OPINIÃO Ano XI – Nº 113 Outubro
2004
O BI CENTANÁRIO DE UM EDUCADOR
Nossa Opinião:
Rivail e Kardec
Editorial: O Bicentenário de um livre-pensador
Enfoque: A Síntese Kardequinana (Maurice Herbert Jones)
Centro Cultural Espírita de Porto Alegre
assinalou o bicentenário de nascimento de Allan Kardec
com a conferência de
A
conferência de Jones
Destacado pensador espírita e
conhecedor profundo da vida e da obra de Allan Kardec,
Maurice H.Jones ocupou a tribuna do CCEPA na noite de 4
de outubro, primeira segunda-feira do mês, ocasião em que, habitualmente, se
realiza ali uma conferência pública mensal. Discorreu sobre “A Era de Kardec”, homenageando o bicentenário do nascimento do
fundador e codificador do espiritismo que se celebrara no dia anterior.
Em seu trabalho, Jones sublinhou as
influências hauridas pelo Prof. Rivail desde sua
formação como pedagogo e na condição de homem permanentemente preocupado com as
grandes questões de seu tempo. Seus estudos, pesquisas e reflexões a partir de
uma etapa de sua vida deram origem a uma magnífica síntese, corporificando a
proposta espírita de Allan Kardec.
A
síntese kardequiana
Na secção Enfoque
(última página desta edição), Opinião publica
artigo de Maurice H.Jones com o título de A
Síntese Kardequiana onde alguns aspectos de sua
exposição são enfocados. De seu artigo, destacamos:
“Como se vê, Kardec
não foi um filósofo na acepção mais usual do termo, nem exatamente um
cientista. Foi, isto sim, e
acima de tudo, um extraordinário pedagogo, qualificação essencial para a
compreensão e propagação do Espiritismo até os dias atuais.
A
precoce percepção de que somente a educação e o amor poderiam encaminhar
solução para os problemas sociais e morais do seu tempo fez de Kardec
herdeiro natural de uma magnífica linhagem de educadores que
começa, no século XVII, com Comenius, o pai da
didática moderna, passa, no séc. XVIII, pelo filósofo J.J. Rousseau e seu Emílio.”
Registro
na imprensa
O prestigiado jornal Correio
do Povo, de Porto Alegre, em sua edição de 1º de outubro último, veiculou
artigo do editor deste jornal, Milton R. Medran
Moreira, que também é diretor do Depto de Comunicação
Social do CCEPA e presidente da Confederação Espírita Pan-Americana, sob o
título de Kardec: 200 anos. Ali, também é conjugada a
obra de Rivail e Kardec,
especialmente neste trecho:
“Um
homem e duas personalidades que, no entanto, se entrelaçam e se completam: Rivail e Kardec. O primeiro bebeu
na Escola de Yverdum modernos e libertadores
conceitos pedagógicos sustentando que o amor deflagra no educando o processo de
auto-educação intelectual, física e moral. O segundo foi mais além e vislumbrou
no espírito humano o ser atemporal, essência inteligente vocacionada
ao progresso infinito, pelas leis magnânimas da evolução. Somando a obra de um
e de outro, estaremos diante de uma consistente e generosa proposta que conjuga
educação, humanismo e espiritualismo”.
RIVAIL E KARDEC
Em algumas monografias que publicou
ao final de sua vida física, no ano de 2.000, o pensador espírita brasileiro Krishnamurti de Carvalho Dias resolveu abandonar
definitivamente qualquer referência ao nome Allan Kardec.
Passou a referir-se ao fundador do espiritismo simplesmente como “Professor Rivail”. Numa de suas obras, justificou: o nome Allan Kardec havia se tornado demasiadamente comprometido com uma
forma de crença que fugia muito da proposta pedagógica e humanista, baseada num
espiritualismo científico e filosófico, adotada pelo mestre lionês.
A observação do irreverente autor de
O Laço e o Culto não deixa de ser
verdadeira. Está no inconsciente coletivo que Kardec
é, apenas e tão-somente, o fundador de uma nova religião que como tal se
estruturou e teve boa penetração no Brasil, figurando hoje como uma das três
crenças com mais seguidores em nosso país.
Mas, até aí, temos nada mais que uma
pálida e distorcida imagem de Kardec. Como o sabem
seus estudiosos, sua obra é muito mais que isso. Transcende o estreito círculo
da fé religiosa, para se fazer, na verdade, uma audaciosa e revolucionária
proposta de educação do homem a partir do paradigma do espírito imortal e de
seu potencial progressista.
Nós, por aqui, mesmo reconhecendo as imensas distorções a que submeteram a grandiosa figura de
Kardec, temos preferido continuar investindo no
resgate de sua autêntica personalidade, que só se tornou completa e definitiva
quando se amalgamaram as notáveis figuras de Rivail e
Kardec. Temos claramente presente que, 200 anos
depois de seu nascimento, esse homem continua sendo o grande desconhecido
inclusive de muitos que se dizem seus seguidores.
Numa palavra, parece
imprescindivelmente necessário superar o mito que em torno de seu nome se criou
para que, definitivamente, se evidencie e se fortaleça a imagem do grande homem
que foi Allan Kardec, emérito continuador
da obra do pedagogo Hippolyte Leon Denizard Rivail, nascido a 3 de outubro de 1804. (A
Redação).
O BICENTENÁRIO DE UM LIVRE-PENSADOR
Desde que o pensamento é detido por uma convicção qualquer,
não é mais livre.”
(Allan Kardec).
Allan Kardec,
cujo bicentenário de nascimento comemoramos, foi genuinamente um
livre-pensador. E o foi em todas as fases de sua vida. Tanto no momento em que duvidou
da possibilidade de as mesas girarem e falarem, quanto a partir do instante em
que reconheceu no fenômeno a verdadeira revolução paradigmática que iria propor
ao mundo, a partir da realidade concreta do espírito.
Após haver sido serenamente conduzido,
pelo raciocínio e pela experiência, à convicção da concretude
do espírito, argumentou veementemente contra a idéia de seu tempo, de arraigado
materialismo, segundo a qual só eram livre-pensadores os materialistas.
Rejeitou essa limitada forma de conceber o livre-pensamento, escrevendo: “No sentido exclusivo que alguns lhe dão, em
vez de emancipar o espírito, restringe a sua atividade, escravizando-o à
matéria. Os fanáticos da incredulidade fazem num sentido o que os fanáticos da
fé cega fazem
Com idêntica força e na mesma
manifestação, também criticou aqueles que sobrepunham a
fé a qualquer exercício do livre-pensamento, postura oficial, naquele momento
histórico, da Igreja que, em sucessivas bulas e encíclicas, condenava o
exercício do livre-pensamento: “Então,
estes (os fanáticos da fé cega) dizem:
Para ser segundo Deus é preciso crer em tudo o que cremos; fora de nossa fé não
há salvação.” (idem).
Posicionando-se, assim, tanto contra
o materialismo quanto contra o fideísmo religioso, Kardec definiu magistralmente o que é o autêntico
livre-pensamento:
“Em
sua concepção mais larga, o livre-pensamento significa: livre exame, liberdade
de consciência, fé raciocinada; simboliza a emancipação intelectual, a
independência moral, complemento da independência física; não quer mais
escravos do pensamento, quanto não os quer do corpo, porque o que caracteriza o
livre-pensador é que pensa por si mesmo, e não pelos outros; em outros termos,
sua opinião lhe é própria. Assim, pode haver livres-pensadores em todas as
opiniões e em todas as crenças. Neste sentido, o livre-pensamento eleva a
dignidade do homem: ele dela faz um ser ativo, inteligente, em vez de uma máquina
de crer”.
A partir desse raciocínio, Kardec classifica o espiritismo como uma proposta
genuinamente livre-pensadora, eis que aquele “estabelece como princípio que antes de crer é preciso compreender.
Ora, para compreender há que usar o raciocínio. Por isto procura dar-se conta
de tudo antes de nada admitir, a saber, o porque e o
como de cada coisa”. E acrescenta, para situar o
espiritismo no campo que lhe é próprio, ou seja, nem o das religiões e nem o do
materialismo: “Não procurando o
Espiritismo afastar nenhum dos concorrentes na liça aberta às idéias que devem
prevalecer no mundo regenerado, está nas condições do verdadeiro
livre-pensamento; não admitindo nenhuma teoria que não seja fundada na
observação, está, ao mesmo tempo, nas do mais rigoroso positivismo; enfim, tem
sobre seus adversários das duas extremadas opiniões contrárias, a vantagem da
tolerância”.
Como se vê, nosso insigne
homenageado deste mês, situou exatamente a condição de livre-pensador no
terreno em que, aqui, insistimos sempre em situar: numa região neutra, fora dos
domínios da fé, mas firmemente apoiada nos valores do espírito. Assim mesmo, a
uns e a outros acena, em qualquer circunstância, com a bandeira da tolerância,
característica de quem reconhece que todos estamos em
busca da verdade e que ninguém é dela detentor exclusivo.
Allan
Kardec, cujo bicentenário de nascimento comemoramos,
foi genuinamente um livre-pensador.
IMORTALIDADE – MITO OU VERDADE?
Seguindo sua programação de conferências especiais na
primeira segunda-feira de cada mês, o conferencista do próximo mês de novembro
será o presidente da CEPA, que também é diretor de do Departamento de
Comunicação Social do Centro Cultural Espírita de Porto Alegre, Milton Medran
Moreira.
Medran, no dia 1º de novembro,
véspera do tradicional “Dia dos Mortos”, às 20h30 min., abordará no auditório
do CCEPA, em palestra aberta ao público, o tema “Imortalidade – Mito ou
Verdade?”.
TRABALHO SOBRE JOVEM É REAPRESENTADO NA ULBRA
O trabalho “Instituição
Espírita: O Olhar do Jovem sobre este Espaço”, apresentado por Maria de Fátima
e Mariana Canellas Benchaya
como Tema Livre do XIX Congresso Espírita Pan-americano, foi reapresentado por
esta última na Universidade Luterana do Brasil – ULBRA, em Canoas-RS,
na disciplina de Intervenção Terapêutica Grupal oferecida pelo Curso de
Psicologia, no dia 16 de setembro de 2004.
Desde o dia 7/10, está em
funcionamento o grupo de jovens do Centro Cultural Espírita de Porto Alegre,
cujas reuniões acontecerão às 5as. Feiras, das 20 às 21h30min. Para coordenar
essa atividade, foi designada a companheira Maria de Lourdes Darcie, que contará com a monitoria de Mariana Canellas Benchaya, filha de nosso
diretor Salomão Benchaya. Os doze primeiros
integrantes já estão participando do Curso de Iniciação ao Espiritismo, com
duração de seis semanas, às 5as. feiras, após o qual
darão início a uma programação específica de atividades.
Sob a coordenação de
Salomão J. Benchaya e Maurice H. Jones, estão sendo
realizados, no CCEPA, respectivamente nos períodos de 6/10 a 10/11 e 7/10 a 11/11/04, mais
dois Cursos de Iniciação ao Espiritismo. Os referidos cursos funcionarão às
quartas-feiras, das 15 às 16h30min, e às quintas-feiras, das 20h30min às 22
horas, contando com a presença de 81 inscritos.
Milton R. Medran Moreira
Ecumenismo ou confusão?
Na lista de discussão da CEPA – cepa@grupos.com.br
–, um espaço aberto ao debate espírita, pela Internet, esses dias apareceu uma
pérola enviada pelo listeiro Homero Ward da Rosa, Delegado da CEPA
Ecumenismo
e pluralismo religioso
O ecumenismo é um movimento
generoso, produto natural
do pluralismo religioso da modernidade. Somente se tornou
possível depois que o protestantismo quebrou o monopólio do sagrado que, por
1.500 anos, foi detido autoritariamente pela Igreja Católica. Só quando se viu
enfraquecido, o catolicismo concordou em entabular algum diálogo com as demais
igrejas cristãs, permitindo que chegassem, em conjunto, a alguns acordos
relativamente aos dogmas tidos como fundamentais pelas diversas igrejas. Mesmo
assim, o chamado ecumenismo cristão tem experimentado alguns retrocessos, como
foi aquele ocorrido, no ano 2.000, quando a Santa Sé emitiu o documento “Dominus Iesus”, onde reafirma a
superioridade do catolicismo sobre as demais igrejas cristãs, declarando:
"Apesar das divisões entre os cristãos, a igreja de Cristo continua a
existir, em sua plenitude, na única Igreja Católica". É como se dissesse:
há muitas igrejas e a gente até pode conversar, mas a verdadeira igreja de
Cristo só é a que tem sede em Roma.
Ecumenismo
e sincretismo
O ecumenismo, mesmo assim, tem feito
progressos. Menos pelo desejo da Igreja Católica do que por uma necessidade de
ela se adaptar às exigências do mundo moderno e nele sobreviver. Esse
imperativo político a tem levado, inclusive, ao diálogo com outras religiões
não-cristãs, papel que João Paulo II vem desempenhando muito bem.
Uma coisa, entretanto, é ecumenismo
e outra é sincretismo. Este sempre implica em uma mistura de dogmas, rituais ou
liturgias de religiões diferentes. Nesse sentido, o próprio catolicismo surgiu
de um grande sincretismo. Para se tornar a poderosa instituição capaz de
substituir o Império Romano decadente, o catolicismo dos primeiros séculos
tomou elementos ritualísticos gregos, judaicos, romanos e dos próprios povos
bárbaros que invadiram Roma. Uma ilustração dessa política ocorreu no ano 432,
no chamado Concílio de Éfeso. Naquela cidade da Ásia
Menor, costumava-se prestar culto a uma entidade feminina. Aproveitando-se
disso, a Igreja substituiu aquele culto pelo louvor a Maria, então declarada
mãe de Deus e, na prática, uma quase-deusa.
Sincretismo
afro-católico
No Brasil, como em outros países da
América colonizados por católicos, o grande processo de sincretismo foi do
catolicismo com as religiões africanas trazidas pelos escravos. Estes, para
guardar elementos ritualísticos de suas tradições, adaptaram-nos à religião dos
colonizadores. Aos orixás do candomblé e às entidades cultuadas pela umbanda sempre corresponde um santo do catolicismo. Há
centros de candomblé e de umbanda que exigem de seus iniciados o batismo
católico e a freqüência simultânea à Igreja. A famosa ialorixá
baiana Mãe Menininha nunca se descuidou dos cultos igrejeiros e toda as efemérides que comemorava era com missas solenes que
mandava celebrar. Esse sincretismo funcionou como um verdadeiro “hábeas corpus”
aos cultos africanistas que se desenvolveram no Brasil, permitindo-lhes
subsistir, enquanto o catolicismo foi religião oficial ou hegemônica.
Agora, o que Kardec
tem a ver com isso tudo? Absolutamente nada. Foi a
imprudência dos espíritas, transformando o espiritismo numa seita
mediúnico-cristã, desviando-o de sua natureza estritamente científica e filosófico/moral,
que terminou por permitir esdrúxulas e incômodas parecerias do tipo Kardec/Pai Bernardo, que já resiste por 58 anos, em Pelotas
e que, em alguma medida, impregnou todo o movimento espírita. Aí, Homero, mais
que sincretismo, é confusão da qual custaremos muito a nos livrar.
A SÍNTESE KARDEQUIANA
Maurice H. Jones *
Segundo o filósofo e pacifista
britânico Bertrand Russel, a
O
Evidentemente
Seria o Espiritismo uma resposta
inteligente a estas profundas questões de ordem filosófica? Vários elementos
que estruturam o pensamento espírita respondem positivamente a esta indagação e
o credenciam como um modo moderno, ventilado e revolucionário de percepção do
homem e do mundo, bem como precioso instrumento pedagógico para o autoconhecimento e controle racional da própria
evolução.
O
Na visão do filósofo J.Herculano
Pires, O Livro dos Espíritos, veículo
privilegiado destas idéias inovadoras, mesmo não tendo sido elaborado em
linguagem técnica e nem observe as minúcias da exposição filosófica, revela
todo um complexo e amplo sistema de filosofia. É, portanto, o arcabouço filosófico do Espiritismo.
Como se vê, Kardec
não foi um filósofo na acepção mais usual do termo, nem exatamente um
cientista. Foi, isto sim, e acima de tudo, um
extraordinário pedagogo, qualificação essencial para a compreensão e propagação
do Espiritismo até os dias atuais.
A precoce percepção de que somente a
educação e o amor poderiam encaminhar solução para os problemas sociais e
morais do seu tempo fez de Kardec herdeiro natural de uma magnífica
linhagem de educadores que começa, no século XVII, com Comenius,
o pai da didática moderna, passa, no séc. XVIII, pelo filósofo J.J. Rousseau e
seu “Emílio”, terminando no grande e
sábio mestre da educação como ato de amor, J.H. Pestalozzi.
Como um estuário das correntes de
idéias mais generosas e libertárias que irrigaram a cultura da Europa desde a
Renascença, Kardec chegou à maturidade
equipado, moral e intelectualmente, para a grande tarefa de sua vida: a
construção de uma síntese conceptual do mundo moderno, a Codificação Espírita,
centrada na idéia da evolução e na realidade e primado da vida espiritual.
Esta extraordinária façanha, resultado
do trabalho de homens encarnados, assessorados por homens desencarnados,
tornou-se possível, no tempo e no espaço, pela feliz conjugação de fatores
políticos, sociais, econômicos e culturais aliados à sensibilidade, lucidez e
coragem do mestre educador Hippolyte Léon Denizard Rivail
cujo bicentenário de nascimento estamos comemorando neste 3
de outubro de 2004.
Segundo muitos historiadores, o
Renascimento e
a Reforma Luterana são as duas mais importantes nascentes da história moderna.
Uma libertou o espírito e embelezou a vida, oferecendo ao homem o direito à
felicidade aqui na terra; a outra estimulou a crença e o senso moral. As idéias
contidas no bojo destes movimentos, propagadas pelas facilidades oferecidas
pela descoberta de Gutenberg e dinamizadas pela revolução conceptual produzida
pela descoberta da América e pela revelação de Copérnico, varreram a Europa a
partir do final do Séc. XV e início do Séc. XVI, desencadeando uma irresistível
avalanche de mudanças, crises e
conflitos ideológicos num mundo cansado do repouso medieval e ansioso pela
descoberta de novos mundos, novos caminhos, novas idéias.
No Século XVIII o Renascimento cede
espaço para o Iluminismo que, tendo razão e liberdade como estandarte, enfrenta
a superstição e a opressão, produzindo significativa redução de importância da
Igreja e influindo por seus princípios na independência dos Estados Unidos e na
Revolução Francesa, fatos que, entre outros, assinalam o colapso da França
feudal, uma importante ampliação das liberdades civis e a transição da Idade
Moderna para a Contemporânea.
Se acrescentarmos a este sintético
painel o crescimento exponencial da população a partir de 1750 em função de
avanços na produção agrícola, higiene e medicina e mais a revolução industrial
iniciada na Inglaterra provocando intenso deslocamento das populações rurais
para as cidades com todo o conjunto de conseqüências sociais, políticas e
econômicas, encerraremos o século das luzes já experimentando um certo cansaço da arrogância racionalista e criando espaço
para o surgimento do Romantismo que valorizando o sentimento caracteriza o
século XIX, o século de Kardec.
O nascimento em 1804 e a formação
intelecto-moral do
futuro Codificador do Espiritismo ocorre em plena era de Napoleão que, no mesmo
ano é coroado Imperador e promulga o
Código Civil dos Franceses ou “Código de Napoleão”, de importância decisiva no
direito ocidental e, conforme o próprio Imperador, sua maior obra.
Kardec era
um homem da sua época, cosmopolita, sensível, arguto e naturalmente aberto às
influências mais nobres que a história e a experiência lhe ofereciam. Enquanto
aprimorava sua formação no Instituto de Pestalozzi em
Yverdon e, depois, na vida profissional, como
educador, outros acontecimentos ocorriam, com enorme significado e presença na
sua futura e máxima obra.
Além dos importantes desdobramentos
geopolíticos do período napoleônico, podemos identificar as revolucionárias
teorias evolucionistas de Lamark e Darwin de enorme
repercussão, a
Filosofia Positivista de Auguste Comte e, até, o
Manifesto Comunista de Marx e Engels, produto da
agitação social da nova classe operária.
Neste cenário imponente e
desafiador, buscava-se afanosamente um novo modelo
conceptual para o tempo novo que surgia, pois os paradigmas vigentes haviam
esgotado a capacidade de oferecer segurança e identidade. É então que, já maduro e
sensível às inquietações do seu mundo e à convocação do mundo espiritual, Kardec aceita a responsabilidade de liderar o grande
esforço para construção de uma nova visão de homem e de mundo, humanista e
dinâmica, na qual razão e sentimento pudessem, harmonicamente, buscar a
verdade.
E assim, como uma flor tardia da
primavera iluminista, nascida no solo adubado pelo romantismo de Rousseau e Pestalozzi, surgiu o Espiritismo que, com seu “humanismo espiritocêntrico”, busca superar, dialeticamente, o
conflito entre o pensamento medieval centrado em Deus e o humanismo organocêntrico da renascença e iluminismo. A cosmovisão inovadora e sintética oferecida por Kardec ao mundo nascia, robusta e
perturbadora, desafiando os paradigmas senis e anunciando, no dizer do físico
inglês Oliver Lodge, “uma nova revolução copérnica”.
* Maurice
H. Jones, ex-presidente da Federação Espírita do Rio Grande do Sul;
ex-presidente e atual vice-presidente do Centro Cultural Espírita de Porto
Alegre; Assessor Especial da Presidência da CEPA.
Agradecimento
Temos a grande satisfação de acusar
e agradecer o recebimento do nº 111 do jornal Opinião, de agosto de 2004, salientando
a excelência das matérias nele apresentadas, pelo que cumprimentamos o irmão
dirigente e toda sua equipe de trabalho. Rogamos a Jesus que o abençoe sempre
em todas as suas atividades.
Osvaldo da Silva Melo – Presidente da Sociedade Espírita Bezerra de
Menezes, Santa Maria, RS.