OPINIÃO Ano XI – 111 Agosto 2004

 

TUDO PRONTO EM RAFAELA

Nossa Opinião: Questionamento essencial; O homem

Editorial:   Sofrimentos coletivos e progresso

Notícias:  Conferência sobre a arte de curar   Conferência de setembro 2004  OPINIÃO 10 anos      

Opinião em Tópicos:  Ciência e religião   Células-tronco   Anencefalia  Teologia x dignidade  (Milton Medran Morreira)

Enfoque:  Instituições espíritas: Núcleos de amizade, trabalho e progresso (Daniel Torres)

===================================================================================

 

TUDO PRONTO EM RAFAELA

 

Cidade sede do XIX Congresso Espírita Pan-Americano, Rafaela está pronta para receber cerca de 500 visitantes de várias partes da América que se reúnem no mais importante evento espírita do continente, celebrando os 200 anos de nascimento de Allan Kardec.

 

          A cidade

          Situada na Província de Santa Fé, na região da planície pampeana da Argentina, a aprazível cidade de Rafaela, com uma população de cerca de 88.000 habitantes, tem uma histórica ligação com o movimento espírita e, especialmente, com a Confederação Espírita Pan-Americana, entidade promotora do Congresso. A Sociedad Espiritismo Verdadero, instituição fundada em Rafaela, há 176 anos, já foi sede, por vários anos, da CEPA, pois dali saíram três de seus mais ilustres presidentes: Romeu Molfino, Hermas Culzoni e Dante Culzoni. Em Rafaela, reside o atual 1º vice-presidente da CEPA, Dante López.

 

 

          O congresso

          O Congresso, que se celebra de 8 a 12 do próximo mês de setembro, já contava, ao final de julho, com 470 inscritos, o que projeta um público de assistentes muito superior a 500. As maiores delegações são da Argentina, seguindo-se as do Brasil (com mais de 100 inscritos), Porto Rico (mais de 30 inscrições), Estados Unidos (mais de uma dezena de inscritos). Participarão, ainda, delegações da Venezuela, Colômbia e Austrália, além de outros países cujas representações se confirmariam no decorrer deste mês.

          O Presidente da CEPA, Milton R. Medran Moreira (Brasil) vem coordenando, juntamente com seu Conselho Diretor, desde sua posse, no ano 2.000, uma alteração estatutária a ser examinada em Assembléia Geral que se realiza nesse evento, dando à Confederação Espírita Pan-Americana um perfil mais moderno e eficiente, buscando formas mais dinâmicas de interagir com o conhecimento, na busca da permanente atualização do espiritismo, tarefa a que a CEPA tem se voltado predominantemente nos seus últimos eventos.

          Temática central

          O tema central do XIX Congresso Espírita Pan-Americano é “Espiritismo: uma contribuição para a evolução consciente”, que se desdobrará em painéis, conferências e oficinas, com cinco eixos temáticos: educação espírita, ação social espírita, comportamento espírita, recurso mediúnico e ciência espírita.

          A Comissão Organizadora do Congresso é presidida por Raul Drubich, membro da Sociedad Espiritismo Verdadero, de Rafaela.

(Para conhecer melhor a CEPA e seu congresso, recomendamos acessar os sites: www.cepanet.org e www.congreso2004.cre-ar )

 

Nossa Opinião

QUESTIONAMENTO ESSENCIAL: O HOMEM

 

          A CEPA reafirma, através da temática central do 19º Congresso de sua história, sua preocupação essencial: o homem. O ser humano foi, é e seguirá sendo o objeto central de todos os questionamentos propostos e discutidos no âmbito da Confederação Espírita Pan-Americana, essa sempre jovem instituição que completa, neste 2004, seu 58º aniversário de fundação.

          Como muito bem assinala documento divulgado pela Comissão Organizadora do evento, o conceito de evolução consciente (seu tema central) “é mais amplo que ‘a outra vida’ anunciada pelas religiões para após a morte do corpo. É a segurança interior que faz com que nossa conduta já não mais dependa de preceitos externos e sim de convicções interiores, de razões imanentes unidas a sentimentos generosos e solidários”.

          Essa forma de ver e ajudar o homem coincide com todos os movimentos humanistas da história e insere o espiritismo no âmbito daquelas filosofias que crêem nas potencialidades humanas e reconhecem os esforços do próprio indivíduo como fundamentais a seu progresso e felicidade. Juntando-se a isso os fundamentos básicos do espiritismo, especialmente, os da solidária e permanente comunhão entre a humanidade encarnada e desencarnada, estaremos mergulhados no núcleo essencial da doutrina kardequiana.

          Por outro lado, os congressos da CEPA não são meros torneios de oratória. São sempre fóruns de estudo, singulares oportunidades de troca de informações, de experiências e debates, em saudável clima de congraçamento e amizade. Este evento, tendo por sede uma cidade de especialíssimo significado para a própria história do espiritismo no continente americano, será mais do que isso. Recolherá a experiência de um valoroso contingente humano que tem, ali, em nome do espiritismo e a partir de seus valores e de sua ética, contribuído eficazmente com aquela comunidade, através de modelar trabalho de ação social e de educação formal e espiritual de milhares de cidadãos assistidos pela “Sociedad Espiritismo Verdadero”, nossa anfitriã.

          A cidade de Rafaela, cuja geografia está destacadamente assinalada no mapa do espiritismo mundial, a partir desse evento estará também, indelevelmente, gravada no coração de cada participante do XIX Congresso Espírita Pan-Americano.

(A Redação).

 

 

 

Editorial

SOFRIMENTOS COLETIVOS E PROGRESSO

“No entanto, o homem é feito para ser virtuoso.”

Helvétius

          É preciso reafirmarmos sempre: o homem não é um ser decadente. É a criatura mais evoluída dentre as espécies que conhecemos. Está submetido a uma lei permanente de progresso que alcança todos os indivíduos e todas as coletividades humanas.

          Esse é um conceito fundamental para a filosofia espírita e que não sofre qualquer comprometimento, mesmo em fases difíceis como esta que vivemos no Brasil, onde a corrupção e a violência parecem minar todos os setores da sociedade.

          Momentos de crise como os que vivemos presentemente em nosso país, à luz dos princípios evolucionistas adotados pelo espiritismo, merecem melhor avaliação do que aquela que, apressadamente, conclui pela afirmativa de que rumamos para o caos e para destruição, ante a decadência moral do ser humano.

          Esta, aliás, é a conclusão que serve às religiões salvacionistas. Aquelas que partem do princípio teológico de que a Terra é o reino da impiedade e da corrupção ao qual foi submetido o homem, por pecador e, assim, condenado, antecipadamente, à destruição ou ao sofrimento eterno, destinos dos quais só excepcionalmente se furtaria, desde que adotasse um sistema de crença em cujo seio seria formalmente admitido por via de cerimônia sacramental que lhe garantiria o benefício da graça.

          Parece mais lógico pensarmos que o bem é uma força atrativa universal da qual consciência alguma se subtrai. Que a inteligência, livre que é, pode, sim, provisoriamente, conduzir o espírito à violação das leis naturais. Mas que comportamentos dessa ordem geram, necessariamente, sofrimentos individuais e coletivos e que estes são capazes de conduzir o homem e a sociedade falíveis a um processo regeneratório.

          Allan Kardec, em ensaio publicado no livro “O Céu e o Inferno”, sob o sugestivo título de “O Código Penal da Vida Futura”, descreve o caminho a ser percorrido pelo transgressor das leis do bem, que passa, necessariamente, por três etapas: a do arrependimento, a da expiação e a da reparação.

          O que vale para o indivíduo atormentado pela culpa, aplica-se também aos agrupamentos humanos que, ainda ontem, invertendo os valores éticos, optavam por estimular a prática do “levar vantagem em tudo” ou institucionalizavam políticas de privilégios de uns em detrimento de outros. A retificação dessa trajetória é processo lento que começa, necessariamente, pela tomada de consciência (arrependimento) e que não dispensa sofrimentos coletivos (expiação) na busca de objetivos compensatórios das injustiças passadas (reparação).

          O que, em dado momento, nos parece o caos assinala precisamente o marco regenerativo de uma comunidade de homens. Progredir, superando tendências autodestrutivas exige a aceitação de sofridas experiências, capazes de retificar rumos. O certo é que, quando, como agora, em nosso país, o mal tanto aparece, despertando coletivas indignações, é porque estamos assumindo a tarefa coletiva de combatê-lo. E isso é progresso.

         

O que, em dado momento, nos parece o caos assinala precisamente o marco regenerativo de uma comunidade de homens.

 

 

 

CONFERÊNCIA SOBRE A ARTE DE CURAR

          O público que lotou o auditório do Centro Cultural Espírita de Porto Alegre, CCEPA, no último dia 2 de agosto, assistiu  com grande interesse à conferência proferida pelo médico obstetra e homeopata Ricardo Herbert Jones, autor do livro “Memórias do Homem de Vidro”, recentemente lançado.

          Com preocupação didática, o conferencista discorreu sobre as origens antropológicas e culturais dos diversos conceitos de saúde e doença que plasmam os múltiplos modelos conceptuais da chamada arte de curar.  Apoiado no conceito espírita de que somos arquitetos do nosso destino e que a causa essencial dos nossos problemas físicos e psicológicos é de natureza interna, o Dr. Ricardo destacou, no final, a significativa identidade conceptual da homeopatia e da psicanálise com o espiritismo.

 

          Conferência de setembro

          Prosseguindo com o programa de conferências mensais, sempre na primeira segunda-feira de cada mês, o CCEPA convidou para a atividade do próximo dia 6 de setembro, o psicólogo espírita Luiz Augusto Sombrio, que discorrerá sobre o tema: Obsessão – Uma abordagem espírita e psicológica.

 

 

OPINIÃO – 10 ANOS

          Com este número – 111 – o jornal Opinião do Centro Cultural Espírita de Porto Alegre ingressa no 11º ano de circulação ininterrupta.

          Precedido de uma edição piloto, em julho de 1994 (Ano I, número zero), sem denominação ainda, Opinião passou a circular com esse nome em agosto do mesmo ano com o objetivo de noticiar as atividades do Centro Cultural Espírita de Porto Alegre e divulgar o pensamento cultivado nesta instituição.

          Em sua edição 1, deu destaque ao I Encontro Estadual do Pensamento Espírita, anunciado para os dias 17 e 18 de setembro daquele mesmo ano.

          A partir de janeiro de 1998, Opinião passou também a encartar o boletim Cepa Brasil, que divulgava as atividades da Confederação Espírita Pan-Americana no Brasil.    

          Em maio de 2001, quando a Confederação Espírita Pan-Americana, já estava sendo presidida pelo editor de Opinião, Milton Medran Moreira, o boletim aqui encartado, tomou a denominação de América Espírita, passando a ser o órgão oficial da CEPA, circulando, juntamente com este jornal, por todos os países onde a Confederação Espírita Pan-Americana tem alguma representação.

          Ao completar seus 10 anos de atividade, Opinião agradece o apoio de seus assinantes, leitores e colaboradores que o têm prestigiado, reconhecendo, especialmente, as carências enfrentadas pela instituição que o edita: uma entidade materialmente pobre, mas que têm contribuído, historicamente, para o avanço do pensamento espírita, com posições progressistas, humanistas e livre-pensadoras.

 

Opinião em Tópicos

 

          Milton R. Medran Moreira

 

          Ciência e religião

          Mesmo que já estejamos vivendo mais de um século de republicanismo e de secularismo estatal e político, confesso que o fundamentalismo religioso ainda me parece uma forte ameaça ao progresso da ciência e da razão. Principalmente, a partir desse fenômeno que, no Brasil, está tomando de assalto a política: o crescimento das denominadas “bancadas evangélicas”.

          Quem acompanha, por exemplo, as dificuldades de se liberarem as pesquisas e a aplicação terapêutica das chamadas “células-tronco”, uma das mais fascinantes conquistas da ciência, tornada possível a partir da conclusão do mapa do genoma humano, vai ver que ciência e religião movem-se dentro de paradigmas inconciliáveis e que, para os religiosos, a revelação jamais pode ser derrogada ou reinterpretada a partir dos novos conhecimentos científicos.

          Nesse caso, com base no dogma de que Deus, e só ele, pode atuar junto aos finos e delicados mecanismos da vida, estão se opondo os mais cruéis obstáculos a que a ciência busque, justamente a partir de manipulações genéticas, mecanismos de favorecimento á vida.

          Células-tronco

          Partindo da idéia de que todo o material genético humano contém, desde sua formação, uma “alma” destinando-se, necessariamente, à formação de uma nova vida, os religiosos de todos os matizes (será que os espíritas também?) vêem uma transgressão às leis sublimes da vida a utilização de células-tronco para a criação de tecidos. Mostram-se totalmente indiferentes ao fato de que, a partir da chamada clonagem terapêutica, já é possível, teoricamente, hoje, se reproduzir tecidos humanos que podem ser reimplantados no próprio doador para suprir perdas em acidentes ou por doenças graves. Esse verdadeiro milagre da ciência poderá permitir, desde que a lei não obstaculize, a reposição de tecidos no tratamento de doenças neuromusculares, infartos, derrames cerebrais, cegueira, câncer e muitos outros males que poderão ser curados.

          O argumento é sempre o mesmo: “estão brincando de Deus”. Como se Deus interditasse determinadas áreas do conhecimento, reservando-as só para si, loteando os departamentos da vida entre os domínios do sagrado e do profano. Invadir a área do divino sujeitaria o homem a castigos.

          Anencefalia

          Outro tema que só se tornou polêmico a partir de um dogma religioso: Mês passado, uma liminar do STF permitiu a interrupção da gravidez de mulheres que tragam em seu ventre fetos reconhecidamente anencéfalos.

          A anencefalia, sabe-se, caracteriza-se pela ausência da abóbada craniana e por inexistência ou defeito dos hemisférios cerebrais. Em termos populares, é a própria ausência de cérebro. Afirmam especialistas que a anencefalia é uma condição incompatível com a vida em 100% dos casos, levando o feto à morte intra-uterina em 50% das gestações. Isto é: se ele não morrer durante a gestação, morrerá, certamente, logo após o nascimento.

          A oposição religiosa parte do pressuposto, defendido pela Teologia, de que, no momento da concepção, Deus infunde uma alma naquele futuro ser humano. Note-se que naquele momento, o do encontro do espermatozóide com o óvulo feminino, não se pode ainda sequer falar em feto. O que se forma é um zigoto (isto é uma célula reprodutora). Mas, a partir desse dogma religioso, passa-se a defender, sem margem a qualquer hipótese de transigência, o direito à vida de um uma célula. Em inúmeros casos, essa célula, por acidentes diversos, como é o caso da anencefalia, sequer está fadada a gerar uma nova vida. Entretanto, o fundamentalismo religioso lhe confere direitos mais amplos do que os da gestante. Simplesmente porque ela é “obra de Deus”. Como se a mãe não o fosse igualmente.

 

          Teologia x dignidade

          Parece-me, pois, com o devido respeito a opiniões contrárias que já assumem ares de dogma no meio espírita, que a liminar do STF está correta. Proteger-se uma gravidez que não tem nenhuma chance de produzir uma vida humana, e com isso, impondo-se à gestante um atroz sofrimento psíquico, será, aí sim, atentar contra a dignidade humana. É, por analogia, o mesmo caso expressamente previsto na questão 359 de O Livro dos Espíritos, onde, diferentemente da posição mantida pela Igreja, os espíritos declararam lícito o aborto, nos casos de perigo à vida da gestante.

          Aliás, a posição espírita relativamente à união da alma com o corpo discrepa da visão teológica. Leiam-se com atenção as questões 353 e 356 de O Livro dos Espíritos e se concluirá que a gestação pode ocorrer independentemente da presença de um espírito reencarnante, sendo até possível que uma gravidez chegue a termo sem que ali esteja uma alma ou espírito (caso dos natimortos).

          Essas questões, sob a ótica espírita, não se revestem do simplismo das posturas teológicas que tendem a defender a existência de Deus apenas para proteger alguns direitos (os do zigoto, do embrião e do feto, por exemplo), desconsiderando, muitas vezes, direitos também legítimos da gestante, ou desprezando outras circunstâncias que o exame, liberto do dogma e fundado na razão, no bom-senso e no humanismo, podem evidenciar.

         

 

Enfoque

 

INSTITUIÇÕES ESPÍITAS: NÚCLEOS DE AMIZADE, TRABALHO E PROGRESSO

 

Daniel Torres *

 

          Um dos importantes elementos que fazem parte do desenvolvimento das instituições espíritas, além do estudo e das reuniões mediúnicas que ali se realizam, é a relação estabelecida entre aqueles que compõem a instituição. Ali se reúnem pessoas de diferentes estratos sociais, níveis intelectuais diversos, heterogeneidade de idades, etc., entretanto todos interagem com propósitos comuns.

          Há, no centro espírita, lugar para o reconhecimento de cada esforço realizado, apreciando e valorizando com objetividade os bons propósitos e as ações dos demais, porque se há aqueles que se ocupam de ver os erros nos outros, por que, nós, os espíritas, não tratamos de ver e valorizar as boas qualidades de nosso semelhante? Isso, evidentemente, sem cair numa atitude falsa e interessada, como o é a bajulação. A esse respeito, de forma muito ilustrativa, expõe-nos Dale Carnegi, um reconhecido escritor, acerca das relações humanas:

          “A diferença entre a apreciação e a adulação é muito singela. Uma é sincera e a outra não. Uma procede do coração; a outra sai da boca. Uma é altruísta; a outra egoísta. Uma desperta a admiração universal; a outra é universalmente condenada”.

            Toda pessoa possui um valor intrínseco; imaginemos, então, quão importante há de ser a tarefa daquele que trabalha com muito esforço, empregando seu tempo, seus recursos e sua boa vontade em benefício da humanidade. Nos círculos de trabalho doutrinário entre espíritas que se apóiam uns nos outros, que compartilham seus conhecimentos e experiências não importando, muitas vezes, a distância que os separa, pode-se reconhecer o verdadeiro valor da amizade.

          O espiritismo, sendo uma doutrina de concepções espirituais, fomenta a adequada convivência entre os seres humanos, permitindo que esses laços de amizade que se formam estejam caracterizados por um clima de fraternidade, tolerância e nobres sentimentos. É uma amizade que se estrutura com fins altruístas, alheios inteiramente a todo e qualquer interesse material e pessoal, convertendo-se, por isso, em um núcleo de crescimento espiritual que busca o bem comum. O intercâmbio de conhecimentos se apresenta em um clima de diálogo e sã discussão, onde são as idéias que se debatem e não aqueles que as sustentam. Há diversidade de critérios, mas todos direcionados a um mesmo ponto: um forte desejo de alcançar a verdade, exemplificando na tarefa de fazer o bem pelo próprio bem. É isso que o espiritismo nos propõe.

          Quando a relação entre os membros da instituição se apresenta em um clima de cordialidade, o trabalho faz-se ainda mais agradável, logrando bons resultados que se traduzem em progresso individual e coletivo. A amizade gera mútua confiança, respeito, apoio e sinceridade. Uma sinceridade que sempre será bem intencionada, porque leva o ingrediente da fraternidade.

          Sendo essa a relação que se promove entre os membros de uma instituição, por que não há de ser igualmente a relação entre as instituições espíritas? Acaso os princípios gerais que motivaram sua formação não são os mesmos? Não será uma atitude exemplar e digna de reconhecimento aquela na qual, apesar de ter critérios diferentes a respeito da doutrina, nos vejamos como amigos, respeitosos das opiniões dos demais e dispostos a entabular um diálogo construtivo e, inclusive, a cooperar juntos em prol do bem-estar geral? Não é essa a qualidade de verdadeiro espírita a que se referia Allan Kardec?

          Os princípios espíritas são consistentes. A proposta kardeciana “Trabalho, Solidariedade e Tolerância” é irrefutável, tanto no plano ético, como no social. Entretanto, se não passa do papel à ação, que podemos esperar do movimento espírita? Onde restará exemplificada a proposta espírita de ser uma das correntes do progresso moral e da ordem social? Se isso se demonstra primeiro na família e nas instituições espíritas, seguramente terá importantes alcances na sociedade.

          Se é valioso o papel que pode desempenhar o espiritismo na humanidade, é porque seus princípios são aplicáveis nas diferentes ordens da vida. Kardec foi muito otimista a respeito quando disse: “Por seu poder moralizador, por suas tendências progressistas, pela amplitude de suas visões, pela generalidade das questões que abrange, o Espiritismo está, mais que qualquer outra doutrina, apto a secundar o movimento regenerador; por isso é seu contemporâneo”. (A Gênesis, cap.XVIII, § 25).

          Sublinhemos a afirmativa de Kardec de que o espiritismo estaria apto a secundar o movimento regenerador. Pois bem, tendo a doutrina os ingredientes necessários, a quem, senão aos espíritas, cabe a tarefa de cumprir essas projeções.

          Trabalhemos em compreender, praticar e engrandecer nossa doutrina, colocando nosso maior esforço a cada momento, de tal maneira que os nobres propósitos que engalanam o espiritismo se vejam refletidos em nossa vida e na relação com nossos semelhantes.

 

IMAGEM FRATERNIDADE

Sendo essa a relação que se promove entre os membros de uma instituição, por que não há de ser igualmente a relação entre as instituições espíritas? Acaso os princípios gerais que motivaram sua formação não são os mesmos?

         

* Daniel Torres, dirigente do Grupo Espírita Nueva Generación, instituição sediada em Ciudad de Guatemala, Guatemala.