OPINIÃO Ano X – Nº 108 Maio 2004

2004 – O  ANO DOS CONGRESSOS ESPÍRITAS

Nossa Opinião:  Kardec e os congressos

 Editorial:  Por uma cultura de paz

Espiritismo : O pensamento atual da CEPA – Livro lançado na XIV Conferência Regional Espírita

Notícias:  História e confraternização nos 68 do CCEPA  Ônibus especial de Porto Alegre para o congresso da CEPA  II Congresso Brasileiro de Psicologia e Espiritismo 

Opinião em Tópicos:  Os Congressos    Critérios    Livre-pensadores Pluralismo e união  (Milton Medran Morreira)

Enfoque  Universo pulsante e anisotrópico

Opinião do Leitor:   Carlos de Brito Imbassahy – Niterói, RJ.

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2004 – O  ANO DOS CONGRESSOS ESPÍRITAS

 

Congresso da CEPA, em Rafaela, Argentina, de 8 a 12 de setembro, será a primeira grande homenagem do movimento espírita internacional a Allan Kardec, no ano do bi-centenário de seu nascimento.

 

            A homenagem da CEPA a Allan Kardec

            Um espaço nobre na programação do XIX Congresso Espírita Pan-Americano está reservado para a homenagem a Allan Kardec, na noite do dia 9 de setembro, quinta-feira, no Teatro Laserre, no centro da cidade de Rafaela.

            O Painel “Aniversário de Allan Kardec” será desenvolvido por três pensadores espíritas de diferentes países latino-americanos: o brasileiro Mauro de Mesquita Spinola que discorrerá sobre “O Contexto Histórico de Allan Kardec”, o venezuelano Jon Aizpúrua, a quem caberá falar sobre “Kardec, o Homem”, e o argentino Hugo Beascochea, que terá a seu encargo o tema “A Obra de Allan Kardec”.

            O tema central do Congresso da CEPA, na Argentina, versará sobre “Espiritismo – Uma Contribuição à Evolução Consciente”, constando de painéis, oficinas, fórum de temas livres e uma conferência pública.

Um dos painéis retoma o tema dos dois últimos eventos da CEPA no Brasil, a questão da Atualização do Espiritismo, temática central do XVIII Congresso, em Porto Alegre (2000) e da XIV Conferência Regional Espírita, em São Paulo (2002). O painel “Atualização – Aonde Vamos” será desenrolado na tarde de 11 de setembro.

 Faltando ainda 5 meses para o evento, nos últimos dias de abril, a Comissão Organizadora do Congresso da CEPA, em Rafaela, já havia recebido mais de 350 inscrições de espíritas da Argentina, Brasil, Colômbia, Estados Unidos, Porto Rico e Venezuela, esperando-se proximamente a inscrição de várias outras delegações da América e Europa. O Brasil deverá se fazer presente em Rafaela, com mais de 100 congressistas.

Todas as informações sobre esse importante evento da CEPA podem ser obtidas no site oficial do congresso: www.congreso2004.cre-ar.org.ar, que pode ser acessado também via home-page da CEPA: www.cepanet.org .

 

Mauro Spinola, Jon Aizpúrua e Hugo Beascochea farão o Painel de homenagem a Kardec, no Congresso

 

           

           

4º Congresso Espírita Mundial – Paris

           

            Por sua vez, o Conselho Espírita Internacional realizará, de 2 a 5 de outubro, em Paris, o seu 4º Congresso Espírita Mundial. O tema central do evento será “Allan Kardec – O edificador de uma Nova Era para a Regeneração da Humanidade”.

            O evento inicia na noite do dia 2, com uma palestra: “Allan Kardec – O Educador e o Codificador da Doutrina Espírita”. A programação do evento não dá nenhuma informação sobre os expositores convidados. Mas avisa que os temas, em sua maioria  versando especificamente sobre as obras da “codificação espírita”, examinadas uma a uma, serão desdobrados em painéis e que “não haverá espaço para temas livres”, abrindo-se, no entanto, espaço para perguntas a serem respondidas pelos expositores.

            As informações sobre o 4º Congresso Espírita Mundial podem ser encontradas em seu site: www.spiritist.org .

 

 

            Dois congressos, dois critérios, duas formas de ver o espiritismo

 

            Na sua coluna “Opinião em Tópicos”, na pág. 3 desta edição, o editor deste jornal, Milton R. Medran Moreira, comenta a realização dos dois congressos espíritas internacionais que homenageiam Allan Kardec, no seu bi-cententário. Destaca os critérios diferenciados para a realização de um e de outro, complementando: Mais do que dois critérios para dois congressos, está aí o retrato concreto de dois perfis de um mesmo movimento”. Conclui sua crônica com esta afirmação: “reconhecer o pluralismo existente no movimento e trabalhar a partir dessa realidade, sem exclusões, é a única forma de fortalecer o laço fundamental que deve unir todos os espíritas do mundo”.

 

 

Nossa Opinião

KARDEC E OS CONGRESSOS

 

Em interessante documento que terminou sendo publicado em suas “Obras Póstumas”, sob o título de “Constituição do Espiritismo – Exposição de Motivos”, Allan Kardec, ao fim de sua vida física, deixou claras estas duas idéias:

            1 – Que os princípios espíritas, por se basearem em leis naturais, tenderiam a ser universalmente aceitos pelo homem. Todos os aceitarão um dia por se tratarem de “verdades palpáveis e demonstradas”, escreveu Kardec.

            2 – Esses princípios, porém, deveriam ser pelos espíritas constantemente desenvolvidos, de forma a assimilar os novos conhecimentos da ciência, porque “criado para o estado atual dos conhecimentos, deve (o espiritismo) modificar-se, na medida que novas observações venham demonstrar-lhe a insuficiência e os defeitos”. Propunha, então, Allan Kardec que essas modificações deveriam ser “resultantes dos congressos orgânicos, que à revisão periódica dos Estatutos juntará a do formulário de princípios”. “A revisão – escreveu ainda – será não somente um direito, mas um dever para o congresso da época indicada”.

            As décadas que se seguiram ao desencarne de Kardec foram bastante pródigas na realização de congressos espíritas na Europa. Alguns deles contaram com milhares de participantes, como o 1º Congresso Espírita Internacional (Barcelona, 1888) e, especialmente, ainda em Barcelona, o 5º Congresso Espírita Internacional (1934). Nesse mesmo período, realizaram-se congressos espíritas e espiritualistas em Paris, Londres e outras importantes capitais européias.

            As duas Grandes Guerras Mundiais, as ditaduras que a elas se sucederam, as crises econômicas que se seguiram a esses conflitos mundiais, foram alguns fatores que, além de enfraquecerem o movimento espírita mundial, opuseram imensas dificuldades à realização de congressos espíritas. Um fator, entretanto, contribuiu de maneira muito particular para que, por algum tempo, os congressos espíritas fossem esquecidos: a sedimentação da “religião espírita”, especialmente no Brasil, maior país “espírita cristão” do Planeta. Tendo se transformado o espiritismo, a partir dessa influência, basicamente numa questão de fé, tornava-se dispensável e até pouco recomendável que as crenças por ele adotadas fossem objeto de discussões, debates, possíveis dissensões, e, muito menos, alterações, em congressos.

            O surgimento da Confederação Espírita Pan-Americana, em 1946, na Argentina, foi decisivo para que se reabilitasse, no movimento, a prática dos congressos. Previstos, já em seus estatutos iniciais, como órgãos máximos de deliberação e, inclusive, de adoção de novos conceitos doutrinários, os congressos, desde ali, tiveram, no âmbito da CEPA, regularidade nunca interrompida. Logo se criaram, também, as chamadas Conferências Regionais, com idênticos objetivos. Com a realização do Congresso de Rafaela somar-se-ão 33 eventos internacionais dessa magnitude, realizados pela CEPA em seus 58 anos de existência.

            Essa fidelidade à recomendação de Kardec, mesmo que haja transformado a CEPA, ao curso do tempo, num movimento quantitativamente menor, diante dos valores numéricos do chamado “movimento espírita religioso ou evangélico”, é a mais autêntica homenagem que se pode prestar a Allan Kardec, por ocasião do bi-centenário de seu nascimento. Também fica patenteada a contribuição dada ao movimento espírita como um todo pela CEPA, na medida em que já não se ousa mais discutir acerca da conveniência e da importância dos congressos espíritas. Mesmo que nem sempre sejam estes realizados nos moldes recomendados por Kardec. (A Redação).

 

 

Editorial

POR UMA CULTURA DE PAZ

 

- A guerra desaparecerá um dia da face da Terra?

- Sim, quando os homens compreenderem a justiça e praticarem a lei de Deus; então todos os povos serão irmãos.

(O Livro dos Espíritos – questão 743)

 

            Talvez o homem comece a descrer disso, mas tudo indica que, apesar da guerra e da violência que assolam a humanidade, é possível um mundo de paz.

            Ainda recentemente, texto publicado pela escritora e jornalista Natalie Angler no New York Times ( “A Guerra é Nosso Destino Biológico?” 11.11.03) traz excelentes argumentos negando o fatalismo da violência como destino da humanidade. Na matéria, reproduzia-se reflexão do professor David Sloan Wilson, da Universidade Binghamton, de Nova York, lembrando: “Quando você considera que foi a apenas 13 mil anos atrás que nós descobrimos a agricultura, e que praticamente tudo o que chamamos de história humana ocorreu desde então, você verá que tivemos um período de tempo muito curto para trabalhar pela paz global”.

            Numa perspectiva biológica, somos recentes descendentes de indivíduos cuja rudimentar cultura não impelia a outra coisa que não avançar sobre o outro para garantir sua própria sobrevivência. Numa perspectiva filosófico-espiritualista, mantemo-nos bem próximos ainda do momento em que nos identificaríamos como criaturas “simples e ignorantes”, marco inicial de nossa racionalidade ainda tão rudimentar.

            Por isso, a história do homem sobre a Terra é a própria história da violência, ímpeto a partir do qual se privilegiaram mecanismos de defesa. Arqueólogos e antropólogos identificam a forte presença do militarismo em 95% das culturas pesquisadas. Quando há referência sobre alguma civilização onde parece não ter havido guerras por um período bastante prolongado, iremos descobrir que a aparente paz se fundava no medo imposto por um sistema defensivo e protetor que desestimulavam qualquer ataque. Um exemplo, seria a civilização minóica, na região de Creta que, entre 3.000 e 1100 a.C., teria passado 1.500 anos sem travar nenhuma guerra. Pois, tinha esse povo – dizem os historiadores – uma marinha tão poderosa que ninguém a ousava enfrentar. Em nossa civilização cristã, ocidental, teriam transcorrido não mais que 100 anos (entre 100 e 200 d.C.) sem a ocorrência de qualquer conflito bélico. Explicação: todos os demais povos alimentavam um profundo temor das poderosas legiões romanas. Preferiam, assim, submeter-se docilmente ao Império. Tal como ainda hoje o fazem povos mais pobres,temerosas vítimas da opressão internacional.

            A racionalidade, tão pouco desenvolvida ainda no “homo sapiens” foi aprimorando a inteligência. Esta, como muito bem descrevem os espíritos que dialogam com Kardec na questão 785 de “O Livro dos Espíritos”, num primeiro momento tendem a desenvolver “a ambição e o amor às riquezas”. Só numa etapa posterior, à qual a humanidade, em sua média, ainda não chegou, é que a inteligência há de compreender a excelência do amor, da justiça, da solidariedade, como fatores de felicidade para todos.

            É preciso reconhecer – e esse é o caminho apontado por todos que adotam uma filosofia espiritualista progressista, como o é o espiritismo – que a paz, mais do que possível, faz parte da destinação natural de toda a comunidade humana. Cabe, no entanto, ao próprio homem apressar a conquista desse estágio, estimulando uma autêntica cultura da paz que não se dará sem, antes, nos considerarmos todos como verdadeiros irmãos. Fraternidade segue sendo, pois, o grande desafio à paz que todos dizem querer, mas que só uma pequena minoria termina por praticar.

 

É preciso reconhecer que a paz, mais do que possível, faz parte da destinação natural de toda a comunidade humana.

           

LANÇADO NA XIV CONFERÊNCIA REGIONAL ESPÍRITA O LIVRO:

ESPIRITISMO:   O PENSAMENTO ATUAL DA CEPA

 Uma coletânea de artigos sobre o que é a Confederação Espírita Pan-Americana, seus objetivos, sua natureza, sua história, sua organização e, sobretudo, o que pensa, como instituição, acerca de alguns temas doutrinários e da organização do movimento espírita.

Leia aqui a síntese do pensamento dos diversos autores sobre os temas abordados na obra.

 

“Aquele que não assumir perante o Espiritismo, ou qualquer outra proposta cultural, uma postura crítica corre o risco de simplificações facilmente deturpadoras que levam ao sectarismo, ao fanatismo e à intolerância.”                                                                     Milton Medran Moreira

 

“Não se coaduna com a verdade pretender identificar laicismo com anti-religiosidade, nem, evidentemente, com ateísmo. Laico não é anti-religioso; laico é arreligioso, ou seja, um terreno neutro em questões religiosas.”                                                                               Jon  Aizpúrua

 

"No son las personas que la integran, ya que éstas fueron cambiando a través de todos estos años, pero en el pensamiento fiel a Kardec, investigador, inquisitivo, progresista, íntegro, abierto, tolerante pero firme en su definición de conceptos, allí está la CEPA.”              Dante López

 

“A partir do momento em que o Espiritismo foi institucionalizado, começou sua descaracterização, transformado numa seita ligada ao modelo judaico cristão do pecado e do castigo.”                                                                                                                          Jaci Regis

                                        

 

 “Reina, infelizmente, nos meios evangélicos a concepção de uma doutrina sagrada, completa, de origem divina -  qual obra divina seria imperfeita? -,  modelo de pensar que gera entre os seus profitentes uma postura imobilista, de vocação salvacionista, posto que depositária da verdade.”                                                                                                                            Salomão Jacob Benchaya

 

“Os exemplos de desrespeito aos textos básicos do Espiritismo, até aqui, têm sido perpetrados com mais freqüência no próprio seio  da oficialidade dominante.”                     Wilson Garcia

 

“Nessa visão de Kardec, o espiritismo não pode, de nenhum modo, estagnar-se; se o fizesse, não seria uma ciência, e nem mesmo uma filosofia, uma vez que tanto uma quanto outra só se efetivam com a contínua inquietação do pensamento.”                                Reinaldo Di Lucia

 

  “Não se pode legitimamente falar de espiritismo sem praticar sua ética, o que nos traz a convicção de que fraternidade e diálogo são elementos que pragmaticamente o caracterizam.”                                                                                                      Luiz Signates

 

“A figura do evangelizador nunca foi idealizada por Kardec em nenhum momento. Nem mesmo em seu terceiro livro da Codificação.”                                                       Carlos de Brito Imbassahy

 

“A simples menção da possibilidade de atualização do espiritismo deixa os dogmáticos em pânico, apesar do claro ensinamento de Kardec, de que o espiritismo jamais ficaria ultrapassado, porque caminharia com a ciência.”                                                                       Nícia Cunha

 

“E a CEPA  nos oferece um exemplo prático de despojamento, humildade, simplicidade e, o mais importante, eficiência na sua forma de agir e atuar, priorizando o que é, deve e precisa ser priorizado: a doutrina e o movimento.”                                             José Joaquim Marchisio

                                                                      

“O Espiritismo é intrinsecamente dinâmico e sujeito, portanto, a um permanente processo de atualização cuja condução é, sim, responsabilidade de espíritos encarnados assim como já o fora sua codificação.”                                                                                     Maurice Herbert Jones

 

       Leia, pense e depois faça seu julgamento.

 

HISTÓRIA E CONFRATERNIZAÇÃO NOS 68 DO CCEPA

 

            No último dia 23 de abril, transcorreu o 68º aniversário de fundação do Centro Cultural Espírita de Porto Alegre. Para comemorar a efeméride, a Oficina de Colaboradores do CCEPA, encontro semanal que reúne os dirigentes da casa e seus colaboradores, evocou alguns aspectos da história da instituição.

            O vice-presidente, Maurice Herbert Jones que, juntamente com sua esposa, Elba Jones, são os mais antigos colaboradores da instituição, onde se encontram desde a década de 60 do século passado, traçou um breve relato histórico do CCEPA (antiga Sociedade Espírita Luz e Caridade - SELC). Foram destacadas as diversas fases pelas quais passou a instituição, merecendo especial referência o fato de haver sido na antiga SELC que nasceu a Campanha de Estudo Sistematizado de Espiritismo, adotada pelo Movimento Espírita estadual, ao tempo em que foram dirigentes da Federação Espírita do R.G.do Sul Maurice Jones e Salomão Jacob Benchaya (atual Diretor de Eventos do CCEPA). Dessa campanha estadual de estudo sistematizado nasceria campanha permanente ainda hoje utilizada por todo o movimento espírita brasileiro integrante das federativas estaduais do Conselho Federativo Nacional da Federação Espírita Brasileira.

            Diversos colaboradores do CCEPA prestaram, na Oficina, depoimentos sobre as motivações que os levaram a participar desse importante núcleo espírita de tão rica trajetória, integrante, hoje, da Confederação Espírita Pan-Americana, que tem aqui a sede de sua atual presidência.

            Encerrada a Oficina, os colaboradores confraternizaram com um coquetel.

 

Dirigentes do CCEPA e seus principais colaboradores comemoraram os 68 anos do CCEPA

 

ÔNIBUS ESPECIAL DE PORTO ALEGRE PARA O CONGRESSO DA CEPA

            Restam poucos lugares no ônibus especial que sairá de Porto Alegre, dia 6 de setembro, levando interessados em participar do XIX Congresso Espírita Pan-Americano, em Rafaela, Argentina.

            Se você está interessado, entre em contato com o CCEPA.

 

 

II Congresso Brasileiro de Psicologia e Espiritismo

A Associação Brasileira de Psicólogos Espíritas (Abrape) realiza, nos dias 15 e 16 de maio, na Federação Espírita do Estado de São Paulo (Feesp), o II Congresso Brasileiro de Psicologia e Espiritismo, com o tema "Psicologia e Fé", a fim de debater e proporcionar a reflexão sobre o papel da fé e como a Psicologia ajuda a esclarecer o significado da espiritualidade na vida do homem.      O evento é aberto aos interessados, estudiosos e pesquisadores da Psicologia, da Doutrina Espírita e das religiões.Como atividade artística, a Orquestra Carlos Gomes, da Feesp, com a regência do maestro Silvio Tancredi, fará apresentação durante o congresso. Os sócios da Abrape e do Clube do Ouvinte tem desconto nas inscrições do congresso. Inscrições: (11) 3898-2135 / (11) 3898-2139. 

 

Opinião em Tópicos

Milton R. Medran Moreira

 

            Os Congressos

A intensa programação do XIX Congresso Espírita Pan-Americano, que acontece de 8 a 12 de setembro próximos, em Rafaela, Argentina, ao lado dos painéis com pesquisadores e pensadores espíritas especialmente convidados, reserva amplo espaço àquilo que denomina “Fórum de Temas Livres”. O fórum funcionará durante todos os dias do Congresso e visa a receber a contribuição de espíritas, mesmo não integrantes da CEPA ou não plenamente alinhados com as posições institucionais da Confederação Espírita Pan-Americana, promotora do evento.

            Por outro lado, o 4º Congresso Espírita Mundial, que acontece em Paris, de 3 a 5 de outubro próximos, ao divulgar sua programação, informa que ela se constituirá apenas de painéis e conferências, destacando, explicitamente: “não haverá espaço para temas livres”. O Conselho Espírita Internacional – CEI -, instituição promotora do evento, programou para o congresso painéis onde serão analisados cada um dos livros da chamada “codificação espírita” por expositores convidados, que, depois de suas exposições, responderão às perguntas do auditório.

Critérios

            São, como se vê, critérios diferentes adotados por duas importantes instituições espíritas internacionais que, em diferentes países do mundo, homenageiam, com seus congressos, a figura de Allan Kardec, no ano de seu bicentenário de nascimento.

            Mais do que dois critérios para dois congressos, está aí o retrato concreto de dois perfis de um mesmo movimento.

 De um lado, e majoritariamente, subsiste o entendimento de que o espiritismo, sendo uma revelação divina, é uma doutrina pronta e acabada. As chamadas obras básicas, porque expressões da verdade, devem ser “ensinadas” muito mais do que debatidas.

Durante muito tempo, aliás, as lideranças espíritas tradicionais que assim pensam, posicionaram-se frontalmente contra os congressos. O espiritismo – dizia-se e escrevia-se insistentemente – não é para ser debatido em conclaves. É para ser ensinado nos centros espíritas ou através de livros, preferentemente divulgando-se as mensagens ditadas pelos “espíritos superiores”, que são as “vozes dos céus”, encarregadas de confirmar a “3ª revelação divina”. Esse mesmo entendimento recomenda, ainda hoje, quando já se fazem concessões à realização de congressos, que os principais oradores do evento sejam, igualmente, médiuns, grandes médiuns, habilitados a transmitir o que dizem os “espíritos superiores”.

Livre-pensadores

O outro critério firma-se no entendimento de que o espiritismo é uma obra humana. E que seus postulados básicos resultaram de um rico intercâmbio entre as duas humanidades que Kardec denominou “humanidade encarnada” e “humanidade desencarnada”. Aderir aos postulados básicos a que se chegou por esse intercâmbio não é uma questão de fé, mas de análise e compreensão. Espíritas, nessa perspectiva, não são crentes. São livre-pensadores que têm em comum a adoção de alguns princípios básicos, alicerçados nos quais vão construindo, progressivamente, sua visão de Deus, de homem e de mundo.

Para quem adota essa postura, nenhuma contribuição é desprezível. A dos encarnados e a dos desencarnados. A de espíritas e não-espíritas. A da ciência, da filosofia, da religião, das ciências políticas e sociais. Todo o esforço humano em prol do progresso do conhecimento e da melhoria do homem passa a ser importante. O espírita livre-pensador adota como princípio o célebre aforismo de Terêncio: “Sou humano e nada do que é humano me é estranho”.

Pluralismo e união

É com essa visão de espiritismo que a CEPA, nos seus 58 anos de existência, realiza seu 19º Congresso. Estes, somados às 14 Conferências Regionais, totalizam 33 eventos internacionais, sediados pelos mais diferentes países da América. O Fórum de Temas Livres, as propostas de atualização, as teses, os debates, os painéis, as mesas redondas, que estão presentes em todos esses conclaves, abrem um rico campo de reflexão e trabalho em prol do avanço do espiritismo.

Certamente esse não é o caminho mais fácil. Mas é o mais consistente. Visualizar o espiritismo não como uma questão de fé, mas de conhecimento, é alinhar-se a todos os movimentos da História que, efetivamente, contribuíram para a libertação intelectual e espiritual do homem. Mais do que isso: reconhecer o pluralismo existente no movimento e trabalhar a partir dessa realidade, sem exclusões, é a única forma de fortalecer o laço fundamental que deve unir todos os espíritas do mundo.

 

 

Enfoque

 

Universo pulsante e anisotrópico

Carlos de Brito Imbassahy *

 

(Nota da Redação: No dia 12 de abril último, o escritor espírita Carlos de Brito Imbassahy enviou a alguns destinatários, entre eles a redação deste jornal, a carta que vai publicada ao final desta página, em Opinião do Leitor, sobre a premiação de um cientista brasileiro contrário à tese do big-bang. Imbassahy entende que, por esse caminho, a Ciência chegará a uma interpretação espiritual da realidade primeira do Universo. Como em sua carta  citava este artigo, escrito anteriormente, pedimos que nos enviasse o mesmo para publicá-lo também nesta edição. É o que fazemos a seguir)

 

Ao contrário do que diz a Bíblia e do que afirmam as religiões, as novas descobertas astrofísicas a partir dos estudos de Edwin Powell Hubble, astrofísico norte-americano natural do Missouri, a respeito da curvatura do Universo, este, na forma por que se apresenta, não pode ter sido criação de nenhum Deus, principalmente antropomórfico porque ele é apenas uma fase de uma existência pulsante e que, como tal, vem a ser a repetição de outras existências.

Por que pulsante?

Em decorrência dos estudos, pôde-se verificar que o Universo é uma certa massa de energia em expansão e que, como tal, para se expandir, inicialmente, ela teria que ser implodida em um fulcro central, o que definiria, então, duas etapas, a de implosão e a de expansão que ocorrerá até que se esvaia sua condição de massa de energia comprimida.

Por que anisotrópica?

Porque a implosão não é inversa da expansão. Ou seja, o caminho percorrido num caso não é o caminho inverso do outro. O pêndulo vai e volta num movimento isotrópico.

Já o Universo, para ter toda sua energia concentrada no fulcro central, teve algum Agente Supremo atuante que a teria implodido até este fulcro central para dar-lhe condição de existência. Este Agente substituiria o Deus religioso e por ser puramente físico, acima de tudo o que exista no Universo, sem sentimentos humanos, teria a perfeição que o Deus antropomórfico não possui. Assim, é capaz de estruturar o Universo a partir do momento em que, depois de reunida no aludido fulcro central, a energia passa a se expandir, segundo leis imutáveis. Eis a perfeição.

Há duas hipóteses, ainda em vigor, a respeito da origem desta etapa em que vivemos. A mais antiga, defendida, dentre outros, por Stephen Hawking, baseia-se na existência dos buracos negros que se transformam em estrelas novas. O Universo seria algo como um buraco negro cuja propriedade vem a ser a de atrair toda energia universal para seu interior, explodindo, em seguida. É o Big-bang analisado sob diversos aspectos e a partir dessa explosão, durante a expansão, seria desencadeada uma série de reações produzidas pelo efeito explosivo, reações essas capazes de estruturar os astros e a vida em si, formando os mundos.

Peca pela própria definição, porque a expansão universal é homogênea e contínua, enquanto que a grande explosão faria dela irregular por causa do distúrbio provocado pela mesma. O fenômeno que se vê quando ocorre qualquer explosão que libere fumaça: ela não sai de forma constante e uniforme, em todas as direções e sentidos, mas, em catadupa, que não é o que ocorre com a energia universal.

A segunda hipótese surgiu depois que Murray Gell Mann, à frente do acelerador de partículas (FermiLab) da Stanford University, descobriu que as partículas atômicas sofrem influência de agentes – ditos estruturadores – externos ao Universo e que comandam suas ações.

Estes agentes – atualmente chamados de frameworkers – justificariam a formação da partícula sem necessidade de nenhuma outra ação. Viria a ser “a alma” da mesma e que, atuando sobre a energia amorfa do Universo, teria essa capacidade estrutural.

O fenômeno se enquadra na famosa equação de Einstein: E = mc²

Estes agentes pertenceriam a um domínio externo – provavelmente o que chamamos de mundo espiritual – intimamente ligado ao domínio dito material e, como tal, comandaria a existência de tudo, inclusive da “vida” biológica.

Ambas as teorias se encaixam perfeitamente dentro do conceito de existência do Universo, quer pulsante, quer anisotrópico.

Com isso, toda reformulação religiosa se faz necessária para que não se tenha a idéia de que um “Espírito” Supremo, antropomórfico, seja o grande e único responsável por tudo o que existe no espaço sideral. Essa estrutura do Universo está muito acima de qualquer concepção divina e de qualquer super dote de um simples Deus religioso.

O Universo atual seria mera conseqüência de um outro anterior que, como o nosso, todavia, teria se expandido até esvair-se, quando, então, entraria a “mão de Deus” para fazer com que novamente ele implodisse para recomeçar um novo ciclo de existência.

Esta hipótese elimina a incoerência de um Deus onipotente a fazer tudo a partir da formação do Universo (atual estágio de existência, que seria único) para seu gáudio e prazer, senão, pela necessidade da dar prosseguimento ao processo evolutivo da existência em si.

É difícil aceitar tal hipótese para quem se imbuiu das teses religiosas, só que ela está estribada em observações científicas que comprovam que existem agentes externos à energia cósmica atuando sobre ela e modulando-a, sem dúvida, não só para elaborar um novo sistema planetário – como é o caso do que o observatório Keck II do Haway detectou – em torno da estrela Alfa Centauro, agregando a poeira cósmica, como ainda, a partir da comprovação da curvatura celeste, a conclusão de que este Universo terá fim, quando sua energia atingir à expansão máxima.

E o que resultaria da existência de tudo o que está contido dentro dele? Extinguir-se-ia segundo a “vontade” de um Deus religioso? Ou teria continuidade, como prevê a hipótese científica? E como ficaríamos todos nós?

   Na hipótese de se extinguir, para que, então, o processo evolutivo, se tudo acabaria? É, portanto, mais lógico admitir-se que tudo isso terá que ser reaproveitado em nova existência; e se isto é mais provável a ocorrer, também o será como antecedente ao atual estágio por que atravessa todo o sistema cósmico.

Tal posição científica é cômoda para o Espiritismo primeiro, porque, admitindo a existência de um outro domínio externo ao material onde habitariam os estruturadores, assim, estaria a um passo de reconhecer a Espiritualidade como causa de tudo. Destruiria, porém, a hipótese de que o princípio de existência se restringiria apenas à espiritual das criaturas humanas e incluiria, também, os vegetais, os minerais até as partículas subatômicas mais elementares como possuidores deste mesmo princípio, guardadas as equivalências. Isto é assunto para outro capítulo.

E o mais importante de tudo é que obedeceria à lei reencarnatória, ou seja, até a vida do Universo se daria por etapas e formações distintas de novo corpo de existência.

Dessa hipótese, o que não se pode contestar são as descobertas científicas, principalmente as de Gell Mann, que destrói por completo qualquer hipótese materialista da existência das coisas, como supõe Hawking e seus colegas de idéia.

Porém, a necessidade que têm as criaturas em crer num Deus absoluto, onipotente, tido como “pai amantíssimo”, feito à imagem e semelhança do homem, como reza na Bíblia, é que impede que a grande massa humana possa antever nos estudos científicos uma verdade para que se medite no porquê de nossa existência decorrente da formação do Universo a partir de ciclos evolutivos e não mais como uma “criação” divina feita para satisfazer a vontade do Criador.

É mais fácil, contudo, e mais cômodo, bem como conveniente, admitir-se um Deus de “ternura e bondade” capaz de perdoar todos os nossos defeitos, do que nos curvarmos ante a realidade de que teremos que nos reformular por esforços próprios, como admite Kardec ao pregar a “reforma íntima” para que possamos acompanhar a fase evolutiva das existências. Esta hipótese obriga-nos a resgatar os erros para compensá-los – como determina a lei do equilíbrio universal –, o que não é deveras nada agradável.

O homem gosta de se iludir.

 

 

A necessidade de crer num deus bíblico, feito à imagem e semelhança do homem, impede as massas humanas de antever nos estudos científicos as melhores teses sobre a formação do Universo.

 

* Carlos de Brito Imbassahy – cimba@urbi.com.br -  é escritor, engenheiro, físico, professor universitário, residente em Niterói, RJ.

 

Opinião do Leitor

 

  Meus caros amigos,

    Hoje, 2ª feira, dia 12/04, para gáudio meu, saiu no jornal "O Globo", um comentário na seção Ciência e Vida a respeito da premiação do físico brasileiro Mario Novello, um dos pioneiros na recusa da aceitação do Big bang.

    Finalmente, ele foi reconhecido e premiado na França. Aqui, nas listas espíritas, eu já tenho feito uma série de artigos, inclusive um intitulado O Universo Pulsante justamente que é coerente com o ponto de vista do Novello. Infelizmente, essa turma de espíritas só quer ler mensagens mediúnicas e não se detém, sequer, para aprender um pouco do que os Centistas dizem.

    Fiquei muito feliz com a reportagem porque eu, desde que as primeiras provas contrárias ao Big bang surgiram, tenho defendido que, de repente, a Ciência vai encontrar na Espiritualidade a causa de tudo, ou seja da vida e das formas existentes no Universo. O começo foi dado. Compete a nós, os verdadeiros espíritas, orientados pela codificação, levar o conhecimento da sua (Espiritualidade) existência sob o prisma científico conclamado por Kardec, ao definir "o que é o Espiritismo" no preâmbulo do livro que toma este nome e que é revidado pelos evangélicos.

         Abraços

Carlos de Brito Imbassahy – Niterói, RJ.