Artigo de Denizar Ventura Régis - Maio de 2004

Memórias de um Suicida

O livro "Memórias de um Suicida" de Yvonne A. Pereira (1906 - 1984), sob a supervisão do espírito Léon Denis, narra a história de um suicida logo após a sua morte, identificado no livro com o pseudônimo de Camilo Cândido Botelho (contrariando a própria vontade do narrador que queria seu nome verdadeiro revelado). O drama se desenrola no plano espiritual a partir de Janeiro de 1891, quando o narrador-suicida é aprisionado e conduzido a uma das zonas mais inferiores do Umbral, conhecida como "Vale dos Suicidas".

Revelando-se na trama como um escritor português, que ficara cego, e por conda disto, revoltado, resolveu dar fim à própria existência com um tiro no ouvido, qualquer pessoa com um pouco de conhecimento literário será capaz de deduzir tratar-se do eminente escritor português Camilo Castelo
Branco (que usou inclusive as mesmas iniciais no pseudônimo), nascido em Lisboa no ano de 1825, e morto em São Miguel de Seide no ano de 1890, cego, vítima de suicidio com um tiro de pistola no ouvido. 

Durante a vida (encarnada) estudou no Porto e em Coimbra, consagrando-se como figura máxima da ficção ultra-romântica de seu país, produzindo obras dos mais variados gêneros literários: poesia, teatro, crítica, jornalismo, folhetim, historiografia, epistolografia, romance, novela e conto - dentre as quais destacamos: Anátema (1851); Romance de um Homem Rico (1861); Memórias do Cárcere (1861); Amor de Perdição (1862); O Bem e o Mal (1863); A queda de um Anjo (1866); Mistérios de Fafe (1868); O Retrato de Ricardina (1868); A Mulher Fatal (1870); Novelas do Minho (1875-1877); Eusébio Macário (1879); A Corja (1880); A Brasileira de Prazins (1882). 

Desencarnado, no "Vale dos Suicidas", sofreu todo tipo de horrores, inimagináveis para os conceitos
humanos, durante 12 anos (que pareceram séculos!) até ser resgatado em 1903, quando foi conduzido ao Hospital "Maria de Nazaré" - uma colônia correcional do plano extra-físico destinada a espíritos de suicidas. Daí narra o período de internação, sua reabilitação, e o contato que teve com o Espiritismo dos primeiros tempos em plagas brasileiras, culminando com o trabalho junto da médium Yvonne A. Pereira (ela mesma uma ex-suicida em vida passada!) a iniciar-se em 1926 e findar em 1954, com a publicação do livro em 1955. Recomenda-se à pessoa que for ler, resistir ao primeiro impacto, que é realmente impressionante para quem tem um mínimo de entendimento sobre a vida após a morte, pois o livro é um verdadeiro guia de alerta para todo aquele que pensa em acalentar idéias suicidas como
solução para problemas "insuperáveis" ou sofrimentos "insuportáveis" em sua transitória vida terrena.