Artigo de Katia Penteado - Fevereiro de 2005

Cidadão de Hoje e do Fututo, há diferença ?

Todos nós temos uma predileção especial por exercícios de futurologia.  Falamos do amanhã, fazendo planos, alguns mirabolantes, e nos vemos sempre em situação muito melhor – o que é ótimo e condizente com a Lei do Progresso – e exatamente como somos hoje, apenas mais ricos, mais respeitados socialmente, em melhores condições de praticar a caridade material, em viagens infindáveis, em locais paradisíacos etc.  Desse projeto também fazem parte a paz mundial, a integração de fato entre os povos, o fim dos preconceitos e das injustiças, a cura de todas as doenças morais e físicas, entre muitos outros prognósticos.  Enfim, em nossa construção do futuro está a imagem do mundo ideal, aquele admirável mundo novo, sonhado pelo Espírito desde que iniciou sua trajetória evolutiva.

Nada contra o sonho, mas há um ponto nesses nossos sonhos que merece ser melhor analisado. É aquela parte onde dizemos ou pensamos em estarmos lá adiante “exatamente como somos hoje”.  E aqui vale uma provocação: será possível conseguirmos criar um mundo melhor se continuarmos o ser humano que somos hoje, com nossos vícios, defeitos e qualidades que formam nossa complexa personalidade?

Na carta de Paulo aos Efésios, encontramos um recado, que responde com alguma facilidade essa nossa questão: fostes instruídos, conforme é a verdade em Jesus, a despojar-vos, do velho homem, que se corrompe pelas concupiscências do engano; a vos renovar no espírito da vossa mente, e a vos revestir do novo homem, que segundo Deus foi criado em verdadeira justiça e santidade.

Surge aqui uma nova provocação: será que para nos despojarmos do homem velho e nos revestirmos do homem novo teremos de mudar algo em nós?  A resposta é natural, inquestionável e absoluta: Sim!

E não nos apavoremos.  Mudemos mais do que imaginamos, apenas em ritmo lento, vagarosamente, uma vez que nem sempre fazemos a parte que nos cabe com bom ânimo.  Soma-se a isto que também temos uma predileção especial em dizer que somos como somos, que mudar é difícil, e tantas outras frases semelhantes, conhecidas de todos nós.

Mas a cada dia, uma nova consciência se faz presente, alertando-nos de que se queremos um mundo novo, precisamos fazer parte de uma geração nova.  Temos a certeza de que com nossas conquistas morais, não é possível fazer um mundo muito diferente do atual e, então, percebemos que a mudança é fundamental e percebemos que acontece o tempo todo, por impulsão contínua da Lei do Progresso.

Isso está em plena consonância com o que escreveu Allan Kardec no capítulo final do último livro da Codificação Espírita (A Gênese), ao descrever a nova geração que habitará o planeta quando ele se elevar à condição de mundo de regeneração: a nova geração se distingue por inteligência e razão geralmente precoces, juntas ao sentimento inato do bem e a crenças espiritualistas, o que constitui sinal indubitável de certo grau de adiantamento anterior. Não se comporá exclusivamente de Espíritos eminentemente superiores, mas dos que, já tendo progredido, se acham predispostos a assimilar todas as idéias progressistas e aptos a secundar o movimento de regeneração.

Olhando para o mundo que ajudamos a construir e analisando todas as convulsões do momento, pensamos: como chegar lá, nesse mundo regenerado, onde o bem se sobrepõe ao mal?  A resposta lógica é nos reformando, mas Kardec em seu texto nos consola e nos estimula ressaltando que a regeneração da Humanidade não exige a renovação integral dos Espíritos, mas apenas uma modificação em suas disposições morais, que se opera em todos quantos lhe estão predispostos, desde que sejam subtraídos à influência perniciosa do mundo, ou seja, aceitem a influenciação do bem e sejam agentes transformadores do mundo em que vivem!

Essa posição kardeciana nos anima e favorece muito nossa ação em prol do nosso futuro, mostrando-nos o real sentido daquilo que está dito em O Evangelho Segundo o Espiritismo: Reconhece-se o verdadeiro espírita pela sua transformação moral e pelos esforços que emprega para domar suas inclinações más.

Com o amparo dos mentores amigos, chegaremos lá, mas poderemos chegar mais rapidamente se fizermos a parte que nos cabe, com dedicação e alegria, desenvolvendo todas as nossas potencialidades, fazendo com que todos os atos de nossa vida corporal representem a prática da lei de Deus.

Para nos ajudar e nos orientar, temos Jesus e o Espiritismo, doutrina que ajudará a Humanidade a entrar em uma nova fase, a do progresso moral que lhe é conseqüência inevitável: mundo novo, cidadão renovado.  Esse é o nosso futuro.  Essa é a diferença do cidadão de hoje e do homem do futuro: o esforço em evoluir moralmente.

Referências bibliográficas

O Livro dos Espíritos – questões 793, 91 e Conclusão item 5

O Evangelho Segundo o Espiritismo – capítulo XVII, item 5

A Gênese – capítulo XVIII – itens 28 e 33

Epístola aos Efésios – capítulo 4, versículos 20 a 25