OPINIÃO Ano XI – Nº
112 Setembro 2004
CONGRESSO DE RAFAELA INAUGURA NOVO TEMPO
Nossa Opinião: Uma orquestra que se afina
Editorial: Entre
Rafaela e Beslan
Opinião em Tópicos: Que
problemão
- Só o Papa -
Liberdade de religião (Milton Medran Morreira)
Enfoque: A
Importância da Família na Formação do Ser (Néventon Vargas)
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CONGRESSO DE RAFAELA INAUGURA NOVO TEMPO
Com novos estatutos e reelegendo seu Conselho
Executivo, a CEPA permanece com sua presidência no Brasil por mais quatro anos
e inaugura uma nova fase de sua história.
Um Congresso
Histórico
O XIX Congresso Espírita Pan-Americano, realizado de
Por unanimidade, os delegados
presentes, representando entidades filiadas à Confederação, situadas na
Argentina, Brasil, Colômbia, Estados Unidos, México, Porto Rico e Venezuela,
aprovaram um novo estatuto que moderniza a CEPA e torna mais ampla a
participação de seus membros, horizontalizando decisões
e criando novas áreas de trabalho.
A Assembléia Geral da entidade
reelegeu seu presidente, o brasileiro
A nominata
completa dos dirigentes da CEPA, escolhidos para gerir os destinos da entidade
nos próximos 4 anos vai publicada no boletim América Espírita, encartado nesta
edição.
Conselho Executivo
e novos colaboradores, a partir da esq.: Raúl Drubich
(Secretário de Estudos Científicos), Tereza Samá de Mayo (Tesoureira) Juan Carlos Cenizo (SecretárioEditorial),
Dante López (1° Vice-Presidente), Salomão J.Benchaya
(Secret.Geral),
Um grande tema
para expositores convidados
A temática central do Congresso
“Espiritismo: uma contribuição à evolução consciente” permitiu a apresentação
de excelentes painéis sobre Educação (
Além disso, temas variados versando
sobre ciência, filosofia e moral espírita foram abordados no Fórum de Temas
Livres para os quais se inscreveram dezenas de trabalhos.
A homenagem a Kardec e a presença de Porteiro
Dois destaques especiais do Congresso.
Na noite de 9/9, no Teatro Lasserre, realizou-se o
painel comemorativo aos 200 anos de nascimento de Allan Kardec.
Foram painelistas: Mauro Spinola,
Hugo Beascochea e Jon Aizpurua, enfocando aspectos da vida e da obra do fundador
do espiritismo.
Outro destaque foi a
realização de sessões mediúnicas com grupos limitados de congressistas para
mostrar modelos utilizados
A mensagem do respeitado pensador
espírita argentino integra as Declarações Finais do Congresso e serve de tema
para o comentário que se publica abaixo.
Nossa Opinião
UMA
ORQUESTRA QUE SE AFINA
Em
outubro de 2000, quando em Porto Alegre se realizou o XVIII Congresso Espírita
Pan-Americano, o espírito Manuel S.Porteiro
surpreendeu-nos a todos com uma linda mensagem mediúnica que dizia:
“Nota a nota compõe-se a sinfonia. Assim, no grande concerto
da vida universal, cada nota representa um pensamento que procura a verdade e o
amor como expressão da harmonia.
Cantar num só
coro não significa entoar o mesmo tom, a mesma voz, no mesmo tempo. Ao
contrário, o coro se compõe de vozes, de sons diversos, de tons variados para
que expressem a beleza.
O Espiritismo é como a canção universal, entoa as notas da ciência,
da filosofia e do amor para compor a harmonia dos que buscam as verdades que
conduzirão o espírito humano a dimensões não imagináveis, mas de imensa
felicidade”.
Agora,
no Congresso de Rafaela, Porteiro parece continuar a mensagem de 2000, ditando
à mesma médium esta linda página:
“Vejo que os músicos afinam seus instrumentos
e ensaiam a melodia. A orquestra está pronta para executar a canção e a canção
será bela. Será uma canção de amor que inundará todos os corações, que fará
todos felizes e nos permitirá sorrir, porque fizemos a nossa parte. Cantemos, amigos, cantemos esta bela canção que se chama
Trabalho, Tolerância e Fraternidade”.
Sobre
o Congresso de Rafaela que refletiu
com precisão o atual momento histórico da CEPA e os objetivos das pessoas que
levam avante esse projeto progressista e livre-pensador, nossa opinião é
exatamente a do admirável espírito Manuel Porteiro: A orquestra está começando
a ensaiar e a melodia que executa há de penetrar nos ouvidos e nos corações
daqueles que ainda não quiseram ou não puderam entender a mensagem da CEPA.
Esta foi composta sobre uma pauta de trabalho, tolerância e fraternidade. (A Redação).
Errata: Na
reportagem de capa “Tudo pronto em Rafaela”, da edição de agosto, Opinião se referiu à Sociedad
Espiritismo Verdadero como tendo sido fundada há 176
anos. Erramos. Aquela instituição tem 76 anos.
Editorial
ENTRE RAFAELA E BESLAN
Temos
bastante religião para nos odiarmos, mas não o suficiente para nos amarmos.
Jonathan Swift
Justamente
às vésperas do histórico XIX Congresso Espírita Pan-Americano, que se celebrou
em Rafaela, o mundo, novamente, era surpreendido por um dos mais revoltantes
episódios de irracionalidade, fanatismo e barbárie.
No
exato momento em que, numa cidade da Argentina, cuidava-se de estruturar um
evento tratando do tema “evolução consciente”, em Beslan, cidade russa situada a milhares de quilômetros,
terroristas protagonizavam cenas dantescas que acabaram por produzir
cerca de 350 vítimas, a maioria das quais crianças, tomadas como reféns em uma
radical ação política.
Como
tem sido regra, nesses episódios de terror e irracionalidade que marcam a
contemporaneidade, este também teve como inspiração componentes políticos e
religiosos. Seus protagonistas, tanto quanto aqueles que promovem a guerra,
dizem assim agir sob proteção divina.
O
horror daquelas cenas comprova, uma vez mais, que nem sempre a crença em Deus
tem sido capaz de conduzir o homem ao bem. Entretanto, e necessariamente, a
crença no homem sempre nos conduz a uma atitude positiva perante a vida.
Crer
no homem é acreditar em suas potencialidades para o bem. Mais do que crer é
fazer em prol da promoção humana, independentemente de qualquer reserva
relativamente à sua raça, seu credo, sua condição econômica, política, social
ou cultural.
Se
contemplarmos sob essa perspectiva a história do homem, veremos que, apesar da
violência, do terrorismo e da guerra que hoje apavoram todos os homens de bem
que são, aliás, a grande maioria, a espécie a que pertencemos ruma para
estágios superiores de evolução. O movimento é sempre ascendente e, por isso,
esses fatos que, ontem, eram até institucionalizados pela religião e pelo poder
civil, hoje revoltam profundamente o homem orientado por aquelas crenças que
foram capazes de evoluir e pelo poder político efetivamente comprometido com o
bem comum.
Em
Rafaela, nos últimos dias, espíritas de diferentes partes da América,
trabalhando a idéia da evolução consciente, renovaram sua crença no homem e
Entre a barbárie de Beslan e o
humanismo de Rafaela, fundado na crença nos valores do espírito, este há de preponderar
Notícias
A PRESENÇA
DO CCEPA NO CONGRESSO DA CEPA
Como sempre tem
ocorrido nos eventos da CEPA, foi intensa a presença de integrantes do Centro
Cultural Espírita de Porto Alegre no XIX Congresso Espírita Pan-Americano.
Sob a
coordenação de Milton Bittencourt e Marta Samá, o CCEPA organizou uma excursão com ônibus especial
que levou cerca de 30 participantes do Rio Grande do Sul, pertencentes ao
movimento espírita de Porto Alegre, Santa Maria, Alegrete
e Manuel Viana.
Na
organização do Congresso, colaboraram intensamente
Um destaque
especial para a atuação de Carlos Grossini no painel
Mediunidade e Evolução Consciente e para Maria de Fátima Benchaya
e Mariana Benchaya, também da delegação do CCEPA, com
o trabalho “Instituição espírita: o olhar do jovem sobre este espaço”, para o
Fórum de Temas Livres do Congresso. Maurice H. Jones integrou a Comissão de
Avaliação de Temas Livres.
Moacir Costa
de Araújo Lima, que também é colaborador do Centro Cultural Espírtia
de Porto Alegre, teve destacada atuação no Congresso da CEPA, como painelista e autor de dois trabalhos para o Fórum de Temas
Livres. Lançou, no evento, seu último livro “A Era do Espírito” em ato do qual
também o presidente da CEPA,
NOVO CURSO
DE INICIAÇÃO AO ESPIRITISMO NO CCEPA
O curso,
destinado especialmente a quem quer conhecer o espiritismo a partir de suas
bases, terá duas edições, uma às quartas-feiras à tarde e outra às quintas à noite, conforme cartaz abaixo.
A ERA DE
KARDEC – A CONFERÊNCIA DE OUTUBRO
Milton R. Medran
Moreira
Que
problemão
Foi exatamente com esse título “que problemão
para o catolicismo” que meu amigo Aureci Figueiredo
Martins distribuiu a seus correspondentes na Internet
a notícia, veiculada no mês passado sobre uma inusitada polêmica nos Estados
Unidos.
A menina Haley
Waldman, de Trenton, EUA,
teve sua primeira comunhão anulada pela diocese a que pertence porque a hóstia
que lhe foi dada, na ocasião, não era feita de trigo, mas de arroz.
Haley sofre
de um problema digestivo que a impede de ingerir trigo. O glúten a expõe a sérios riscos, inclusive cancerígenos. O vigário não teve
dúvida: mandou que lhe fizessem uma hóstia especial, à base de arroz, que foi a
utilizada na cerimônia. Só que o bispado, com base em precedentes jurisprudenciais
da Igreja, anulou o sacramento. Fundamento: hóstia que não seja de trigo não
contém o corpo de Cristo. E ponto final.
Só o Papa
A mãe da garota, Elizabeth, não se
conforma com a decisão. Só que, nesse caso, nem adianta se queixar ao bispo que
já firmou posição: não é de sua competência transformar arroz em trigo (embora
possa, como qualquer padre, transformar pão
Liberdade de religião
Há aqueles que, inconformados, deixam a Igreja, diante de
decisões que lhes pareçam absurdas. Mas a regra não é essa. O catolicismo, por
exemplo, está cheio de divorciados que se casam outra vez, de mulheres que usam
anticoncepcionais e comungam, de crentes que não vão à
missa aos domingos. E, mesmo sabendo que essas violações são tidas pelas leis
eclesiásticas como graves, seguem se dizendo católicos.
Há também – e cada vez em maior número
– judeus reencarnacionistas, cristãos cumprindo
obrigações em terreiros de umbanda e espíritas fazendo promessa no Santuário de
Aparecida.
Antropólogos e sociólogos que têm se
dedicado a interpretar o fenômeno religioso de nosso tempo, especialmente no
Brasil, afirmam que a tendência hoje é mesmo esta. Cada crente recolhe
princípios, ritos e crenças das diversas religiões disponíveis no mercado e faz
desse conjunto a sua religião particular, mesmo que siga se dizendo pertencente
a uma delas. Libertos do jugo da fé imposta e do temor reverencial que ela
impunha, os crentes se sentem descompromissados da obediência irrestrita às
normas de sua religião convencional.
Liberdade da religião
Krishnamurti
de Carvalho Dias, o grande pensador espírita que nos deixou há pouco mais de 3 anos, em uma de suas brilhantes tiradas, estabeleceu a
diferença entre liberdade de religião e liberdade da religião. Os crentes
polivalentes que adotam essas fórmulas híbridas assimilaram a liberdade de
religião. Trocam uma pela outra. Misturam umas com as outras. Mas seguem
fascinados pelo mistério, que é base de todas elas, garantia de sua
sobrevivência e fator de preservação de seu poder sobre as massas. Libertar-se
da religião implica em decisão quase sempre solitária e corajosa.
Diferentemente do que pensam os religiosos de todos os matizes, a decisão de
libertar-se da religião não implica em libertar-se da espiritualidade e nem
Quando, como no caso dos EUA, se tem a
coragem de contestar um elemento ritual sagrado, substituindo-se-o
por outro, se está vivendo a liberdade de religião. Mas, ainda não se é capaz
de libertar-se da religião.
Enfoque
A Importância da Família
na Formação do Ser
Néventon Vargas *
Hoje, como no passado e, acredito firmemente, no futuro, a estrutura familiar tem papel fundamental na formação da personalidade dos indivíduos. É, portanto, nela que está alicerçada a sociedade, pois esta vem a ser o reflexo das individualidades que a formam.
Para embasar a nossa argumentação, precisamos
antes tecer alguns comentários a respeito de nós próprios, da nossa natureza,
da nossa origem e do nosso destino. Ou seja, reportemo-nos à Filosofia de
Sócrates, que recomenda: “Conhece-te a ti mesmo”.
A Filosofia Espírita tem em O Livro dos
Espíritos os seus fundamentos, apresentando-se na sua página de abertura
como Filosofia Espiritualista, que trata da imortalidade da alma, da
natureza dos Espíritos e suas relações com os homens, das leis morais, da vida presente,
da vida futura e o porvir da Humanidade.
Após uma extensa e necessária introdução,
onde esclarece sobre termos, método e objeções inerentes à Doutrina que está
sendo apresentada, Allan Kardec inicia os
questionamentos de forma brilhante, interrogando “O que é Deus?”, marcando um
alicerce inquestionável para a seqüência da exposição, ao mesmo tempo em que se
afasta do antropomorfismo até então existente na concepção de Deus.
Outras questões que devem ser citadas no
encaminhamento da nossa argumentação, são:
- 132. Qual
o objetivo da encarnação dos Espíritos?
-
166. Como pode a alma, que não alcançou a perfeição durante a vida corpórea,
acabar de depurar-se?
-
-
775. Qual seria, para a sociedade, o resultado do relaxamento dos laços de
família?
-
919. Qual é o meio prático mais eficaz para se melhorar nesta vida e resistir
ao arrastamento do mal?
Tais questões tratam da necessidade da encarnação, da evolução através da reencarnação, da necessidade da vida social e dos laços de família.
Analisando as questões apresentadas, suas
respostas e respectivo desenvolvimento, concluímos naturalmente que somos os
seres inteligentes da criação, eternos, cuja essência é espiritual; viemos do
mundo espiritual, que é a nossa verdadeira morada; estamos na terra
experimentando as vicissitudes da vida corporal para nos desenvolvermos moral e
intelectualmente; voltaremos, com a morte do corpo, à pátria espiritual, onde
teremos a oportunidade de analisar nossos erros e acertos, planejando novo
estágio, em outro corpo, para continuar nossa evolução.
Eis o Ciclo da vida!
Mas o “Conhece-te a ti mesmo”, expresso na
questão 919, não se resume apenas em saber da nossa essência, da nossa origem e
do nosso destino. Envolve também a necessidade uma introspecção séria e honesta
para identificarmos em nós todas as virtudes, todos os vícios, todos os erros,
e assim lutarmos ininterruptamente para corrigir estes, superar outros e
sublimar aquelas.
Eis a chave para a evolução espiritual!
Mas tais procedimentos só se tornam viáveis
quando o indivíduo já tem consciência de suas necessidades, quando dá a devida
importância para os valores morais.
Isto nem sempre é possível sem o auxílio de
outros. Criado simples e ignorante, o Espírito jamais evoluiria se não tivesse
as referências da vida em sociedade.
Lembremos que, na impossibilidade de o
indivíduo evoluir isoladamente, a sabedoria divina coloca ao homem, em estágio
na vida corporal, a necessidade da vida familiar, onde desenvolve suas
faculdades com total dependência de seus ascendentes.
Aí ele tem as primeiras referências da vida
corpórea, esquecido, temporariamente, das vidas precedentes. Aprende, desde os
primeiros instantes de vida que a mãe responde às suas manifestações. A seguir,
começa a tomar conhecimento dos demais membros da família que, depois de certa
idade, passam a ter forte influência na formação do seu caráter. É neste
período que a criança é mais suscetível de influência e que marca no seu íntimo
todas as impressões externas que mais tarde, na adolescência e na fase adulta,
se manifestarão consciente ou inconscientemente.
Em tais circunstâncias fica evidente o
caráter da missão dos pais, pois cabe a eles,
instrumentos do Criador, direcionar a evolução da pequena criatura.
Vale lembrar, entretanto, que a criança é um
espírito em evolução e, como os demais membros da família, tem nas vidas
pregressas uma história desconhecida, mas decisiva na formação da sua
personalidade atual.
Tal entendimento nos recomenda comedimento
nos sucessos, bem como indulgência nos insucessos que se obtenha na criação dos
filhos. Entretanto, é acentuada a responsabilidade individual de cada membro na
estruturação da família e, em conseqüência, da sociedade, tendo em vista que a
todo instante somos referência para quem convive conosco. Cabe-nos então a
constante vigilância para crescermos moral e intelectualmente, superando
deficiências e redobrando esforços para vencermos as más tendências
![]() |
Néventon Vargas, militar da reserva, engenheiro civil, professor licenciado em
física, assessor de comunicação social da CEPA, residente em João Pessoa,
PB. |
Opinião do Leitor
Olá Milton. Li e reli com entusiasmo o
texto "La actualidad del espiritismo en Francia", no boletim “América Espírita”, encartado
em "Opinião" de agosto. O autor, Jacques Peccatte,
ao mostrar os trabalhos do Círculo Espírita Allan Kardec
na França traz um grande alento quanto ao reencontro do espiritismo com
suas origens. Mais do que esperança, estamos certos de que esse reencontro não
tem volta, pois está colocando o espiritismo em par com outros
formas de conhecimento. Como diz Peccatte
"o espiritismo tem seu lugar no mundo...". Parabenizo
também a d. Ruth Neumann
pela versão do texto do francês para o espanhol.
José
Rodrigues - Santos (SP).