OPINIÃO Ano XII – 125 Novembro 2005

A SIM ÀS EXPERIÊNCIAS COM CÉLULAS-TRONCO EMBRIONÁRIAS NÃO À CLONAGEM HUMANA

Nossa Opinião:   Entre o dogma e a vida

Editorial:  Fundamentalismos

Notícias:   ABRADE e ADE-PE lançam em Recife livro sobre alteridade  - CIESP 2006-Cursos de iniciação ao espiritismo  -   Parapsicologia e espiritismo  -   Dra. Maria da graça, a conferencista de novembro  -  Mauro Spínola visitou CCEPA   

Opinião em Tópicos:   Um manifesto para história  -   Olhos non futuro  -  Vida e dignidade  -  Nosso tempo é hoje (Milton Medran Moreira)#enfoque

Enfoque:    Clonagem de seres humanos e clonagem terapêutica (Maurice H. Jones)

 

 

SIM ÀS EXPERIÊNCIAS COM CÉLULAS-TRONCO EMBRIONÁRIAS

NÃO À CLONAGEM HUMANA

 

            Através do documento “Manifesto em Defesa da Vida”, os participantes do 9º Simpósio Brasileiro do Pensamento Espírita (Santos/SP- 13 a 16/10/05) tomaram posição favorável às experiências com as células-tronco criopreservadas, incluindo as embrionárias. O manifesto, que vai a seguir transcrito, foi proposto na Mesa Redonda sobre “Ética Espírita e Aborto, Eutanásia, Células Embrionárias e Anencefalia”. Da mesa, sob a coordenação de Jaci Regis, participaram profissionais espíritas da área do Direito (Milton Medran Moreira, Jacira Jacinto da Silva e Marcelo Henrique Pereira) e da Medicina (Alcione Moreno, Maria Cristina Zaina e Ademar Arthur Chioro dos Reis). O manifesto proposto pelo médico Ademar Arthur, teve redação final aprovada no encerramento do Simpósio.

 

A íntegra do documento

 

MANIFESTO EM DEFESA DA VIDA

 

Os participantes do 9º Simpósio Brasileiro do Pensamento Espírita,

 

Considerando que as obras de Allan Kardec ensinam:

 

            Que a união do Espírito ao corpo, na reencarnação, começa na concepção, mas somente se completa no instante do nascimento e que, só após o nascimento, a ligação Espírito-corpo é completa e irreversível (“O Livro dos Espíritos” e “A Gênese”);

Que o Espírito que animará o corpo existe, de alguma forma, fora dele, não tendo o embrião, portanto, uma alma e que, existem embriões que não foram destinados à encarnação de um Espírito (“O Livro dos Espíritos”);

            Que o aperfeiçoamento dos seres vivos pela ciência não é contrária à lei natural, pois “deve-se fazer tudo para alcançar a perfeição, e o próprio homem é um instrumento do qual Deus se serve para alcançar seus fins”. (“O Livro dos Espíritos”);

Que a liberdade científica é moralmente justificada, na medida em que seu uso seja benéfico à humanidade e se mantenha nas fronteiras da ética, o que está de acordo com a sentença “O Espiritismo, marchando com o progresso, nunca se verá derrotado nem superado, porque, se novos descobrimentos lhe provarem que está em erro num determinado ponto, ele se modificará neste ponto, e se uma verdade nova se revelasse, ele a aceitaria’. (“A Gênese”);

            Que as pesquisas com células-tronco (CT) trazem esperança de cura para milhões de seres humanos, portadores de enfermidades incuráveis com os recursos tecnológicos hoje disponíveis e representam o fruto da intervenção do homem sobre a natureza, desde que pautados pelo bom senso, equilíbrio, desejo de fazer o bem e não praticar o mal, sem danos efetivos aos demais indivíduos e à natureza, e, uma vez colocados ao alcance de todos, correspondem às diretrizes éticas do Espiritismo, pois tendem a melhorar a qualidade de vida, aliviar o sofrimento, proporcionar felicidade e potencializar o nosso desenvolvimento intelecto-moral;

 

            Que só as células-tronco embrionárias, obtidas de pré-embriões congelados, são totipotentes, ou seja, conseguem se diferenciar em todos os 75 trilhões de células existentes e nos 216 tipos de tecidos que formam o corpo humano, enquanto as CT adultas e de sangue de cordão umbilical em curso não demonstram o mesmo potencial que o uso das células-embrionárias, pois não há certeza quanto à diferenciação em outros tipos de tecidos, assim como não são indicadas para o tratamento de doenças genéticas e auto-imunes;

 

 

Decidem

 

1.      Declarar-se favoráveis à continuidade das pesquisas com células-tronco criopreservadas, obtidas de distintas fontes (embrionárias, clonadas, de sangue de cordão umbilical e adultas), realizadas em prol de outros seres humanos, dentro de princípios éticos e legais estabelecidos, para melhoria do bem estar físico, psicológico, social e espiritual de todos;

2.      Apoiar a plena implementação da Lei de Biossegurança aprovada pelo Congresso Nacional, que autoriza, com o consentimento dos pais, a utilização de embriões criopreservados há mais de 3 anos e que não foram empregados nos processos de fertilização assistida, bem como a proibição de experimentos com clonagem de seres humanos.

                                               Santos, 15 de outubro de 2005.

 

Nossa Opinião

ENTRE O DOGMA E A VIDA

            Em excelente trabalho apresentado no IX SBPE e que antecedeu a mesa redonda do dia 15 de outubro, a médica espírita paulista Alcione Moreno defendeu as experiências com células-tronco embrionárias. De seu trabalho, retiramos as seguintes afirmativas:

            “Sabemos que em todas as pesquisas, até darem certo, há uma série de obstáculos a serem vencidos, e entendo o receio de alguns, mas não concordo que o medo seja paralisante e que não avancem as pesquisas. Creio que, quando o ser humano utiliza a sua inteligência para o bem, ele consegue fatos extraordinários como vemos todos os dias”.

            “Não vejo um blastócito como ser humano. Não penso que toda a potencialidade do espírito possa ser colocada em cheque com placas de laboratório e tubos de ensaio, há anos sendo estudadas. Não penso que isto deva ser temido”. 

            “A meu ver, o plano espiritual e os espíritos têm mais o que fazer do que ficar ao lado de uma geladeira de laboratório esperando a possibilidade de o blastócito ser implantado numa mulher e esperar para ver se irá se transformar num feto para só então poder concluir sua reencarnação”.

            Essas afirmativas, bem se vê, contrariam posições da Igreja Católica e também da Associação Médico-Espírita do Brasil. Esta última recentemente divulgou Carta de Princípios, onde, condenando as experiências com células-tronco embrionárias, sustenta serem as mesmas “realizadas sem o devido respeito ao embrião, reduzido simplesmente à condição de coisa”.

            Faltou à AMEB dizer claramente se pensa que células-tronco têm alma. Esse “argumento”, coincidente com o da Igreja, embora nem sempre expresso, foge inteiramente da racionalidade espírita para se abrigar no terreno da dogmática religiosa, responsável, na História, por muitos atrasos do conhecimento e da ciência.

            Bem examinados, os pressupostos espíritas, expressos com clareza no manifesto acima transcrito, não se compatibilizam com o entendimento de que onde haja vida biológica no campo da genética humana haja, necessariamente, vida espiritual. Não é correta sequer a afirmação de que um espírito, necessariamente, esteja presente desde a concepção. Ao contrário, é possível ocorrer todo um processo gestatório sem a presença do espírito.

             Mais apartado ainda da razão espírita será, assim, o entendimento de que um punhado de células não destinadas a fins reprodutivos e há anos congeladas preservem uma identidade espiritual. Utilizar, pois, esse material genético em favor da vida de terceiros, curando-lhes doenças e fazendo-os mais felizes é, isto sim, um procedimento eticamente válido e espiritualmente útil.(A Redação).

 

Editorial

FUNDAMENTALISMOS

 

                “Como  as instituições são estruturas imaginárias, que tendem a consolidar uma cultura de relações de natureza sistêmica, isto é, mediada por interesse e poder, é enorme o risco  de tais estruturas se transformarem em lugares de controle e de instrumentalização, ao invés de contribuírem para a emancipação do espírito humano”. (Luiz Signates- “Os Outros do Outro: a Noção de Alteridade e seus Usos pelos Espíritas” in “Alteridade – a diferença que soma” –Editora INEDE-2005).

 

            O fundamentalismo é um produto da modernidade contra a modernidade. É uma reação ao pluralismo de idéias, à liberdade de pensar e de interpretar. É a ingênua convicção de que alguns são detentores da verdade pronta e acabada, provinda de uma autoridade superior e, portanto, imutável, insubstituível, inquestionável.

            Diante do nascimento e do avanço das liberdades políticas e de crenças, conquistas dos tempos modernos, o espírito conservador reagiu através do fundamentalismo. Costuma-se vincular o fundamentalismo contemporâneo à atitude de grupos protestantes dos EUA, no início do Século XX. Um documento produzido por um movimento autodenominado fundamentalista, com o título “Os fundamentais – um testemunho em favor da verdade” foi seu marco.  Defendia-se ali uma atitude de reação aos valores da modernidade. A Bíblia, e só ela, abrigava a suprema verdade. A “palavra de Deus” ali contida não comportava interpretações. A única leitura possível seria a literal. O lema desse movimento decretava: “A sociedade perfeita só se estabelece quando todos se submetem à verdade religiosa”.

            Está aí uma postura arrogante contra a qual o espiritismo, já em seu nascedouro, em meados do Século XIX, ofereceu-se como antídoto. Propondo a existência do espírito como realidade fundamental da vida, Kardec vislumbrou possível a aliança da ciência e da religião, do conhecimento e da moral, das questões alusivas ao espírito e daquelas inerentes à matéria. A base factual dessa proposta foi o concreto intercâmbio com os espíritos que ele provou possível e reputou útil.

            Embora reconhecendo nos espíritos por ele entrevistados a fonte principal do arcabouço doutrinário espírita, ressalvou Allan Kardec: “Um dos primeiros resultados das minhas observações foi que os Espíritos, não sendo senão as almas dos homens, não tinham nem a soberana sabedoria, nem a soberana ciência; que o seu saber era limitado ao grau de seu adiantamento, e que a opinião deles não tinha senão o valor de uma opinião pessoal”. (“Obras Póstumas – Minha Primeira Iniciação no Espiritismo”).

            Esse princípio despe o espiritismo de qualquer pretensão da posse da verdade total. Elege a prudência, o raciocínio e o bom senso como instrumentos indispensáveis à busca da verdade e contribuindo para um espírito de fraternidade universal. Outra conseqüência lógica de tal postura é o afastamento de qualquer atitude fundamentalista. O fato de os espíritos afirmarem algo não reveste o conteúdo de sua revelação da condição de verdade. Mesmo que confiável o médium. Mesmo que, por critérios subjetivos, grupos ou instituições hajam conferido àquele médium e àquele espírito qualidades superiores.

            Essa é a diferença essencial entre a revelação espírita (de caráter racional e científico/experimental) e a revelação religiosa (atribuída sempre a divindades e, assim, por si só, inquestionável). Grupos espíritas, sejam associações, federações, uniões, conselhos, etc., por mais respeitáveis, reconhecidos e responsáveis que sejam, estarão contribuindo com novas versões de fundamentalismo na medida em que tomarem afirmações atribuídas a um espírito ou grupo destes como verdades inquestionáveis e definitivas. Mormente quando algumas dessas revelações contrariam o bom-senso, o senso comum, as opiniões majoritárias de cientistas e estudiosos honestos e isentos acerca de um tema posto em discussão na sociedade, em dado momento. Mais ainda: posturas dessa ordem obstaculizam e retardam uma das mais nobres tarefas do espiritismo, qual seja a de contribuir para um mundo mais fraterno, alteritário e tolerante.

           

 Opinião em Tópicos

Milton R. Medran Moreira

 

            Um manifesto para a história

            Mauro de Mesquita Spínola, dileto amigo, comentava, dias atrás, comigo ter sido uma iniciativa muito feliz a aprovação, no 9º Simpósio Brasileiro do Pensamento Espírita, do documento “Manifesto em Defesa da Vida”. Nele, um importante segmento do pensamento espírita brasileiro, que, desde 1989, exercita, de dois em dois anos, em Santos/SP, a tarefa de pensar o espiritismo a partir de uma ótica progressista e livre-pensadora, posicionou-se em favor da pesquisa com as chamadas “células-tronco criopreservadas”. Criopreservadas quer dizer: conservadas em baixíssimas temperaturas. A maioria dessas células pertence a embriões descartados, há vários anos, em clínicas de fertilização. São células-tronco embrionárias que, no entanto, jamais serão utilizados para outro fim. Já não estão mais destinados à implantação em um útero com o fim de gerar uma nova vida, pois foram descartadas. Mas têm um imenso potencial terapêutico que outros tipos de células-tronco não possuem.

            Como se sabe, religiosos de diversos matizes (tanto católicos como espíritas), têm repudiado a manipulação de células-tronco embrionárias. Entendem que sua utilização atenta contra a vida.

            Olhos no futuro

            Para Mauro, daqui a uns 50 anos, quando, com certeza, a utilização desse tipo de células estará consagrada, aqueles que hoje a combatem por razões religiosas serão apontados como exemplos do atraso. Mas quem decidir investigar melhor irá localizar um segmento menos numeroso, dentro do movimento espírita, que apoiou esse tipo de pesquisa e fez publicar, inclusive, um manifesto nesse sentido.

            Diferentemente, a Associação Médico-Espírita, em sua Carta de Princípios, condena a utilização de células-tronco embrionárias. Expressamente diz que “uma vida (a do embrião) não pode ser interrompida em benefício de outra”.

            A que tipo de vida se refere? À vida biológica, naturalmente. Seria insustentável afirmar que num conjunto de células guardadas em um freezer por três ou quatro anos, haja a presença de uma entidade espiritual.

            Ora, a todo o dia e a toda hora, interrompemos bilhões de vidas em benefício da vida humana. Não fazemos outra coisa quando comemos uma folha de alface, saboreamos um filé ou tomamos um chá de ervas para dor-de-barriga.

            Vida e dignidade

            A vida que, prioritariamente, devemos preservar é a vida do espírito, garantido-lhe a dignidade. O espiritismo é uma generosa proposta de humanismo que tem por base a realidade do espírito como sujeito de obrigações mas também de direitos.

            Nesse sentido, todo o avanço da ciência que torna o homem (espírito encarnado) mais feliz deve, em princípio, merecer o apoio da comunidade espírita.

            Essa visão tem outras conotações que, facilmente, passam desapercebidas por quem visualiza a vida sob o prisma religioso. É comum, por exemplo, quando se trata do processo de criação da vida humana, reconhecerem-se direitos exclusivos ao nascituro, negando-os à gestante. O espiritismo rompeu com essa visão, até hoje adotada pelo catolicismo, quando reputou legítimo o abortamento em caso de perigo à vida da gestante. O Direito, depois do advento do espiritismo, avançou, admitindo outras causas excludentes de criminalidade para o aborto. De maneira geral, os espíritas não as reconhecem. No entanto, sob um aspecto ético, humano e moral, como condenar, por exemplo, um aborto autorizado em caso de feto anencéfalo? Ou quando, sob o império da lei, uma jovem abusada sexualmente pelo pai ou padrasto, interrompe a gestação daí advinda?

            Nosso tempo é hoje

            É preciso dar conhecimento à sociedade de que, no âmbito do movimento espírita, essas questões merecem discussões e conclusões que nem sempre são as das Associações Jurídico-Espíritas ou Médico-Espíritas. Muitos juristas e médicos espíritas não integram esses organismos. Não porque não o queiram, mas porque não são convidados. Suas agendas de debate são, ali, previamente rechaçadas, em nome de princípios tidos como inamovíveis. E, no entanto, seus argumentos são genuinamente espíritas: têm base na própria obra de Kardec e reclamam exame e debate sob um prisma progressista e livre-pensador.

            Mauro tem razão. O Manifesto em Defesa da Vida marca uma posição que teria, necessariamente, de ser tomada hoje, para que não se percam, amanhã, os valores humanísticos sobre os quais foi edificada a proposta espírita.          

 

Notícias

 

ABRADE e ADE-PE lançam em Recife livro sobre alteridade

 

            “A Arte, como representação subjetiva do mundo, explode do interior do artista com um objetivo definido: ferir os sentidos do outro, provocar no outro um sentimento qualquer a partir da essência da sua estética”. Com essa afirmação, o poeta e cantador Merlânio Maia iniciou sua fala na sessão de lançamento do livro “Alteridade, a diferença que soma”, realizada no dia 12 de outubro em Recife, como parte da V Bienal Internacional do Livro de Pernambuco.

            Merlânio é um dos quatro autores do livro que estiveram presentes na tarde de lançamento no Teatro do Brum, no Centro de Convenções. Os outros autores foram: Wilson Garcia, Carlos Pereira e Fernando Clímaco. Completam o grupo de autores do livro: Marcelo Henrique, Luís Signates e Paulo R. Santos.

            O livro “Alteridade, a diferença que soma” é um projeto da Associação Brasileira de Divulgadores do Espiritismo (Abrade) que está sendo publicado em parceria com a Editora Inede, de Belo Horizonte, dirigida por Fátima Ferreira e Antonio de Souza. Compõe-se de oito textos que têm como ponto central a ética da alteridade em suas relações com os saberes diversos e pontos de contato com a ética espírita.

            Recebem um tratamento especial por parte dos autores questões importantes da cultura contemporânea, como educação, pluralidade cultural e étnica, política e pensamento democrático, alteridade e produção do conhecimento no espiritismo, alteridade nas organizações humanas, justiça social e arte, entre outros.

            O evento de lançamento do livro contou com a presença de cerca de 80 pessoas e teve a participação, além dos autores referidos, do presidente da Abrade, Gezsler Carlos West e Raquel Maia, da Ade-PB.

            A Editora Inede participou também da Feira Internacional do Livro de Pernambuco com um estande montado no centro de exposições, onde apresentou outras obras de seu catálogo.

Ficha Técnica

Formato 15 x 21 cm, 162 págs., capa em policromia.

Edição e distribuição: INEDE                                                         

Rua Suassuí, 266 – Bairro Carlos Prestes

Belo Horizonte, MG – Cep 30.710-240

Fone: (31) 3278-2621

www.inede.com.br

Preço de capa: R$ 20,00

Maiores informações com Wilson Garcia, Assessor de Comunicação da Abrade.

e-mail: ascom@abrade.com.br

 

CIESP 2006 – CURSOS DE INICIAÇÃO AO ESPIRITISMO

 

            A partir de março, o CCEPA, Centro Cultural Espírita de Porto Alegre, oferece a todos os interessados a versão 2006 de seu bem sucedido Curso de Iniciação ao Espiritismo.

            Ministrado pelos experientes Maurice Herbert Jones e Salomão J. Benchaya, o curso se desdobra em seis módulos enfocando aspectos fundamentais da história, da ciência, da filosofia e da moral espírita.

            A inscrição é gratuita.

            Programa 2006

            Início – Curso Diurno: dia 28 de Março, 4ª feira, às 15 hs.

                          Curso Noturno: dia 24 de Março, 5ª feira, às 20h30.

 

 

PARAPSICOLOGIA E ESPIRITISMO

            Mais de 70 pessoas participaram do Seminário “Parapsicologia e Espiritismo”, ministrado no CCEPA, pelo Prof. Moacir Araújo Lima, na noite de 28 e na tarde de 29 de outubro último.

            Convidado pelo Departamento de Eventos do Centro Cultural Espírita de Porto Alegre, o expositor, que é escritor, físico e autor de obras sobre parapsicologia e física moderna, fez interessantes abordagens, especialmente estabelecendo conexões entre os fenômenos espíritas e a ciência moderna.

 

 

DRA. MARIA DA GRAÇA, A CONFERENCISTA DE NOVEMBRO

            Neste 7 de Novembro, primeira segunda-feira do mês, o Centro Cultural Espírita de Porto Alegre promoveu palestra sobre “Reforma Íntima sob a ótica psicológica e espírita”, com a psicóloga Maria da Graça Serpa. Horário:20h30.

            Mais de 50 pessoas assistiram ao trabalho e interagiram com a conferencista que fez conexões entre psicologia, cristianismo e espiritismo.

 

MAURO SPÍNOLA VISITOU CCEPA

            Mauro de Mesquita Spínola, engenheiro paulista, 2º secretário da CEPA, esteve em Porto Alegre, em atividades profissionais, ocasião em que visitou o Centro Cultural Espírita de Porto Alegre.

            Aproveitando a presença de Mauro, o CCEPA convidou-o para atuar como provocador da reunião semanal do Grupo de Conversação Espírita da noite de 31 de outubro último. A atividade, levada a cabo todas as segundas-feiras (com a exceção da primeira do mês, na qual se realiza uma palestra pública), reúne interessados na discussão de temas propostos por um expositor da Casa, com enfoque espírita. Mauro suscitou a temática “Espiritismo e Lei de Sociedade”.

            O Grupo de Conversação Espírita, com participação aberta ao público, acontece a partir das 20h30 das segundas-feiras.

           

Enfoque

 

CLONAGEM DE SERES HUMANOS E CLONAGEM TERAPÊUTICA

- A opinião de um médico espírita –

 

            Tão logo foi publicado na Lista de Discussão da CEPA o “Manifesto em Defesa da Vida” (ver capa desta edição), um atento participante daquele grupo na Internet, Antônio Margarido (São Paulo), lançou para o grupo a seguinte indagação:

            “Lendo atentamente o Manifesto em Defesa da Vida, nas conclusões consta, no item 1, declaração favorável à continuidade das pesquisas com células-tronco criopreservadas, obtidas de distintas fontes (embrionárias, clonadas...) e, no item 2, apoio à implementação da Lei de Biossegurança e ainda à proibição de experimentos com clonagem de seres humanos,

            Pergunto: como apoiar a continuidade de pesquisas com células-tronco inclusive com as clonadas e, ao mesmo tempo, ser contra a clonagem de seres humanos?.

            Lançada a questão, o médico espírita Ademar Arthur Chioro dos Reis (*) (Santos/SP), proponente do manifesto, inseriu na lista as seguintes considerações:

           

            Trata-se de uma área para exploração científica com potenciais ainda indefinidos a que envolve o uso de células-tronco, células primordiais indiferenciadas que retêm a capacidade de se transformar em qualquer tipo de tecido.

            Uma coisa é isolar células-tronco embriônicas humanas em função da possibilidade de banhar as células-tronco num coquetel de fatores que poderiam provocar, por exemplo, a produção de tecido pancreático secretor de insulina a partir das células-tronco de um paciente com diabetes, tornar a preencher os músculos gastos em pacientes com distrofia muscular, ou ainda, reconstituir a bainha de mielina do sistema nervoso de pacientes que sofrem de Esclerose Múltipla, uma doença degenerativa hoje incurável. A controvérsia, neste caso, não surge em função dos possíveis usos terapêuticos, mas ditada por preocupações éticas relativas ao aborto, uma vez que a melhor fonte para essas células são os embriões humanos.

            Na pesquisa de clonagem de seres humanos, os maiores receios são os riscos de que as pesquisas gerem bebês deformados, aberrações genéticas e abortamentos em massa e eutanásia dos que vierem a ser concebidos com anormalidades (essas duas últimas questões, em particular, inaceitáveis para a comunidade cristã).

            Para a obtenção de clones de animais, centenas de embriões e aberrações genéticas são produzidas em laboratório e eliminadas natural ou artificialmente antes da concepção. Nas pesquisas com seres humanos, se alguma situação anormal for identificada, restarão três alternativas: o tratamento fetal (hipotético, pois ainda inexistente), o abortamento ou a eutanásia, ainda ilegais em muitos países, eticamente questionáveis e condenável pela maioria das religiões.

            Há mais de 25 anos, quando nasceu o primeiro bebê por inseminação artificial in vitro (proveta), as técnicas davam certo em menos de 5% dos casos (atualmente já se atinge 50%). Para cada três bebês sadios clonados, estima-se que deverão ser produzidos 200 fetos monstruosos destinados à morte. A clonagem humana tem 1,5% de chance de produzir um bebê vivo, não necessariamente sadio (para os 3 sadios previstos, prevê-se, outros 5 chegarão a termo, mas terão que ser submetidos à eutanásia logo depois do parto).

            Temos apenas oito anos de experiência. O domínio da tecnologia ainda é incipiente e deve apresentar os mesmos problemas enfrentados com a clonagem de animais. Os clones humanos poderão sofrer com excesso de peso, envelhecimento precoce e doenças crônico-degenerativas ainda na infância. As limitações de ordem tecnológica são apontadas por todos os centros de genética e reprodução do mundo como um impeditivo para o avanço das pesquisas nesse campo (sem contar as limitações de ordem ética).

            Devem-se levar em consideração, entretanto, além dos usos terapêuticos potenciais, as possibilidades perversas com que tal tecnologia pode ser manipulada. A esperança que pode trazer para um portador de deficiência, por um lado, e o patenteamento e busca desenfreada pelo lucro, por outro, são exemplos que se contrapõem objetivamente à sociedade.

Estamos cada vez mais próximos de dominar a tecnologia da criação da vida. Dominamos tecnologias de ponta, mas a humanidade tem se demonstrado incapaz de enfrentar a fome, as epidemias, os danos ao meio ambiente e a miséria generalizada.

            A clonagem é um problema bio-técnico-científico colocado para a sociedade, mas é também um instigante dilema de ordem ético-espiritual.

            Creio que o papel da sociedade civil e dos espíritas, enquanto movimento social, é o de manter vigilância que garanta a manutenção da inquietude e da liberdade científicas sem, contudo, provocar a emergência de um terror que impeça a reflexão e a ponderação cuidadosas frente às novas descobertas.

            Segundo Einstein “devemos evitar superestimar a ciência e os métodos científicos quando se trata de problemas humanos. Não devemos presumir que os especialistas sejam os únicos que têm direito de opinar sobre questões que dizem respeito à organização e o futuro da sociedade”.

            As pesquisas genéticas devem ser estimuladas, principalmente se tiverem objetivos que tragam benefícios futuros à sociedade e ao meio ambiente em que vivemos.     

            Com que base podemos nos insurgir, utilizando argumentos absolutamente inconsistentes, tais como rejeição perispiritual, fluídica/energética ou mesmo espiritual, contra o acesso a tecnologias que possam, por exemplo, duplicar um fígado de um candidato a transplante hepático a partir de uma célula sadia isolada num órgão doente, sem riscos de rejeição? Ao mesmo tempo, como se calar diante da clonagem de um milionário ou personalidade excêntrica que por razões absolutamente egoísticas, sem nenhuma fundamentação humanitária, optem por esse procedimento?

            Uma descoberta científica não é ética ou antiética. Torna-se antiética quando é utilizada de forma atentatória aos valores que cultivamos, como respeito à vida, à individualidade, à diferença, compreensão e solidariedade. Creio que do ponto de vista espírita, não se pode admitir que a manipulação de padrões genéticos seja efetuada para mera satisfação da vaidade ou da mercantilização da investigação científica. Não há justificativa ética que sustente tais finalidades. Mas não se pode obstaculizar o avanço de tecnologias que sejam colocadas a serviço da humanidade, como por exemplo, a utilização da replicagem genética para a produção de órgãos destinadas a transplantes ou produção de terapias que recuperem a saúde de milhões de seres desenganados.

            A alegação de que não se podem impedir provas e expiações determinadas por Deus para as criaturas é absurda e dogmática. Trata-se de inaceitável perspectiva fundamentalista de que o destino é traçado e que o homem não possui livre-arbítrio para lutar, com todos os recursos e energia disponíveis, para superar os limites que a vida lhe impõe (o que não significa deixar de se resignar e viver com dignidade quando esses limites não puderem ser ultrapassados ou vencidos).

 Sou contra a realização, no momento, da clonagem de seres humanos, por motivos éticos e de consciência. As críticas dos cientistas que se opõem à clonagem nesse momento são fundamentadas. Não se trata de um procedimento científico corriqueiro e que a sociedade tem o direito de contar com um grau de certeza maior sobre o destino que está reservado para pesquisas desta natureza e as suas conseqüências sobre diversos aspectos, inclusive os técnicos e éticos (princípios que se aplicam e podem ser estendidos, sem dúvida, para toda e qualquer nova incorporação tecnológica e científica que extrapole os limites do que convencionamos – ou contratamos – socialmente como ético).

 Entretanto, do ponto de vista hipotético, a clonagem de seres humanos, que tanta celeuma tem trazido, na perspectiva do Espírito, não seria um problema (insistimos que estamos tratando do assunto no plano das hipóteses), que torne a sua realização um “pecado” ou mesmo condenável. Sob a ótica espírita, à semelhança do que ocorre em gêmeos idênticos, a individualidade espiritual que presidirá a criatura concebida a partir da manipulação genética é absolutamente distinta da que lhe fornece o patrimônio genético. Existia antes, independentemente, e assim continuará existindo, apesar da absoluta semelhança do ponto de vista corpóreo.

Seria, sem dúvida, mais uma demonstração de que o genótipo é extremamente importante para explicar o que somos (e como somos), mas incapaz de produzir um clone que pense, sinta, aja e viva reproduzindo os padrões complexos de existência de seu pai ou mãe biológicos, consolidando a percepção de que aquilo que nos efetivamente individualiza é o princípio inteligente, o Espírito imortal.

Creio também que não haveria nenhuma diferença no processo de formação do perispírito e do campo energético que cada uma das criaturas forma na fecundação pelos métodos tradicionais ou pela inseminação in vitro.

 A grande contribuição do Espiritismo nesse debate é a afirmação da existência do Espírito, da imortalidade da alma e da evolução infinita, ao agregar a dimensão extracorpórea das criaturas: o princípio espiritual. Demonstra, a partir dos fatos pela via da experimentação, a preexistência, a existência e a sobrevivência da alma, que conserva todas as faculdades intelectuais, morais e espirituais depois do desencarne.

O Espiritismo somente manterá sua atualidade e importância se conseguir apresentar essa contribuição para o pensamento humano. E esse é um trabalho que depende, para começar, de cada um de nós. Esperamos que não seja tarde...”