OPINIÃO Ano XI – Nº
120 Junho 2005
Um Projeto Kardecista Para a América Do Norte
Nossa Opinião: Tempo de estender pontes
Enfoque: DEUS NÃO EXISTE Deus é (
Andréia Vargas )
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UM PROJETO
KARDECISTA PARA A AMÉRICA DO NORTE
A XV Conferência Regional Espírita da CEPA,
a realizar-se em setembro de 2006, em Miami, vai levar aos Estados Unidos a
visão laica, kardecista e livre-pensadora da CEPA.
De
Hydesville a Kardec
A Conferência de Miami, organizada
por Ciencia Espiritista Kardeciana,
entidade filiada à CEPA, com sede naquela importante cidade da Flórida, deverá
acontecer no mês de setembro de 2006, em datas que deverão ser precisadas nos
próximos dias. A Comissão Organizadora é presidida por Nídia
de Sendra, vice-presidente de CEK.
Levar
Kardec à USA
A proposta do tema, formulada pela
Comissão Organizadora da XV Conferência Regional Espírita, partiu de uma
evidente realidade: os Estados Unidos da América sempre se destacaram como um
país de intensa fenomenologia espírita. Desde as irmãs Fox,
protagonistas dos célebres acontecimentos de Hydesville,
aos nossos dias, o mediunismo encontrou ali terreno
fértil. Mesmo assim, Kardec e sua obra são
escassamente conhecidos na grande nação irmã.
O médico porto-riquenho Pablo
Serrano, 3º vice-presidente da CEPA, destacou, em recente mensagem, via
Internet, dirigida ao Conselho Executivo da instituição, que “atualmente, nos Estados Unidos, se está
propagando bastante um espiritismo marcadamente religioso e sincrético”.
Diz Serrano que, inclusive, se formam “concílios
de agrupamentos pretensamente espíritas”, mas com práticas religiosas,
distanciadas do kardecismo e, especialmente, da visão
laica e livre-pensadora desenvolvida pela CEPA.
O médico espírita
porto-riquenho, Pablo Serrano, defende que há um amplo terreno para que seja
levada a mensagem kardecista e livre-pensadora
espírita aos EEUU.
Igrejas
Espiritistas
O argentino Dante López, 2º
vice-presidente da CEPA, concorda totalmente com Serrano e relata haver adquirido
recentemente numa livraria de Buenos Aires uma obra chamada “Como comunicar-se com os espíritos”.
Sua autora, Elisabeth Owens, qualifica-se como “médium diplomada e ministra da
igreja Espiritista”. Participa de numerosos programas de televisão, é autora de
seis livros e figura entre os membros da Associação Nacional de Escritoras
Norte-Americanas. Mas, segundo Dante, “em
nenhum parágrafo do livro, Kardec é mencionado, dando
a idéia de que o espiritismo houvesse
nascido e existido unicamente dentro daquelas igrejas”. Com isso, o líder
espírita argentino concorda integralmente que um movimento como a CEPA, que tem
na obra kardequiana seu referencial básico e
fundamental, precisa redobrar esforços no sentido de levar Kardec
aos Estados Unidos.
TEMPO DE ESTENDER PONTES
Pesquisa realizada nos Estados
Unidos, em 1994, pela rede de televisão CNN, o jornal USA Today
e a empresa Gallup, atestava que 70 milhões de norte-americanos, já naquela
época, acreditavam poder se comunicar com os espíritos. Hoje, lá, as práticas
ligadas ao mediunismo se constituem numa verdadeira
febre.
Mas, o fenômeno mediúnico, no país,
é mais do que qualquer outra coisa, um estímulo à produção e venda de livros de
“auto-ajuda” e à realização de espetáculos televisivos. Exemplo disso é um
programa que pode, inclusive, ser assistido no Brasil, pelo canal People and Arts.
Nas segundas-feiras, às 22 h, quando John Edward apresenta o seu “Fazendo
Contato”. Para um auditório sempre lotado, Edward, considerado um dos grandes
médiuns do “boom” paranormal que inundou o país,
promove semanalmente um verdadeiro “show” de comunicação com familiares
falecidos dos espectadores. Estes entram em uma lista de espera de 2 anos para
terem a oportunidade de atendimento e receberem, frente às câmeras, recados de
seus entes queridos.
Fraude? Mistificação? Provavelmente
não. A mediunidade é um dom natural que tanto pode servir a interesses
comerciais, de exibição pública ou de mera curiosidade, como, também, para
iniciativas de solidariedade, de auxílio desinteressado ao semelhante ou de
produção de conhecimento.
O fenômeno em si – e isso Kardec deixou muito claro – é neutro. Não é bom, nem mau.
Os objetivos a que se entregam aqueles que dele fazem
uso e os métodos empregados é que irão qualificá-lo e aprimorá-lo. Mediunismo não é espiritismo. Mesmo assim, onde ocorra o
fenômeno pode-se estar abrindo um canal para a introdução, mesmo que paulatina,
da genuína prática espírita.
A CEPA tem uma história muito rica
no processo de qualificação do movimento espírita da América. Sua atuação nos
EEUU é ainda bastante incipiente, mas dignificada pela presença, em Miami, de Ciencia Espiritista Kardeciana, a
anfitriã do evento do próximo ano. A ela caberá também essa tarefa de estender
pontes entre o fenômeno, já tão prestigiado e conhecido, e Kardec,
personagem quase inteiramente desconhecido no país (A Redação).
O BRASIL DESIGUAL
“A reforma social deve partir da reforma moral
do ser humano, um impulso centrífugo, de dentro para fora, do indivíduo para a
sociedade.”
(Deolindo Amorim, em “O
Espiritismo e os Problemas Humanos”)
Com
um contingente de pobres na ordem de 53,9 milhões, equivalente a 31,7% da
população, o Brasil coloca-se em penúltimo lugar em distribuição de renda entre
130 países. Os dados são do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). Atrás do Brasil, nesse infamante índice, apenas
Serra Leoa, um miserabilíssimo país africano.
Com toda a certeza, esse injusto
país não é o que já foi sonhado e cantado, no meio espírita, como “Coração do
Mundo e Pátria do Evangelho”. São consideradas pobres, na metodologia empregada
pelo instituto que fez a pesquisa, as pessoas com renda per capita inferior a
meio salário mínimo por mês. Ou seja: aquelas que não ganham sequer o
suficiente para se alimentarem dignamente. Nunca é demais lembrar o incisivo
conceito expendido pelos espíritos na questão 930 de O Livro dos Espíritos:
“Numa sociedade organizada segundo as leis do Cristo, ninguém deve morrer de
fome”.
A mesma pesquisa dá conta de que um
pequeno contingente de privilegiados brasileiros, ou seja, os mais ricos (1% da
população, correspondente a 1,7 milhão de pessoas) detém uma renda igual a de 50% dos mais pobres (86,5 milhões de pessoas). É uma
desigualdade brutal. Absolutamente incompatível com os padrões mínimos exigidos
por uma sociedade razoavelmente justa.
Estamos, pois, longe de
constituirmos uma comunidade de espíritos encarnados minimamente sintonizada
com a lei da Justiça, do Amor e da Caridade, apontada pelos espíritos como a
síntese de todas as outras leis morais (questão 648 de O Livro dos Espíritos).
Não resta dúvida de que na base
dessas desigualdades e injustiças estão presentes fundas carências morais de
uma sociedade que, ao curso de sua história, institucionalizou privilégios e
foi conivente com a criação de castas, protegidas por um arraigado espírito de
corpo. Por muito tempo, se protegeram, aqui, grupos sociais ou segmentos
econômicos, ideológicos ou profissionais, em detrimento dos interesses básicos
e legítimos do povo. A deterioração social daí advinda gerou a desesperança, a
revolta, a iniqüidade e a criminalidade.
É verdade que se pode detectar, hoje,
um imenso esforço de correção de rumos. Os organismos sociais e políticos,
pouco a pouco, se dão conta que, sem ética e justiça, não há progresso. É
justamente desse esforço, fruto de um processo de conscientização, que resulta
a maior apuração da criminalidade de colarinho branco e da corrupção política, sempre existentes, mas antes toleradas ou
encobertas.
Mas, correções de rumo são processos
lentos. Há que se derrogar práticas antes sedimentadas e socialmente aceitas.
Movimentos de mudanças esbarram, sempre, em resistências fortes, partidas
daqueles que se habituaram aos privilégios. Aí, justamente, é que se impõe a
virtude da renúncia e a indispensabilidade da verdadeira fraternidade. Essas
qualidades da alma são os verdadeiros combustíveis capazes de gerar a energia
que conduz a um estágio de justiça e de paz. Não há outro caminho.
Estamos longe de constituirmos uma comunidade de espíritos
encarnados minimamente sintonizada com a lei da Justiça, do Amor e da Caridade.
Milton R. Medran Moreira
Anita
No mesmo dia em que manchetes
repercutiam o acolhimento de instauração de uma CPI para investigar a
escancarada corrupção de alguns funcionários do governo, uma notícia de canto
de página atestava a dignidade de uma servidora. Anita Leocádia Prestes,
professora de História da Universidade Federal do Rio de Janeiro doava 100 mil
reais a uma fundação de pesquisa de controle do câncer.O
dinheiro lhe havia chegado dos cofres públicos sem que ela houvesse pedido e, a
seu juízo, sem que o merecesse.
Anita é filha do velho líder
comunista Luiz Carlos Prestes. Encaminhara à Comissão de
Anistia pedido de contagem do período em que esteve em fuga da ditadura,
requerendo fosse aquele computado como efetivo tempo de serviço para
aposentadoria. O órgão concedeu-lhe o benefício e lhe outorgou uma indenização
em dinheiro no valor acima. Ela entende que não é merecedora da indenização,
pois jamais foi presa ou torturada. Ao tomar a atitude, a professora disse ter
aprendido com seu pai que é uma vergonha receber dinheiro do governo.
Materialismo
Não sei das convicções filosóficas
ou, eventualmente, religiosas de Anita. É possível que, como o pai, adote o
materialismo como princípio filosófico e científico. Nós, espíritas, aprendemos a alinhar as
questões éticas e morais com as convicções que construímos acerca de Deus, do
espírito e do universo. Princípios como o da existência divina, a imortalidade
do espírito, a
reencarnação, a lei de causa e efeito, etc., são, de fato, eficientes estímulos
ao aprimoramento ético. Dão suporte racional à intuição que todos
temos do bom e do justo. Mas, precisamos admitir, existem pessoas que,
sem cogitar desses conceitos sequer como hipótese, priorizam
com absoluta naturalidade o bem comum, a solidariedade e o afeto. Talvez sejam
fortes intuições do espírito, patrimônio ético construído independentemente de
crenças, dispensando fundamentos racionais para o correto agir. No fundo, essas
pessoas descobriram que ser honesto e bom é ser feliz, independentemente de crença.
Ética
e religião
Apesar de tudo, não tenho dúvidas de
que a arraigada corrupção e a falta de ética pública de alguns detentores do
poder derivam de uma postura radicalmente materialista. Refiro-me não
exatamente ao materialismo científico ou histórico defendido por Marx e que
foi, entre nós, bandeira de luta do pai de Anita. Falo do materialismo adotado
por pessoas que em tudo vêem oportunidade para vantagens pessoais de caráter
material, sem qualquer preocupação com o outro ou com os interesses coletivos.
Estes são egoístas e egocêntricos. Muitos deles até são religiosos. Têm fé e
pertencem a importantes agrupamentos evangélicos. Mês passado, vimos um
deputado corrupto que, acompanhado de seus companheiros de bancada e de crença,
ao iniciar a sessão da Câmara destinada a examinar sua cassação, fazia orações
com gestos teatrais pedindo a Deus que o livrasse da perda do mandato. Ainda
bem que suas preces não foram atendidas e nosso Parlamento se viu livre de mais
um corrupto.
Momento
crítico
Talvez estejamos vivendo o momento
mais crítico de nossa História. O povo já não suporta a corrupção de seus
políticos e governantes. Ao mesmo tempo, as práticas políticas que adotamos
favorecem a corrupção. Quase se pode dizer que o governante, por mais bem-intencionado
que seja, para se manter no poder precisa, de uma certa
forma, compactuar com políticos desonestos, materialistas (no sentido acima
explicitado), descompromissados com o bem-comum e interessados apenas em
auferir vantagens pessoais.
Esse quadro necessariamente remete à
etiologia de todos as tragédias políticas e sociais: a
deficiência moral e ética dos cidadãos que formam a sociedade. Reformar
politicamente a sociedade implica, fundamentalmente, em educar o homem para o
bem. Incutir-lhe a convicção de que a felicidade, a paz e o bem-estar são
conseqüências naturais do reto agir.
O Centro Cultural Espírita de Porto
Alegre agora edita um boletim eletrônico, enviado por e-mail a todos os
interessados.
O boletim n.1, distribuído no final
de maio, fez resumo das atividades sediadas pelo
LEO E AURECI CONFERENCISTAS DE JUNHO E JULHO
Prosseguindo com sua programação de
conferências especiais na primeira segunda-feira de cada mês, o Centro Cultural
Espírita de Porto Alegre conta, neste 6 de junho, com
a presença do Eng.Léo Falkemberg
Indrusiak, que fala sobre o tema “Reflexões sobre a
Liberdade”. Léo é ex-presidente
e um dos dirigentes do Instituto Espírita 3ª Revelação Divina - IETRD.
Para a primeira segunda-feira de
julho (4.7), o convidado é o advogado Aureci
Figueiredo Martins, também dirigente e ex-presidente do IETR, que aborda o tema
“Evolução Consciente”.
O horário das conferências mensais
do
ICKS CONVIDA: ENVIE SEU TRABALHO PARA O SBPE
O Instituto Cultural Kardecista de Santos está lembrando que em 30 de junho
expira o prazo para o envio de resumos de trabalhos para o 9º Simpósio
Brasileiro do Pensamento Espírita. O resumo, em uma lauda, formatado em fonte
times news roman, 12, deverá ser enviado para os
organizadores do evento, e-mail
ickardecista@ig.com.br .
Ao receber a proposta de trabalho,
através do resumo, a Comissão Organizadora verificará apenas se o tema está
adequado aos propósitos do Simpósio, sem caráter de censura. Admitida a inscrição, o autor terá o prazo até 30 de agosto para o
envio do trabalho a ser apresentado oralmente no evento.
O 9º Simpósio Brasileiro do
Pensamento Espírita acontece na cidade paulista de Santos, de
(RECORTAR
DO BOLETIM DO ICKS A LOGO DO EVENTO E INSERIR NA MATÉRIA).
DEUS NÃO EXISTE
Deus é.
Andréia Vargas*
Dizer que algo existe é abrir precedentes para a sua não
existência. A idéia de existência tende a coisificar
ou personificar. Por isso, refletindo numa conversa entre amigos, cheguei a
este pensamento: Deus não existe!
Não. Não sou atéia. Quero falar aqui justamente àqueles que
acreditam num Ser, muito superior e poderoso, autor de tudo o quanto se move,
existe, se comunica, se entrelaça no universo, do
micro ao macrocosmo; que acredita no mantenedor de todo equilíbrio, dos
sistemas, do caos à ordem, no presente, passado e futuro.
A existência é vulnerável. Se algo existe, está em algum
lugar, sofrendo a ação do tempo, do espaço. E se isso fosse atribuído a Deus,
não poderia ser ele a suprema e soberana inteligência, causa primeira de todas
as coisas.
Ainda há
a necessidade de dizer que Deus existe. A existência de um ser superior, que a
todos observa, deixa acuados os instintos de maldade. Aceitar a existência de
Deus é admitir que existe um ser superior que reprova,
condena. É a idéia de um pai que castiga o filho pelos erros. Ainda é
necessário crer num personagem repressor para frear a maldade. Assim acontece
com a idéia do demônio; é muito mais cômodo atribuir a outro ente a maldade
alojada no nosso íntimo ou os revezes da nossa existência. Talvez, por isso,
houve uma época em que homens, insatisfeitos com a idéia de serem joguetes de
um ser que determinava todo seu destino, estabeleceram a morte de Deus. Os
filósofos existencialistas acreditavam que Deus cerceava toda a liberdade de
expressão do homem. Com a morte dele, as pessoas eram
o que eram, autores e responsáveis pelos seus atos.
A existência de um ser
superior, que a todos observa, deixa acuados os instintos.
Veio, então, a Doutrina Espírita dizer que temos livre
arbítrio e somos responsáveis pelo uso que fazemos dele. Mas esta não é uma
simples concordância com os existencialistas. O espiritismo não se desfez de
Deus. Pela simples observação, havemos de concordar com o verdadeiro tratado
sobre Deus que Allan Kardec escreve no capítulo II de
A Gênese: todo efeito inteligente, tem que decorrer de uma causa inteligente.
Ora, a causa não existe; ela é! Ser é constante. Deus é constante. Está criando
constantemente; é a causa primeira e constante de criações e mais criações. Por
isso, a partir do que não pode ser, Allan Kardec definiu alguns atributos de Deus: a imaterialidade e
imutabilidade – porque, como causa primária, não pode estar sob as alterações
físicas; a eternidade – pois, se tivesse começo, teria sido efeito de outra
causa, muito superior; a soberana e suprema inteligência e onipotência – se
fosse diferente, poderíamos conceber um ser mais inteligente e mais poderoso;
soberana justiça e bondade – porque, se assim não fosse, seria parcial e
continuaríamos joguete de um ser mais poderoso. É preciso ser para existir. O
ser vem antes da existência. Outro ponto que vai de encontro aos
existencialistas. O ser é essência, força motora para a ação do existir sobre e
no mundo. Agimos sem existir! Mas não agimos sem ser. Algo não precisa existir
se é. A existência é fugaz. Se algo existe é porque alguma coisa o gerou.
Existe, está lá, seja onde for, distante. Existe
agora; pode não existir depois. Ser dá a idéia de penetrar todos os recantos do
mundo, a tudo e a todos; dá idéia de constância, sempre; que atua em todos os
momentos. A verdadeira providência. Por isso, a esta frase tão sartreana – Deus não existe –, complemento: Deus é!
*Andréia Vargas (andreiavargas@jpa.neoline.com.br) é jornalista, membro da ASSEPE (Associação de Estudos e Pesquisas Espíritas de João Pessoa)