Artigo de Reinaldo Di Lucia - Publicado na Espirit Net em Abril de 2001

TENDÊNCIAS

Ao tomar posse no Ministério do Trabalho, o ministro Edward Amadeo declarou que não há desemprego no Brasil; o que há são " tendências preocupantes " de desemprego. Tal afirmativa soa, no mínimo, como arrogância acadêmica; mais provavelmente, soa como desrespeito aos milhões de trabalhadores desempregados que amargam a angustiante sensação de passar os dias em busca de uma ocupação digna que lhes garanta não só o sustento, mas, principalmente, o equilíbrio sócio-psíquico-econômico que lhe proporcionará a condição plena de cidadão.

É fato que o Brasil, com seus 15,5 % de desempregados ( média de 1997, segundo cálculos do SEADE/DIEESE ) passa por uma situação quase desesperadora no quesito empregos. A falta de emprego propriamente dita, aliada ao subemprego, à atividade informal e às formas imorais de uso da mão-de-obra ( como o trabalho infantil e o trabalho escravo, infelizmente ainda existentes ) leva a sociedade coletivamente a um estado de falta de perspectivas, que degenera na escalada da violência, das drogas, dos crimes e pode facilmente levar a conflitos generalizados que beiram a guerra civil.

Entretanto, este não é um problema só nosso. O emprego, no mundo inteiro, tem-se tornado um artigo de luxo, uma especiaria cada vez mais escassa. Os números são assustadores: 12,6% na França, 10,1% na Alemanha, 8,0% na Suécia. Da mesma forma, estas altas taxas provocam reações, como o endividamento cada vez maior do Estado ( puxado pela custo social da massa de desocupados ), o crescimento das facções extremistas nacionalistas ( uma manifestação neonazista na Alemanha, no 1º de maio, contou com a presença de mais de 5000 jovens ) e da violência social.

Quais as causas deste fenômeno? A resposta a esta questão é muito controversa, e os especialistas não concordam entre si. Mas podemos ter como certos dois fatores: (1) o enfoque mercantil do trabalho, avultado com a globalização do comércio e dos meios de produção, que faz com que se considere a mão-de-obra como uma mercadoria, regida pela lei de mercado. Isso, somado à corrida pelo corte de custos ( competitividade exacerbada ), provoca a polarização da renda, aumentado a riqueza dos detentores do poder econômico em detrimento da massa de assalariados; e (2) o avanço tecnológico, que substitui homens por máquinas em todas as tarefas repetitivas, mecânicas, com óbvias vantagens em custo e eficiência.

Na filosofia espírita, tanto o trabalho quanto o gozo dos bens terrenos são direitos do homem. Ocorre que, segundo a visão de mundo do espiritismo, todos os excessos são prejudiciais, e aqueles que promovem tais excessos infringem, de uma forma ou de outra, a Lei Natural. Assim, da mesma forma como Kardec, explicitamente, condena aqueles que exigem o excesso de trabalho ( Livro dos Espíritos, perg. 684 ), sua privação, especialmente quando causada pela ganância, é igualmente condenável. Da mesma forma, o gozo dos bens materiais é admito, desde que não afete o bem estar de outrem ( Lei de Igualdade ).

É de fundamental importância que o espírita, tanto em suas pequenas quanto nas grandes atitudes, aplique tais conceitos. Só assim poderemos colaborar efetivamente para efetivar o estado de justiça interpessoal e social, um dos principais objetivos da doutrina espírita. De outra forma, não passaremos de espíritos com tendências à evolução, dificilmente concretizando-a.