OPINIÃO Ano XI – Nº 115 Dezembro 2004

 

ECONOMIA CRESCE, MAS FOME NÃO DESAPARECE

Nossa Opinião: TEMPO DE REPARTIR O PÃO

Editorial:  Mensagem do Presidente do CCEPA

Notícias: CCEPA jovem com força total   IETRID festeja 73 anos com música    CCEPA confraterniza  CARLOS GROSSINI fez a última conferência do ano

Opinião em Tópicos:  Soldados-robôs -  A propósito  -  Não morrem, mas matam  - Tempos de sonhar  (Milton Medran Morreira)

Enfoque:  Sociedade sustentável: Uma utopia ou uma realidade próxima (Cynthya Michelin)

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ECONOMIA CRESCE, MAS FOME NÃO DESAPARECE

Países que têm sua economia regulada pelas leis do mercado, entre eles o Brasil, festejam os bons resultados do ano. Mas, fome e desigualdade continuam sendo o grande desafio.

 

Balanços de fim de ano

Épocas de Natal e fim-de-ano são convencionalmente tempos de balanço. No Brasil, Governo, economistas e empresariado vivem momentos de euforia. Calculam ter havido um crescimento econômico de aproximadamente 4%. Igual índice de crescimento é divulgado na economia no mundo. Assim mesmo, dados fornecidos por organismos internacionais atestam elevados índices de pobreza e de marginalização, inclusive em países onde a economia apresenta sensíveis melhoras.

Neste mês de dezembro, a FAO (Organização das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação) apresentou relatório atestando a existência de 852 milhões de pessoas desnutridas no mundo. Destas, cerca de 53 milhões vivem na América Latina e no Caribe.  Mas, mesmo nos países industrializados há ainda um número excessivo de famintos: cerca de 9 milhões. Os demais estão nos chamados países em desenvolvimento (entre os quais o Brasil). Nestes há 815 milhões de desnutridos. Os países classificados como em transição

abrigam 28 milhões de famintos.

Crianças são vítimas preferenciais da fome no mundo. A desnutrição mata 5 milhões delas por ano. Ou seja: a cada 5 segundos morre de fome uma criança no mundo.

(GRAVURA CHILDREN 1)

Vítimas da fome: a cada 5 segundos morre de desnutrição uma criança no mundo

Caixa de texto: (GRAVURA CHILDREN 1)
Vítimas da fome: a cada 5 segundos morre de desnutrição uma criança no mundo

Produção de alimentos x fome

O incremento das riquezas no planeta contrasta com o crescimento da miséria. Graças aos avanços da ciência e da tecnologia, produzem-se hoje alimentos que poderiam saciar a fome de, pelo menos, 10 bilhões de pessoas. A população mundial é pouco mais da metade disso. O dado comprova uma injustiça que se agrava: o desempenho da economia, que se festeja neste e em todos os finais de exercício,  não encontra aplicação equânime no atendimento das necessidades básicas de todos os seres humanos. A desigualdade social se agrava com o crescimento econômico.

 

A posição espírita

Assegurando que a desigualdade social “é obra do homem e não de Deus” (questão 806 de O Livro dos Espíritos) e que “numa sociedade organizada segundo a lei do Cristo, ninguém deve morrer de fome” (q.930), a filosofia espírita rejeita o fatalismo do sofrimento material como punição divina e atribui à organização social e política o dever ético de promover a justiça social.

 

Nossa Opinião

 

TEMPO DE REPARTIR O PÃO

Uma das mais belas simbologias da religião cristã, cuja festa máxima é celebrada neste mês de dezembro é a da repartição do pão. De uma certa forma, a cristandade assimilou essa mensagem e fez do Natal a celebração da solidariedade. Na cultura cristã, em que estamos inseridos, o Natal sempre desperta em nós sentimentos de afeto que se estendem para além de nosso círculo e se derramam em atos de solidariedade moral e material para com aqueles que mais necessitam.

Nos meios espíritas, se criaram belíssimas tradições de caravanas fraternas que se fazem mais intensas na época natalina, quando se parte para o auxílio direto aos desamparados da vida, levando-lhes alimento e conforto.

O dever de solidariedade e o sentimento de justiça estão fortemente inseridos na natureza humana e se impõem como necessidade evolutiva do espírito. Dessa forma, compensando o egoísmo ainda predominante em nós, é compreensível que elejamos datas especiais para romper com a rotina atávica de nos preocuparmos exclusivamente conosco e com nosso restrito círculo familiar e de amizades.

Temos de reconhecer. A prática da “benevolência para com todos”, expressão mediante a qual os espíritos definiram a primeira característica da caridade (q.886.L.E.), ainda não é habitual. Nem em nós, nem na rotina do mundo. A conquista de patamares sociais e econômicos que guindam indivíduos ou países para acima da média geral tende a gerar neles a despreocupação com os socialmente desamparados.

Até quando será assim? Na medida em que, pela omissão e egoísmo dos que mais têm, agrava-se a situação dos despossuídos, a vida se há de tornar mais difícil para todos. Desigualdades e injustiças sociais geram revolta, guerras, sofrimento e instabilidade social.

Repartir o pão é muito mais do que uma simbologia. É concreta necessidade, pressuposto indispensável ao equilíbrio de cada povo, nação ou da comunidade planetária como um todo. (A Redação) .

 

Editorial

 

Mensagem do Presidente do CCEPA

 

MISSÃO CUMPRIDA

Eis que chegado o fim de 2004, momento propício para uma reflexão sobre a atividade da nossa instituição. Sem dúvida, foi um ano de satisfatórias realizações. O Centro Cultural Espírita de Porto Alegre, tendo presente sua identidade que se traduz por uma visão do Espiritismo como uma doutrina filosófica livre-pensadora, progressista, libertadora, claramente otimista em relação ao homem, absolutamente fiel aos princípios básicos da obra e do pensamento de KARDEC, direciona suas atividades, precipuamente, para os estudos espíritas, organizando-se em grupos de estudos permanentes (diurnos e noturnos), integrados por associados da casa, de modo que todos os integrantes do CCEPA mantêm-se em permanente atividade cultural, integrados aos seus respectivos grupos.

Mas a instituição desenvolve, ainda, eventos culturais espíritas voltados ao público externo. Realizamos Cursos de Introdução ao Espiritismo - CIESP, sendo dois no primeiro semestre e dois no segundo. Um pela tarde, outro à noite. São encontros semanais ao longo de seis semanas, nos quais freqüentadores recebem informações básicas e começam a conhecer o Espiritismo. Para aqueles que se interessarem em continuar os estudos espíritas, há a possibilidade de ingressarem no chamado CIBEE, Ciclo Básico de Estudos Espíritas, curso mais alongado, onde o estudo é mais abrangente e aprofundado, mas ainda com a característica de base e generalidade. Pois bem. Alguns amigos e amigas que participam destes cursos acabam por permanecer no CCEPA para alegria nossa. Os demais, mesmo não se comprometendo com a instituição, farão parte do grupo de amigos que conquistamos e que tiveram, através destas iniciativas do Centro Cultural, um contato com o Espiritismo e seus princípios. Estes novos amigos certamente continuam a participar de eventos promovidos para o público externo, como os grupos de conversação de segunda-feira à noite e de sexta-feira à tarde, e as palestra públicas da primeira segunda-feira de cada mês. Enfim, realizamo-nos duplamente, porque construímos e difundimos o conhecimento espírita, cumprindo o objetivo maior da instituição, e conquistamos amigos e colaboradores.

É momento de enaltecer e agradecer o esforço de cada um dos trabalhadores do CCEPA, que não economizaram dedicação para que se alcançassem estes objetivos. A solidariedade, companheirismo e o respeito à opinião do outro foram a marca maior dentre nós. Não foi pouca a exigência que pesou sobre cada trabalhador, porquanto ao par das atividades de estudos, demandando disciplina e disponibilidade, as funções administrativas, a organização, recepção e apoio em eventos etc requereram um esforço a mais de todos nós. Inobstante, de tudo nos desincumbimos com eficiência e felicidade. A todos, pois, fica a gratidão do CCEPA.

Nosso trabalho não sofre interrupção pelo fato da mudança no calendário, apenas uma etapa superada. O CCEPA, como se sabe, está em permanente atividade. Mas para não fugir ao espírito da época, em que esperanças e sonhos são renovados, vamos torcer e desejar que o ano de 2005 nos seja favorável às próximas realizações almejadas. Que possamos todos, trabalhadores, amigos, leitores e companheiros desencarnados que se interessam por nosso trabalho  manter este vínculo de união fraterna em torno da doutrina espírita.

 

Rui Paulo Nazário de Oliveira – ruipaulo@terra.com.br

Presidente do Centro Cultural Espírita de Porto Alegre

 

 

 

Notícias

CCEPA JOVEM COM FORÇA TOTAL

Tendo iniciado suas atividades em outubro deste ano, o “CCEPA Jovem”, grupo de jovens que se reúne semanalmente (quintas-feiras, à noite) no CCEPA vem ganhando força e entusiasmo

Malu Darcie, coordenadora, informa que, além do estudo, o grupo planeja outras atividades com o objetivo de integração dos jovens aos demais grupos de estudo da Casa.

Mariana Benchaya, monitora do grupo, informou que planejam realizar, no último encontro de cada mês, uma dinâmica de grupo: “Acho que essa atividade dinâmica dá espaço à integração e ao crescimento”. Mariana também está motivando os demais integrantes do grupo para que se inscrevam na lista “CEPA Jovem”, grupo de discussão que visa a integração de jovens espíritas da América, por iniciativa da Confederação Espírita Pan-Americana.

Podem participar do grupo de juventude do CCEPA jovens de 15 a 25 anos, interessados em conhecer o espiritismo, a partir do pensamento de Allan Kardec e que gostem de refletir, investigar, questionar e agir positivamente no mundo. Interessados entrem em contato com Maria, telefone (51) 32115315 ou 92488604 ou, ainda, por e-mail: mcbenchaya@yahoo.com.br ou ccepa@terra.com.br .

 

 

IETRD FESTEJA 73 ANOS COM MÚSICA

O Instituto Espírita Terceira Revelação Divina – IETRD – tradicional instituição espírita do Bairro Cristal, zona sul da Capital gaúcha, comemorou seu 73º aniversário de fundação com um belíssimo espetáculo musical a cargo do Conservatório Pablo Komlós, da Fundação Orquestra Sinfônica de Porto Alegre - OSPA.

O espetáculo com cantores e instrumentistas, reunindo associados, colaboradores e convidados, aconteceu no auditório da instituição, na manhã de 20 de novembro último. Representando a Confederação Espírita Pan-Americana e o Centro Cultural Espírita de Porto Alegre, compareceu o evento, a convite do presidente do IETRD, Aureci Figueiredo Martins, o editor deste jornal, Milton Medran Moreira.

 

CCEPA CONFRATERNIZA

Associados, colaboradores e amigos do Centro Cultural Espírita de Porto Alegre – CCEPA – reuniram-se em confraternização de fim-de-ano na sede do Clube de Mães da Vila Assunção, na Capital gaúcha, na noite de 4 de dezembro.

Em movimentado jantar, organizado pelo Departamento Social da Casa, sob a coordenação de sua Diretora, Sílvia Pinto Moreira, cerca de 80 pessoas viveram, na oportunidade, momentos de confraternização e descontração.

 

CARLOS GROSSINI FEZ A ÚLTIMA CONFERÊNCIA DO ANO

Carlos Grossini, Diretor do Departamento de Estudos do Centro Cultural Espírita de Porto Alegre, foi o conferencista da última conferência mensal do CCEPA, dia 6 do corrente mês de dezembro.

Discorrendo sobre “Espiritismo e suas Bases”, Grossini abordou os princípios fundamentais do espiritismo para um público de cerca de 50 pessoas.

 

SALOMÃO FALA EM JANEIRO

Prosseguindo com seu programa de conferências especiais na primeira segunda-feira de cada mês, Salomão Jacob Benchaya, Diretor de Eventos do CCEPA, fala, dia 3 de janeiro próximo sobre “A Reencarnação sob a ótica espírita”, no auditório da instituição, à Rua Botafogo, 678, às 20h30min.

 

 

 

Opinião em Tópicos

Milton R.Medran Moreira

 

Soldados-robôs

A tecnologia da guerra acaba de anunciar sua última invenção: os soldados-robôs. Eles estão se preparando para, no ano que vai chegar, substituir recrutas de carne e osso que lutam no Iraque. Operados por controle remoto, soldados feitos de aço e de circuitos eletrônicos vão entrar em ação em situações especiais como, por exemplo, no cerco a zonas urbanas.

Os batalhões de robôs, equipados com metralhadoras, fuzis e lançadores de granada, serão comandados por um operador a 800 metros de distância. Assim, o inimigo não terá como atingir o soldado americano. A presença dos robôs substituindo soldados no Iraque, segundo o fabricante, deverá reduzir de forma dramática o número de americanos vítimas dos combates.

A propósito

Um dia isso teria que acontecer. A robótica tinha mesmo que produzir algo politicamente mais correto do que aqueles bonecos substituindo homens nas linhas de produção das grandes fábricas e agravando um dos problemas do século: o desemprego. Com certeza, essa substituição há de amenizar os efeitos políticos decorrentes das mortandades na guerra. A propósito, um relatório do serviço secreto americano, recentemente divulgado pelo jornal New York Times, dá conta de que as vitórias militares norte-americanas, tão do agrado do governo Bush, não estão redundando em idênticos dividendos políticos no seio da opinião pública da nação. Pudera! Até agora, no Iraque, quase 11 mil soldados americanos foram mortos ou feridos. Certamente, número bem superior ao que poderia ser projetado relativamente à ação do terrorismo. Até porque este tem sido eficientemente combatido pelos métodos internos de segurança adotados depois do 11 de setembro.

Não morrem, mas matam

A evidente vantagem trazida pela nova invenção tecnológica é a de que soldados-robôs não morrem. Não têm mães nem namoradas que, à distância, estarão com o coração despedaçado, vivendo a angústia suprema de ter um ente querido na guerra.

Mas, um problema subsiste: soldados-robôs matam. E, certamente, com maior competência e precisão do que os homens que têm se encarregado dessas operações. Os circuitos eletrônicos componentes de sua estrutura não serão nenhum pouquinho afetados, presumo, pelo desconforto que sempre fica na alma de quem suprime uma vida. Robô não tem alma. Um exército deles dispensará a presença, no front da guerra, de capelães, psicólogos e psicoterapeutas, treinados para aliviar as dores psíquicas de quem dispara tiros de fuzis ou joga granadas em soldados que, como eles, têm namoradas e mães. Robô não tem mãe, nem namorada.

Tempo de sonhar

Não deixa de ser uma ótima notícia esta, divulgada pelos Estados Unidos, ao apagar das luzes de um ano em que tantas famílias se enlutaram com a perda de seus filhos na guerra do Iraque. Robôs que não morrem vão substituir homens que compõem tropas permanentemente dizimadas pela guerra. E, porque a notícia foi divulgada em tempos natalinos, época de sonhar, deixou, além disso, espaço para um sonho de Natal. O de que, logo, se inventem também robôs que não matem. Ou será este um sonho impossível? Bem, aproveitemos para sonhar um pouco mais além: que, no Novo Ano não existam mais guerras no planeta.

 

Enfoque

 

SOCIEDADE SUSTENTÁVEL: UMA UTOPIA OU UMA REALIDADE PRÓXIMA?

 

Cynthya Michelin*

 

Vivemos um tempo  de incertezas e de perplexidades ante a violência com que nos deparamos,  seja nos meios de comunicação de massa,  seja nos centros urbanos.

Para alguns, estaríamos diante do fim e para outros atravessando o limiar  de uma nova era...Como se  o progresso pudesse  dar saltos rápidos e as mudanças ocorressem do dia para noite, num passe de mágica e, principalmente, sem nenhuma ação de nossa parte.

Perdemos o controle e nos sentimos inseguros diante dessa conturbada desorganização social.

Fazemos guerra com a esperança de que destruindo aquilo que nos incomoda e que nos atrapalha, conseguiremos recolocar o mundo no eixo do equilíbrio. Como que se bastasse dizimar um país, uma raça ou um grupo social, uma minoria qualquer, para que se apagasse ou apagássemos hábitos e costumes milenares. Não paramos para pensar que estamos violentando aquilo de mais profundo e sagrado que os seres carregam: suas heranças culturais e sociais; seu patriotismo e seus ideais; sua fé e suas crenças.

Em nosso país, as atitudes não são diferentes. Nos mantemos estáticos diante dos desperdícios dos bens e do patrimônio público, vendo a miséria proliferar de maneira alarmante, estimulando sobremaneira a violência e potencializando o terceiro poder econômico mundial: o tráfico de drogas.

As mudanças intermitentes nos confundem, nos deixam inseguros e sem perspectivas  quanto ao futuro, nos induzindo  à alienação em um mundo que nada tem a nos oferecer de concreto e seguro.

Não sabemos o que é mais utópico:  se a tentativa de exclusão dos diferentes numa rápida dizimação ou a possibilidade de se pensar  na criação de uma sociedade sustentável, pois somos gestores de meio social  voltado principalmente a valores materiais estéticos, ao individualismo, na maioria das vezes esquecido da ética, do exercício da cidadania e dos direitos humanos. Segundo, Ribeiro de Almeida,  esta deficiência vem da separação que a educação clássica  estabeleceu entre conhecimentos e sentimentos, consciência e saber :

“Problemas de sobrevivência  de milhões não podem mais ser adiados e, para lidar adequadamente com a  pobreza  e a exclusão afrontosas, precisamos inventar novas formas de desenvolvimento cultural e econômico,  compatíveis com a integração social, a participação dos cidadãos  e a justiça social.”[1]

O ambientalismo,  ciência que estuda   a relação sociedade-natureza e que possui uma enorme preocupação com a educação e a formação ética, impõe  novos paradigmas e reforça a idéia de que o homem não é o centro do universo mas  parte integrante deste e que, em assim sendo,  não possui privilégios que o diferenciem dos outros componentes   e  menos ainda o direito de explorá-los de maneira irresponsável como faz e que, talvez,  sem sanções ou mesmo noções, prosseguirá fazendo.

Quando nos referimos ao meio ambiente, o fazemos no mais amplo conceito da palavra, discutindo o  contexto familiar, social, histórico, científico, biológico e político, em que  tudo e todos  estão inseridos, e os conseqüentes impactos  endógenos e exógenos que tanto  interferem na  formação dos seres.

Sustentabilidade é a ótica ambiental que busca solucionar os problemas e as deficiências  de forma  menos IMPACTANTE POSSÍVEL.

Portanto, sendo a sustentabilidade a solução racional e moral para a preservação do nosso planeta, ela não pode deixar de considerar a estrutura psico-social dos cidadãos.

Sociedade sustentável, não propõe um retrocesso à era das cavernas, nem supremacia das políticas imperialistas, nem tampouco capitalismo selvagem ou extremos esquerdistas, mas sim,  soluções equilibradas  visando o bem estar de todos, num convívio harmonioso entre culturas,  raças, ideologias; soluções viáveis, exeqüíveis  às necessidades básicas associando o cotidiano à  preservação do meio.

Como cidadãos, enquanto espíritas, crentes na reencarnação, temos responsabilidade muito maior frente a estes desgastes do mundo moderno. Não somos os ‘salvadores da pátria’, nem os detentores do “consolador”, mas, considerando que nosso discurso e nosso comportamento devem caminhar lado a lado, o engajamento nesta árdua tarefa de reformulação de valores e eliminação de maus hábitos, só pode e deve referendar a atualização do espiritismo, que tanto idealizamos. A atualização do pensamento espírita não poderá ser meramente um discurso teórico, mas sim e inclusive uma atualização de nós mesmos, ante a urgência de mudanças quase que radicais em nossas atitudes e nossos  relacionamentos.

 

A reformulação deve começar pela conscientização do indivíduo através da mudança de seus   conceitos e da  busca  de informações, levando-o a adotar novos paradigmas comportamentais em relação ao consumo; à redução da produção de  detritos e lixos bem como do seu adequado armazenamento e reciclagem.

Entretanto, a consciência política e de cidadania é fundamental, pois é  na posição de elemento atuante no seu meio social, participando ativamente  de projetos comunitários, de ONGS e exigindo por outro lado, que os  órgãos públicos apresentem propostas ecológicas como:

elaboração de projetos urbanos que  definam áreas de proteção e preservação;

saneamento básico sustentável;

usinas de lixo orgânico e a reciclagem do inorgânico;

projetos de educação e conscientização ambiental;

racionamento e responsabilidade no consumo da água.

 

Enfim,  adotando uma postura  ecológica profunda, como diria o filósofo norueguês Arne Ness, numa cosmovisão mais ecocêntrica do que antropocêntrica.

Tudo isso, com certeza  modificará o pensamento contemporâneo predominante, viabilizando a sobrevivência do planeta.

Acreditamos em espíritos (e ainda que em sua maioria, estes mesmos espíritos ainda reencarnarão muitas vezes neste planeta ou ao menos, gostariam de fazê-lo!), mas não podemos esquecer que vivemos num mundo material,  um PLANETA maravilhoso que nos proporciona uma vasta e engenhosa oficina para evoluirmos num processo dinâmico e harmonioso, criando uma ponte de equilíbrio entre o progresso científico, a preservação do meio ambiente e de nossas ideologias filosóficas.

Temos todos um enorme trabalho  pela frente, mas é um trabalho extremamente compensador, pois corresponde a tudo aquilo em que acreditamos, que estudamos e buscamos com espíritos universais: Uma vida mais justa, uma sociedade mais fraterna e  equilibrada, num planeta saudável com espaço e vida para todos. Um mundo onde a sustentabilidade seja uma realidade e não um sonho distante ou talvez até impossível se não agirmos prontamente.

* Cynthya Michelin é acadêmica de Direito; Delegada da CEPA em Itajaí, SC.; membro do CPDOc – Centro de Pesquisa e Documentação Espírita.

 

 

 

 

 

 

 


[1] RATTNER, Henrique. Liderança para uma Sociedade Sustentável