OPINIÃO Ano X – Nº 103 Novembro 2003
Nossa Opinião: O “FUMUS BONI JURIS”
Editorial: QUANDO RECRUDESCE A VIOLÊNCIA
Notícias: VII JORNADA ESPÍRITA DE FLORIANÓPOLIS -
CLÁUDIA MACHADO LANÇA LIVRO ESPÍRITA DE AVENTURAS
Espiritimo: O Pensamento atual da CEPA
- livro lançado na XIV Conferência Regional Espírita
Opinião
em Tópicos: Barcelona-Valência
Brilho nos olhos Eventos
espíritas Estratégias de divulgação (Milton Medran Moreira)
Enfoque: Eutanásia: um tema sempre presente (Marcelo
Henrique Pereira)
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Medida gera inconformidade de parte
do associado Luciano dos Anjos que obtém liminar suspendendo alteração.
Marcelo Henrique Pereira, que
participou da última reunião do CFN da FEB, em representação à ABRADE, fala
para Opinião sobre o tema.
Aproximando-se de seus 120 anos de
existência (fundada em 1884), a Federação Espírita Brasileira, a mais
importante instituição espírita do País, vive decisivo momento de sua história.
Ao convocar Assembléia Geral de seus associados para reforma estatutária, visando a adequação de seus atos
constitutivos às normas do novo Código Civil Brasileiro, a FEB incluiu na pauta
também a retirada de recomendação expressa em seu estatuto do estudo da obra
“Os Quatro Evangelhos”, do advogado francês J.B.Roustaing, doutrina conhecida
entre os espíritas como “roustainguismo” ou “rustenismo” que, entre outros
aspectos contrários às posições de Kardec, sustenta a não encarnação de Jesus que teria sido um “agênere”. É a famosa
tese do “corpo fluídico” de Jesus, da virgindade de Maria e de outras
conseqüências responsáveis por históricas controvérsias no movimento espírita
brasileiro, mas sempre amplamente sustentadas e divulgadas pela FEB.
A tentativa de alteração estatutária
terminou provocando ação judicial promovida pelo escritor espírita Luciano dos
Anjos, roustainguista convicto, antigo associado e colaborador da FEB. Sob o
argumento de que o estudo da doutrina de Roustaing, implica em base doutrinária estatutariamente imodificável,
Luciano obteve liminar na Justiça carioca impedindo a apreciação dessa proposta
na Assembléia Geral da entidade.
Marcelo Henrique esclarece
O Professor e Mestre em Direito,
Marcelo Henrique Pereira que participou recentemente de reunião do Conselho
Federativo Nacional, órgão da FEB, coordenador do movimento espírita
brasileiro, respondeu a esta entrevista de Opinião,
esclarecendo sobre o episódio:
Opinião – Pelo que pôde você perceber,
quando participou, no período de 7 a 9 de novembro último, da reunião do
Conselho Federativo Nacional, a FEB irá mesmo retirar Roustaing de seus
estatutos?
Marcelo - As teorias rustenistas, adotadas por tantas
décadas pela FEB, sempre inquietaram todo e qualquer espírita consciente.
Afinal, é notória a posição de Kardec, ainda em vida, quanto à obra do seu
contemporâneo J.B.Roustaing, a qual o codificador respeitou, mas não recomendou
sua adoção como “filosofia espírita”. No entanto, há menção expressa no
estatuto febeano recomendando o estudo, a prática e a difusão do Espiritismo,
com base nas obras de Allan Kardec, no Evangelho de Jesus “e também na obra de
J.B.Roustaing e outras subsidiárias e complementares da Doutrina Espírita”,
(art.1º, I, e parágrafos). Aproveitando o momento necessário da adequação dos
estatutos sociais das instituições espíritas brasileiras ao novo Código Civil,
a Diretoria Executiva, além das mudanças quanto à natureza social (de sociedade
para associação) tentou promover a retirada da menção ao rustenismo. Seria uma
medida de sintonia plena com a modernidade e de resgate da pureza doutrinária.
Daí a medida cautelar intentada e obtida por Luciano.
Opinião – O que pode acontecer agora?
Marcelo – Se será ou não promovida a ação principal, visando
a salvaguarda dos interesses rustenistas, não se pode precisar. Não havendo a
ação principal, creio ser possível a convocação de uma nova assembléia para
deliberação no mérito da mudança. Considero tal circunstância matéria “interna
corporis” podendo ser analisada naquela oportunidade. E creio sinceramente que
será , porque a tendência felizmente conduz a isso. Entendo que estamos bem
próximos de um momento histórico, a ser lembrado como resgate da fidelidade do
pensamento kardequiano. O que pude observar no Conselho Federativo Nacional,
diante do relato feito pelo Presidente da FEB, é que há um unânime desejo por
parte do movimento espírita brasileiro de que se retire Roustaing do estatuto
da FEB.
Marcelo: O desejo do movimento espírita é que a FEB
se afaste do roustainguismo.
Opinião – Que
mais gostaria de acrescentar sobre sua participação nessa reunião do CFN?
Marcelo – Bem, minha participação foi na condição de
representante da Associação Brasileira de Divulgadores do Espiritismo (ABRADE),
que tem assento naquele Conselho, juntamente com as Federativas estaduais e
outros órgãos representativos do movimento espírita brasileiro. Mesmo que minha
presença não estivesse especificamente a serviço dos interesses ou das
atividades da Confederação Espírita Pan-Americana, CEPA, entidade da qual sou
Delegado, em Florianópolis, essa minha vinculação com a Confederação em nenhum
momento representou dificuldade ou tratamento diferenciado, por quem quer que
seja. Foi um excelente exercício de convivência alteritária e fraterna,
demonstrado através da ampla participação, de nossa parte, nos debates e
posicionamentos da pauta, com liberdade de expressão em todos os momentos em
que desejamos fazer uso da palavra. Mais que isto, durante os intervalos de
refeições/confraternização, ficou flagrante o bom relacionamento entre nós e os
diversos líderes espíritas (estaduais e nacionais), importando em esforços
recíprocos de entendimento e harmonia.
Saímos do encontro com uma excelente
impressão de que há um desejo de união e que já se pode sonhar com a
perspectiva de diálogo e parceria, num futuro não muito distante, por exemplo
entre CEPA e FEB, para o bem do Espiritismo.
“Fumus boni juris” é uma expressão
latina que significa “fumaça do bom direito”. Sempre que um juiz concede uma
liminar, atendendo, sem ouvir a parte contrária, a um pedido formulado em
juízo, pressupõe a existência de um forte
indício do bom direito.
No caso da ação de Luciano contra a
FEB, o Juiz carioca viu presente esse requisito e impediu a Assembléia Geral da
FEB de apreciar a pretendida retirada de Roustaing de seu estatuto. Como está
ele redigido, a doutrina roustainguista seria, aparentemente, tão essencial aos
objetivos da entidade que retirá-la de seus atos constitutivos poderia se
constituir numa ação de violência à sua própria natureza. Para o estatuto
febeano, tal como está vazado, a recomendação do estudo e à adesão às idéias de
J.B.Roustaing se constituiria em algo análogo ao que, em Direito
Constitucional, se chama de “cláusula pétrea”: aquela que, em hipótese alguma,
pode ser removida de uma Constituição.
Se esse entendimento persistirá até
o final da demanda não se sabe. Mas só o fato de o Poder Judiciário haver assim
entendido provisoriamente demonstra a visceral e umbilical ligação existente entre o “espiritismo” concebido e,
até hoje, divulgado pela FEB, e a doutrina do Advogado de Bordéus. Dessa
maneira, mesmo que formalmente retirado de seu estatuto, Roustaing terá deixado
suas marcas indeléveis naquela venerável instituição e no movimento espírita
brasileiro.
Não se pode esquecer, entretanto,
que a Federação Espírita Brasileira é uma associação de pessoas, com um quadro
de associados detentores do pleno direito de lhe dar a estrutura e o rumo que
melhor entenderem e que essa prerrogativa é só deles e não do movimento
espírita como um todo. O Conselho Federativo Nacional, órgão por ela criado e
presidido, com o objetivo de congregar as Federações Espíritas estaduais, é uma
entidade a que aderem aqueles organismos que, livremente, assim o quiserem e
forem aceitos, submetendo-se às normas estatuídas pela entidade instituidora e
mantenedora. Mesmo assim, é visível, na medida em que melhor se qualifica e se
“kardequiza” o movimento espírita brasileiro, o crescimento de uma consciência
maciçamente contrária à doutrina roustainguista. Mais cedo ou mais tarde, a
pressão externamente exercida sobre a histórica posição doutrinária da FEB
teria de lhe produzir alguma inquietação e desconforto, diante da condição que
ela própria se arrogou de representar o movimento espírita do Brasil.
O que, no entanto, não podem perder
de vista os espíritas realmente livre-pensadores e que têm optado por outros
direcionamentos e outras formas organizacionais, fiéis em sua origem, em sua
história e em sua prática, à estrutura kardequiana de pensamento, é que todas
as crenças e expressões de consciência individual ou coletiva, desde que
lícitas e honestas, são respeitáveis. O roustainguismo da FEB, embora
inconciliável com muitas e fundamentais posições de Kardec, é uma questão que
diz respeito apenas à FEB e seus associados. Estes, quando aderiram àquela
entidade associativa, o fizeram por convicção aos princípios ali estatuídos.
Algumas campanhas anti-roustainguistas feitas no Brasil, muito mais do que
exercerem o saudável exercício do debate de idéias, têm descambado para um
desrespeitoso enfrentamento agressivo à instituição FEB. Discordar de suas
idéias é um direito que todos temos. Respeitar, no entanto, suas crenças
religiosas, reconhecendo-lhe o direito de autogestão e, até, de preservação das
matrizes fideístas que, eventualmente, hajam plasmado sua mais íntima
identidade é um dever do qual não nos podemos furtar.
Assim, seja qual for a decisão final
e mesmo que o “fumus” vislumbrado pelo julgador conduza ao reconhecimento da
existência de uma identidade construída historicamente com o intuito de marcar
uma questão de fé irrenunciável, porque religiosa, o problema será exclusivamente
da FEB e das pessoas e entidades que, livremente, de forma direta ou indireta,
a ela aderiram. Nunca dos espíritas realmente livre-pensadores que se inspiram
no ideal e nas propostas de Allan Kardec. (A
Redação).
“A sociedade que não fornece ao
homem meios de se tornar uma pessoa civilizada não tem o direito de cobrar isso
dele.” (Marquês de Beccaria)
O recrudescimento da violência que, no
Brasil, segue uma escalada assustadora, desafia todos os setores da sociedade
para debates e buscas de solução. Um bárbaro crime em São Paulo, que vitimou um
casal de namorados, protagonizado entre outros por um jovem de 16 anos, vem de
motivar inúmeras manifestações que reclamam, principalmente, duas medidas
radicais: a redução etária da responsabilidade penal, que hoje é de 18 anos,
para 16; e o agravamento das penas para alguns crimes mais violentos, não
faltando quem advogue a pena capital.
Um grupo de espíritas que, via
internet, discute temas gerais na chamada Lista da CEPA (cepa@grupos.com.br) ocupou-se, nas últimas
semanas desse debate. Também de espíritas, às vezes, partem sugestões de endurecimento
de penas ou de responsabilização penal precoce para acompanhar o também precoce
despertamento à ação criminosa. Mas, decididamente, não é essa a posição mais
aconselhada, à luz de uma doutrina de raízes espiritualistas e vocação
humanista como é o espiritismo.
Por isso, vamos aqui reproduzir,
porque de pleno acordo com elas, algumas considerações expendidas por uma
ilustrada componente daquele grupo de discussão, a Dra. Jacira Jacinto da
Silva, Juíza de Direito do Estado de São Paulo, espírita de longa trajetória e
jurista qualificada.
Para ela, “não existem soluções
simplistas para graves problemas”. “Seria maravilhoso – diz - se uma única
decisão, como a de reduzir a imputabilidade penal, pudesse levar ao
desaparecimento da violência e da criminalidade da juventude. Qualquer um de
nós seria favorável”. Entretanto, destaca a magistrada: “Nenhum problema
difícil se resolve num passe de mágica”. E indaga: “Qual a diferença entre um
rapaz de 18 anos que mata uma pessoa e um de 16? A única é que o maior de 18
pode pegar mais tempo de cadeia. E daí? Mais aperfeiçoamento no crime. Por mais
que lutemos, a realidade carcerária ainda é esta: uma verdadeira escola da
criminalidade. O jovem de 16 anos vai para a FEBEM, que não tem diferença
nenhuma e, em muitos casos, é pior que certos presídios. Nenhum dos dois
estabelecimentos tem condições de fazer o que seria preciso, ou seja, oferecer
condições de reeducar. Logo, logo, ambos voltarão à sociedade e talvez no mesmo
espaço de tempo, pois o sistema prisional é progressivo”.
Para a Dra.Jacira, “enquanto não
trabalharmos para construir uma sociedade globalizada em que haja espaço para
todas as pessoas, não há como fugir da criminalidade e continuaremos acuados
pelos oprimidos, excluídos, marginalizados. “Afinal, quem são os criminosos?” –
pergunta, para logo responder: “São espíritos que não estão no nível da
maioria. Que ainda não conseguem entender a exigência da ordem social. Em
outras palavras: atrasados em relação ao meio. Alguns estagiam nos mais baixos
níveis da ignorância e se assemelham a verdadeiros demônios, afinados com todo
tipo de mal e atrocidades”.
Muitas pessoas e, às vezes, até espíritas, apontam
como solução a pena de morte para eles. Para aquela magistrada, e igualmente,
para nós, entretanto, essa penalidade é impensável na visão espírita. Como
afirma ela, “quem delibera agir para o bem ou para o mal é o espírito e não o
corpo”. Assim, destruído o corpo, “seu espírito estará mais livre e continuará
pela lei da afinidade, nos mesmos lugares, incentivando as pessoas a procederem
da mesma forma”.
Nessa linha de pensamento,
Dra.Jacira vê como extremamente importante existirem estabelecimentos penais
“adequados a essas mentes desequilibradas, animalizadas, onde deverão
permanecer alijadas do meio social”. Mas, como solução de fundo, vê como única
alternativa o investimento no ser humano, tentando despertar nos criminosos o
desejo de mudar. Nessa linha, conclui: “nosso primeiro trabalho é olhar pelas
crianças que estão mergulhadas nesse mundo do crime e que manhã serão novos
criminosos se a sociedade não despertar a tempo, criando e participando de
projetos sérios que as desviem do mundo das drogas, do crime e da prisão”.
“Criminosos são espíritos que não
estão ao nível da maioria e ainda não conseguem entender a exigência da ordem
social”.
Uma coletânea de artigos sobre o
que é a Confederação Espírita Pan-Americana, seus objetivos, sua natureza, sua
história, sua organização e, sobretudo, o que pensa, como instituição, acerca
de alguns temas doutrinários e da organização do movimento espírita.
Leia aqui a síntese do pensamento dos
diversos autores sobre os temas abordados na obra.
“Aquele que não assumir
perante o Espiritismo, ou qualquer outra proposta cultural, uma postura crítica
corre o risco de simplificações facilmente deturpadoras que levam ao
sectarismo, ao fanatismo e à intolerância.” Milton Medran Moreira
“Não se coaduna com a
verdade pretender identificar laicismo com anti-religiosidade, nem,
evidentemente, com ateísmo. Laico não é anti-religioso; laico é arreligioso, ou
seja, um terreno neutro em questões religiosas.”
Jon Aizpúrua
"No son
las personas que la integran, ya que éstas fueron cambiando a través de todos
estos años, pero en el pensamiento fiel a Kardec, investigador, inquisitivo,
progresista, íntegro, abierto, tolerante pero firme en su definición de
conceptos, allí está la CEPA.”
Dante López
“A partir do momento em que
o Espiritismo foi institucionalizado, começou sua descaracterização,
transformado numa seita ligada ao modelo judaico cristão do pecado e do
castigo.” Jaci Regis
“Reina, infelizmente, nos meios evangélicos a concepção de uma
doutrina sagrada, completa, de origem divina -
qual obra divina seria imperfeita? -,
modelo de pensar que gera entre os seus profitentes uma postura
imobilista, de vocação salvacionista, posto que depositária da verdade.” Salomão Jacob Benchaya
“Os exemplos de desrespeito
aos textos básicos do Espiritismo, até aqui, têm sido perpetrados com mais
freqüência no próprio seio da
oficialidade dominante.”
Wilson Garcia
“Nessa visão de Kardec, o espiritismo não pode, de nenhum modo, estagnar-se; se o fizesse, não seria uma ciência, e nem mesmo uma filosofia, uma vez que tanto uma quanto outra só se efetivam com a contínua inquietação do pensamento.” Reinaldo Di Lucia
“Não se pode legitimamente
falar de espiritismo sem praticar sua ética, o que nos traz a convicção de que
fraternidade e diálogo são elementos que pragmaticamente o caracterizam.” Luiz
Signates
“A figura do evangelizador
nunca foi idealizada por Kardec em nenhum momento. Nem mesmo em seu terceiro
livro da Codificação.” Carlos de Brito
Imbassahy
“A simples menção da
possibilidade de atualização do espiritismo deixa os dogmáticos em pânico,
apesar do claro ensinamento de Kardec, de que o espiritismo jamais ficaria
ultrapassado, porque caminharia com a ciência.”
Nícia Cunha
“E a CEPA nos oferece um exemplo prático de
despojamento, humildade, simplicidade e, o mais importante, eficiência na sua
forma de agir e atuar, priorizando o que é, deve e precisa ser priorizado: a
doutrina e o movimento.” José Joaquim Marchisio
“O Espiritismo é
intrinsecamente dinâmico e sujeito, portanto, a um permanente processo de
atualização cuja condução é, sim, responsabilidade de espíritos encarnados
assim como já o fora sua codificação.” Maurice Herbert Jones
Leia, pense e depois faça seu julgamento.
VII JORNADA ESPÍRITA DE
FLORIANÓPOLIS
A VII Jornada Espírita de Florianópolis acontece este
mês de novembro, numa promoção doConselho Regional Espírita da Ilha (CRE-1), da
Federação Espírita Catarinense. Seu objetivo principal: criação de
oportunidades para o melhor conhecimento da doutrina a um número maior de
pessoas atraindo, ainda, inúmeros simpatizantes e/ou curiosos acerca da
interpretação espírita dos fatos da vida.
Tema central: “Vivendo o Espiritismo”, através de
exposições dialogadas (possibilitando o debate com os participantes e o
público).
Cronograma:
18.11,
Alexandre Chambarelli de Novaes - Vivência em Família;
19.11,
Gerson Luiz Tavares - Filosofia de Bem Viver;
20.11,
Marcelo Henrique Pereira - Uma Proposta de Humanização das Instituições
Espíritas; e,
21.11,
Ricardo di Bernardi - Educação Espírita e Família.
No
dia 22.11, o Grupo Teatral do Núcleo Espírita de Artes encenará um de seus
esquetes teatrais.
Locais:
Instituições Espíritas filiadas ao Conselho, assim nominadas: Centro Espírita
Frederico José Rolla, Casa Espírita Joana Lima, Centro Espírita Fé, Esperança e
Caridade de Jesus, Centro Espírita Allan Kardec e Associação Espírita Fé e
Caridade, todas localizadas na parte insular de Florianópolis.
Ricardo
di Bernardi é um dos expositores da Jornada Espírita de Florianópolis.
CLÁUDIA MACHADO LANÇA
LIVRO ESPÍRITA DE AVENTURAS
Foi
lançado dia 2 de novembro, às 20 horas, na Feira do Livro de PortoAlegre o
livro de aventuras espírita de Cláudia Régis Machado, “Kadu e o Espírito
Imortal”. A autora é psicóloga e psicopedagoga que desenvolve sua atividade
profissional
principalmente com jovens e adolescentes.
O
livro é uma oportunidade para os ultrajovens começarem a entender o espiritismo
de forma dinâmica através de muitas brincadeiras e enigmas.
Para
encontrar na internet: www.imprensalivre.net, ou diretamente com a escritora no e.mail regism@yazigi.net
.
Cláudia Régis Machado
teve sessão de autógrafos na Feira do Livro de Porto Alegre.
PSICÓLOGA FALA SOBRE
CONFLITOS
Como acontece na primeira
segunda-feira de cada mês, no próximo dia 1º de dezembro, o Centro Cultural
Espírita de Porto Alegre promove sua Conferência Pública mensal.
O tema, desta feita, é “Conflitos em
Relações Humanas”, com a psicóloga porto-alegrense Jussara Gandolfi.
Milton R. Medran Moreira
Barcelona-Valência
Com espantosa velocidade, o trem nos
conduzia de Barcelona para Valência. Pela janela, à minha esquerda, podia ver o
sol recém nascendo, naquela manhã de outono, a derramar fracos raios de luz
sobre as águas muito verdes do Mediterrâneo.
Iniciando uma segunda etapa dessa
jornada espírita pelo país, já dava para se ter uma idéia do denodado esforço que esses companheiros de Espanha
vêm realizando para que não se apague a chama espírita, outrora tão forte em
toda a nação, mas que as duas Guerras Mundiais e os 40 anos de ditadura,
subseqüentes à Guerra Civil, haviam praticamente sepultado. Um dia antes,
acompanhados de Guillermo Reyes e sua esposa, Sílvia e eu percorremos grande
extensão do Parque La Ciudadela. Em alguma parte dele é que teria ocorrido o
Auto de Fé de Barcelona, naquele 9 de outubro de 1861, quando, por ordem do
Bispado local, um sacerdote com seus acólitos presidiu a queima dos livros
espíritas importados por um livreiro diretamente de Paris. Na oportunidade,
escreveu Kardec na Revista Espírita: “Podem queimar-se livros, mas não se
queimam idéias: as chamas das
fogueiras as superexcitam, em vez de
abafar”.
Brilho
nos olhos
Em Barcelona, eu tivera a honra de
conhecer uma legenda viva do espiritismo espanhol. Josep Casanovas Llardent,
que já ultrapassou os 80 anos, honrou-me com sua presença à conferência por mim
proferida no Centro Barcelonês de Cultura Espírita, tão adequadamente dirigido
por David Santamaria e Pura Argelich, que, juntamente com o velho Casanovas,
fundaram-no, há mais de 20 anos atrás, quando a Espanha mal saía da ditadura,
responsável pelo desaparecimento do movimento espírita no país.
Na Estação de Valência, lá estava o
vice-presidente da “Asociación Espírita de Valencia”, José Lanzuela Verona,
esperando-me com um cartaz escrito com meu nome. Não seria necessário. Sempre
consigo identificar, nessas viagens, os companheiros espíritas. Há algo de
invisível e indescritível que identifica a gente. Ademais, em Valência, como em
Sevilha, em Córdoba, em Montilla, em Jaén e em Madrid, cidades onde tive
contatos e atividades espíritas, há uma marca forte a identificar os espíritas.
Eles têm um brilho nos olhos que, desconfio, são chispas saídas da fogueira dos
livros de Barcelona e que viajaram no tempo para iluminar a visão dessas
teimosas lideranças que crêem firmemente poder restituir a mesma força que teve
o movimento espírita espanhol nas primeiras décadas do Século 20.
Eventos
espíritas
Mesmo na Espanha livre e democrática
de nossos dias não é nada fácil organizar um evento público assumidamente
espírita. Durante anos e anos, a ditadura política e a casta clerical por ela
protegida enfiaram na cabeça do povo a noção de que espiritismo era sinônimo de
bruxaria, de satanismo, de feitiçaria, etc. É preciso muita coragem para alguém
se dizer espírita e, nessa condição, por exemplo, solicitar do Poder Público a
cedência de um local para uma atividade pública ou, mesmo, a locação de um
hotel para uma Jornada Espírita como a realizada, em Sevilha, pela Associação
Espírita Andaluza Amália Domingo Soler, que foi a atividade mais importante de
que participei nessa gira pela Espanha. Só a determinação e a coragem de
pessoas como Mercedes Garcia de la Torre, Francisca Ribert e Manoel Martinez
Pardela, organizadores daquele evento nas excelentes dependências do Meliá
Hotel Los Lebreros, de Sevilha, poderia ser capaz de administrar todas essas
dificuldades e a própria carência de recursos materiais, reunindo um público de
aproximadamente 350 pessoas num evento que contou com a participação de
excelentes expositores espanhóis, com a presença também de portugueses, um
venezuelano (Jon Aizpúrua) e este brasileiro.
Em Córdoba, soube que a conferência
por mim proferida nas dependências de um centro cultural da municipalidade
local (ayuntamiento) teve um significado histórico: foi o primeiro ato espírita
em local público ocorrido naquela cidade. Para sua cedência, seus organizadores
precisaram garantir aos administradores do local de que não se tratava de um
ato religioso.
Estratégias
de divulgação
Não há espaço, na Espanha, para a
implantação de um movimento espírita evangélico-religioso, nos moldes daquele
que vingou no Brasil. A estratégia que melhores resultados tem dado na
divulgação do espiritismo e no investimento da criação de uma imagem
culturalmente adequada a seus padrões é vinculá-lo a temas da área, por
exemplo, da Parapsicologia ou da Psicologia Transpessoal.
Na mesma época em que lá estive, o
psicólogo espírita venezuelano Jon Aizpúrua, participou, a convite de uma
Associação Internacional de Parapsicologia, de um evento reunindo mais de 700
pessoas. Estrategicamente, vinculou sua abordagem a temas de conotação
espírita, possibilitando-lhe desenvolver considerações sobre imortalidade do
espírito, reencarnação e comunicabilidade de espíritos. Esses temas são sempre
bem aceitos. As conseqüências éticas que deles naturalmente advêm não precisam
e não devem ser revestidas de conotações religiosas. Tudo o que leve a
conceitos que possam ser interpretados como de uma religião formal é
naturalmente recusado pelo espanhol. Opera-se naturalmente uma associação entre
religião e supressão de liberdade. Entre religião e poder. O que não mais serve
a seus interesses nacionais. Assim, há uma mensagem clara que nos passam os
espanhóis: o modelo de espiritismo que teve sucesso no Brasil não pode ser
levado para lá como um produto de exportação. É preciso que os entendamos e os
respeitemos nos exatos termos da recomendação de Kardec de que o espiritismo,
em cada país, teria sua fisionomia e sua peculiar organização.
Eutanásia: um tema sempre
presente
Marcelo Henrique Pereira *
No mês passado,
fomos surpreendidos pela veiculação, na imprensa material e virtual, de
um fato ocorrido na França: a mãe de Vicent Humbert, tetraplégico, cego e mudo,
desafiou a lei vigente e provocou a morte do próprio filho. Em resumo, o
francês, que tinha ficado inválido após um acidente de carro ocorrido em 2000,
há três anos suplicava para que fossem ignoradas as leis que proíbem a
eutanásia no país, morreu dois dias depois de ter recebido uma overdose de
sedativos injetados pela própria mãe.
Clinicamente, a eutanásia (cuja origem, grega, denota
“morte apropriada” ou “boa morte”) foi proposta pela vez primeira em 1623, por
Francis Bacon, como o “tratamento adequado às doenças [ditas] incuráveis”. A
eutanásia consiste, então, na abreviação da vida (humana ou animal), em razão
da impossibilidade de vencer as doenças, antevendo a total impotência em
conferir, ao paciente, uma vida digna e saudável. Somente no estado americano
do Oregon sua prática é autorizada pela legislação, podendo o médico prescrever
drogas legais para determinar o fim da vida do paciente, uma espécie de “suicídio
assistido”, embora, legal e doutrinariamente, no Brasil, haja diferenças na
tipificação criminal (a eutanásia é o ato de causar deliberadamente – ação
direta – a morte de um paciente, enquanto a assistência ao suicídio é a
prestação de qualquer auxílio material para que a própria pessoa se mate. Ambas
são condutas antijurídicas em nosso país. Recentemente, a Holanda e a Bélgica
aprovaram a prática, disciplinando as formas de sua execução autorizada.
O Código de Ética Médica (Resolução do Conselho
Federal de Medicina, n. 1.246/88), por exemplo, pontua: “O médico deve guardar
absoluto respeito pela vida humana, atuando sempre em benefício do paciente.
Jamais utilizará seus conhecimentos para gerar sofrimento físico ou moral, para
o extermínio do ser humano, ou para permitir e acobertar tentativa contra sua
dignidade e integridade” (Art. 6º, grifos nossos). E, seqüencialmente, é-lhe
vedado “Fornecer meio, instrumento, substância, conhecimentos ou participar, de
qualquer maneira, na execução de pena de morte” (Art. 54). Assim, para a lei
nacional (Código Penal – Decreto-Lei n. 2.848/40, art. 121, § 1º c/c art. 56,
III, “a”), a eutanásia é crime de homicídio privilegiado (piedoso), motivado
por relevante valor moral, objetivando eliminar o sofrimento (dor) ou abreviar
a agonia (angústia) daquele que não tem nenhuma chance de sobrevivência, por
ser portador de moléstia incurável, ministrando-lhe uma morte rápida, “doce”,
ou “serena”.
Do ponto de vista jurídico-social, então, aquela mãe
que sofre com o sofrimento do filho (sem nenhuma redundância), acha-se
suficientemente impelida a agir com a necessária e relevante motivação de que
fala a lei, em razão do apreço, estima e importância que dá à condição de
dignidade da vida de seu filho, que, no seu entender, não se acha plenamente
satisfeita. Efetivamente, na prática, os governos e os órgãos jurisdicionais
agem com tolerância em relação à maioria dos casos verificados. A interpretação
dos juristas vem ao encontro do axioma de que “está-se fazendo o melhor por um
doente em estado terminal, aquele ao qual a ciência esgotou todos os recursos,
sem conseguir recuperá-lo, devolvendo-lhe a plenitude da saúde”.
Embora não se tenha um “roteiro” para a prática da
eutanásia – até em virtude de sua ilegalidade, na imensa maioria dos países –
há um procedimento técnico para garantir a isenção do profissional médico (ou,
até mesmo, do leigo que a venha praticar – como é o caso do fato trazido a
comento). O paciente – ou o seu responsável direto assina um termo (declaração
autorizativa), ou, se impossibilitado a assinar, declara o mesmo às pessoas
mais próximas, que o reduzem a termo. Em regra, o paciente tem que estar
acordado e consciente; tem tempo para despedir-se da família, e praticar os
“atos de última vontade”; é-lhe aplicada uma (over)dose de medicamentos, de
modo intravenoso, resultando-lhe um adormecimento, não sendo a morte imediata.
O profissional médico permanece ao lado do paciente até o instante definitivo
da morte.
No aspecto espiritual, em decorrência da
interpretação da filosofia espírita, há completa desaprovação à prática da
eutanásia, porque se consideram: 1) a intervenção (indevida) de alguém em
relação à vida – bem espiritual pleno, que somente Deus pode “abreviar” –
importa infração às leis divinas por parte daquele que executa o ato ou
concorre para o mesmo; 2) a desistência, do paciente, em continuar vivendo
significa renúncia às provas/expiações a que acha-se sujeito (interrupção da
depuração espiritual), implicando numa forma de suicídio; 3) Além do interesse
em “minorar” o sofrimento alheio, visa-se, também, “diminuir” o sofrimento
próprio – no caso de parentes da vítima, que não desejam mais “ver” a angústia
e a dor de seu ente querido, representando, assim, motivo egoístico. (Vide
quesitos 953, “a” e “b”, de O livro dos espíritos.)
Ampliando um pouco mais o espectro de nossa análise,
podemos dizer que a eutanásia, embora configure delito espiritual, pelos
motivos retro-expostos, deve merecer de nós uma maior atenção, no sentido da
não-censura, de nossa parte, a quem tenha decidido assim agir. Diante do grau
de “perturbação” e de “necessidade” de alguém que opta por tal decisum, não nos cabe qualquer tipo de
julgamento ou censura. Cada um de nós é julgado pela lei da consciência e os
instrumentos espirituais de reparação de (possíveis) erros, atingem
inexoravelmente a todos e representam, na práxis, a realização da lei de causa
e efeito, embora não na errônea percepção de que “aquilo que provocamos” terá
como refluxo “a mesma circunstância, ou resultado, a nós imposta”. Numa
palavra, aquele que pratica a eutanásia (ou o suicídio, ou o homicídio, ou a
agressão) não terá de, necessariamente, pela via do resgate, “penar”, sofrendo
em si a eutanásia, o homicídio, as agressões... A “Contabilidade Divina”
permite e instrumentaliza, meritoriamente, a substituição (permuta) do mal pelo
bem, sendo os erros ou crimes por nós cometidos reparados em termos de
construção, de realização, de trabalho e resignação, sempre positivamente.
No aspecto
psicológico, por fim, vale uma importante consideração. Se não temos o
“direito” de apontar o dedo ao companheiro que tenha praticado a eutanásia –
como no caso noticiado pela imprensa, que já recebe, inclusive, inúmeras
manifestações de solidariedade, piedade e apoio, pelo mundo afora – igualmente
temos de nos preparar adequadamente ante a possibilidade de virmos a presenciar
e conviver com doentes terminais, no núcleo de nossas relações, aos quais a
medicina convencional não antevê melhoras ou saídas, porque, em verdade, amanhã
ou depois, poderemos vir a presenciar o sofrimento e a agonia dos nossos mais
caros, no exato cumprimento de suas oportunidades/experiências. Ante o
desespero que possa nos dominar, guardemos o preparo (vigiai) e a serenidade
(orai), para a conveniente e necessária conscientização de nossos espíritos,
evitando o cometimento de atos que venham prejudicar àqueles a quem dirigirmos
a prática da eutanásia, e a nós mesmos, em virtude de nossa incapacidade de
lidar com nossos sentimentos. E, que, neste sentido, nosso esforço de
entendimento e prática espirituais possa ser secundado pelo apoio dos Bons
Espíritos.
* Marcelo Henrique Pereira é Delegado da CEPA para a Grande
Florianópolis. Diretor Administrativo da Associação Brasileira de Divulgadores
do Espiritismo.