Artigo de Reinaldo Di Lucia - Publicado na Espirit Net em Abril de 2001

DIÁLOGO

Afirma um velho ditado que " é conversando que a gente se entende ". Infelizmente, parece que os espíritas brasileiros ( e mesmo alguns de outras plagas ) não têm dado atenção a esta máxima.

A palavra diálogo vem do grego: dia ( através ) e logos ( razão ) – é o caminhar através da razão. Dialogar, portanto, é discutir racionalmente, expor suas opiniões ( não no sentido de meros " achismos ", mas ponderações embasadas, elaboradas com clareza de idéias ) para as avaliações de outros. Ao mesmo tempo, é ouvir as opiniões desses outros, analisando-as criticamente e contestando-as quando necessário. Ou alterando suas próprias idéias, se a outra parte tiver argumentos mais sólidos e consistentes.

Coisa que muito pouco se tem feito no meio espírita. A pretexto de uma insensata unificação doutrinária ( afinal, toda unanimidade é burra, como já dizia Nelson Rodrigues ), as divergências de opinião, saudáveis em qualquer meio que dependa de idéias, são tachadas entre os espíritas de antifraternas, antidoutrinárias e mesmo antiespíritas – enfim, indignas de existirem.

Claro que há explicações para tal reação. Dialogar requer de todos os envolvidos algumas posturas que, por si mesmas, denotam, se não humildade, ao menos o reconhecimento de que não somos infalíveis: em primeiro lugar, é preciso que reconheçamos em nosso companheiro de diálogo alguém cuja capacidade de raciocínio é tão boa ( se não melhor ) que a nossa; a seguir, impõe-se a necessidade de possuir idéias claras, inteligentemente construídas, e não meramente repetições de argumentações alheias – e isto requer estudo, a que nem todos estão dispostos. Depois, a propensão a ouvir os outros, exercício sempre difícil para o ser humano; finalmente, a disposição para mudar a sua opinião, quando convencido pelos argumentos contrários.

Realmente, isto não é fácil. Muito mais simples é o monólogo, quando não a simples e direta imposição, sob a alegação que " os espíritos superiores assim instruíram ", " é a vontade de Deus ", ou então " isto deve ser assim pelo bem da doutrina ". Para isto, basta a tendência ao autoritarismo ( e isto sim, é facilmente encontrado no homem ) e uma razoável habilidade para, através do medo ou da superstição, convencer outras pessoas.

Mas com isto não se faz uma filosofia – no máximo, uma seita, como tantas que existem por aí. O diálogo é absolutamente essencial para a construção paulatina das idéias, que vão formar um corpo de conhecimento racional. É por meio dele que testamos e apresentamos nossos pontos de vista, e recebemos dos que conosco dialogam outros tantos pontos de vista diferentes, que vão nos apresentando um esboço da verdade. Sem isto, ficamos como míopes, possuidores de uma visão distorcida da realidade, que acreditamos ser a única. Daí para o dogma da verdade absoluta é um passo.

Parece, no entanto, que, para desespero daqueles a quem o diálogo abomina, que esta situação começa a mudar. As pessoas que ora buscam o espiritismo não estão mais dispostas a serem conduzidas como rebanho – querem usar seu cérebro, e, para isso, buscam o diálogo. Aqueles que se recusarem vão acabar falando sozinhos.