Artigo de Katia Penteado - 2004

Cuidar do Corpo - Qual o Limite para a Vaidade ?

Durante o mês de setembro, a imprensa noticiou diversas vezes casos de adolescentes internados após tomas injeções de anabolizante utilizado para engordar o gado.  No total, segundo informações veiculadas, foram mais de dez jovens, entre 15 e 25 anos, sendo que até o final de setembro, um deles havia desencarnado, outro estava em estado de coma e outros estavam internados.

No início de julho, Marcus Menna, de 27 anos, líder da banda LS Jack, foi internado e colocado em coma induzido após uma parada respiratória causada por complicações no pós-operatório de uma lipoaspiração.

A relação entre esses dois casos parece distante, mas não é.  A causa é a mesma: problemas originados pela vontade de jovens saudáveis corresponderem aos padrões de beleza ditados pela moda. 

Natural e felizmente, em nenhum dos casos, pode-se alegar desejo de atentar contra a própria vida.  Ao contrário, o que temos é uma apologia à vida, mesmo que seja à vida de sensações físicas. 

Mas então, o que nos move a apresentar esse tema?  A resposta está no quanto os seres humanos estão preocupados com a própria aparência física e se escravizam aos padrões de beleza definidos por designers de moda, figurinistas, artistas, modelos etc.

Claro que alguém pode se perguntar: Há erro em cuidar da aparência e em se preocupar com a apresentação pessoal?  Não, não há incorreção alguma nesse sentido.  Aliás, essa deve ser uma das nossas preocupações constantes.  O problema está no excesso, pois o ideal está no equilíbrio.  E necessitamos sempre lembrar do que somos em essência: seres imortais vestidos por um corpo físico que favorece nossa vida de relação e nos serve de instrumento de evolução. 

Como máquina que é, o corpo merece e precisa de cuidados para bem funcionar.  Devemos, então, dedicar atenção à nossa porção física e à nossa parte espiritual para nos tornarmos perfeitos quanto nos for possível. E aí surge uma questão: Como fazermos isso sem sermos tidos como vaidosos e evitando incorrer em situações semelhantes às desses jovens?

É no equilíbrio que estão todas as respostas, pois sermos extremistas é muito fácil. Quando somos vaidosos, cuidamos apenas do corpo e, quando somos completamente desprendidos, preocupamo-nos apenas com o espírito, ou seja, ou fazemos uma coisa ou outra... O difícil é realizar as duas ações ao mesmo tempo, sem que uma prejudique a outra.

Sempre que analisamos nossa vida, vemos que é no equilíbrio que estão todas as respostas, e que é para compreender e desenvolver esse equilíbrio que aqui estamos. 

Em O Evangelho Segundo o Espiritismo, encontramos um texto intitulado Cuidar do corpo e do espírito, que nos fala precisamente sobre essa necessidade de equilíbrio entre o corpo e o espírito.  Resumidamente, é frisado que para cuidar desse veículo de expressão física é preciso atentar para a alimentação, higiene e saúde física e mental, mas sem exageros, uma vez que nosso corpo exprime e mostra todos os nossos exageros.

Voltemos ao que aconteceu nos dois casos citados e apontaremos como causa a pressa em corrigir (ou será refazer?) o corpo físico, pois uma lipoaspiração é muito mais rápida do que um regime ou uma reeducação alimentar, assim como o uso de anabolizante leva a resultados que em muitos casos não serão conseguidos nem com imensos esforços físicos.  Isso é castigar o corpo pelo uso indevido de nosso livre-arbítrio.

Como meio que nos é disponibilizado para fortalecimento e evolução do nosso espírito, o corpo material merece muitos cuidados e atenção, desde que não desprezemos o ser espiritual.  Devemos amar e respeitar essa ferramenta, atentos a alguns limites, dizendo não aos padrões definidos, que nos chamam a sermos exagerados, exigindo que nos tornemos magros, musculosos etc. 

Mas qual é o ponto de equilíbrio?  Se não somos todos iguais e se é essa diferença que nos dá a individualidade que tanto gostamos, por que fazemos tanto esforço para sermos todos iguais? 

No Templo de Apolo, em Delfos, na Grécia, está escrito: Conhece-te a ti mesmo; nada em excesso.  Refletindo sobre esses dizeres, deixo aqui um convite: Que tal valorizarmos nossa individualidade e usarmos a nossa limitação física em benefício de nosso crescimento espiritual?  A perfeição não está na perfeição das formas físicas, mas nas reformas de nosso espírito.

Sugestão de leitura:

O Evangelho Segundo o Espiritismo, capítulo 17, item 11 – Allan Kardec