OPINIÃO Ano XII – Nº
125 Novembro 2005
A SIM ÀS EXPERIÊNCIAS COM CÉLULAS-TRONCO
EMBRIONÁRIAS NÃO À CLONAGEM HUMANA
Nossa
Opinião: Entre o dogma e a
vida
Opinião em Tópicos: Um manifesto para história - Olhos non
futuro -
Vida e dignidade - Nosso tempo é hoje (Milton Medran Moreira)#enfoque
Enfoque: Clonagem de seres humanos e clonagem
terapêutica (Maurice H.
Jones)
SIM ÀS EXPERIÊNCIAS COM CÉLULAS-TRONCO
EMBRIONÁRIAS
NÃO À CLONAGEM HUMANA
Através
do documento “Manifesto
A íntegra do documento
MANIFESTO
Os participantes do 9º
Simpósio Brasileiro do Pensamento Espírita,
Considerando que as obras de Allan Kardec
ensinam:
Que
a união do Espírito ao corpo, na reencarnação, começa na concepção, mas somente se completa no
instante do nascimento e que, só após o nascimento, a ligação Espírito-corpo é
completa e irreversível (“O Livro dos
Espíritos” e “A Gênese”);
Que o Espírito que animará o corpo existe, de alguma forma, fora dele,
não tendo o embrião, portanto, uma alma e que, existem embriões que
não foram destinados à encarnação de um Espírito (“O Livro dos Espíritos”);
Que
o aperfeiçoamento dos seres vivos pela ciência não é contrária à lei natural,
pois “deve-se fazer tudo para alcançar a
perfeição, e o próprio homem é um instrumento do qual Deus se serve para
alcançar seus fins”. (“O Livro dos Espíritos”);
Que a liberdade científica é moralmente justificada, na medida em
que seu uso seja benéfico à humanidade e se mantenha nas fronteiras da ética, o
que está de acordo com a sentença “O
Espiritismo, marchando com o progresso,
nunca se verá derrotado nem superado, porque, se novos descobrimentos lhe
provarem que está em erro num determinado ponto, ele se modificará neste ponto,
e se uma verdade nova se revelasse, ele a aceitaria’. (“A Gênese”);
Que as pesquisas com células-tronco
(CT) trazem esperança de cura para milhões de seres humanos, portadores de
enfermidades incuráveis com os recursos
tecnológicos hoje disponíveis e representam o fruto da intervenção do homem sobre a natureza, desde que pautados
pelo bom senso, equilíbrio, desejo de fazer o bem e
não praticar o mal, sem danos efetivos aos demais indivíduos e à natureza, e,
uma vez colocados ao alcance de todos, correspondem às diretrizes éticas do
Espiritismo, pois tendem a melhorar a qualidade de vida, aliviar o sofrimento,
proporcionar felicidade e potencializar o nosso desenvolvimento
intelecto-moral;
Que
só as células-tronco embrionárias, obtidas de
pré-embriões congelados, são totipotentes, ou
seja, conseguem se diferenciar em todos os 75 trilhões de células existentes e
nos 216 tipos de tecidos que formam o corpo humano, enquanto as CT adultas e de
sangue de cordão umbilical em curso não demonstram o mesmo potencial que o uso
das células-embrionárias, pois não há certeza quanto à diferenciação em outros
tipos de tecidos, assim como não são indicadas para o tratamento de doenças
genéticas e auto-imunes;
Decidem
1.
Declarar-se favoráveis à
continuidade das pesquisas com células-tronco criopreservadas, obtidas de distintas fontes (embrionárias,
clonadas, de sangue de cordão umbilical e adultas),
realizadas em prol de outros seres
humanos, dentro de princípios éticos e legais estabelecidos, para
melhoria do bem estar físico, psicológico, social e espiritual de todos;
2.
Apoiar a plena implementação da Lei de Biossegurança
aprovada pelo Congresso Nacional, que autoriza, com o consentimento dos pais, a
utilização de embriões criopreservados há mais de 3
anos e que não foram empregados nos processos
de fertilização assistida, bem como a proibição
de experimentos com clonagem de seres humanos.
Santos,
15 de outubro de 2005.
Nossa Opinião
ENTRE O DOGMA E A VIDA
Em excelente trabalho apresentado no
IX SBPE e que antecedeu a mesa redonda do dia 15 de outubro, a médica espírita
paulista Alcione Moreno defendeu as experiências com células-tronco
embrionárias. De seu trabalho, retiramos as seguintes afirmativas:
“Sabemos
que em todas as pesquisas, até darem certo, há uma série de obstáculos a serem
vencidos, e entendo o receio de alguns, mas não concordo que o medo seja
paralisante e que não avancem as pesquisas. Creio que, quando o ser humano utiliza
a sua inteligência para o bem, ele consegue fatos extraordinários como vemos
todos os dias”.
“Não
vejo um blastócito como ser humano. Não penso que toda a potencialidade do
espírito possa ser colocada em cheque com placas de laboratório e tubos de
ensaio, há anos sendo estudadas. Não penso que isto deva ser temido”.
“A
meu ver, o plano espiritual e os espíritos têm mais o que fazer do que ficar ao
lado de uma geladeira de laboratório esperando a possibilidade de o blastócito
ser implantado numa mulher e esperar para ver se irá se transformar num feto
para só então poder concluir sua reencarnação”.
Essas afirmativas, bem se vê,
contrariam posições da Igreja Católica e também da Associação Médico-Espírita
do Brasil. Esta última recentemente divulgou Carta de Princípios, onde,
condenando as experiências com células-tronco
embrionárias, sustenta serem as mesmas “realizadas sem o devido respeito ao
embrião, reduzido simplesmente à condição de coisa”.
Faltou à AMEB dizer claramente se
pensa que células-tronco têm alma. Esse “argumento”,
coincidente com o da Igreja, embora nem sempre expresso, foge inteiramente da
racionalidade espírita para se abrigar no terreno da dogmática religiosa,
responsável, na História, por muitos atrasos do conhecimento e da ciência.
Bem examinados, os pressupostos
espíritas, expressos com clareza no manifesto acima transcrito, não se
compatibilizam com o entendimento de que onde haja vida biológica no campo da
genética humana haja, necessariamente, vida espiritual. Não é correta sequer a
afirmação de que um espírito, necessariamente, esteja presente desde a
concepção. Ao contrário, é possível ocorrer todo um processo gestatório sem a
presença do espírito.
Mais apartado ainda da razão espírita será,
assim, o entendimento de que um punhado de células não
destinadas a fins reprodutivos e há anos congeladas preservem uma
identidade espiritual. Utilizar, pois, esse material genético em favor da vida
de terceiros, curando-lhes doenças e fazendo-os mais felizes é, isto sim, um
procedimento eticamente válido e espiritualmente útil.(A Redação).
Editorial
FUNDAMENTALISMOS
“Como as instituições são
estruturas imaginárias, que tendem a consolidar uma cultura de relações de
natureza sistêmica, isto é, mediada por interesse e poder, é enorme o
risco de tais estruturas se
transformarem em lugares de controle e de instrumentalização,
ao invés de contribuírem para a emancipação do espírito humano”. (Luiz Signates- “Os Outros do Outro: a Noção de Alteridade e seus
Usos pelos Espíritas” in “Alteridade – a diferença que soma” –Editora
INEDE-2005).
O fundamentalismo é um produto da
modernidade contra a modernidade. É uma reação ao pluralismo de idéias, à
liberdade de pensar e de interpretar. É a ingênua convicção de que alguns são
detentores da verdade pronta e acabada, provinda de uma autoridade superior e,
portanto, imutável, insubstituível, inquestionável.
Diante do nascimento e do avanço das
liberdades políticas e de crenças, conquistas dos tempos modernos, o espírito
conservador reagiu através do fundamentalismo. Costuma-se vincular o
fundamentalismo contemporâneo à atitude de grupos protestantes dos EUA, no
início do Século XX. Um documento produzido por um movimento autodenominado
fundamentalista, com o título “Os fundamentais – um testemunho em favor da
verdade” foi seu marco. Defendia-se ali
uma atitude de reação aos valores da modernidade. A Bíblia, e só ela, abrigava
a suprema verdade. A “palavra de Deus” ali contida não comportava interpretações.
A única leitura possível seria a literal. O lema desse movimento decretava: “A
sociedade perfeita só se estabelece quando todos se submetem à verdade
religiosa”.
Está aí uma postura arrogante contra
a qual o espiritismo, já em seu nascedouro,
Embora reconhecendo nos espíritos
por ele entrevistados a fonte principal do arcabouço doutrinário espírita,
ressalvou Allan Kardec: “Um dos primeiros resultados
das minhas observações foi que os Espíritos, não sendo senão as almas dos
homens, não tinham nem a soberana sabedoria, nem a soberana ciência; que o seu
saber era limitado ao grau de seu adiantamento, e que a opinião deles não tinha
senão o valor de uma opinião pessoal”. (“Obras Póstumas – Minha Primeira
Iniciação no Espiritismo”).
Esse princípio despe o espiritismo
de qualquer pretensão da posse da verdade total. Elege a prudência, o
raciocínio e o bom senso como instrumentos indispensáveis à busca da verdade e
contribuindo para um espírito de fraternidade universal. Outra conseqüência
lógica de tal postura é o afastamento de qualquer atitude fundamentalista. O
fato de os espíritos afirmarem algo não reveste o conteúdo de sua revelação da
condição de verdade. Mesmo que confiável o médium. Mesmo que, por critérios
subjetivos, grupos ou instituições hajam conferido àquele médium e àquele
espírito qualidades superiores.
Essa é a diferença essencial entre a
revelação espírita (de caráter racional e científico/experimental) e a
revelação religiosa (atribuída sempre a divindades e, assim, por si só,
inquestionável). Grupos espíritas, sejam associações,
federações, uniões, conselhos, etc., por mais respeitáveis, reconhecidos e
responsáveis que sejam, estarão contribuindo com novas versões de
fundamentalismo na medida em que tomarem afirmações atribuídas a um espírito ou
grupo destes como verdades inquestionáveis e definitivas. Mormente quando
algumas dessas revelações contrariam o bom-senso, o senso comum, as opiniões
majoritárias de cientistas e estudiosos honestos e isentos acerca de um tema
posto em discussão na sociedade,
Milton R. Medran
Moreira
Um manifesto
para a história
Mauro de Mesquita Spínola, dileto amigo, comentava, dias atrás, comigo ter sido
uma iniciativa muito feliz a aprovação, no 9º Simpósio Brasileiro do Pensamento
Espírita, do documento “Manifesto
Como se sabe, religiosos de diversos
matizes (tanto católicos como espíritas), têm repudiado
a manipulação de células-tronco embrionárias.
Entendem que sua utilização atenta contra a vida.
Olhos
no futuro
Para Mauro, daqui a uns 50 anos,
quando, com certeza, a utilização desse tipo de células estará consagrada,
aqueles que hoje a combatem por razões religiosas serão apontados como exemplos
do atraso. Mas quem decidir investigar melhor irá localizar um segmento menos
numeroso, dentro do movimento espírita, que apoiou esse tipo de pesquisa e fez
publicar, inclusive, um manifesto nesse sentido.
Diferentemente, a Associação Médico-Espírita,
em sua Carta de Princípios, condena a utilização de células-tronco
embrionárias. Expressamente diz que “uma vida (a do embrião) não pode ser
interrompida em benefício de outra”.
A que tipo de vida se refere? À vida
biológica, naturalmente. Seria insustentável afirmar que num conjunto de
células guardadas em um freezer por três ou quatro anos, haja a presença de uma
entidade espiritual.
Ora, a todo o dia e a toda hora,
interrompemos bilhões de vidas em benefício da vida humana. Não fazemos outra
coisa quando comemos uma folha de alface, saboreamos um filé ou tomamos um chá
de ervas para dor-de-barriga.
Vida
e dignidade
A vida que, prioritariamente,
devemos preservar é a vida do espírito, garantido-lhe
a dignidade. O espiritismo é uma generosa proposta de humanismo que tem por
base a realidade do espírito como sujeito de obrigações mas
também de direitos.
Nesse sentido, todo o avanço da
ciência que torna o homem (espírito encarnado) mais feliz deve, em princípio,
merecer o apoio da comunidade espírita.
Essa visão tem outras conotações
que, facilmente, passam desapercebidas por quem
visualiza a vida sob o prisma religioso. É comum, por exemplo, quando se trata
do processo de criação da vida humana, reconhecerem-se direitos exclusivos ao
nascituro, negando-os à gestante. O espiritismo rompeu com essa visão, até hoje
adotada pelo catolicismo, quando reputou legítimo o abortamento em caso de
perigo à vida da gestante. O Direito, depois do advento do espiritismo,
avançou, admitindo outras causas excludentes de criminalidade para o aborto. De
maneira geral, os espíritas não as reconhecem. No entanto, sob um aspecto
ético, humano e moral, como condenar, por exemplo, um aborto autorizado em caso
de feto anencéfalo? Ou quando, sob o império da lei,
uma jovem abusada sexualmente pelo pai ou padrasto, interrompe a gestação daí
advinda?
Nosso
tempo é hoje
É preciso dar conhecimento à
sociedade de que, no âmbito do movimento espírita, essas questões merecem
discussões e conclusões que nem sempre são as das Associações
Jurídico-Espíritas ou Médico-Espíritas. Muitos juristas e médicos espíritas não
integram esses organismos. Não porque não o queiram, mas porque não são
convidados. Suas agendas de debate são, ali, previamente rechaçadas, em nome de
princípios tidos como inamovíveis. E, no entanto, seus argumentos são
genuinamente espíritas: têm base na própria obra de Kardec
e reclamam exame e debate sob um prisma progressista e livre-pensador.
Mauro tem razão. O Manifesto
ABRADE e ADE-PE lançam
em Recife livro sobre alteridade
“A Arte, como representação subjetiva
do mundo, explode do interior do artista com um objetivo definido: ferir os
sentidos do outro, provocar no outro um sentimento qualquer a partir da
essência da sua estética”. Com essa afirmação, o poeta e cantador Merlânio Maia iniciou sua fala na sessão de lançamento do
livro “Alteridade, a diferença que soma”, realizada no dia 12
de outubro em Recife, como parte da V Bienal Internacional do Livro de
Pernambuco.
Merlânio é
um dos quatro autores do livro que estiveram presentes na tarde de lançamento
no Teatro do Brum, no Centro de Convenções. Os outros
autores foram: Wilson Garcia,
O livro “Alteridade, a
diferença que soma” é um projeto da Associação Brasileira de
Divulgadores do Espiritismo (Abrade) que está sendo
publicado em parceria com a Editora Inede, de Belo
Horizonte, dirigida por Fátima Ferreira e Antonio de Souza. Compõe-se de oito
textos que têm como ponto central a ética da alteridade em suas relações com os
saberes diversos e pontos de contato com a ética espírita.
Recebem um tratamento especial por
parte dos autores questões importantes da cultura contemporânea, como educação,
pluralidade cultural e étnica, política e pensamento democrático, alteridade e
produção do conhecimento no espiritismo, alteridade nas organizações humanas,
justiça social e arte, entre outros.
O evento de lançamento do livro
contou com a presença de cerca de 80 pessoas e teve a participação, além dos
autores referidos, do presidente da Abrade, Gezsler Carlos West e Raquel
Maia, da Ade-PB.
A Editora Inede
participou também da Feira Internacional do Livro de Pernambuco com um estande
montado no centro de exposições, onde apresentou outras obras de seu catálogo.
Formato
15 x
Edição e
distribuição: INEDE
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Fone: (31) 3278-2621
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Preço de
capa: R$ 20,00
Maiores
informações
e-mail:
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CIESP 2006 – CURSOS DE INICIAÇÃO AO
ESPIRITISMO
A partir de março, o
Ministrado pelos experientes
A inscrição é gratuita.
Programa 2006
Início – Curso Diurno: dia 28 de
Março, 4ª feira, às 15 hs.
Curso Noturno: dia 24 de Março, 5ª feira, às
20h30.
PARAPSICOLOGIA E ESPIRITISMO
Mais de 70 pessoas participaram do
Seminário “Parapsicologia e Espiritismo”, ministrado no
Convidado pelo Departamento de
Eventos do Centro Cultural Espírita de Porto Alegre, o expositor, que é
escritor, físico e autor de obras sobre parapsicologia e física moderna, fez
interessantes abordagens, especialmente estabelecendo conexões entre os
fenômenos espíritas e a ciência moderna.
DRA. MARIA DA GRAÇA, A CONFERENCISTA DE NOVEMBRO
Neste 7 de
Novembro, primeira segunda-feira do mês, o Centro Cultural Espírita de Porto
Alegre promoveu palestra sobre “Reforma Íntima sob a ótica psicológica e
espírita”, com a psicóloga Maria da Graça Serpa. Horário:20h30.
Mais de 50 pessoas assistiram ao
trabalho e interagiram com a conferencista que fez conexões entre psicologia,
cristianismo e espiritismo.
MAURO SPÍNOLA VISITOU
Mauro de Mesquita Spínola, engenheiro paulista, 2º secretário da CEPA, esteve
em Porto Alegre, em atividades profissionais, ocasião em que visitou o Centro
Cultural Espírita de Porto Alegre.
Aproveitando a presença de Mauro, o
O Grupo de Conversação Espírita, com
participação aberta ao público, acontece a partir das 20h30 das
segundas-feiras.
CLONAGEM DE SERES HUMANOS E CLONAGEM TERAPÊUTICA
- A opinião de um médico espírita –
Tão logo foi publicado na Lista de Discussão da CEPA o
“Manifesto
“Lendo atentamente o Manifesto
Pergunto:
como apoiar a continuidade de pesquisas com células-tronco
inclusive com as clonadas e, ao mesmo
tempo, ser contra a clonagem de seres humanos?”.
Lançada a
questão, o médico espírita Ademar Arthur Chioro dos
Reis (*) (Santos/SP), proponente do manifesto, inseriu na lista as seguintes
considerações:
“Trata-se de uma área para
exploração científica com potenciais ainda indefinidos a que envolve o uso de células-tronco, células primordiais indiferenciadas que
retêm a capacidade de se transformar em qualquer tipo de tecido.
Uma coisa é isolar células-tronco embriônicas humanas em função da possibilidade de banhar as
células-tronco num coquetel de fatores que poderiam
provocar, por exemplo, a produção de tecido pancreático secretor de insulina a
partir das células-tronco de um paciente com
diabetes, tornar a preencher os músculos gastos em pacientes com distrofia
muscular, ou ainda, reconstituir a bainha de mielina do sistema nervoso de
pacientes que sofrem de Esclerose Múltipla, uma doença degenerativa hoje
incurável. A controvérsia, neste caso, não surge em função dos possíveis
usos terapêuticos, mas ditada por preocupações éticas relativas ao aborto, uma
vez que a melhor fonte para essas células são os embriões humanos.
Na
pesquisa de clonagem de seres humanos, os maiores receios são os riscos de que
as pesquisas gerem bebês deformados, aberrações genéticas e abortamentos em
massa e eutanásia dos que vierem a ser concebidos com anormalidades (essas duas
últimas questões, em particular, inaceitáveis para a comunidade cristã).
Para
a obtenção de clones de animais, centenas de embriões e aberrações genéticas
são produzidas em laboratório e eliminadas natural ou artificialmente antes da
concepção. Nas pesquisas com seres humanos, se alguma situação anormal for
identificada, restarão três alternativas: o tratamento fetal (hipotético, pois
ainda inexistente), o abortamento ou a eutanásia, ainda
ilegais em muitos países, eticamente questionáveis e condenável pela maioria
das religiões.
Há
mais de 25 anos, quando nasceu o primeiro bebê por inseminação artificial in vitro (proveta), as técnicas davam certo em menos de 5% dos casos
(atualmente já se atinge 50%). Para cada três bebês sadios clonados,
estima-se que deverão ser produzidos 200 fetos monstruosos destinados à morte.
A clonagem humana tem 1,5% de chance de produzir um bebê vivo, não
necessariamente sadio (para os 3 sadios previstos, prevê-se,
outros 5 chegarão a termo, mas terão que ser submetidos à eutanásia logo depois
do parto).
Temos
apenas oito anos de experiência. O domínio da tecnologia ainda é incipiente e
deve apresentar os mesmos problemas enfrentados com a clonagem de animais. Os
clones humanos poderão sofrer com excesso de peso, envelhecimento precoce e
doenças crônico-degenerativas ainda na infância. As limitações de ordem
tecnológica são apontadas por todos os centros de genética e reprodução do
mundo como um impeditivo para o avanço das pesquisas nesse campo (sem contar as
limitações de ordem ética).
Devem-se
levar em consideração, entretanto, além dos usos terapêuticos potenciais, as
possibilidades perversas com que tal tecnologia pode ser manipulada. A
esperança que pode trazer para um portador de deficiência, por um lado, e o patenteamento e busca desenfreada pelo lucro, por outro,
são exemplos que se contrapõem objetivamente à sociedade.
Estamos
cada vez mais próximos de dominar a tecnologia da criação da vida. Dominamos
tecnologias de ponta, mas a humanidade tem se demonstrado incapaz de enfrentar
a fome, as epidemias, os danos ao meio ambiente e a miséria generalizada.
A
clonagem é um problema bio-técnico-científico
colocado para a sociedade, mas é também um instigante dilema de ordem ético-espiritual.
Creio
que o papel da sociedade civil e dos espíritas, enquanto movimento social, é o de manter vigilância que garanta a manutenção da
inquietude e da liberdade científicas sem, contudo, provocar a emergência de um
terror que impeça a reflexão e a ponderação cuidadosas frente às novas
descobertas.
Segundo
Einstein “devemos evitar superestimar a ciência e os métodos científicos quando
se trata de problemas humanos. Não devemos presumir que os especialistas sejam
os únicos que têm direito de opinar sobre questões que dizem respeito à
organização e o futuro da sociedade”.
As
pesquisas genéticas devem ser estimuladas, principalmente se tiverem objetivos
que tragam benefícios futuros à sociedade e ao meio ambiente em que vivemos.
Com
que base podemos nos insurgir, utilizando argumentos
absolutamente inconsistentes, tais como rejeição perispiritual,
fluídica/energética ou mesmo espiritual, contra o acesso a tecnologias que
possam, por exemplo, duplicar um fígado de um candidato a transplante hepático
a partir de uma célula sadia isolada num órgão doente, sem riscos de rejeição?
Ao mesmo tempo, como se calar diante da clonagem de um milionário ou
personalidade excêntrica que por razões absolutamente egoísticas, sem nenhuma
fundamentação humanitária, optem por esse procedimento?
Uma
descoberta científica não é ética ou antiética. Torna-se antiética quando é
utilizada de forma atentatória aos valores que cultivamos, como respeito à
vida, à individualidade, à diferença, compreensão e solidariedade. Creio que do
ponto de vista espírita, não se pode admitir que a manipulação de padrões
genéticos seja efetuada para mera satisfação da vaidade ou da mercantilização da investigação científica. Não há
justificativa ética que sustente tais finalidades. Mas não se pode obstaculizar
o avanço de tecnologias que sejam colocadas a serviço da humanidade, como por
exemplo, a utilização da replicagem genética para a
produção de órgãos destinadas a transplantes ou produção de
terapias que recuperem a saúde de milhões de seres desenganados.
A
alegação de que não se podem impedir provas e expiações
determinadas por Deus para as criaturas é absurda e dogmática. Trata-se
de inaceitável perspectiva fundamentalista de que o destino é traçado e que o
homem não possui livre-arbítrio para lutar, com todos os recursos e energia
disponíveis, para superar os limites que a vida lhe impõe (o que não significa
deixar de se resignar e viver com dignidade quando esses limites não puderem
ser ultrapassados ou vencidos).
Sou
contra a realização, no momento, da clonagem de seres humanos, por motivos
éticos e de consciência. As críticas dos cientistas que se opõem à clonagem
nesse momento são fundamentadas. Não se trata de um procedimento científico
corriqueiro e que a sociedade tem o direito de contar com um grau de certeza
maior sobre o destino que está reservado para pesquisas desta natureza e as
suas conseqüências sobre diversos aspectos, inclusive os técnicos e éticos
(princípios que se aplicam e podem ser estendidos, sem dúvida, para toda e
qualquer nova incorporação tecnológica e científica que extrapole os limites do
que convencionamos – ou contratamos – socialmente como ético).
Entretanto,
do ponto de vista hipotético, a clonagem de seres humanos, que tanta celeuma
tem trazido, na perspectiva do Espírito, não seria um
problema (insistimos que estamos tratando do assunto no plano das hipóteses),
que torne a sua realização um “pecado” ou mesmo condenável. Sob a ótica
espírita, à semelhança do que ocorre em gêmeos idênticos, a individualidade
espiritual que presidirá a criatura concebida a partir da manipulação genética
é absolutamente distinta da que lhe fornece o patrimônio genético. Existia
antes, independentemente, e assim continuará existindo, apesar da absoluta
semelhança do ponto de vista corpóreo.
Seria, sem dúvida,
mais uma demonstração de que o genótipo é extremamente importante para explicar
o que somos (e como somos), mas incapaz de produzir um clone que pense, sinta,
aja e viva reproduzindo os padrões complexos de existência de seu pai ou mãe
biológicos, consolidando a percepção de que aquilo que nos efetivamente
individualiza é o princípio inteligente, o Espírito imortal.
Creio
também que não haveria nenhuma diferença no processo de formação do perispírito e do campo energético que cada uma das
criaturas forma na fecundação pelos métodos tradicionais ou pela inseminação in vitro.
A
grande contribuição do Espiritismo nesse debate é a afirmação da existência do
Espírito, da imortalidade da alma e da evolução infinita, ao agregar a dimensão
extracorpórea das criaturas: o princípio espiritual. Demonstra, a partir dos fatos pela via da
experimentação, a preexistência, a existência e a sobrevivência da alma, que
conserva todas as faculdades intelectuais, morais e espirituais depois do
desencarne.
O Espiritismo somente manterá sua atualidade e importância se conseguir apresentar essa contribuição para o pensamento humano. E esse é um trabalho que depende, para começar, de cada um de nós. Esperamos que não seja tarde...”