OPINIÃO Ano XI – 121 Julho 2005

CCEPA - 10 anos com a CEPA

Nossa Opinião: Sem medo de ser livres

Editorial : Ante a corrupção

Notícias:   Grupos de Estudo do CCEPA apresentam resultado de seus trabalhos -  Medran será o conferencista em agosto   

Opinião em Tópicos:   Santo súbito  -  Política e Diplomacia  -  Fé sem razão -  Os verdadeiros santos (Milton Medran Moreira)

Enfoque:  A dialética em Todo cambia  (José Rodrigues)

Opinião do leitor

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CCEPA – 10 ANOS COM A CEPA

 

O Centro Cultural Espírita de Porto Alegre completa, em 8 de julho, 10 anos de adesão à Confederação Espírita Pan-Americana. Uma parceria que propiciou rico intercâmbio com importantes segmentos do espiritismo mundial e gratificantes oportunidades de trabalho em favor da causa espírita, mas que também gerou incompreensões, discriminações e exclusões.

           

            A Adesão

            O registro está em Opinião 12 (ag/set/ou/1995, pg.3), sob o título de “Nossa adesão à CEPA”. A notícia reproduz carta enviada, em 09.07.95, pelo então presidente da Confederação Espírita Pan-Americana, Jon Aizpúrua, nos seguintes termos: “Nesta oportunidade, lhes damos conhecimento de que  o Conselho Executivo da Confederação Espírita Pan-Americana (CEPA), em sua reunião de 08.07.95, decidiu, em votação unânime, receber como Instituição Adesa o Centro Cultural Espírita de Porto Alegre, tendo em conta seus critérios, condutas e orientação em absoluta harmonia com o pensamento e o procedimento da CEPA”.

            Os antecedentes

            O pedido de adesão à CEPA fora autorizado por Assembléia Geral do CCEPA realizada em 25.11.94. Seu então presidente, Salomão J.Benchaya, em entrevista a Opinião, edição jan/fev/95, sintetizou como motivações para essa decisão, especialmente duas: “Em primeiro lugar, a sintonia que ambas as instituições possuem com relação ao entendimento do Espiritismo proposto por Allan Kardec, como Ciência, Filosofia e Moral. Em seguida, porque há necessidade de contraposição ao ímpeto religiosista-evangélico do espiritismo brasileiro”.

            O CCEPA, juntamente com outros importantes centros espíritas brasileiros (como o CEAK e o Ângelo Prado, de Santos, o Herculano Pires e o José Barroso, de São Paulo, entre outros), fora motivado por circular remetida pelo então presidente da CEPA, Jon Aizpúrua, ao movimento espírita brasileiro. Na mensagem, Aizpúrua expressava o respeito da CEPA à posição de vastos setores do movimento espírita brasileiro que “optaram por uma definição religiosa, particularmente evangélica, da doutrina espírita”. Mas, reconhecia “a existência de numerosas instituições que divergem do espiritismo religioso e divulgam uma concepção científica, filosófica e moral, com sentido progressista e livre-pensador, que está perfeitamente em sintonia com a orientação da CEPA”. Essas instituições eram convidadas pela circular a ingressar na CEPA.

            As conseqüências

            Não era intenção do CCEPA romper seu vínculo com a Federação Espírita do Rio Grande do Sul, à qual estava filiada há décadas, com intensa participação. A intenção do mantenimento do vínculo fora destacada pelo presidente Benchaya na entrevista referida acima. No seu entender, nada impedia que, filiado à CEPA, o CCEPA seguisse integrando os quadros da Federação gaúcha. Entretanto, por ato unilateral da FERGS, tão logo foi divulgada a adesão do CCEPA à CEPA, seu presidente comunicou a suspensão daquele de seus quadros, manifestando, em ofício, não concordar com “o direcionamento ético e administrativo” do CCEPA, especialmente por filiar-se a “uma organização internacional (...) que visa estabelecer as bases para um outro Movimento Espírita no Brasil, numa clara intromissão nos interesses dos espíritas de nossa pátria”.

 

            A posição de hostilidade do movimento espírita religioso à CEPA e ao CCEPA, a partir daí, teria outros desdobramentos. Culminou, anos após, por ocasião do XVIII Congresso Espírita Pan-Americano, da CEPA, em Porto Alegre, (outubro/ 2.000), quando a FERGS emitiu circular aos centros espíritas recomendando aos espíritas a não participação naquele evento, e aos centros espíritas que não convidassem integrantes da CEPA e do CCEPA a falar em suas tribunas.No mesmo documento, recomendava a não circulação do periódico Opinião nos centros espíritas federados.

             Aprofundava-se, assim, um rompimento que não fora buscado pela CEPA nem pelo CCEPA, instituições que defendem para o movimento espírita e para a própria doutrina o exercício da liberdade de pensamento, o pluralismo e a alteridade, respeitados sempre os parâmetros fundamentais do espiritismo, base concreta da união entre todos os segmentos.

            10 anos depois

            Transcorridos 10 anos da guinada histórica dada pela tradicional Casa Espírita do bairro Menino Deus, em Porto Alegre, sedimentou-se a integração CCEPA/CEPA. Tão forte foi essa identidade que a CEPA, desde o Congresso de 2000, e já numa segunda gestão, é presidida por um membro do CCEPA, Milton Medran Moreira, aqui estando também a Secretaria Geral e a Tesouraria daquela Confederação, exercidas, respectivamente, por Salomão Jacob Benchaya e Tereza Samá de Mayo. Segundo o atual presidente do CCEPA, Rui Paulo Nazário de Oliveira, “no pensamento da CEPA encontramos ressonância para as idéias que aqui sempre cultivamos”.

           

Nossa Opinião

SEM MEDO DE SER LIVRES

            Para muitos, considerar-se o espiritismo uma religião ou não é mera questão semântica. De uma e de outra concepção, entretanto, podem surgir diferentes visões doutrinárias, assim como diferenciadas posturas no que tange à forma de agir e organizar-se.

            Por exemplo, um agrupamento institucional que conceber o espiritismo como uma revelação religiosa naturalmente há de priorizar o verbo “orientar”. Sua preocupação básica será a “correta orientação doutrinária” dos núcleos que congrega. Nessa visão, será legítimo e até primordial, dizer a seus seguidores quais livros, revistas e jornais podem ou não ler, a quem devem ou não convidar para falar em suas tribunas, a que tipo de eventos ou reuniões poderão comparecer, etc., etc. As religiões sempre se comportaram assim.

            Diferentemente, quando se toma o espiritismo como uma filosofia, implantada sobre uma base doutrinária firme, mas com vocação livre-pensadora, direcionada ao progresso e à ampliação do conhecimento, outros verbos ganharão prioridade, como: “congregar”, “estudar”, “debater”, etc. Sob a ação desses verbos, os horizontes se alargam e o intercâmbio, mesmo com detentores de posições diferenciadas, se fará sempre desejável, porque estimulará o congraçamento. Os laços de união se irão sedimentando, a partir das convergências básicas, pouco a pouco descobertas por de trás de divergências menores. Perder-se-á o medo de ser livre. Pluralismo e alteridade são filhos da liberdade. Todo o progresso do pensar humano se deu assim. Não sem enormes obstáculos, é verdade.

            O Centro Cultural Espírita de Porto Alegre insiste nesse ideal. Sabe que escolheu o caminho mais difícil. Mas aposta na viabilidade da união em torno do essencial. Sabe também que, para a consecução desse objetivo, há que se partir de atitudes de respeito a posições eventualmente diferentes E que, nesse clima, devem-se criar campos de intercomunicação e convivência, no cultivo do rico patrimônio doutrinário que nos é comum.

             De uma certa forma, já se percebem sinais que o estimulam no prosseguimento dessa tarefa. Há, no movimento como um todo, saudáveis rebeldias, inspiradas pelo ideal de liberdade. Os que não têm medo de ser livres, pouco a pouco, reabrem canais de comunicação ontem intempestivamente fechados. (A Redação).

 

 

Editorial

ANTE A CORRUPÇÃO

 

Observa bem o conjunto e verás que ele (o homem) avança, visto que compreende melhor o que é o mal, e que cada dia corrige os abusos. É preciso o excesso do mal para fazer compreender a necessidade do bem e das reformas”. (O Livro dos Espíritos, questão 784).

 

            Sistematizado poucas décadas após a Revolução Francesa e sob o influxo dos mais generosos sonhos da Modernidade, o espiritismo, em suas proposições teóricas, deposita no Estado democrático e moderno, as expectativas da consecução de uma sociedade justa e feliz..

            Toda a 3ª Parte de O Livro dos Espíritos enfatiza os valores humanos da liberdade, da igualdade e da justiça, praticáveis no âmbito da sociedade humana à luz dos parâmetros universais da lei natural, que é “a própria lei de Deus”, segundo a questão 614.

            Mesmo dispensando enfoque primordial à responsabilidade pessoal do indivíduo na construção de sua sorte atual ou futura, o espiritismo sublinha a necessidade do controle legal e estatal da sociedade politicamente organizada, como instrumento de progresso: “uma sociedade depravada tem, certamente, necessidade de leis mais severas”, reza a questão 796.

            O Brasil vive momento muito particular de sua História política. De um lado, os mecanismos democráticos de controle político e social avançam através de instituições e legislações cada vez mais aprimoradas. De outro, no entanto, percebe-se generalizada decepção do cidadão comum, diante do surgimento, a todo o momento, de escândalos que denunciam corrupção e desrespeito aos regramentos básicos do Estado de Direito.

            Momentos assim, entretanto, jamais devem conduzir à descrença nos valores fundamentais do homem e, muito menos, no destino progressista de uma sociedade politicamente organizada. É preciso entendemos que a implantação do bem necessariamente passa pela exacerbação pública do mal. O próprio Jesus se utilizou de candente expressão, ao dizer: “O escândalo é necessário. Ai, no entanto, daquele através de quem vem o escândalo”. (Mateus, XVIII, 7) .

            Os mecanismos do progresso valem-se das fraquezas e das maldades humanas para conduzir os povos, às vezes sem muita pressa, àqueles valores superiores para os quais estão vocacionados o homem e a sociedade. É indispensável, porém, que cada um daqueles que, honestamente, desejam o verdadeiro reinado do bem e da justiça, façam a sua parte. Em primeiro lugar, como indivíduos éticos, vivenciando intimamente o bem e a justiça. E, em segunda e não menos importante instância, na condição de cidadãos, contribuindo para a consecução e o aprimoramento da justiça política e social que desejamos, realmente, ver implantada. Mesmo que isso implique em alguma renúncia pessoal.

 

É indispensável que cada um daqueles que desejam o reinado do bem e da justiça façam a sua parte.

 

 

Opinião em Tópicos

Milton R. Medran Moreira

 

Santo Súbito

            Em tempos de globalização, onde tudo acontece com espantosa rapidez, não poderia ser diferente. O corpo de João Paulo II não tinha ainda baixado à sepultura e o povo, extasiado, gritava, lá fora: “santo súbito” (santo já).

            O povo precisa de santos. Clama por santos. E a Igreja sabe que uma forma de se manter popular é ter muitos santos. E que, de preferência, sua canonização seja feita no menor tempo possível. Já no papado de Karol Wojtyla, a Igreja se valeu do carisma e da popularidade de Tereza de Calcutá para iniciar seu processo de canonização, em tempo recorde, logo após a sua morte. É também um excelente instrumento de política diplomática da Santa Sé com os países de origem do candidato a santo. Quem não deseja ter um conterrâneo elevado à glória dos altares?

Política e Diplomacia

            Mesmo se constituindo, pela tradição da Igreja, num processo que visa a apurar as qualidades intrínsecas e realmente santificantes do candidato, um procedimento de canonização não deixa de ter, também, componentes políticos. A canonização do espanhol José Maria Escrivá de Balaguer, por exemplo, feita por João Paulo II, em 2002, gerou descontentamento por parte das alas progressistas da Igreja. Não posso imaginar um Frei Betto rezando diante da imagem de Balaguer, que foi fundador do ultraconservador movimento católico conhecido como Opus Dei.

            Já a santificação de João Paulo II, cuja iniciativa teria partido das bases, naqueles transes de verdadeiro êxtase coletivo que tomou conta da Praça de São Pedro, nos dias que se seguiram à sua morte, tende a ser irreversível. Por isso, Bento XVI já anunciou que não levará em conta antiga norma que prescreve um prazo de 5 anos para o início do processo. Será atendido o apelo do povo: santo súbito!

Fé sem razão

            Mas, como se sabe, para alguém ser santo precisa fazer milagres.  Reza a lei canônica que o milagre, geralmente uma cura, terá de se revestir destas características: instantaneidade (ocorrido logo após o pedido), perfeição (atendido completamente), durabilidade (a cura tem de ser para sempre) e preternaturalidade (não explicável pela ciência). No caso de João Paulo II, já choveram relatos de curas em todo o mundo. Por isso, sua canonização já é tida como certa.

            Quem investiga fatos paranormais sabe que eles acontecem em todas as culturas, religiosas ou não. Seus agentes têm diferentes crenças ou, às vezes, simplesmente não têm nenhuma. Nem sempre santidade e paranormalidade andam juntas. E nunca o depoimento, por mais honesto, de alguém eventualmente beneficiado com uma cura tida como prodigiosa, poderá espelhar os fatores que a geraram ou confirmar sua presumida autoria.

A santificação de alguém a partir de testemunhos miraculosos jamais passará, assim, de uma presunção que pode atender às exigências da fé, mas jamais satisfará a razão.

Os verdadeiros santos         

            Afora isso, o verdadeiro calcanhar de Aquiles da tese católica dos santos está no fato de a Igreja só declarar como tal quem pertenceu à sua grei. A santidade está acima de dogmas e de crenças. A tese dos santos só ganhará foros de universalidade o dia que seus candidatos forem selecionados independentemente de crença. Por sua grandeza interior, não condicionada à fé eventualmente praticada.  Que haja entre eles lugar, por exemplo, para um Mahatma Gandhi, um Albert Schweitzer, um Francisco Cândido Xavier,  um Martin Luther King ou um Betinho. Aqueles, profitentes de outras crenças, e o último um ateu confesso que, no entanto, dedicou inteiramente sua vida à solidariedade e ao amor aos outros. Quando da morte de Betinho, crônica de Heitor Cony, sugeriu fosse ele declarado nosso primeiro santo laico.

 

Notícias

 

 

GRUPOS DE ESTUDO DO CCEPA

APRESENTARAM RESULTADO DE SEUS TRABALHOS

No período de 1º a 9 de junho os diversos grupos de estudos espíritas (mais avançados) apresentaram, oralmente  e por escrito, as conclusões  dos estudos, por eles mesmos programados para o primeiro trimestre deste ano.

Os temas muito bem debatidos e apresentados para os participantes dos demais grupos do mesmo horário  foram os seguintes:

Direito e Justiça na Ótica Espírita pelo grupo coordenado por Rui Nazário de Oliveira com os seguintes sub-temas: reencarnação, a grande lei; direito e espiritualidade; a justiça na nova era e a utopia possível.

Predecessores do Espiritismo, um estudo apresentado pelo grupo sob a coordenação de Carlos Grossini, descortinando a contribuição de pesquisadores, médiuns e pensadores que antecederam Kardec e tiveram influência na construção do pensamento espírita.

Estudo de O Evangelho Segundo o Espiritismo pelo grupo de Eloá Bittencourt, destacando alguns capítulos mais sugestivos e, principalmente, a excelente e pouco lida introdução desta obra.

Estudo da obra Evolução em Dois Mundos apresentado pelo grupo  de Leda Beier. A mais complexa e técnica obra da série André Luiz foi a escolha deste grupo para um estudo e debate das idéias do autor sobre corpo espiritual, evolução, simbiose, vampirismo e os processos de encarnação e reencarnação.

 

MEDRAN SERÁ CONFERENCISTA DE AGOSTO

            O conferencista da primeira segunda-feira de julho, dia 4, no CCEPA foi o advogado Aureci Figueiredo Martins, dirigente do Instituto Espírita 3ª Revelação Divina, de Porto Alegre, que discorreu sobre o tema “Evolução Consciente”.

            Dia 1º de agosto, em prosseguimento às conferências mensais que têm por local o auditório do Centro Cultural Espírita de Porto Alegre, a exposição estará a cargo do presidente da CEPA  e Diretor do Depto de Comunicação Social do CCEPA, procurador de Justiça e jornalista, Milton Medran Moreira.

            Ele abordará o tema que foi título de seu livro recentemente lançado, “Direito e Justiça – um olhar espírita”.

            A conferência pública de Medran tem início às 20h30 min., mesmo horário em que, nas demais segundas-feiras do mês, reúne-se, também de forma aberta ao público, o Grupo de Conversação Espírita do CCEPA.

 

Enfoque

 

A dialética em Todo cambia

 

José Rodrigues *

 

            Foi no início da década de 90 que ouvi pela primeira vez a música Todo cambia, cantada em castelhano puro. Encontrava-me em Valparaiso, no Chile, junto a companheiros trabalhadores portuários, na tentativa de criarem-se vínculos latino-americanos e caribenhos para fazer frente ao movimento globalizante que se prenunciava. Os sindicalistas chilenos nos levaram a um passeio de barco, umas 30 pessoas, entre elas um acordeonista, que tocava e cantava músicas de fundo folclórico e popular. As ondas do Pacífico nos embalavam, tendo no horizonte os morros que cercam Valparaiso, tomados por habitações da classe média. Mas as ondas da globalização econômica seriam mais fortes e um a um, todos os portos têm sido privatizados, no todo ou em parte, com a redução da interveniência do estado. Para o bem ou para o mal, o tempo é que vai mostrar ganhos e perdas e quem sobra de cada lado.

            Talvez levado pelo inconsciente, o cantor repetia Todo cambia, seguido em coro pelos que conheciam a letra. Sem decifrar até hoje a empatia da obra, levei-a comigo, como algo que tocava fundo, sem mesmo conhecer a letra inteira. Foi quando ouvi Mercedes Sosa interpretá-la e nela descobri condutos da dialética. Graças às facilidades da internet, cheguei ao autor da letra, Julio Numhauser, um músico e antropólogo chileno, que se exilou na Suécia e lá criou a letra, gravada pela primeira vez em 1983, um canto ao mesmo tempo romântico,  evolucionista e saudoso.

            Percorrer os meandros dessa história equivale a voltar às raízes das riquezas latinas, ao mesmo tempo universais. Porque criar músicas, que justifiquem esse nome e fazem o povo pensar, encontra dois obstáculos: os donos do poder da ocasião as vêem como subversivas  e os comerciantes não as promovem, nem os disc-jóqueis, agradados pelas também poderosas gravadoras. Só mesmo letras e músicas de alta qualidade conseguem furar esse cerco, dando espaço ao genuinamente popular, não no sinônimo de vulgar, mas no de reencontro com raízes e culturas.Músicas que fazem denúncias, que dão recados e sustentam a esperança de que um dia as coisas mudarão para melhor. E vale a pena resistir. 

            Nascido em 1939, Numhauser, em 1965 integrou o conjunto folclórico Quilapayún e pela sua formação humanista, passava para as letras uma cultura diferenciada. A ascensão e queda de Salvador Allende, entre 1970 e 1973, iria desencadear perseguições e mortes, fugas e exílios. Até a produção de Todo cambia, na longínqua e fria Suécia. .

            Diz a letra: “Cambia lo superficial/ cambia también lo profundo/ cambia el modo de pensar/ cambia todo en este mundo/. Cambia el clima con los años/ cambia el pastor su rebaño/ que yo cambie nos es extraño”. Em outra estrofe: “Cambia el sol en su carrera/ cuando la noche subsiste/ cambia la planta y se viste/ de verde la primavera/. Cambia el pelaje la fiera/ cambia el cabello el anciano/ Y así como todo cambia/ que yo cambie no es extraño”. 

            Manuel S. Porteiro, ao escrever Espiritismo Dialético, foi, seguramente, o pensador espírita que mais aprofundou esse aspecto no entendimento da Doutrina Espírita. Ele remonta a Heráclito (cerca de 540-470 antes da Era Cristã), cujo lema afirmava que “nada é, tudo chega a ser”, na corrente incessante da vida. Porteiro sustenta que “ter um conceito dínamo-genético do universo e da vida é pensar a evolução com um critério dialético, considerando as coisas não no repouso em que se apresentam, mas em movimento, como na realidade estão...”.  Ou seja, tudo muda.

            Para compor sua obra magna, Porteiro também verseja (no texto original não consta a autoria destes versos), para enfatizar as mutações da natureza, sustentada por um princípio criador que se manifesta em diferentes estados. Escreve: “La molécula de hierro que hoy colora/ de la mujer amada la mejilla,/ puede ser la que gravite, en mala hora,/ del verdugo en la mortal cuchilla,/ Y el átomo de oxígeno que brilla/en la vista sutil del hombre sabio,/ quizás bese a la dulce florecilla/ o aliente mañana en nuestro labio”.

            Kardec também desenvolveria o princípio da transformação da natureza, espiritual e material, esculpindo a máxima de que “o homem deve progredir sem cessar e não pode voltar ao estado de infância”, pondo aí o conceito da acumulação, base da dialética.

             Numhauser, com quem troquei correspondência no início de abril deste ano,  pela internet, disse-me que “me alegra saber que mi canción cruce tantas fronteras”.  Ele é adido cultural na embaixada do Chile em Estocolmo, cidade distante de sua terra natal, de costumes, culturas e raízes igualmente distantes das suas. Talvez  movido por tantas diferenças e desejando se apegar às raízes de sua origem, completou assim Todo cambia: “Pero no cambia mi amor/ por lejos que me encuentre/ ni el recuerdo, ni el dolor/ de mi pueblo y de mi gente./ Y lo que cambió ayer/ tendrá que cambiar mañana/ asi como cambio yo/ en neste tierra lejana./ Pero no cambia mi amor/ por más lejos que me encuentre/ ni el recuerdo, ni el dolor/ de mi pueblo y de mi gente/ Cambia, todo cambia/ cambia, todo cambia”.

            Mercedes Sosa apelidada de La Negra, por sua origem mestiça, daria um tom majestoso à letra de Julio.  Nascida em San Miguel de Tucumán, Argentina, em 1935, também sofreu as agruras do exílio, na França e na Espanha. Ela poderia voltar à Argentina, desde que não cantasse...

            Sua discografia é plena de poesias que cantam a vida, os povos, costumes, com detalhes de comportamento, que a tornaram uma personagem universal e  representante da Unesco. Seu nome liga-se ao que chamaríamos hoje de desenvolvimento sustentado, conceito que supõe o respeito aos bens da Terra, vista em seu conjunto natural e humano.          Talvez se não tivesse cantado Todo cambia, com sua voz firme e profunda, a letra de Julio não teria sido tâo conhecida e difundida.

 

Mercedes Sosa, apelidada de La Negra, por sua origem mestiça, daria um tom majestoso à letra de Julio.

 

*José Rodrigues é jornalista e economista. Um dos coordenadores do site Pense – Pensamento Social Espírita: www.viasantos.com/pense. E-mail: zero@carrier.com.br

 

Opinião do Leitor

            Estimado Milton:

            Acabamos de recibir Opinião, Junio 2005. 

            Mi más sincero agradecimiento por enviarnos varios ejemplares de vuestro magnífico Órgano de Difusión, y sobre todo, por tu apoyo al incluir la reseña de los 25 años del CBCE. ¡Ha quedado excelente!

            Para nosotros representa un halago vernos incluidos en las páginas de América Espírita, entre las Instituciones, colaboradores, compañeros de Ideal, mucho más cualificados, que cooperan en esta interesante Publicación.

            Enhorabuena por los artículos que conforman Opinião, Junio 2005. Alguno de ellos será traduzido para Flama Espirita.

            Comparto la opinión de "tender puentes" entre los países. Creo necesario se estimule de alguna forma esa labor para dar opción a que se conozca otra visión, talante y forma de divulgación del Espiritismo.

            Recibe nuestro afectuoso abrazo.

            Pura Argelichcbce@terra.com – Barcelona, España.