OPINIÃO Ano XII – 124 Outubro 2005

KARDEQUIZAR  - A LEGENDA DE SEMPRE

Nossa Opinião:   Um  tipo que não pode ser idolatrado

Editorial:  Razões para as catástrofes?

Notícias:   Grupo jovem do CCEPA  - construindo a identidade  -  Seminário sobre parapsicologia e espiritismo   

Opinião em Tópicos:   Jesus Cristo Super Star  -  Laicidade  -  A defesa religiosa  -  Virtude e fé (Milton Medran Moreira)

Enfoque:   Espanto e reflexão (Maurice H. Jones)

Opinião do leitor

 

KARDEQUIZAR – A LEGENDA DE SEMPRE

 

No mês do 201º aniversário do nascimento de Allan Kardec, Opinião recorda o lançamento do Projeto Kardequizar, um marco histórico no esforço de contenção do processo de igrejificação do espiritismo.

 

            Um projeto polêmico

            Em janeiro próximo, completa 20 anos o lançamento, pela Federação Espírita do Rio Grande do Sul, do “Projeto Kardequizar”. Seu autor, Salomão Jacob Benchaya, hoje um dos Diretores do Centro Cultural Espírita de Porto Alegre, assumia, em 02 de janeiro de 1986, um segundo mandato consecutivo como Presidente da FERGS. Fez de seu discurso de posse uma vigorosa análise dos rumos do movimento espírita. A manifestação era também uma proposta de reposicionamento dos espíritas diante do pensamento de Allan Kardec. O “Projeto Kardequizar”, publicado na íntegra na revista A Reencarnação n° 402 (edição que se tornaria polêmica, a partir do tema de capa “Espiritismo: Ciência e Filosofia. Até que ponto é religião?”) enfatizava, em síntese, o aspecto reflexivo e racional do espiritismo, combatia os exageros místicos e a igrejificação do movimento espírita.

 

            Diferentes reações ao  projeto

Passados 20 anos do histórico acontecimento, Opinião entrevista o autor do projeto, perguntando-lhe como o movimento espírita de então recebeu sua proposta: “As reações foram de apoio por partes de muitos” – respondeu Benchaya - acrescentando, no entanto, que, por outro lado, alguns chegaram a acusá-lo de “estimular a idolatria a Kardec. Se as reações foram muitas e diversificadas, os efeitos imediatos “foram pífios, quase imperceptíveis”, segundo o entrevistado: “Com a publicação do número 402 da Revista Reencarnação, em outubro do mesmo ano, abordando a ‘questão religiosa’, as discussões se tornaram apaixonadas e comprometeram os objetivos do Projeto. Até o então presidente da FEB, Francisco Thiesen, discordou da expressão ‘kardequizar empregada por Bezerra de Menezes em mensagem mediúnica, atribuindo-a a um cochilo do médium, Chico Xavier”.Segundo Benchaya, “para a FEB, acolher tal mensagem, significaria admitir que Bezerra de Menezes, espírito, se reposicionava diante do roustainguismo que havia adotado quando encarnado”.

 

20 anos depois

Opinião perguntou ao presidente de então da FERGS se acha que, passados 20 anos, o movimento espírita, mais maduro, é capaz, hoje, de melhor assimilar o conteúdo do Projeto Kardequizar. Benchaya respondeu: Em parte, sim. Passadas duas décadas do lançamento daquele projeto, com a disseminação dos grupos de estudo do Espiritismo nas Casas Espíritas, é quase certo que os exageros místicos mais ostensivos, tais como uso de imagens, retratos, na sala de palestras, preces-rituais de batismo, casamento, formaturas, etc. no recinto dos Centros Espíritas, são, aos poucos eliminados”.No entanto, Benchaya, que hoje é Secretário Geral da Confederação Espírita Pan-Americana – CEPA - , ressalva que  “alguns condicionamentos impostos pela mentalidade religiosista, esses são mais difíceis de remover” Inclui, nessa categoria,”a visão salvacionista do Espiritismo, a postura sectária e exclusivista, a indisposição para o diálogo com os diferentes, a crença na hegemonia final da Doutrina Espírita, a idolatria a médiuns e espíritos e a vocação evangelizadora, entre outros comportamentos inerentes ao religiosismoTratam-se de temas, aliás, que constam da permanente agenda de reflexões e de propostas de mudanças da CEPA.

 

Salomão Benchaya: Mesmo registrando-se avanços, persistem uma visão salvacionista do Espiritismo, a postura sectária e exclusivista, a indisposição para o diálogo com os diferentes e a idolatria a médiuns, entre outros comportamentos inerentes ao religiosismo.

 

Palestra no CCEPA sobre o tema

Assinalando os 201 anos de nascimento de Allan Kardec, Maurice Herbert Jones, também ex-Presidente da FERGS, é o palestrante do tradicional espaço da primeira segunda-feira do mês, no Centro Cultural Espírita de Porto Alegre, neste 3 de outubro, às 20h30, com o tema: “Kardequizar, a legenda de sempre”.

 

Nossa Opinião

 

UM TIPO QUE NÃO PODE SER IDOLATRADO

            Por tudo o que escreveu, pelas idéias que difundiu, por sua luta e por sua vida, Kardec é o tipo que não pode ser idolatrado. Diferentemente dos grandes líderes religiosos de ontem e de hoje, é o anti-mito, o anti-guru, o anti-ídolo.

            Convenhamos que, em seu tempo, como ainda hoje, trabalhar com a questão do espírito, sem jamais se autodefinir como “apóstolo”, “missionário” ou intérprete da “palavra de Deus” e, mesmo, sem situar o seu trabalho no campo religioso, mas abordando seus conteúdos como legítimos valores científicos, filosóficos e morais, foi um desafio que só alguém com a competência, a racionalidade e a sabedoria do pedagogo Rivail poderia enfrentar.

            Por isso, só é capaz de idolatrar Kardec quem não o conhece. Mesmo aqueles – e aí se situa a maioria dos espíritas – que hajam buscado o espiritismo fascinados pelo apelo místico com que alguns o revestiram, ao se aprofundarem no estudo da obra de Kardec, são levados, naturalmente, a escoimá-lo dos falsos atributos místico-religiosos importados de outras doutrinas. Quanto mais se estuda Kardec, mais sobressai o caráter racional, lógico, livre-pensador, arreligioso, científico, filosófico e moral de sua obra.

            Para Kardec, pesquisa e experimentação geram conhecimento. Do conhecimento defluem conseqüências filosóficas, gerando, inevitavelmente, um processo de transformação ética e moral. Nesse esquema, não sobra lugar para ritos e mitos, para mistérios e idolatrias, para messianismos,  salvacionismos e fanatismos. O espiritismo, definitivamente, se situaria fora dos limites desse tipo de comportamento. Essa revolucionária concepção de espiritualismo vincularia definitivamente o espiritismo a Allan Kardec.

            Mesmo assim, por muito tempo, pretensos espíritas julgaram fosse possível a  existência de espiritismo sem Kardec ou em que fosse ele mera e secundária referência. E quando surgiam tentativas de centralizar em Kardec o verdadeiro projeto espírita eram até capazes de apelar ao falso argumento de que se queria idolatrar Kardec.

            O Projeto Kardequizar, que vai fazer 20 anos, foi lançado em tempo onde esses desvios, bem mais acentuadamente que hoje, persistiam em núcleos centrais do movimento. Basta ver a reação do próprio presidente da FEB à expressão “kardequizar”, segundo o relato de Salomão Benchaya em sua entrevista. Mesmo que muito já se tenha avançado, o trabalho continua, porque kardequizar é a legenda de sempre. Sem Kardec, não há espiritismo. (A Redação).

 

Editorial

 

RAZÕES PARA AS CATÁSTROFES?

“Quanto aos movimentos sísmicos, às tempestades, às inundações, notemos que têm suas leis. Essas leis, basta conhecê-las, para se lhes prever e atenuar os efeitos. Quando se estudam os fenômenos da Natureza e o pensamento penetra no fundo das coisas, reconhece-se isto: o que é um mal, na aparência, se torna, em realidade, um bem”. (Léon Denis – “O Grande Enigma”).

            A passagem dos furacões Katrina e Rita pela região do Golfo do México causou, nos Estados Unidos, milhares de mortes e terminou por se constituir numa das maiores tragédias coletivas da história daquele país, com repercussões ainda não inteiramente contabilizadas no campo humano, ecológico, social e econômico do planeta.

            O doloroso dessas catástrofes é que, dificilmente, nós encontramos, sob o ponto de vista meramente humano, alguma justificativa para elas.            Em tempos mais recuados de nossa história, tínhamos explicações  muito simplistas. Eram, dizíamos, castigos de Deus pelos pecados do homem. Acreditávamos sempre ser o início do fim. Que o Criador, cansado de ser ofendido, começava a se vingar. A idéia do fim do mundo, prenunciado por tragédias, vinculava-nos a uma religiosidade que não tinha qualquer compromisso com a razão. Nossa fé tinha como alimento o medo.

            Episódios tão ou mais trágicos do que esses passaram e ficaram registrados na História, sem que o temido fim do mundo acontecesse. E aqui seguimos nós, buscando, pouco a pouco, dominar os segredos da natureza, penetrando, cada vez mais, na intimidade de suas leis. Já eliminamos doenças que dizimavam os povos. Já dobramos, por várias vezes, nossa expectativa de vida. Já somos capazes de produzir alimentos para saciar toda a humanidade, embora mais de um terço dela passe fome. Já temos armas poderosas contra a multidão daqueles pequenos seres, micróbios e vírus, que nos matavam sem que, sequer, suspeitássemos de sua própria existência.

            Apesar de tudo, essas espetaculares tragédias produzidas pela violência da natureza continuam nos surpreendendo. Quando ocorrem não escolhem vítimas. Matam indiscriminadamente bons e maus; crianças inocentes e adultos experientes. Diante de tão temíveis episódios, precisamos reconhecer que não temos todas as explicações para eles. Que já não nos satisfaz a idéia de um Criador vingativo, cansado das faltas dos homens. Que temos a convicção de que o mundo não vai acabar tão já. Que a Terra é um jovem planeta, destinado a abrigar vida por bilhões de anos. Porém, ao mesmo tempo, seguimos na busca de razões primeiras e últimas das tragédias.

            A pergunta que se impõe, no entanto, é esta será mesmo necessário haver razões primeiras e últimas para elas? Não poderemos apenas visualizá-las como movimentos naturais da Terra, provocados por leis geológicas que vão acomodando o planeta no concerto maravilhoso da vida universal?

            E as pessoas que morrem? Perguntarão alguns. De fato, seria terrível e nada teria sentido se partíssemos do pressuposto de que suas vidas não continuassem. Ou se, após vitimadas por uma catástrofe dessa ordem, ganhassem um destino definitivo, uma condenação eterna, por exemplo.

            Quando, no entanto, temos a convicção de que a vida continua, numa perspectiva evolucionista e progressista, essas tragédias, por mais dolorosas, ganham algum significado e consolo. Ganham, inclusive, racionalidade. Mesmo que não tenhamos todas as respostas para elas. E não as temos, de fato. Assim mesmo, vistas sob uma perspectiva mais ampla, elas tendem a se reduzir a pequenos incidentes no grande concerto da harmonia universal que integramos. Dessa harmonia, possivelmente, só poderemos nos dar conta no futuro, quando formos capazes de nos elevar, visualizando o fenômeno da vida de um plano superior àquele em que nos encontramos, nesse fugidio momento.

 

E aqui seguimos nós, buscando, pouco a pouco, dominar os segredos da natureza, penetrando, cada vez mais, na intimidade de suas leis.

 

Opinião em Tópicos

 

            Milton R.Medran Moreira

 

            Jesus Cristo Super Star

            Vejam isso que os jornais noticiaram, por esses dias: Na Câmara Municipal de Porto Velho (RO), acaba de ser aprovado, em primeiro turno, um projeto de lei que reza, literalmente, em seu artigo primeiro: “Fica declarado, profeticamente, Jesus Cristo como único senhor e salvador da cidade”.

            O projeto, que precisa passar por uma segunda votação para se transformar em lei, foi apresentado pelo vereador evangélico José Wildes. O artigo 2º da inusitada proposição deixa consignado que a cidade “renuncia a toda a obra realizada no passado de prostituição, impureza, lascívia, ruínas, homicídios, roubos, corrupção, idolatria, feitiçaria, tráfego (sic) de drogas, prostituição infantil e toda maldição de primeira, segunda, terceira e quarta geração”.

            E, para que não se duvide de sua constitucionalidade, o projeto já recebeu um parecer técnico-administrativo, declarando-o “perfeito sob o ponto de vista da ótica jurídica”.

            Laicidade

            Especialmente por ter como cenário o Legislativo de uma Capital de Estado deste Brasil do Século 21, o projeto é caricato, ainda que real. Um verdadeiro acinte aos modernos princípios de laicidade do Estado e da total separação entre este e a(s) Igreja(s). Mas, mesmo nos meios mais politizados do Poder Estatal subsistem resquícios dessa submissão do Estado aos dogmas da Igreja.

            No Rio Grande do Sul, acaba de se levantar uma voz firme contra uma dessas formas de submissão. O juiz estadual Roberto Arriada Lorea, está propondo a seus pares da Magistratura que sejam retirados os crucifixos que pendem sobre as salas de audiência do Poder Judiciário. A ostentação de um símbolo religioso num espaço do Estado é inconstitucional, “fere a liberdade de crença religiosa assegurada a todos os brasileiros”, sustenta o juiz.

            Mesmo que, sob o ponto de vista legal, a tese do magistrado gaúcho se mostre insofismável, a polêmica se espalhou pelo Brasil. Representantes da Igreja, leigos ou clérigos, têm reagido indignados.

            A defesa  religiosa

            Com argumentos do tipo: a) O Brasil é um país majoritariamente católico; b) nossa nação nasceu sob o signo da cruz; c) o crucifixo é um elemento mais cultural que religioso; d) a Constituição Brasileira, no seu preâmbulo, invoca Deus, o que introduz nela o elemento religioso, etc., busca-se justificar a presença daquele símbolo de fé, como regra, no cenário onde o Judiciário dirime os conflitos entre seus cidadãos.

            Nenhum desses argumentos tem peso suficiente para fazer subsistir esse resquício teocrático num espaço do domínio do Estado laico. Hoje o Brasil é um país de uma maioria apenas nominalmente católica. E, mesmo sob o aspecto meramente nominal, cada vez menos brasileiros se autodenominam católicos. Mais: o crucifixo sequer é um símbolo de união dos cristãos. Os evangélicos usam apenas a cruz, sem a imagem do homem nela pregado. Símbolos de culturas específicas ou relativas às crenças de um povo têm seu lugar definido nos meios onde essa cultura ou essa crença são celebradas. Não no espaço público estatal. A crença em Deus, ademais, por se expressar de forma multicultural, multirreligiosa e, inclusive, arreligiosa, não cabe ser representada por símbolos de apenas uma religião.

            Virtude e fé

            Um símbolo religioso num espaço público pode causar constrangimento a profitentes de outras crenças ou pessoas que não alimentam qualquer fé religiosa. Se a sociedade não tiver coragem de se libertar desses símbolos corre o risco de sofrer grotescos retrocessos teocráticos como esse que está sendo impingido a seus munícipes pela Câmara da Capital de Rondônia. Também não é honesto sustentar que bons costumes e valores éticos resultam da fé. A História está cheia de homens cheios de fé praticando crimes hediondos. Entre nós, os escândalos mais recentes tiveram como protagonistas algumas figuras que sempre fizeram questão de proclamar sua crença religiosa. Agora mesmo, um juiz (este de futebol) flagrado como agente de um esquema de fraude a resultados de jogos, já se notabilizara por, ao início de cada partida por ele arbitrada, fazer enorme “mise-en-scène” com preces e beijos a uma imagem de santa que levava consigo.

            Virtude resulta de educação e de autoconhecimento, não de crença.

 

Notícias

 

GRUPO JOVEM DO CCEPA – CONSTRUINDO A IDENTIDADE

 

            Em atividade desde o ano passado, o Grupo Jovem do Centro Cultural Espírita de Porto Alegre, continua, segundo sua Coordenadora, Maria de Lourdes Darcie (Malu), "construindo sua identidade à medida que arrisca xperiências, discutindo-as de forma aberta e divertida".

            Para Opinião, Malu destacou o apoio que a Casa vem dando ao Grupo, cujos integrantes começam a participar como colaboradores na reflexão de sextas-feiras à tarde.

            A participação em outras atividades, além das implementadas na noite de estudos das quintas-feiras, estimula o estudo, a reflexão e o compartilhamento de experiências com as pessoas que freqüentam o CCEPA em outros horários.

            Dentro desse programa de integração, duas componentes do grupo - Mariana
Benchaya e Bianca Medran Moreira - estrearam como provocadoras de um Grupo de Discussão Espírita, aberto ao público, no último dia 16 de setembro. Mariana, estudante de Psicologia, e Bianca, acadêmica de Direito, descreveram um caso simulado de delito, cometido por alguém com distúrbio psíquico e discutiram-no com o auditório, levando em conta também a hipótese da obsessão espiritual.

            Já na noite de quinta-feira, 22/9, o grupo, constituído por Bianca Medran, Desirée L.Thomé, Guilherme Marques, Lucas H.Jones, Mariana C.Benchaya e Mariana Ruduit, realizou uma Dinâmica de Grupo, sob a coordenação de Malu, com a participação dos integrantes de grupos de estudos das quintas-feiras à noite.
     Malu Darcie mostra-se otimista com o grupo que coordena. Alguns de seus integrantes participarão do 9º Simpósio Brasileiro do Pensamento Espírita, em Santos, neste mês de outubro. "Essas vivências”, segundo Malu, “contribuirão para que o Grupo Jovem cresça e sedimente sua participação no cenário espírita livre-pensador, fomentando talentos que respeitem a alteridade, mas sempre buscando, discutindo e ratificando a identidade progressista do espiritismo".

 

SEMINÁRIO SOBRE PARAPSICOLOGIA E ESPIRITISMO

            As relações entre parapsicologia e espiritismo será tema de seminário que o CCEPA realizará no último fim-de-semana de outubro, com Moacir Costa de Araújo Lima, licenciado e bacharel em física, professor universitário, escritor e conferencista, mestre em lingüística, na área de lógica da linguagem natural

            Anote as datas e horários: 28 de outubro (6a. feira), das 20 às 22 h, e 29 de outubro (sábado), das 14h30min às 18h30min.

            Local: CCEPA - Centro Cultural Espírita de Porto Alegre -  Rua Botafogo, 678 (entre R. Múcio Teixeira e Av. Getúlio Vargas - Menino Deus

            Inscrições: e.mail ccepa@terra.com.br ou pelo celular 9231-8922 (c/Salomão) - Limite: 100 vagas. Não há cobrança de taxa.

            O Prof. Moacir é autor dos livros "Parapsicologia – Da Magia à Ciência", "A Nova Física e o Espírito", "A Era do Espírito" e "Comunicação Eficaz – O Ponto Crítico entre o Dito e o Entendido", que estarão à venda no local.

(CARTAZ PARAPSICOLOGIA E ESPIRITISMO).

 

Enfoque

 

ESPANTO E REFLEXÃO

Maurice H.Jones *

“Sócrates – Teodoro, meu caro, parece que não julgou mal tua natureza.

É absolutamente de um filósofo este sentimento: espantar-se. A filosofia

não tem outra origem”.     (Platão – Teeteto, 155 c 8.)

 

            O uso disciplinado da especulação racional na tentativa de compreender a realidade que se manifesta aos homens surgiu no Séc. VI a.C. nas colônias gregas da Jônia, com a preocupação inicial centrada na busca de conhecimento sobre as leis e os componentes do mundo material e mensurável. Ao contrário dos pensadores que o antecederam, Sócrates (470-399 a.C.) dizia que existe matéria infinitamente mais digna da meditação dos filósofos; é o espírito do homem.  O que é o homem e em que poderá tornar-se?  

            Como se pode ver, este é, também, o objeto privilegiado da reflexão espírita que, de maneira inteligente e com fundamentação factual responde a estas indagações, credenciando-se, assim, como um modo moderno e revolucionário de percepção do homem e do mundo.

            Segundo Platão e Aristóteles, a experiência que dá origem ao pensar filosófico é aquilo que os gregos chamavam “thauma”, isto é, espanto, admiração, perplexidade. A filosofia começa, pois, quando algo desperta nossa admiração, espanta-nos, interroga-nos insistentemente, exige uma explicação.

            O espanto e perplexidade provocados pelo fenômeno mediúnico na mente sensível e disciplinada de Allan Kardec, exigindo interpretação racional, deram nascimento à filosofia espírita, cuja identidade o filósofo J. Herculano Pires busca demonstrar na introdução de sua tradução de O Livro dos Espíritos, através de lúcidas considerações, algumas das quais, de maneira livre,  apresentamos a seguir.

            Quando do surgimento do Espiritismo, escreve H. Pires, a dicotomia mítico-teológica que nos apresentava o mundo dividido entre o natural e o sobrenatural, foi dialeticamente superada.  O sobrenatural, afirma o Espiritismo, é apenas o natural não conhecido, não explicado e as leis de Deus não são somente as leis morais mas também as leis físicas, e aquelas não são mais do que a seqüência evolutiva destas, uma vez que tudo se encadeia no universo.

            O “Livro dos Espíritosnão é apenas a pedra fundamental, o marco inicial da nova codificação, mas também seu próprio delineamento, seu núcleo central e ao mesmo tempo o arcabouço geral da doutrina.

            Observa-nos que O Livro dos Espíritos começa pela metafísica, passando depois à cosmologia, à psicologia, aos problemas propriamente espíritas da origem e da natureza do espírito e suas ligações com o corpo, bem como os da vida após a morte, para chegar, com as leis morais, à sociologia e à ética, e concluir, no livro IV, com as considerações de ordem teológicas sobre as penas e gozos futuros e a intervenção de Deus na vida humana. Todo um vasto sistema, sem exigências opressoras, numa estrutura livre e dinâmica.

            As demais obras de Kardec partem do seu conteúdo, refletindo sua extraordinária unidade. O Livro dos Espíritos é o arcabouço filosófico do Espiritismo. É o seu tratado filosófico. Ainda que não tenha sido elaborado em linguagem técnica e nem observe as minúcias da exposição filosófica, revela todo um complexo e amplo sistema de filosofia. O Livro dos Espíritos revela-nos não um filósofo, mas um educador e pedagogo que era Kardec. Daí prevalecer a didática e não a filosofia, na elaboração do livro, destacando-se a utilização de um método clássico da tradição filosófica, o diálogo.

            Com razão Kardec afirma no cap. VI da conclusão deste livro: “Sua força está na sua filosofia, no apelo que faz à razão e ao bom senso”.

            Este é o processo dialético do Espiritismo, que em vez de dar ênfase à contradição em si, à luta dos opostos, prefere dá-la à harmonia, à fusão dos contrários, para uma nova criação.

            Assim, a concepção espírita ou a cosmovisão espírita não é dogmático-fideista, mas crítico-fideista, isto é, raciocinada. 

             O Livro dos Espíritos é o primeiro compêndio de uma nova escola filosófica. Sua tese fundamental é a evolução, e a natureza desta é dialética, conclui Herculano Pires.

            Já o extraordinário Manuel S. Porteiro (1881/1936) em seu livro Espiritismo Dialético, afirma que o Espiritismo é ciência filosófica e, ao mesmo tempo filosofia científica. Ciência filosófica, porque deduz conclusões dos fatos que observa. Filosofia científica, porque se apóia nos fatos da psicologia, da metapsíquica e da ciência em geral.É também ciência integral e progressiva porque, se referindo ao espírito humano, à sua evolução, ao seu destino, às suas relações com a humanidade e com o universo, integra todos os conhecimentos. Sua filosofia é eminentemente dialética; sua concepção da vida, dinâmica e seu conceito de história, genético.

            Sir Oliver Lodge, o grande físico inglês, destacando a natureza revolucionária do pensamento espírita, considerou o Espiritismo, no seu livro “A imortalidade pessoal”, como “uma nova revolução copérnica”. 

            A natureza sintética, revolucionária e livre pensadora da filosofia espírita é evidente. Essa concepção inovadora afeta drasticamente a forma pela qual o homem e o mundo são percebidos e tem óbvias implicações morais, que sugere, racionalmente, um comportamento pessoal, familiar e social orientado para a construção de uma sociedade mais justa, igualitária e fraterna.

                                                                                                      

* Maurice Herbert Jonesmauricejones@terra.com.br – ex-presidente da Federação Espírita do Rio Grande do Sul. Vice-presidente e Diretor do Centro Cultural Espírita de Porto Alegre.

 

Opinião do Leitor

 

Opinião em Tópicos de setembro

 

            Sou fã da coluna "Opinião em Tópicos", por onde começo a ler o Opinião.

            Parabéns por todas e em especial pela que constou do número de setembro de 2005.       Concordo completamente com o que ali se afirma: "Neste início de século, já está claro que a ética não se subordina nem às ideologias e nem à fé. Homens inescrupulosos, no Brasil e no mundo, pertencem a diferentes ideologias e professam diferenciadas crenças."          Não sei se o PT foi a última utopia política com a qual os brasileiros sonharam superar os graves problemas éticos e sociais que nos entravam. Temo que não. Grande parte do nosso povo ainda se encontra, penso eu, num patamar intelecto-espiritual que não desenvolveu o nível de consciência crítica necessário para discernir o falso do verdadeiro. Embora acredite que temos melhorado, e avançamos a cada tropeço, isso leva tempo. E pelo que se observou na eleição do atual presidente da Câmara Federal, os políticos e o governo atuais parecem não saber se comportar de outro jeito...tudo o que veio à tona não lhes envergonhou suficientemente. Eles continuam insistindo nas mesmas práticas políticas condenáveis. Não aprenderam nada.

            O Espiritismo, tal como propunha Kardec, parece-me um norte seguro. O livre-pensador deve concordar com o que está certo e discordar do que está errado, mesmo que isso implique discordar dos seus irmãos. Sempre lembro do nosso inesquecível Krishnamurti, em sua palestra no Congresso da CEPA em Porto Alegre, no ano 2000, quando diferençou claramente o conhecimento Espírita das instituições Espíritas, atribuindo a estas as dificuldades de entendimento entre os Espíritas. Realmente, parece que o poder, o dinheiro e a ganância, põem a perder todas as utopias.

 

            Homero Ward da Rosa hward@uol.com.br -Pelotas/RS