Artigo de Reinaldo Di Lucia - Publicado na Espirit Net em Abril de 2001

CRISE MORAL

Brasileiro é especialista em crises. Já viveu tantas que encara as novas que ( sempre ) chegam com despreocupação – talvez tenha perdido a sensibilidade para elas, ou então simplesmente não acredite numa vida onde elas não existem. E assim, de crise em crise, vai seguindo seu destino de país " emergente ".

Segundo os especialistas, estamos vivendo uma das piores crises da história. Só que eles não concordam sobre que tipo de crise vivemos: com certeza não uma crise econômica, de vez que esta é já crônica, de tão constante; fala-se numa crise política, social, fiscal, de empregos, tecnológica, cultural, e tantas outras que servem, principalmente, para que os gurus da administração pública ou privada possam continuar lucrando.

A verdade é que o Brasil, e talvez mesmo o mundo, sofrem de uma crise moral. Não sou daqueles que consideram que está havendo uma piora sistemática do planeta Terra, e que esta piora indica o " fim dos tempos ", a partir do que uma nova Idade do Ouro seria iniciada, com a expulsão dos espíritos inferiores. Basta um estudo acurado da história da humanidade para concluir que o homem tem efetivamente melhorado, em escala macro, do ponto de vista moral. Só que esta evolução não é perfeitamente linear, e se podem observar ligeiras variações em instantes pontuais da história, causadas principalmente por razões contingenciais destes momentos.

O que vivemos hoje é, tipicamente, uma destas variações. Especialmente no Brasil, nota-se como os valores éticos, de maneira geral, têm sido vilipendiados: o respeito ao outro, ao direito das gentes, a necessidade do cumprimento das leis, a distribuição mais equânime da renda e dos benefícios sociais, todos valores essenciais no desenvolvimento de uma sociedade mais justa, são esquecidos e sistematicamente violados, não só pelos detentores do poder, mas, em maior ou menor grau, por toda a sociedade.

Seguramente, é aí que se localizam as principais dificuldades sociais que o país atravessa neste momento. Sem a prática destes valores éticos, qualquer desenvolvimento dificilmente poderá ocorrer, seja ele no campo da cultura, das relações interpessoais, da economia ou do crescimento tecnológico.

As instituições espíritas têm, ainda que não desejem, um papel preponderante no resgate destes valores. A ética inerente à filosofia espírita parte do princípio que o ser humano, e somente ele, é responsável pelo seu destino e pela sua evolução. Prevê também que esta evolução deve fazer-se tanto no aspecto conhecimento ( evolução intelectual ), quanto no aspecto da adequada aplicação deste na vida ( evolução ética, ou, no dizer de Kardec, moral ).

Cabe, assim, aos espíritas participarem ativamente da retomada da importância do viver ético. E isto só pode dar-se a partir da real vivência destes valores, seja no centro espírita, seja no trabalho, na família ou no convívio com os amigos. O debate é, sim, importante, na medida que serve para descobrir e consensar os princípio éticos a serem seguidos. Mas somente com o exemplo da aplicação real destes princípios no cotidiano podem os espíritas influir decisivamente no mundo, fazendo valer as idéias básicas do espiritismo e colaborando para a revolução social que Kardec previu para a doutrina espírita.