OPINIÃO Ano X – Nº 107 Abril 2004

VOCÊ JÁ PODE INSCREVER SEU TRABALHO PARA O CONGRESSO DA CEPA

Nossa Opinião:  Uma pequena história

Editorial: Kardec hoje

Notícias:  Grupo do CCEPA organiza-se para o congresso Moacir, o conferencista de abril Em Santos, um seminário sobre o passe   CCEPA inaugura dois cursos de iniciação ao espiritismo

Opinião em Tópicos:  A tocha   Paranóia   Crença e valores   Humanismo  (Milton Medran Morreira)

 

O PÊNDULO CHINÊS E A FILOSOFIA

 

Opinião do Leitor:  A frase do Gil

 

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VOCÊ JÁ PODE INSCREVER SEU TRABALHO PARA O CONGRESSO DA CEPA

Abertas as inscrições para o Fórum de Temas Livres, um espaço democrático no XIX Congresso Espírita Pan-Americano.

                        A Comissão Organizadora do XIX Congresso Espírita Pan-Americano abriu inscrições para o Fórum de Temas Livres daquele evento que acontece de 8 a 12 de setembro, na cidade de Rafaela, Argentina.

            Seguindo a tradição da CEPA, o Congresso de Rafaela está aberto à participação de todos os espíritas e não apenas de expositores convidados. Os trabalhos deverão se subordinar à temática central do evento: “Espiritismo – Uma Contribuição à Evolução Consciente”.

            O site do Congresso - www.congreso2004.cre-ar.org.ar – publica o regulamento geral do Fórum de Temas Livres, além de todas as informações para inscrições e participação no Congresso, incluindo a rede hoteleira conveniada para receber os visitantes e os respectivos custos. O boletim América Espírita, encartado nesta edição, também está publicando o regulamento do Fórum e a respectiva ficha de inscrição.

            Os interessados em enviar trabalhos para o Fórum de Temas Livres, segundo o regulamento, deverão enviar um resumo (em espanhol ou português) até 30.6.04 para a Comissão Organizadora no seguinte endereço postal: Güemes 255 (2300) Rafaela – Santa Fé – Argentina, ou através do correio eletrônico: congresocepa2004@gruposyahoo.com.ar .

 

 

 

23 DE ABRIL – DIA INTERNACIONAL DO LIVRO

(Pesquisa e fotomontagem: Maurice H.Jones)

 

O Dia Internacional do Livro foi criado pela Unesco (Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura), em 1995. Desde então, ele vem sendo celebrado em todo o mundo no dia da morte de William Shakespeare e de Miguel de Cervantes, o 23 do abril.

            23 abril: uma data simbólica para literatura mundial. Nesta data e no mesmo ano de 1616, morreram Cervantes, Shakespeare e Inca Garcilaso de la Vega*. O 23 de abril é também a data de nascimento ou morte de outros autores proeminentes como Maurice Druon, K.Laxness, Vladimir Nabokov, Josep Pla e Manuel Mejía Vallejo. Por isso não foi difícil para a Conferência Geral da Unesco reunida em Paris no período de 25 de outubro a 16 de novembro de 1995, homenagear os livros e seus autores, proclamando o dia 23 de abril como o "Dia Mundial do Livro e do Direito Autoral" encorajando todo o mundo e em particular pessoas jovens a descobrir o prazer de ler e renovar o respeito e admiração pela contribuição insubstituível desses personagens para o progresso social e cultural de humanidade.

A idéia para essa celebração teve origem na Catalunha (Espanha) onde, no Dia de São George, 23 de abril, uma rosa é tradicionalmente oferecida pelas livrarias como um presente na compra de cada livro. 

                       

*Garcilaso de la Vega (Inca)  - escritor peruano mestiço nascido em Cuzco no século XVI, filho de um oficial espanhol e de uma princesa Inca. Viveu na Espanha onde publicou seus livros

 

            Aniversário do CCEPA

            23 de abril marca também o aniversário do Centro Cultural Espírita de Porto Alegre, ex-Sociedade Espírita Luz e Caridade, instituição fundada no ano de 1936 e que, portanto, completa este mês 68 anos de história.

 

Nossa Opinião

UMA PEQUENA HISTÓRIA

            É apenas uma coincidência que a data de aniversário do Centro Cultural Espírita de Porto Alegre seja também aquela que a Unesco designou para ser o Dia Internacional do Livro. Para nós, espíritas de todo o mundo, entretanto, há uma razão ainda mais forte para festejarmos abril. Ele é também o mês do lançamento de O Livro dos Espíritos, cuja primeira edição apareceu em Paris, em 18 de abril de 1857.

            Obra fundamental da proposta filosófica espírita, O Livro dos Espíritos ainda permanece pouco lido e estudado mesmo por grande parte dos espíritas. Conhecê-lo, discuti-lo, assimilá-lo como um produto cultural de seu tempo, extraindo de seu conteúdo a permanente essencialidade de seus princípios, é o desafio que se impõe aos espíritas.

            Na sua modesta história de 68 anos de existência, o Centro Cultural Espírita de Porto Alegre apercebeu-se disso. Com base em O Livro dos Espíritos e nas obras complementares de Kardec, nesta casa nasceu, lá já se vão mais de 25 anos, um programa de estudos que serviu de laboratório para a mais importante campanha de estudo sistematizado já lançada pelo movimento espírita mundial. Integrando, hoje, um movimento de idéias essencialmente voltado à cultura espírita, o CCEPA revela, em todas as suas ações, uma determinação histórica em favor daquilo que o espiritismo tem de essencial: o incremento e a difusão do conhecimento para, através dele, transformar o homem.

            Para a consecução desse objetivo, o livro, o velho livro, continua sendo o mais extraordinário e eficiente instrumento. Faz-nos felizes a coincidência de aniversariarmos justamente no Dia Internacional do Livro. Estamos, pouco a pouco, escrevendo o livro de nossa história. Uma pequena história que hoje segue sendo escrita por um punhado de homens e mulheres cujo perfil é retratado nesta frase cunhada por Maurice Herbert Jones: “Sabemos poucos, não temos certezas definitivas, mas ousamos buscar”.

 (A Redação).

 

 

Editorial

KARDEC HOJE

Sou humano e nada do que é humano me é estranho.

(Terêncio)

 

            Está aí um exercício de raciocínio que todo o espírita deveria fazer: imaginar que Kardec estivesse hoje entre nós e que se dispusesse, de novo, a organizar O Livro dos Espíritos.

            Quais seriam seus temas preferenciais? Com que espíritos dialogaria? Que tipo de perguntas faria?

            Por certo, não alteraria o objeto essencial de sua obra. Imortalidade, comunicabilidade dos espíritos, existência de Deus, reencarnação seguiriam balizando seu propósito investigativo. São itens que, submetidos ao crivo da razão e da experiência, formaram a base doutrinária sobre a qual o espiritismo passou a construir sua visão própria de homem e de mundo. Visão que, aliás, vai se aprimorando, na medida em que os conhecimentos se ampliam, em que a ciência vai alargando seus domínios, em que se faz mais acurado o psiquismo dos homens e das coletividades e em que as relações sociais e políticas vão criando novas estruturas de pensamento e novos padrões de comportamento.

            Allan Kardec, o insigne autor da obra fundamental do espiritismo, cuja edição primeira foi lançada há 147 anos, ocupou-se, nas 1019 questões com as quais tornaria definitivo O Livro dos Espíritos, de todos os grandes temas de sua época.Os da ciência e os da filosofia. Os da política e os do comportamento. Os da guerra e os da paz. Os do sofrimento e os da felicidade. Os da vida e os da morte. Os da realidade material e aqueles atinentes às dimensões menos densas da vida, morada dos espíritos que, enfim, são os próprios homens, objeto primordial de seu estudo. Ele que houvera despertado para a realidade da comunicação dos espíritos, através das mesas girantes e das mesas falantes, cedo, muito cedo, se dera conta de que, a partir dessa realidade, todos os departamentos da vida passam a ser vistos com um olhar diferente. E que tudo o que é humano é importante sob o enfoque do espírito.

            Muitos dos temas que a obra do lúcido mestre aflorou, naquele 1857, hoje não mais mereceriam idêntica discussão ou o aprofundamento que lhes concedeu. Muito do que era polêmico o tempo se encarregou de pacificar. Propostas então revolucionárias terminaram assimiladas pelo consenso social. Ao mesmo tempo, novos questionamentos e desafios, descobertas e avanços, dúvidas e conflitos, passaram a inquietar homem contemporâneo.

Como no século 19, todas as grandes questões de hoje são também suscetíveis de ganharem um enfoque diferenciado se as visualizarmos a partir da lente espírita. Por certo, Allan Kardec se ocuparia de todas elas num eventual sucedâneo atualizado de O Livro dos Espíritos.

            Pela amplitude de suas propostas, a obra espírita nunca está acabada. Ela se amplia na mesma proporção em que o conhecimento humano se expande. Querer limitar a temática espírita às questões expressamente enunciadas quando de sua formulação seria querer fazer a proposta espírita obsoleta e superada.

             Fidelidade a Kardec implica, necessária e precipuamente, numa política de constante atualização de sua proposta. Ela é uma obra humana, produzida por homens e para os homens, mesmo que em sua base estejam princípios eternos e imutáveis, expressões permanentes que são da lei divina ou natural.

 

Pela amplitude de suas propostas, a obra espírita nunca está acabada. Ela se amplia na mesma proporção

 em que o conhecimento humano se expande.

 

 

Notícias

 

GRUPO DO CCEPA ORGANIZA-SE PARA O CONGRESSO

            Já é uma tradição a presença maciça dos integrantes do Centro Cultural Espírita de Porto Alegre nos eventos da CEPA.

            Para o XIX Congresso Espírita Pan-Americano (8 a 12 de setembro próximos), em Rafaela, Argentina, o CCEPA está organizando uma excursão em ônibus especial, com ar condicionado e excelente infra-estrutura.

            Salienta-se, entretanto, que o ônibus não é exclusivo para o CCEPA. Ainda há vagas para todo e qualquer interessado em participar desse importante evento espírita pan-americano, que tem lugar na aprazível cidade de Rafaela, Província de Santa Fé.

(ANÚNCIO – UM ÔNIBUS PARA RAFAELA).

 

MOACIR, O CONFERENCISTA DE ABRIL

            O físico, escritor e professor universitário Moacir Araújo Lima ocupa a tribuna do CCEPA neste 5 de abril, primeira segunda-feira do mês, dia destinado a uma conferência aberta ao público no Centro Cultural Espírita de Porto Alegre. Discorre sobre “Parapsicologia – Da Bruxaria à Ciência”, tema de livro de sua autoria que está sendo lançado em edição ampliada.

(FOTO DE MOACIR)

Moacir Araújo Lima, conferencista de abril no CCEPA.

 

EM SANTOS, UM SEMINÁRIO SOBRE O PASSE

No Instituto Cultural Kardecista de Santos (ICKS), realizou-se sábado, 27 de março, um Seminário sobre o Passe e a Cura Espiritual.

O evento constou de exposições teóricas sobre o passe na tradição espírita, feitas por Reinaldo di Lucia e Eugênio Lara, seguidas de perguntas e respostas. Encerrou-se com aplicação de passes por uma equipe da Fraternidade Espírita, de Santos.

O Seminário sobre Passe e Cura Espiritual, no ICKS, contou com o apoio das seguintes instituições espíritas da Baixada Santista: CE Allan Kardec, CEB Ângelo Prado, CE Missionários, CE Maria Emília da Mota Ferreira e Fraternidade Espírita.

 

CCEPA INAUGURA DOIS CURSOS DE INICIAÇÃO AO ESPIRITISMO

            Estão em andamento dois Cursos de Iniciação ao Espiritismo (CIESPs), respectivamente nas quartas-feiras à tarde e nas quintas à noite. Os cursos são ministrados por Salomão Jacob Benchaya e Maurice Herbert Jones. As aulas inaugurais, cada uma  contando com grupos de aproximadamente 20 participantes, nos dias 14 e 15 de março último, respectivamente, foram proferidas por Maurice Herbert Jones, com o tema “O Que é o Espiritismo”.

 

                        Maurice H.Jones abriu o Curso de Iniciação com o tema “O Que é o Espiritismo”.

 

Opinião em Tópicos

Milton R. Medran Moreira

 

Atocha

            Conheci a Estação Ferroviária de Atocha, em Madri, no mês de novembro de 2003. Viajávamos minha esposa, eu e Carmen Zeno, uma espírita porto-riquenha residente em Nova York. Vínhamos de Jáen, onde, a convite da Asociación Filosófica y Moral Espírita Cristiana, AFYMEC, eu havia proferido uma conferência. No desembarque em Madri, nosso anfitrião, José Perez Cervantes, presidente da Asociación Espírita Española, havia se atrasado para chegar à estação. Deixei as duas companheiras de viagem, ali, na área de desembarque e, com a devida licença de um guarda, cruzei o equipamento eletrônico que dava acesso a todo o grande complexo comercial e ferroviário, a procura do amigo. Ninguém me interceptou pedindo documento ou para fazer alguma revista pessoal. Percorri várias partes da grande gare até me deparar com José, falante e esbaforido, pedindo desculpas pelo atraso.

            Alguns meses antes, numa viagem que fizera a Porto Rico, via Miami, já no embarque, em São Paulo, eu passara pelo dissabor de ser minuciosamente revistado. Depois de me examinarem dos pés à cabeça, fizeram-me tirar todo o conteúdo de uma bagagem de mão que levava. Um exemplar de “O Livro dos Espíritos” que estava na valise foi minuciosamente folheado, como se fosse um manual terrorista. Os funcionários do governo americano que faziam a revista, atitude repetida por um outro com idêntico procedimento no aeroporto de Miami, pareciam tratar com bandidos em potencial.

Paranóia

            Essa verdadeira paranóia que se instaurou nos Estados Unidos, desde o 11 de setembro de 2001, não existia na Europa. Percorremos, em novembro último, grande parte do território espanhol, inclusive dirigindo automóvel locado, sem que, nunca, alguém tenha nos interceptado ou mesmo solicitado identificação.

            Na manhã do último dia 12 de março, quando via pela televisão o estado em que ficaram os trens atingidos pelas bombas terroristas e, estarrecido, assistia ao sofrimento de centenas de pessoas vitimadas pelo insano ato, não pude deixar de me transportar, em pensamento, à bela Estação de Atocha, local de nosso desembarque, em Madri, após uma viagem por entre vinhedos e olivais, em meio a um povo que respirava o ar fresco da democracia e da liberdade. Eles que haviam vivido 40 anos de uma insana ditadura franquista, pareciam ainda estar em lua-de-mel com a democracia e a liberdade. É certo que se podia sentir, com clareza, o descontentamento de grande parte da população pelo apoio dado por seu governo à aventura norte-americana no Iraque. Havia pichações nos muros condenando o apoio. Mas, talvez nunca se imaginasse que a Nação, como um todo, fosse se tornar vítima dessa estúpida reação, atingindo pessoas inocentes, trabalhadores, homens, mulheres e crianças, sem qualquer comprometimento com a participação espanhola no conflito EEUU-Iraque.

            Crenças e valores

            Imagino que Atocha já não seja a mesma. Que a Espanha e, de uma maneira geral, a Europa já não sejam as mesmas, depois de 11 de março. A guerra e o terrorismo estão mudando a face do mundo. No momento em que escrevo estas linhas, o noticiário fala de um rapaz de 14 anos preso em Israel, portando um cinturão explosivo prestes a detonar. Frustrado pela prisão, o jovem Hussam Abdo disse que queria se tornar um mártir e chegar ao Paraíso como houvera aprendido na escola: “Um rio de mel, um rio de vinho e 72 virgens. Estudei o Alcorão e descobri a vida agradável que me aguardava no Paraíso” – explicou Hussam.

            Como na maioria dos outros grandes episódios trágicos da História, são o sectarismo, o fanatismo (político e religioso) e o fundamentalismo que escrevem esses capítulos de guerra e de terrorismo, atrasando a caminhada em favor da perfectibilização do humanismo e da paz. Os homens que, no mundo, têm promovido a guerra e aqueles que, em contrapartida, têm respondido com o terror, fundam-se em argumentos muito semelhantes: sentem-se ameaçados pela cultura e crenças de seus opositores. Querem que triunfe a sua verdade, modelando o mundo à sua semelhança. Egoístas, obcecaram-se com a idéia de que nada no mundo tem mais valor que suas crenças, hábitos e valores.

            Humanismo

            Só uma crença pode tirar o mundo da encruzilhada em que se meteu. A crença no próprio homem. Na sua viabilidade em qualquer circunstância. Na sua absoluta igualdade na origem e no destino. No reconhecimento, sem qualquer reserva, de que somos todos iguais, independentemente de raça, cultura, ideologia ou religião. O Livro dos Espíritos apontou como causa de todas as guerras “a predominância da natureza animal sobre a natureza espiritual e a satisfação das paixões” (questão 742).

            Não se pense que o só fato de ter uma religião desperte no homem a consciência de sua natureza espiritual. Ao contrário, as religiões, nas suas configurações mais comuns e numerosas, têm incrementado nos seus crentes o egoísmo próprio dos que batalham por sua própria “salvação” e o orgulho que os leva a se presumirem melhores que os outros.

            Nunca estivemos carentes de deuses, que sempre os tivemos em profusão. O homem contemporâneo segue guardando um pouco do australopiteco que, há alguns milhões de anos, marcava com urina os limites de seu território para que este não fosse invadido pela horda rival. Segue, pois, carente é de humanismo. De compreensão de sua verdadeira e integral natureza que reclama dele posturas autênticas de humildade, solidariedade e amor. 

 

O PÊNDULO CHINÊS E A FILOSOFIA

 

                                                                                   José Rodrigues*

 

A ascensão de países asiáticos na ordem econômica mundial, particularmente da China e da Índia, polariza as atenções de analistas de diferentes setores. Sob o ponto-de-vista estritamente econômico, o fenômeno chinês permite antever que dentro de quatro décadas sua economia rivalizará com a norte-americana, cabendo à Ásia como um todo a predominância econômica global em meados deste século.

De fato, as taxas de crescimento da China, ainda sob economia centralizada nas mãos do Estado, impressionam. Na média, têm sido ao redor de 8,0% ao ano, contra, por exemplo, os 2,1%, em 2003, da área da OCDE, uma organização que reúne 30 países melhor situados economicamente.  As previsões se mantêm, para a China, sempre em taxas superiores à média mundial, para um país com 1,3 bilhão de habitantes e renda per capita ainda abaixo de US$ 5 mil. A Índia, com 1 bilhão de habitantes e renda per capita equivalente à metade da chinesa, também surge como importante investidora em infra-estrutura e detentora de grande número de engenheiros e médicos especializados, ao lado de profissionais competentes na área da tecnologia da informação.

GRAVURA POBREZA

Paradoxos: enquanto uns morrem de problemas cardíacos derivados do estresse, do sedentarismo, do esbanjamento de gorduras e proteínas, outros, de fome.

Qual o nervosismo que ronda esse fenômeno? Para os economistas, o pêndulo chinês, sozinho, é capaz de influenciar demandas, de tal ordem que provoca escassez de bens e alta de preços. Na verdade, esse já é um fato real no âmbito de algumas matérias-primas. Para os preservacionistas, há o temor de que um novo padrão de vida e de consumo dos chineses provoque o aumento das demandas à natureza, na contra-mão do desejado crescimento sustentado. Ocorre que, alguns poucos países, que representam apenas um sexto da população mundial, absorvem o equivalente a 75% da produção global. Os Estados Unidos, isoladamente, têm a fatia de 31% do pib mundial, enquanto a China, 4% e a Índia, 2%.

Não há como negar a esses povos desnivelados, entre os quais está o Brasil, a intenção de melhoria do seu bem-estar. São povos de profundas carências na qualidade de vida. Põe-se, assim, uma questão que pode entrar no campo da ética. O excesso de uns significa a falta de outros. Enquanto uns morrem de problemas cardíacos derivados do estresse, do sedentarismo, do esbanjamento de gorduras e proteínas, outros, de fome. Essa descompensação reflete visões de mundo. No momento em que as satisfações pessoais se concentram no imediato, refletindo competições de status social, alguém paga por isso. Mais ainda, a exacerbação do egoísmo, quando manifesta por populações inteiras, é a causa profunda de grandes conflitos entre nações.

O espiritismo tem uma posição conservacionista pioneira. Há quase 150 anos (em 1830 a população mundial era de um bilhão de habitantes, contra seis bilhões atuais), sem as megalópolis de hoje, com seus veículos infernais, um espírito disse que “A Terra produziria sempre o necessário se o homem soubesse contentar-se. Se ela não supre todas as necessidades é porque o homem emprega no supérfluo o que se destina ao necessário” e lembrava que o árabe, no deserto, encontra sempre do que viver porque não cria necessidades fictícias.

Há o contra-ponto da tecnologia, que está maximizando a produção com custo menor. A busca da eficiência é bem-vinda e a Terra agradece, mas é inegável que a procura de resultados financeiros força a natureza a dar respostas além de sua capacidade de reposição. Se assim não fora, não teríamos o efeito-estufa, por exemplo, e a assinatura do Protocolo de Kyoto, na tentativa de reduzir as emissões de gases para a atmosfera.

Em razão desse quadro, o fenômeno asiático, enfaticamente o chinês, é mais um alerta para o tipo de consumo que cada um ostenta; mais do que o tanto de dinheiro no bolso, ou do cartão magnético, dependente de uma visão filosófica da vida, em sua perspectiva de continuidade.

 

*José Rodrigues, jornalista e economista, é um dos coordenadores do site Pense-Pensamento Social Espírita. www.viasantos.com/pense   

   

Opinião do Leitor

 

A frase do Gil

Acabo de ler, com muita satisfação, a coluna “Opinião em Tópicos” de Medran (edição janeiro/fevereiro, comentando a frase de Gilberto Gil: “as pessoas devem ser a mudança que elas querem ver no mundo”).

Tive a mesma sensação de gozo por uma frase não formulada, mas correspondente a uma idéia já compreendida. Muitas pessoas andam pensando as mesmas coisas.

Mário S.Thiago – Florianópolis, SC.