Artigo de Reinaldo Di Lucia - Publicado na Espirit Net em Abril de 2001

RAZÃO E INTUIÇÃO

Nos dois últimos artigos, analisamos as relações entre razão e fé e entre razão e emoção, concluindo que o espiritismo não considera a fé como prioritária no crescimento do espírito, e que a emoção, esta sim fundamental para esse crescimento, não abrange o campo do conhecimento intelectual, mas o das relações interpessoais, no exercício daquilo que Kardec chamou de evolução moral.

Esta posição pode levar à interpretação, errônea porque maniqueísta, de que a evolução intelectual do espírito dá-se unicamente pelo processo racional. Na verdade, o que ocorre é que não há crescimento intelectual que dispense o uso da razão. Entretanto, não se pode desconsiderar algumas outras formas de chegar-se ao des-velamento da verdade, das quais a mais importante para a doutrina espírita é a intuição.

Embora normalmente considerada como pressentimento ou adivinhação pela maioria da população, e como interferência direta dos desencarnados ( ou seja, uma forma de mediunidade ) pelo meio espírita, há um outro sentido bastante distinto para esta palavra: em filosofia, intuição ( expressa normalmente como intuição sensível ) é " a apreensão direta, imediata e atual de um objeto na sua realidade individual ". É o " conhecimento imediato do objeto no plano da consciência através dos sentidos ", e, assim, " está na base de todo conhecimento empírico ".

Há, no entanto, uma outra forma de intuição, não-sensível, que vem sendo cada vez mais valorizada na filosofia contemporânea: é a intuição de caráter real, isto é, " princípios de evidência que se impõem ao espírito por si mesmos, de maneira imediata, independente de qualquer demonstração " e, por extensão, independente da existência material do objeto considerado.

Esta forma de intuição é de cabal importância para a filosofia espírita. Se, do ponto de vista científico, a demonstração da existência e imortalidade do espírito é de difícil comprovação, não passando, na opinião de Kardec, de uma teoria ( ainda que uma teoria mais racional que a materialista ), a apreensão intuitiva da dimensão espiritual como uma realidade patente é incontestável. O uso deste método intuitivo como ponte que une a experiência prática e a essência do espírito é absolutamente lícito, e permite que se prescinda da fé ( entendida esta como crença indemonstrável baseada na confiança em um ente superior ).

O que não se pode é creditar todo e qualquer conhecimento intuitivo a revelações, explícitas ou sutis, de uma entidade desencarnada. Ao se fazer isto, negam-se as capacidades perceptivas e volitivas do espírito encarnado, transformando-nos em não mais que marionetes dos desencarnados. O livre arbítrio é pleno e absoluto – não nos neguemos a assumi-lo.