OPINIÃO Ano XI – 122 - Agosto 2005

O OTIMISMO ESPÍRITA DIANTE DA CRISE

Nossa Opinião:  A terceira visão

Notícias:   Professor Balaguez é o conferencista de setembro  -  Chá-brechó no CCEPA -  Um ônibus especial para gaúchos e catarinenses irem ao SBPE   

Opinião em Tópicos:   Malas de dinheiro  -  Templos e milagres  -  Liberdade e ignorância   -   E o Nazareno (Milton Medran Moreira)

Enfoque:  O importante é entender Kardec, estudando-o numa abordagem aberta (Dora Incontri)

Opinião do leitor

 

 

O OTIMISMO ESPÍRITA DIANTE DA CRISE

 

No momento em que o Brasil vive mais uma de suas cíclicas crises políticas, buscamos a opinião de dois pensadores espíritas. Maurice Herbert Jones e José Rodrigues rebatem, com argumentos extraídos da filosofia espírita, o clima de pessimismo vivido pela maioria dos brasileiros diante de atos de corrupção política.

 

            Jones: mazelas sociais são acidentes de percurso.

            Maurice H.Jones, pensador espírita residente em Porto Alegre/RS, ex-presidente da Federação Espírita do R.G.do Sul, atual diretor e vice-presidente do Centro Cultural Espírita de Porto Alegre, parte da premissa de que a visão espírita de homem e de mundo é “teleológica”, esclarecendo: “Acreditamos que o processo histórico da humanidade é explicável como um trajeto em direção a uma finalidade que, em última instância, é a realização plena e exeqüível do espírito humano”.

            Para Jones. esta visão evolucionista e otimista nos convida a interpretar as mazelas sociais como acidentes de percurso no processo civilizatório e as crises que daí surgem como uma reação positiva do organismo social que, demonstrando saúde, é capaz de utilizar o conjunto de instrumentos de que dispõe uma cultura para conservar-se, superar crises, renovar-se e progredir”.

 

            Rodrigues: Lei de progresso, uma vacina contra o pessimismo

 

            Para o jornalista e economista José Rodrigues, de Santos/SP, “a filosofia espírita não estimula o pessimismo”. Rodrigues, que integra o  Centro Espírita Allan Kardec, de Santos, e coordena o site “Pense – Pensamento Social Espírita”, na Internet, reporta-se à Lei de Progresso, presente em O Livro dos Espíritos que, segundo ele, “vale como vacina contra o pessimismo”, recordando: “um espírito diz até ser preciso que haja excesso de mal para fazer o homem compreender a necessidade do bem e das reformas”.                   

            De igual forma, Jones recorre à Lei do Progresso, recordando comentário ali feito por Kardec, segundo quem “a tempestade e o furacão saneiam a atmosfera, depois de a haverem revolvido, do mal fazendo surgir o bem”.

 

            Corrupção ontem e hoje

 

            José Rodrigues, que também tem militância política e é filiado ao Partido dos Trabalhadores, recusa a tese de que somos hoje mais corruptos do que ontem. Justifica: “A tecnologia das comunicações, a concorrência entre a própria mídia, cria uma interação entre os fatos e a sociedade, de tal modo que o encoberto seja revelado com intensidade e pareça que vivamos um retrocesso. A história do homem, de um lado, ainda é um acumulado de violências cometidas contra o próprio homem, mas, de outro, revela conquistas no campo do bem e da justiça. Não fora assim, a sociedade teria se autodestruído. O futuro será sempre melhor”. 

            Maurice Jones vê no pessimismo característico desses momentos de crise uma reação natural, “mas marcadamente ingênua e emocional diante do choque, da perplexidade e da decepção que escândalos, sobretudo os morais, provocam”. Em contrapartida, “o humanismo espírita é radical e crê inabalavelmente na capacidade de o homem traçar seu destino, libertando-se progressivamente dos condicionamentos de qualquer espécie”, acrescenta. “Na visão espírita - diz Jones -o homem não é mau; o homem é imperfeito, porém perfectível”.

 

 

Nossa Opinião

A TERCEIRA VISÃO

            O homem ocidental movimenta-se entre dois pólos distintos. De um lado, a herança cultural provinda de suas raízes judaico-cristãs. Por elas, não somos mais do que o produto do pecado. Uma origem trágica que sequer nos abre seguras perspectivas de futura remissão. Ao contrário, só a alguns está reservada a redenção e a felicidade. Os outros, a maioria, talvez, serão alcançados por impiedosa condenação, a confirmar definitivamente sua natureza corrupta.

            De outro lado, e como radical negação a esse utópico espiritualismo, apresenta-se o materialismo. Aqui e agora, do berço ao túmulo, deveremos planejar e construir, sonhar e realizar. Com muita pressa, porque o final sempre é próximo. A sociedade, fim último e realizador definitivo de todos os anseios, está inapelavelmente circunscrita ao tempo e ao espaço. Nada além deles.

            Ante essa dualidade de posições, o moderno espiritualismo,  dentro do qual se insere a filosofia espírita, propõe uma nova visão de homem e de sociedade. Aquele, atemporal, perfectível por via das vidas sucessivas, sujeito a uma ética universal, assectária, válida além de nosso tempo e em todos os espaços. Esta, organizável politicamente em moldes capazes de contribuir para o aperfeiçoamento do homem, através da ordem, da justiça, da solidariedade e da paz. 

            Essa última perspectiva, reconhece, racional e definitivamente, a natural dignidade do homem, enquanto espírito imortal. É o que temos chamado, aqui, de humanismo espírita. Traz em seu bojo aquele otimismo que a teologia não consegue despertar e o materialismo circunscreve aos escassos parâmetros da vida material.

            Só essa terceira visão, sintética e conciliadora, permite antever na sociedade ainda corrupta de hoje a comunidade sadia que estamos a construir, purgando nossas feridas e eliminando nossas dores. (A Redação).

 

O EXEMPLO DE KARDEC E  UMA CERTA CESTA DO CCEPA

 

Em sua concepção mais larga, o livre pensamento significa: livre exame, liberdade de consciência, fé raciocinada (Allan Kardec – Revista Espírita, fev. 1867)

 

            Episódio interessante envolveu Allan Kardec  em 1866. Naquele ano, um advogado da cidade de Bordéus, J.B Roustaing, lançou um livro que, até os dias de hoje, suscita controvérsias nos meios espíritas e espiritualistas, “Os Quatro Evagelhos”. Ali, dizendo tratar-se de comunicação espiritual dos próprios apóstolos, o autor lançava a teoria de que Jesus não tivera um corpo carnal. Seria um “agênere”, capaz de se materializar quando quisesse entrar em relação com os homens. Ou seja: Jesus nunca encarnara. Não fora jamais um homem.

            Kardec, na Revista Espírita (Junho 1866), registrou o lançamento do livro. Fez-lhe restrições. Mesmo assim, reconheceu alguns méritos no autor e recomendou que se estudasse profundamente a obra, acrescentando: “Sem a prejulgar, diremos que já foram feitas objeções sérias a essa teoria e que, em nossa opinião, os fatos podem perfeitamente ser explicados sem sair das condições da humanidade corporal”. Mais tarde, em janeiro de 1868, Kardec acabaria por rejeitar inteiramente a tese central do livro de Roustaing, concluindo, depois de longa análise, no Cap.XV: “Jesus, pois, teve, como todo homem, um corpo carnal e um corpo fluídico, o que é atestado pelos fenômenos materiais e pelos fenômenos psíquicos que lhe assinalaram a existência”.

            Era assim que o Mestre Lion procedia sempre. Quem consultar especialmente as edições mensais da Revista Espírita por ele editada de 1858 até seu desencarne, em 1869, vai ver o registro de todas as publicações espíritas ou espiritualistas que lhe chegavam às mãos. Publicava as cartas, as manifestações, os artigos que lhe eram enviados, mesmo não concordando com eles. Defensor intransigente do livre pensamento e da liberdade de expressão, fazia de sua brava revista um fórum permanente de debate.

            Seria absolutamente inimaginável que Kardec recomendasse aos seus companheiros de estudo da Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas ou de outros centros que reconheciam sua inconteste liderança que deixassem de ler esta ou aquela obra ou evitassem o recebimento de uma publicação espírita ou não. A palavra censura nunca fez parte do vocabulário de Kardec. Ao contrário, como o fez no episódio de “Os Quatro Evangelhos”, eventuais divergências, mesmo graves como aquela, eram vistas por ele justamente como estímulos ao estudo, à pesquisa e ao diálogo respeitoso.

            Assim buscamos proceder também, no Centro Cultural Espírita de Porto Alegre. Quem nos visita, vai encontrar, já na recepção, depositada sobre um balcão, uma cesta onde estão disponíveis todas as publicações que recebemos. O boletim América Espírita, da CEPA, encartado neste jornal, faz, mensalmente, um registro de publicações recebidas de instituições com as mais diferentes orientações e nas mais diversas partes do mundo. Ingênuo seria pensar que os espíritas do CCEPA e da CEPA concordam com a linha editorial de todas aquelas publicações. Mas, as recebemos e as examinamos sempre com interesse. Valorizamos, acima de tudo, a gentileza de no-las terem enviado e o esforço em prol da difusão espírita. Divulgamos seus endereços e as colocamos à disposição de nossos colaboradores e visitantes.

            Pode-se esperar outra atitude dos espíritas? Teoricamente, não. Mas, lamentavelmente, parece que se institucionaliza outra maneira de encarar essa questão no meio espírita. Exemplo concreto disso está numa carta que vai publicada em “Opinião do Leitor”, na última página desta edição. Isso nos assusta!

 

A palavra censura nunca fez parte do vocabulário de Kardec

 

Opinião em Tópicos

Milton R. Medran Moreira

 

            Malas de dinheiro

            Admitindo como  verdadeira a versão de que toda aquela dinheirama, distribuída em sete malas e  apreendida no aeroporto de Brasília, seja produto de dízimos da Igreja Universal, não posso deixar de me perguntar:

            - O que faria Jesus de Nazaré diante da cena?

            Por muito menos – umas barraquinhas de bugigangas, montadas dentro do templo -, o jovem carpinteiro foi para cima dos vendilhões, de chicote, chamando-os de ladrões e víboras.

            De que forma uma doutrina singela como a do jovem da Galiléia, que recomendava apenas e tão-somente a construção do reinado do bem e da justiça no mais íntimo da alma de cada um, foi dar lugar a essa máquina de fazer dinheiro que passaram a ser as chamadas igrejas evangélicas de nosso tempo?

            Templos e milagres

            Às vezes me dou ao trabalho de ouvir um desses “bispos” ou pastores no rádio e na TV. Nunca suas pregações são voltadas à reforma individual do homem. Não se fala da prática do amor, da solidariedade, da caridade para com o próximo, da reforma individual, da construção do bem e da virtude. Fala-se apenas em curas fantásticas, em fortuna e prosperidade que, com absoluta certeza, serão alcançadas desde que o ouvinte compareça aos gigantescos cultos, nos mega templos espalhados pelas cidades. Preciosos espaços dos meios de comunicação usados apenas como propaganda para atrair os sofredores aos templos. Ali, eles serão miraculosamente libertos de todos os males, frutos da presença de demônios que infernizam suas vidas. Mas, libertar-se do demônio custa dinheiro. A prosperidade, a saúde e o amor virão – dizem eles, depois de atrair sua clientela – em proporção direta ao valor de suas doações. É preciso contribuir para a “obra do Senhor”, repetem à gente sofredora que lota suas igrejas, “para que o Senhor as abençoe e atenda regiamente a todos os seus pedidos”.

            Liberdade e ignorância

            O que se pode fazer contra isso? Legalmente nada. Esse tipo de pregação encontra guarida na liberdade de culto. E quem comparece a esses mega shows evangélicos o faz livremente. Admito até que alguns obtenham resultados favoráveis ante a mobilização interior que passa a animá-los.

            Mas, decididamente, isso não contribui em nada para o aprimoramento moral e ético de que estamos tão carentes e que está na raiz de toda essa tragédia brasileira. Em cima da dor e da ignorância alheia, muita gente está fazendo fortuna e galgando posições políticas no cenário nacional, em representação a esses movimentos religiosos. A explosiva combinação do atraso político com a ignorância religiosa foram, também, fatores que nos conduziram à lamentável situação hoje vivida pelo Brasil.

            E o Nazareno?

            O medíocre cenário político e religioso cultivado, entre nós, nos últimos anos terminou contribuindo para isso. Hoje, quaisquer acordos  político-eleitorais passam necessariamente por negociações com esses grupos religiosos.Uma mancomunação abjeta entre política e religião, entre religião, poder e dinheiro.

            E a pergunta inevitável que faço é essa: Que faria o jovem pregador da Galiléia diante disso? Ele, que nem se utilizava de templos para as suas pregações, preferindo fazê-las junto aos lagos ou do alto de colinas, o que faria?  Será que não cairia de chicote em cima deles?

 

Notícias

PROFESSOR BALAGUEZ É O CONFERENCISTA DE SETEMBRO

            Prosseguindo com sua programação de conferências mensais da primeira segunda-feira de cada mês, o Centro Cultural Espírita de Porto Alegre está convidando para a palestra “Caracteres da Revelação Espírita”, com o Prof. Ascêncio José Martinez Balaguez, no próximo dia 5 de setembro.

            O convidado de setembro, Professor Balaguez, experiente trabalhador espírita gaúcho, atualmente é colaborador do Instituto Espírita 3ª Revelação Divina, de Porto Alegre.

            O conferencista do mês de agosto (dia 1º), foi o editor deste jornal, advogado Milton Medran Moreira que abordou temas relacionados a seu livro “Direito e Justiça, um Olhar Espírita”.

            O CCEPA, sempre às segundas-feiras, a partir das 20h30min, realiza atividades públicas. A primeira segunda-feira do mês é reservada a uma conferência pública. As demais são ocupadas pelo chamado Grupo de Conversação Espírita, integrado por colaboradores da Casa e visitantes que, livremente, participam dos debates propostos no grupo.

 

CHÁ-BRECHÓ NO CCEPA

            O Departamento Social do Centro Cultural Espírita de Porto Alegre programou para o próximo dia 10 de setembro, sábado, a partir das 15 horas, mais um “chá-brechó”.

            Segundo a Diretora do Departamento, Sílvia Pinto Moreira, “os chás-brechós, realizados na média de dois por ano, têm duas importantes finalidades: o congraçamento entre trabalhadores, colaboradores, freqüentadores e amigos da Casa e a arrecadação de recursos materiais que viabilizam a manutenção da instituição e suas atividades culturais”. O chá é servido aos participantes, acompanhado de salgadinhos e tortas, ao preço de 8 reais (convites já estão à disposição na sede do CCEPA). O “brechó”, venda de roupas usadas, mas em estado de novas, recebidas através de doações de colaboradores, segundo Sílvia, “termina por estabelecer, também, um intercâmbio com a comunidade, atraindo a presença de moradores do bairro onde está situado o CCEPA”.

            Os chás-brechós do CCEPA costumam, além disso, propiciar momentos de descontraídas apresentações musicais de integrantes da Casa e convidados.

 

UM ÔNIBUS ESPECIAL PARA GAÚCHOS E CATARINENSES IREM AO SBPE

            O Centro Cultural Espírita de Porto Alegre, como de hábito, vai se fazer presente em Santos, no período de 13 a 16 de outubro, com um numeroso grupo para participar do 9º Simpósio Brasileiro do Pensamento Espírita, tradicional evento espírita promovido pelo Instituto Cultural Kardecista de Santos - ICKS.

            Para tanto, deverá ser contratado um ônibus especial que poderá levar outros interessados,a um preço bastante acessível. Assim, quem tiver interesse em participar do grupo poderá entrar em contato com Milton Bittencourt (fone 51-32319752). O ônibus passará pelo Litoral de Santa Catarina, onde companheiros ali residentes poderão se agregar ao grupo. Maiores informações podem também ser obtidas através de e-mail do CCEPA: ccepa@terra.com.br .

            A seguir, reproduzimos informações sobre preços de inscrição, hospedagem e alimentação, conforme material que está sendo divulgado pelos organizadores do evento, em Santos, SP.:

 

 

Enfoque

 

Dora Incontri: “O importante é entender Kardec, estudando-o numa abordagem aberta.

 

            Dora Incontri, jornalista  e educadora, mestra, doutora e pós-doutora em Filosofia da Educação, pela Universidade de São Paulo, esteve em João Pessoa, PB, ministrando o seminárioEducação Segundo o Espiritismo”, em novembro de 2004.

            Na ocasião concedeu entrevista a nosso correspondente, naquela cidade, Néventon Vargas, que também é Secretário de Comunicação Social  da CEPA e seu Delegado em João Pessoa.

 

Opinião - Qual o seu conceito de “Educação Espírita”? É o mesmo queEvangelização”?

Dora - Não é a evangelização que se pratica. Eu não concordo com o nomeEvangelização”, pois demonstra que está se enfatizando apenas o lado religioso do Espiritismo e lembra muito catequese. A prática em geral nos Centros Espíritas é muito mais de “catequese espírita” do que Educação Espírita.

            Educação Espírita é algo muito mais amplo, muito mais profundo, e deve se realizar na família, na escola, nos centros espíritas, na Universidade. Em todos os setores da sociedade em que o espírita estiver envolvido, pode e deve agir de maneira pedagógica. Isto significa contribuir para o progresso das potencialidades do ser humano, entendendo que educação é um processo de autoconstrução e não um processo de introjeção, de dentro para fora, mas um despertar de consciência. O grande desafio da educação é justamente o despertar uma consciência autônoma que passe a se autoconstruir e a se engajar no processo de evolução.

 

Opinião – Na sua obraEducação segundo o Espiritismo”, é citada uma prática de Pestalozzi que reunia seus alunos para discutir textos diversos, contemplando as distintas origens de seus alunos. Esta prática poderia ser implantada no meio espírita?

Dora – Esta questão precisa ser contextualizada. O Instituto de Iverdon, criado por Pestalozzi, onde Kardec estudou, era uma escola modelo e muito avançada para sua época. Uma das práticas dessa escola era a educação ecumênica, algo inédito na época, em que as escolas protestantes eram separadas das católicas e dos judeus.

            Pestalozzi deu uma contribuição importante porque ele desvinculava a religião dos seus aspectos dogmáticos, institucionais, hierárquicos. Ele considerava que a religião era a moralidade, a ligação direta com Deus. Aliás, eu acho que este conceito é o precursor do que o Espiritismo colocaria, pois a prática religiosa não é hierarquia, dogma, culto. É ligação direta com Deus e prática da ética, da vivência moral.

            Pestalozzi se reunia para estudar temas não da Bíblia, mas os mais diversos, tomando os pontos comuns das diversas crenças, que eram a idéia de moralidade, de ética, de Deus.

 

            OpiniãoQuais as particularidades mais importantes da sua obra e que você considera fundamentais para aplicação na educação espírita?

            Dora - A obraEducação segundo o Espiritismo” é muito integrada e é importante o leitor saber que começou de traz para frente. As mensagens no final chegaram antes da obra. Eu primeiro recebi as mensagens e depois escrevi a obra.

Acho que para uma prática de educação espírita nós precisamos mais de experiências. É difícil destacar alguma coisa da obra porque ela é muito bem integrada.

           

            OpiniãoQue mudanças você considera importantes para que os jovens tenham um maior engajamento nas atividades espíritas?

            Dora – Muitas. Em primeiro lugar é preciso que o centro espírita e os dirigentes espíritas não sejam nem tão conservadores nem tão autoritários. É preciso que o jovem tenha espaço de participação, não ficando confinado no seu espaço de mocidade para atividades secundárias.

            Lembremos que na Sociedade Espírita de Paris, o jovem Camille Flamarion tinha 19 anos de idade... Portanto, o jovem precisa participar juntamente com os demais integrantes do centro, sem separações.

 

            OpiniãoComo você o movimento da CEPA?

            DoraEu fico meio dividida ao falar da CEPA porque eu olho com simpatia para o seu movimento, pois as críticas que ela faz ao movimento espírita tradicional são as mesmas que eu própria faço. Por outro lado, as soluções não são as mesmas, pois negar o aspecto religioso do Espiritismo é afastar-se muito do povo e negar uma raiz cultural muito forte que é de toda a população da Terra e não do Brasil. Temos que entender a religiosidade sob um novo prisma que veio de Pestalozzi, de Rousseau até Kardec. Então, em linha gerais a CEPA tem propostas mais democráticas, mais participativas do que o movimento tradicional.

           

            OpiniãoA feição religiosa do Movimento Espírita Brasileiro tem prejudicado ou beneficiado o bom entendimento do Espiritismo?

            Dora - Tudo tem que se compreender no contexto histórico. O Espiritismo não teria entrado no Brasil se não fosse pelo aspecto religioso, devido à índole característica do nosso povo. Evidentemente queprejuízos e benefícios. O principal benefício foi sua rápida expansão. O principal prejuízo foi a perda de uma identidade que acredito Kardec gostaria que se disseminasse: a Filosofia, a Ciência, a crítica, a racionalidade... Mas acho que estamos num momento propício para retomar esse caminho histórico. A partir dessa representatividade social que conseguimos, pelo número de espíritas que temos no Brasil, estão surgindo pessoas que têm uma visão mais crítica, que não vêem apenas o aspecto religioso do Espiritismo. A partir daí poderemos chegar a um ponto de equilíbrio.

 

            OpiniãoO Espiritismo não se identificando como cristão ou como religião, não seria o caminho para destruir as barreiras do preconceito religioso e científico?

            Dora a minha visão é totalmente diferente... No livro que acabei de escrever, “Para entender Allan Kardec”, digo o seguinte: as pessoas se referem a Kardec como o “Codificador”, sendo que esta palavra não aparece em nenhum lugar na obra de Kardec. O sentido da palavra deixa entender que ele simplesmente organizou uma revelação vinda dos espíritos. É um papel muito pequeno para Kardec e muito grande para a revelação, o que também exalta o aspecto religioso. Considero que Kardec inaugurou um método novo de abordagem da realidade. Ele faz uma revolução epistemológica no conhecimento humano. Ele uniu as diversas formas de entender o mundo numa visão única e uma controlando a outra.

            A ciência controlando a filosofia para que ela não se perca nas especulações da via; a filosofia embasando a ciência para que esta não se detenha no experimentalismo seco; a religião iluminando a ciência, trazendo a ética; a ciência controlando a religião para esta não se perder no misticismo, no desvario; a racionalidade filosófica controlando a religião para que esta não se perca no fanatismo. Esta a inovação de Kardec.

 

            OpiniãoQual a sua opinião sobre a identificação do Espiritismo comDoutrina Filosófica e Moral”, talvez a última referência de Kardec, em novembro de 1868?

            Dora – Na obra de Kardec havia uma questão política, social e prática. Ele sempre fez questão de enfatizar que o Espiritismo não se constituía em um novo tipo de religião, mas o pensamento de Kardec era universalista, ecumênico. Portanto não se pode negar o aspecto religioso, embora de uma religiosidade universal. Não se pode negar nada, mas abranger tudo.

 

            OpiniãoIsto não se choca com a idéia de “Espiritismo Cristão”?

            DoraNão se nós pensarmos no Cristianismo histórico, também universalista. Se não prevalecesse o cristianismo católico na época de Constantino e sim o Arius, que considerava Jesus como homem e não como Deus, não haveria tanta rejeição, pois então seria aceito pelos Judeus, Muçulmanos, Budistas, Hinduístas, como um grande profeta ou um grande iluminado.

           

            OpinãoVocê quer deixar uma mensagem final?

            DoraEu diria que o importante é que nós possamos realmente entender Kardec, pois muita gente ainda não o entendeu. Portanto, eu recomendo que estudemos Kardec dentro de uma abordagem aberta. Que leiam Kardec dentro de um diálogo que ele fez com a cultura do seu tempo e do diálogo que se pode estabelecer entre Kardec e a cultura do nosso tempo.

 

           

Opinião do Leitor

 

            Orientação federativa

            Senhores Diretores:

            Por este intermédio, gostaríamos de cientificá-los que por orientação da nossa Federação (FERGS), não estamos autorizados a realizar a assinatura e nem recebimento desta publicação. Por esta razão, gostaríamos que Vossa Senhoria não nos enviasse mais o referido documentário. Na certeza de que não iremos molestá-los nos despedimos, atenciosamente.

            Cleria Morais Baumhardt Presidenta da Sociedade Espírita João de Deus – Cachoeira do Sul-RS