Revista Harmonia - Ano XX – Nº 150 - Março 2007

Editorial : Para o Porvir

Marcelo Henrique Pereira, Editor-Chefe e Mestre em Ciência Jurídica

Motivo relevante para a alegria e satisfação dos espíritas, é ver a Doutrina Espírita alcançar o patamar do sesquicentenário, remontando à data de publicação, em primeira (não-definitiva) edição de O livro dos espíritos, a 18 de abril de 1857, em solo francês. Kardec, pouco depois, com especial atenção, revisaria sua própria obra, relançando-a na forma definitiva pela qual a conhecemos. O contenta-mento, no entanto, não deve mascarar a realidade.

Mais do que comemorar a “alvorada de luz” lançada com a obra pioneira, cabe aos espíritas a reflexão sobre os rumos que o movimento vem tomando, sistematicamente, numa alusão à preferência pela conotação religiosista (ao invés de filosófico-moral) de seus textos, pronunciamentos, atividades, eventos e realizações. O discurso que relembra Kardec, de lógica e bom senso, infelizmente, não corresponde à realidade da prática. É bem verdade que a disseminação (por meios leigos) dos conceitos da doutrina (nem sempre totalmente fiéis ao conteúdo espiritista) tem chamado a atenção de inúmeras individualidades, pelo mundo afora, aproveitando a “sede” de conhecimento que sucedeu a era da mera fenomenologia psíquica. Embora ainda existam episódios mediúnicos nas famílias, com clara conotação de quadros obsessivos, a verdade é que há uma imensa gama de pessoas interessadas nas informações de origem espiritual (proclamadas não só pelas inteligências desencarnadas, como, também, pelos estudiosos e pesquisadores), que precisam de atendimento e orientação específicas, exigindo de dirigentes, participantes e das próprias instituições a reciclagem de seus métodos e, principalmente, de sua linguagem.

A tendência religiosa da ampla maioria das instituições tem sido o principal elemento de desvalorização da proposta consciencial e sociológica do Espiritismo. Em nossos Centros, fala-se muito de quase tudo, mas sem a profundidade e o alcance devidos, resultando em casuísmos, achismos e respostas opinativas, que não subsistem  ao cotejo com os fundamentos da doutrina. Mentores, guias ou dirigentes têm substituído a genuína filosofia espírita – graças à simpatia dos responsáveis pelas atividades espíritas, e, de roldão, os freqüentadores – pela literatura mediúnica “oficial”, isto é, as obras psicografadas por médiuns famosos e ditadas por espíritos considerados quase como “unanimidades”, apesar de não terem, seus escritos submetidos aos mesmos parâmetros do trabalho kardequiano (o Controle Universal do Ensino dos Espíritos).

Felizmente, nem todos pensam assim. Há os que se esforçam em estudar, comparar e produzir trabalhos relevantes, em suas áreas de conhecimento e afinidade, permitindo-nos supor que o “espírito” de Kardec os anima, acenando com uma perspectiva da melhoria da qualidade do trabalho e da produção espírita para o porvir.

 

Participação dos espíritas na Sociedade - Marcelo Henrique
 

 Diz-se, em sociologia política, que política é a “arte de [bem] governar”.  Idealmente, claro. E, não são poucas as vezes que, em conversas, reportagens ou palestras, ouvimos dizer que “cada povo tem o governo que merece”. Será mesmo? Vamos ver...

Em linhas iniciais, os sistemas políticos de nosso tempo consagram como balizas a democracia (participação popular), o direito ao voto (escolha de representantes) e a representatividade (membros dos poderes executivo e legislativo). Assim, fica flagrante a vinculação entre governo-governantes e o povo, de vez que somos nós, a cada dois anos (levando em conta as eleições municipais, num pleito, e as estaduais e federais, noutro), quem elegemos aqueles que serão os nossos representantes políticos. Logo, em sentido ideal, com base nas escolhas que fazemos (plantio), temos os políticos que merecemos (colheita).

Mas não vamos só criticar, porque partilhamos do conceito de que as coisas são neutras, em sua essência original e o homem - ser inteligente - as aproveita como melhor lhe convier. Por isso, as instituições, as organizações, as funções, cargos e, também, os mandatos políticos são necessárias para a vida social e alguém tem que representar o povo.

Então, muito há, ainda, o que evoluir em termos de consciência cívica e cidadania, para alcançar um estágio ideal onde todos sejam suficientemente lúcidos, informados e interessados para votarem em pessoas que se alinhem ideologicamente com o seu perfil individual, além de cogitarem, no ato da escolha, da possibilidade de atendimento às reais necessidades coletivas. Em outras palavras, uma Sociedade efetiva-mente politizada não se deixa levar pela “aparência” do candidato, seu rosto, sua imagem, sua fala, mas, opostamente, valoriza seus feitos, sua história política e social e o presságio do atendimento (materialização) das propostas que, na época de propaganda eleitoral e difusão de idéias foram apresentadas. Isto porque, em muitos casos, há que se atentar para a viabilidade (estrutural ou conjuntural) para que determinados projetos ou plataformas políticas se efetivem em nossa Sociedade.

Endereçando o viés para o público espírita, seria necessário, inicialmente, apresentar qual é a efetiva proposta da filosofia espírita para o mundo em que vivemos. Se o Espiritismo compreende os ideais de re-novação da humanidade, com informações espirituais àqueles que tiverem “ouvidos para ouvir e olhos para ver”, estima-se que os ideais espíritas deixem de ser “mera filosofia” para agregarem-se às práticas cotidianas das pessoas, de modo que as máximas, os preceitos e os conceitos espíritas possam estar consolidados nas ações humanas. Por isso, convenciona-se dizer, nos últimos tempos, que não se faz Espiritismo apenas e tão-somente no interior das Casas (ou Instituições) Espíritas. Para tornar-se crença comum (não no sentido religioso – o ufanismo do “futuro das religiões”, a “religião do futuro”, o “ecumenismo” – mas, do contrário, a noção comum, com base no entendimento da maioria das criaturas aqui encarnadas, como afiançado pela Falange da Verdade a Kardec), a Doutrina precisa ganhar as ruas, não pela simples pregação e doutrinação, mas pela presença (ativa) de seus adeptos e divulgadores nos diversos cenários da vida humana, como agentes transformadores. Participando, efetivamente, e não se esquivando, com a desculpa de que tudo evoluirá, um dia, e que os Mentores Espirituais, os grandes encarregados por tarefas e missões, neste planeta, conduzirão, no tempo certo, o mundo para o estágio regenerativo.

Muitos espíritas, paciente-mente, ficam esperando... Enquanto este dia não vem, adeptos de outras ideologias e correntes filosóficas ou religiosas ocupam espaços, defendem suas formas (restritas e, quase sempre, a nosso ver, incorretas) de ver o mundo, a vida, os homens. Ficamos lamentando que as organizações sociais são materialistas... Bradamos contra a existência de tantos feriados “católicos”, num país laico, sem derivação religiosa qualquer. A visão espírita precisa, então, pelo menos, ser apresentada, ex-posta, defendida, contraposta aos padrões ideológicos vigentes ou conhecidos.

E, para “introduzir” a filosofia espírita na “ordem do dia”, além das reportagens, seriados, filmes, novelas e entrevistas, os espíritas precisam participar, concorrer, disponibilizarem-se. Tanto na atuação parlamentar como na atividade executiva, é necessária a presença de criaturas comprometidas com a filosofia espírita para disseminarem (novas) idéias naqueles meios. Inicialmente, de forma minoritária; depois, generalizando conceitos e exemplificando.

Os homens, agentes trans-formadores da Sociedade, não se distinguem dos animais somente pela presença de um elemento chamado consciência, mas, e principalmente, porque eles mesmos produzem as condições de sua existência (material e espiritual). Neste cenário, conjugando os mais diferentes matizes ideológicos (numa perspectiva de pluralismo e multi ou interdisciplinaridade – palavras tão em moda, atualmente), a simples convivência (pacífica) entre filosofias e crenças poderá desembocar, de futuro, em resultados melhores, para todos.

Quanto mais próximos estivermos de uma análise (imparcial) da realidade – passado e presente – tal irá configurar o precioso estímulo e o impulso à construção do futuro, gerando projetos sociais de trans-formação e mudança (a Sociedade que deve ser). Para tal, resta necessária uma ferramenta fundamental, a ética, este aguilhão necessário ao cidadão de hoje, a fim de salvaguardar os direitos individuais e coletivos, fazendo florescer a Sociedade graças às virtudes dos cidadãos probos, no alcance do bem comum. Urge defender os valores essenciais da vida de uma nação civilizada e ética, com fulcro na harmonia e no bom senso em todas as relações pessoais e institucionais, e baseada no sentimento humano universal de justiça, que é um valor intrínseco, peculiar aos seres humanos, mas que se aperfeiçoa, naturalmente, quando combinado com os elementos fáticos – a conduta ética.

A base teórica para a devida inserção do espírita na vida social está nos quesitos 766 e 768, de O livro dos espíritos, fundada na idéia de que a palavra e todas as outras faculdades necessárias à vida de relação devem ser colocadas em exercício na convi-vência em Sociedade, porque, do contrário, se isolando ou se afastando da convivência, em distintos ambientes e níveis, o homem se embruteceria e definharia.

Quando nos debruçamos sobre a análise da atual conjuntura social, na atmosfera da falta de ética e da corrupção, devemos pensar em uma reformulação das práticas e dos sistemas. Se necessário for, pensemos, inclusive, na introdução de uma política “nova”, capaz de modificar tanto e tão profundamente nossas instituições, sacudindo os alicerces, e que provocará, por certo, diante das atuais castas e autoridades aristocráticas, políticas, e religiosas (poder institucionalizado), uma reação, um combate, no sentido de que muitos não irão querer perder sua hegemonia, poder e benefícios (alguns, até, escusos).

Construir uma nova Sociedade, então, é um processo que principia pela disseminação de idéias e práticas condizentes ao nível de desenvolvimento moral (item 793, da obra pioneira), a completude da civilização, que se distingue do patamar de povos meramente evoluídos. Ou, como propriamente asseveram os Instrutores da Codificação, “[...] não tereis verdadeiramente o direito de dizer-vos civilizados senão quando de vossa sociedade houverdes banido os vícios que a desonrem e quando viverdes como irmãos, praticando a caridade cristã”. (Veja-se, ainda, em O evangelho segundo o espiritismo, Capítulo XVII, item 10, “O homem no mundo”, informações oportunas e complementares que evidenciam sermos agentes da nossa história. Por isto, devemos fugir da (mera) atitude contemplativa e alienada, típica daqueles que acham que as coisas se resolvem por obra da graça divina, arregaçando mangas, e fazendo a parte que nos cabe.)

A propósito do real papel do espírita neste contexto, o professor Herculano Pires, inspirado por Miguel Vives, assim se pronunciou: “Pode o espírita ficar alheio ao problema de administração, de governo das cidades, ou do país? Não, o Espiritismo é uma política superior e o espírita é político, no bom e exato sentido da palavra, construindo sua ação política sobre bases de amor, compreensão, fraternidade e luz, e não por meio de intrigas, de golpes, de negaças, ou de manobras, tão comuns e visíveis em nosso tempo."

Atuar politicamente consiste efetivamente no compromisso e na ação das pessoas de bom senso, que se conscientizam da necessidade de participar e contribuir para a melhoria das condições sociais, com os meios de que dispõem: o voto, o engajamento cívico, o alistamento partidário, a candidatura, o exercício do mandato, entre outros. Espiritismo (e sua ética), política e cidadania, destarte, podem ser considerados alicerces ou componentes da base da nova Sociedade dos Homens de Bem.

Quem sabe, então, num outro pleito, municipal, em 2008, possamos, pelo menos, ter a oportunidade de escolher um (ou mais) candidato(s) espírita(s), bem-intencionados, interessados e capazes de assumir a tarefa de reformulação social. Ou, você não acredita nisso?

 

Ilusões e desilusões doutrinárias - Carlos de Brito Imbassahy
 

 Nasci em berço espírita e desde meus primeiros entendimentos infantis aprendi a conviver com a filosofia reencarnacionista e achar normal a comunicabilidade com os desencarnados. Contudo, minha mãe, de formação católica, ex “Filha de Maria” trazia, ainda graves resquícios da sua formação católica que acabaram influindo em muitas decisões minhas a respeito da vida eu levei.

Jovem, ainda, assisti a inúmeras reuniões mediúnicas realizadas na casa paterna. Estas sessões ocorriam na Federação Espírita do RJ, sob a presidência de Dona Marocas, senhora austera e de grande domínio doutrinário. Minha mãe, por ser médium e ter vindo para a doutrina trazida por um processo obsessivo, tinha muito medo de que fosse novamente afetada pelo mesmo, daí, julgar de suma importância participar da ditas reuniões. Falece dona Marocas. Pedem a papai para assumir seu lugar. Com isso, optou por transferir as reuniões e elas vieram a ocorrer em nossa casa.

Mais para adiante, surgem dona Alice e o Tenente Luís, médiuns psicofônicos inconscientes que trouxeram para a sessão um novo ânimo ante as identificações de pessoas falecidas que por ambos se manifestavam. Muitos desses casos eu os narro em livros e artigos, e isto foi a grande base para que eu não mais duvidasse da existência do fenômeno e da intercomunicabilidade mediúnica com o dito “falecido”.

Por essa época, ingressei na então Faculdade de Filosofia, curso de Ciências Exatas e, de imediato, como tivesse grande facilidade de redação, além de pertencer a um grupo de focas da Manchete, ingressei no movimento estudantil, fazendo parte da bancada de nossa Faculdade.

Na época, o elegante era ser revolucionário no sentido literal das idéias, ou seja, defender uma linha filosófica de reforma social, inserta de um pragmatismo altamente influenciado por William James na busca do que seja útil ao homem. E, ao lado dessas teorias, imperava um materialismo crucial. Empolguei-me e só não saí da linha doutrinária espírita porque, vendo minha transformação, meu pai teve o esmerado cuidado de manter diálogo franco onde suas indagações não encontravam resposta dentro da filosofia de meus colegas.

Contudo, aquela influência mudou minha conduta: se, por um lado, eu trazia as tendências maternas da mentalidade cristã da igreja, pelo outro, minha razão falava mais alto em não aceitar aquela influência altamente perniciosa que o Catolicismo exercia sobre nossa sociedade.

Cedo fui lecionar, convidado para dar aula em um Colégio da Campanha, com registro provisório de aluno já no Curso de Didática.

Naquela época eu também estudava na Escola Nacional de Música, da rua do Passeio, tendo muito destaque por parte de meus professores. Se o músico tivesse um bom meio de sustentação financeira, eu não teria me enveredado pela carreira que acabei seguindo.

Fui trabalhar no Diário do Comércio, aqui em Niterói e conheci o lado bom e o lado podre da nossa Imprensa. Aprendi muito na mesa de uma redação de jornal. Havia deixado à parte meus estudos doutrinários e não fosse o doutor Lauro Schlëder, então diretor do “Mundo Espírita” insistir comigo para que mantivesse uma coluna de crônicas no periódico mensal que dirigia, talvez eu ali tivesse largado as letras espíritas.

Com as bases do curso superior, foi-me fácil passar no vestibular para a Engenharia. Nesta época a Escola era estadual e daí, para me tornar estagiário do Governo do RJ foi um passo. Como sempre fui aluno de Escola e Faculdade do Governo, não pesei no bolso do meu pai que não se furtou de me dar todo apoio ao estudo.

A Física mudou minha mentalidade e comecei a ver que as religiões, em si, representavam o maior atraso possível na mentalidade do povo porque incutiam uma fé e uma crença cujo único objetivo era o de prender o fiel e crente aos vínculos dos seus respectivos tempos religiosos, ensinando erroneamente o Timor Domini para que, visando a um lugar no céu hipotético religioso, o adepto ficasse preso aos princípios de sua Igreja ou templo.

No ocidente, onde vivemos, a Igreja, dita cristã, não difere das demais: segue rigorosamente os mesmos princípios religiosos de garantir que o seu Mestre - no caso, ficticiamente, Jesus - seria o único verdadeiro que “salvaria” aqueles que o aceitasse de corpo e espírito e em essência. Salvar de quê? Do Pecado Original, já que não havia outra culpa que pudesse ser imputada ao fiel seguidor do Cristianismo. Tudo isso, evidentemente, inaceitável para meu raciocínio. Não podia conceber privilégios para os que seguissem fielmente as determinações eclesiásticas, independente-mente de sua conduta e de suas ações.

O Espiritismo que eu conhecia negava tudo isso. Estava contido nas obras de Kardec, embora eu tivesse a ousadia de discordar de muitos pontos codificados por Kardec, principalmente aqueles mais intimamente ligados aos Cristianismo. Contudo, baseado nas próprias definições dadas por Kardec em sua obra O que é o espiritismo, para mim, aquele que seguisse esta doutrina jamais aceita-ria o evangelismo eclesiástico imposto pela Igreja.

Foi minha primeira e grave desilusão: com mensagens mediúni-cas de Emmanuel e Joanna de Ângelis, estavam tentando transformar o Espiritismo em mais uma seita evangélica, legando a segundo plano não só a prudente filosofia espírita de vida como ainda as provas fenomênicas da existência de uma vida espiritual verdadeira, completamente diferente daquela que o Cristianismo, com Emmanuel e de Ângelis estavam pregando.

Mas o que pude verificar é que imperava esta mentalidade: não respeitavam mais Kardec e, para os seguidores do tal Cristianismo redivivo, nada mais teria valor senão a salvação por Cristo, o exemplo de vida e o grande Mestre responsável pelo nosso planeta.

Só não deu para que eu entendesse porque Jesus seria este Cristo, negando os demais povos que não tinham ou tiveram a oportunidade de o conhecer e que, sem dúvida, é a maior parte da população planetária.

Na minha parca opinião, estes neo-espíritas deveriam constituir sua própria doutrina que nós, os verdadeiros seguidores de Kardec, respeitaríamos e que evitaria tumultuar a formação doutrinária e a linha de pensamento do verdadeiro Espiritismo.

Todavia, lembrei-me que, quando ainda bem jovem, numa das sessões mediúnicas que assisti, um Espírito muito amigo de meu pai, porque fora companheiro dele, quando encarnado, no movimento espírita do Rio de Janeiro, deu uma comunicação psicofônica dizendo ao velho companheiro que os jesuítas, maiores inimigos, na Espiritualidade da codificação, estavam armando uma nova artimanha para desconfigurar a doutrina codificada por Kardec, numa tentativa de transformá-la em mais uma seita evangélica, o que acabaria com os fundamentos verdadeiramente espíritas.

Curioso: Emmanuel foi um padre Jesuíta. Estranho: a tendência atual do movimento espírita no Brasil é de transformá-lo numa seita cristã, adotando, até, os dogmas do Cristianismo, tendo Jesus como Salvador e único.

De fato, o Espiritismo que conheci, de berço, era um, este que atual-mente impera em nosso movimento, é outro. E tudo pode se harmonizar, desde que os fanáticos não se tornem tão intransigentes: basta que se considere como Espiritismo, apenas, a codificação kardequiana e que se criem novas doutrinas para os demais seguidores.

O Emmanuelismo seria muito bem-vindo se não quisesse impor seus preceitos com espíritas. O Roustainguismo, apesar da sua mediocridade de princípios docetistas, poderia coexistir pacificamente em qualquer lugar, com seus adeptos, desde que eles não se tivessem como seguidores de Kardec, tentando “evangelizar” nosso meio com estultices de um ser “fluídico”, imaterial, contrariando tudo o que a Ciência, até o presente momento, conhece.

Por que não harmonizarmos a coexistência de todos, separando os “credos”?

Espiritismo, de um lado, com Kardec, sem qualquer influência estranha.    Evangelismo,     com Emmanuel e Joana de Ângelis, separadamente. Tendo como escopo o cristianismo igrejista dos jesuítas. Roustainguismo com o docetismo, sem qualquer vínculo com o Espiritismo. Enfim, e qualquer outra crença que queira subsistir, separadamente, sem se imiscuir  com os fundamentos do Espiritismo, tal como fazem os Umbandistas.

E viva os Umbandistas!  Eles estão certíssimos. Estudam Kardec como decorrência fenomênica, mas, mantêm-se fiéis a seus princípios próprios, respeitando-nos e esperando ser respeitador por nós.

Por que não se separar os conceitos e irmanar no sentido mais do que fraterno de coexistência pacífica, cada qual adotando seus princípios filosóficos, sem um conspurcar o outro com ataques       de dissidências?

O Espiritismo permanecerá com suas características próprias e os demais adotarão uma nova linha de conduta, como fez o Dr. Randolpho Penna Ribas, em tempos idos, quando quis instituir novos princípios doutrinários, para que não interferisse no movimento fiel a Kardec.

Esta é a minha grande decepção: imporem suas vontades e suas idéias como sendo as espíritas, no lugar do que Kardec tenha escrito. A isto dá-se o nome de intolerância.  E Kardec admite, até, que o Espiritismo possa ser seguido pelos que se oponham ao Cristianismo.