialmente depois que a Constituição de 88 conferiu
conseqüências jurídicas idênticas às do casamento para as chamadas uniões
estáveis.
A
lógica religiosa
Quando, nas gestões de Jones e Benchaya (lá se vão 20 anos), colaborei com a FERGS,
recordo de reunião onde o representante de uma União Municipal Espírita fez a
esdrúxula proposta de que se introduzisse o “casamento espírita” nos Centros.
Seu argumento: “Como as outras religiões todas têm essa cerimônia, por que o
espiritismo não deveria também celebrar o casamento de seus adeptos?”. Para
ele, seria uma estratégia com a qual se ganhariam e não se perderiam “crentes”
para “outras religiões”.
Esse argumento não é de todo
destituído de fundamento desde que se pense o espiritismo como religião. Quem
parte dessa premissa tem fundamentos lógicos para defender esse e todos os
rituais que quiser. Sua lógica interna é perfeitamente demonstrável por este
silogismo:
Toda a religião tem
rituais.
O espiritismo é uma religião.
Logo: o espiritismo deve ter rituais.
Kardec e Chesnel
Nunca é demais lembrar a polêmica
entre Kardec e o Abade de Chesnel.
Este último, insistindo que havia surgido uma nova religião na França e
advertindo os católicos que se precavessem contra essa nova heresia. Kardec, em resposta ao padre, sustentava que o espiritismo
não era uma religião. Depois de esgotar todos os argumentos para provar ao
sacerdote que se tratava de uma proposta científico-filosófica e não de uma
nova religião, Kardec, vendo que não era nada fácil
convencer o abade, encerrou a polêmica dizendo-lhe: “Se, entretanto, quiserdes
elevá-lo (o espiritismo), a todo o custo, ao plano de uma religião, vós o
atirais num caminho novo.” (Revista Espírita, julho 1859).
Esse “caminho novo” em que padres e
freiras desencarnados, em estreita sintonia com ex-padres e ex-freiras de
encarnações anteriores, atiraram o espiritismo, não é uma via desprezível. Deu
certo no Brasil e, daqui, foi exportado para outros países, como está
acontecendo com “outras religiões” que do Brasil se espraiam pelo mundo. Essas
outras, diga-se de passagem, na mesma medida em que ampliam seus rituais
mágicos com bênçãos, rezas, águas santas, óleos sagrados, sessões de “descarregos”, etc., vão ganhando novos adeptos. Dentro
dessa lógica, o espiritismo religioso, para concorrer com elas seria mais
coerente valendo-se de idênticas estratégias.
Por que não introduzir, então, essa inocente “vibração” aos nubentes no
Centro Espírita? Não faz mal nenhum. Na lógica dos abades. Não na de Kardec.
DR. DÁLMIO FOI O CONFERENCISTA DE DEZEMBRO
A programação de conferências das
primeiras segundas-feiras de cada mês, no Centro Cultural Espírita de Porto
Alegre encerrou o ano com um excelente trabalho apresentado pelo Dr. Dálmio Moraes, na noite de 5 de dezembro.
Dr. Dálmio
abordou o tema “Influências dos estados emocionas nas relações interpessoais e espirituais”.
O CCEPA convida seus freqüentadores,
amigos e público em geral para continuarem prestigiando, em 2006, sua
programação das segundas-feiras,à noite. Na primeira
de cada mês, a atividade consta de um trabalho expositivo. Nas demais, o
trabalho fica por conta do Grupo de Conversação Espírita, igualmente aberto ao
público, com debate de temas variados à luz dos princípios espíritas. Sempre às
20h30min. Igualmente, às sextas-feiras, às 15h00, realiza-se no CCEPA encontro
de um Grupo de Conversação Espírita.
EM MARÇO 2006, MAIS UM CURSO DE INICIAÇÃO
Em 2006, o Centro Cultural Espírita
de Porto Alegre realiza mais Curso de Iniciação ao Espiritismo, com duração de
seis semanas (às quartas à tarde ou quintas à noite,
conforme cartaz que divulgamos a seguir). Maiores informações podem sr obtidas pelo telefone do CCEPA, (51) 32316295 ou pelo
e-mail
ccepa@terra.com.br
.
GEZSLER ENCERRA EXITOSA GESTÃO NA ABRADE
Via Internet, recebemos comunicação
enviada por Gezsler Carlos West,
presidente da ABRADE, informando:
“Em harmoniosa
reunião do Conselho Nacional de Divulgadores do Espiritismo (CNDE),
ocorrida em 26 e 27 de novembro de 2005 na cidade de Curitiba-PR, foram eleitos
os membros da Diretoria Executiva e do Conselho Fiscal da
Associação Brasileira de Divulgadores do Espiritismo (ABRADE) para o biênio
2006 e
Diretoria Executiva
Presidência
à Marcelo Firmino Dias (PB)
Diretoria de Política e
Metodologias de Comunicação
à Wilson Garcia (PE)
Diretoria de Parcerias na
Sociedade
à Éder Fávaro (SP)
Diretoria Administrativa
à Raquel Maia (PB)
Diretoria de Infra-Estrutura
Financeira
à Fátima Aparecida Ferreira (MG)
Diretoria de Parcerias com ADEs
e Congêneres
à Marcus Vinícius Ferraz Pacheco
(PE)
Diretoria de Tecnologias de
Comunicação
à Cleber Pinheiro Costa (RN)
Conselho
Fiscal
Conselheiro à João Batista Cabral (SE)
Conselheiro à Robson Luis Bueno Balaguer (PR)
Conselheira à Simone Ivo de Sousa (CE)
Assessorias
Assessoria de Comunicação (AsCom) à Júlia Nezu (SP)
Assessoria de Política de Comunicação Social
Espírita à Luiz Antônio Signates
Freitas (GO)
Acrescido
às funções acima citadas, existe um sistema de liderança composto
por diversos colaboradores, que serão oportunamente apresentados.
Informamos que já se encontram na
seção "transparência" do site da Abrade
(www.abrade.com.br)
a "síntese da gestão" e o "balancete
financeiro" da Abrade referentes aos anos
de 2004 e 2005.
Faltando menos de 30 dias para o
término da atual gestão, agradeço em nome de todos os diretores e colaboradores
da Abrade o inestimável apoio recebido
nestes últimos 04 (quatro) anos. Solicito que este mesmo apoio seja direcionado
para a nova diretoria recentemente eleita, formada por companheiros
sérios e idealistas, que com certeza farão um belo trabalho pela nossa
sociedade. Recebam o nosso sincero muito obrigado e que Deus seja sempre a
fonte das nossas inspirações.
Um forte abraço para todos e sigamos
em frente! Paz, Gezsler Carlos West - Presidente
da ABRADE”.
Alteridade
caracterizou gestões da ABRADE
As duas gestões presididas pelo pernambucano Gezsler Carlos West, da ABRADE,
caracterizaram-se por uma política de respeito às diferenças e de intercâmbio alteritário e fraterno com todos os segmentos do movimento
espírita.
Opinião cumprimenta a ABRADE e
deseja igual êxito aos novos dirigentes que assumem em 1° de janeiro
próximo.
CARIDADE E ASSISTENCIALISMO
Matheus Laureano*
“Fora da Caridade não há salvação”. Esse parece ser o lema
do espírita. Parece apenas. Será que temos a noção do que realmente seja
caridade? Pelo pouco que temos percebido dos textos, artigos, palestras, e,
principalmente da conduta diante de fatos sociais e de relacionamento interpessoal entre os espíritas, temos pouco o que dar
exemplo de caridade.
Kardec na Revista Espírita, de dezembro de 1968, diz:
“A caridade é a
alma do Espiritismo: ela resume todos os deveres do homem para consigo mesmo e
para com os seus semelhantes; eis porque se pode dizer que não há verdadeiro
Espírita sem caridade”.
Kardec alerta para a necessidade de autotransformação e para uma
transformação social mais ampla. O verdadeiro espírita é aquele que todos os dias tenta melhorar-se, não é aquele que se diz e
que os outros dizem que é um santo, mas é aquele que se esforça para
melhorar-se. Cada pessoa é que verdadeiramente sabe de sua própria vida, não
são julgamentos alheios que fazem de uma pessoa melhor ou pior, mas quais as
suas reais intenções e ações. Não é uma questão de os fins justificam os meios
ou não, mas uma relação de bom senso entre as ações e as intenções.
A caridade está associada ao outro, é uma relação humana.
Ficarei, no momento, com a questão social. Existe um grande
debate sobre caridade e assistencialismo. Existe caridade social sem
assistencialismo? Se existe, qual a fronteira entre a
caridade e o assistencialismo?
Vamos a alguns pontos antes de voltarmos a essas perguntas e
a uma maior reflexão. O assistencialismo é uma ferramenta de manutenção do status quo. É
a partir dela que a classe dominante mantém a pobreza e mantém os pobres
quietos, sem se rebelarem contra a situação social. O assistencialismo é
paternalista, no sentido que usa dos bens materiais doados para dizer: “somos
bons, queremos o seu bem”, “temos piedade de sua situação, tome um prato de
sopa”. Talvez não digam essas palavras, para não parecer falso, mas são as
expressões embutidas nas ações. É através do assistencialismo que não se
investe em educação, saúde, melhorias na infra-estrutura, enfim, é dando o
mínimo necessário para sobreviver e “manter paz”.
Voltando às questões postas anteriormente, existe sim,
caridade social sem assistencialismo. Penso que, a caridade social existe
quando é dada não somente a comida ou a roupa necessária para o frio e a fome,
mas quando se, a partir daí, tenha uma responsabilidade humana (social) diante
do outro. Não é apenas dar, mas educar. Não se trata apenas de “não dar o
peixe, mas ensinar a pescar”, mas de conscientizar de sua situação social e
humana. Educar para não ter apenas conquistas materiais, mas educar para ter
uma conduta ética, consciente, que trabalhe para suas conquistas, mas que
trabalhe também para conscientizar-se e conscientizar outros de sua situação.
Deixar de ser produto do meio e passar a ser agente de mudança do meio. E só é
caridade, se todas essas ações forem feitas sem interesses pessoais. Caridade
anda junto com o desinteresse de ganhos pessoais, seja no campo material ou
não. Do contrário não seria caridade. A fronteira entre o assistencialismo e a
caridade está no bom senso. Ninguém deve negar dar assistência a quem precisa,
mas a assistência não deve se transformar em comodismo. Não é uma fronteira
definida em termos de tempo e quantidade, mas uma questão de ver se realmente
precisa de assistência ou se já pode galgar outros passos em busca de sua
consciência e responsabilidade diante do mundo.
Infelizmente, o Movimento Espírita, em sua grande maioria,
pratica o assistencialismo com a maquiagem de caridade. As práticas dentro do
centro espírita são de dar alimento e de doutrinar as pessoas “espiriticamente” para serem pessoas com “moral elevada”. No
máximo, alguns centros oferecem cursos profissionalizantes. Mas será que é só
dar o curso e pronto? O SENAI, O SESC e tantos outros serviços e ONG’s oferecem cursos profissionalizantes, mas nenhum deles
conscientiza da situação social que vive o país. Essa prática espírita é dogmatizante, pois o que recebe ajuda encontra a mesma
situação numa igreja perto da casa espírita, com a mesma proposta. Assim os
espíritas igualam o Centro Espírita a uma Igreja de qualquer religião, que dá o
pão e oferece os “ensinamentos de amor”. Está na hora de o Movimento Espírita
acordar para o seu real papel diante da sociedade, que é imenso. Vai do pão à
conscientização, do recebimento ao amor, não da espiritização.
Não é de espíritas que a sociedade precisa para melhorar, mas de pessoas
conscientes de seu papel diante de si mesmo, do outro e do mundo, sendo
espírita ou não.
Matheus Laureano é Web Designer, estudante de Psicologia e Vice-Presidente da ASSEPE
(Associação de Estudos e Pesquisas Espíritas) de João Pessoa/PB.
Agradecimento
Saúde
e paz, sob as bênçãos de Deus e a proteção do Espírito de Verdade, o Mestre Jesus
(Homem de Nazaré). É profundamente sensibilizado que venho, pela presente,
agradecer aos distintos confrades, a gentileza de terem feito referência ao
livro de minha autoria intitulado “Severino de Freitas Prestes Filho, meu Pai,
meu Mestre”, na seção “Publicações Recebidas” (no boletim América Espírita,
encartado em Opinião, outubro de 2005).
Um grande abraço,
e, mais uma vez, meu muito obrigado por terem feito essa referência ao livro
biográfico sobre meu pai, que publiquei pela editora CELD. Fraternalmente,
Erasto de Carvalho Prestes – Rua Visc. de Moraes, 159/702 – Bairro Ingá – Niterói – CEP 24.210-145.