Artigo de Egydio Régis - Setembro de 2000

O Processo Evolutivo, segundo o Espiritismo

Uma das mais belas contribuições, para mim a mais importante, do Espiritismo, é o princípio filosófico da evolução permanente do espírito . Nenhuma outra filosofia ou corrente de pensamento apresentou e desenvolveu teoria igual ou semelhante. É, portanto, inédito em termos de alcance filosófico na história do conhecimento humano. Nem nós, os espíritas, nos demos conta de que aí está a chave de todo o "mistério" da criação Divina. Toda a estrutura doutrinária espírita está assentada nesse princípio. A reencarnação nada mais é do que um período na infinita caminhada da evolução do espírito .

O princípio da evolução permanente, por sua vez, está contido no processo perfeito criado por Deus para atender os seus objetivos, os quais não temos ainda competência para compreender. É comum , principalmente às religiões, tentar arranjar justificativas para conciliar a diversidade física, moral, social entre a Humanidade e a admitida perfeição divina. Como pode o perfeito criar o imperfeito? Este tem sido o drama crucial do homem em todos os tempos. O ser humano taxado pelas religiões como verdadeiro "lixo" rejeitado pelo próprio criador, tem-se arrastado como mendigo implorando perdão e salvação . Para a Igreja, o homem é um sub-produto, sendo os anjos o "produto" que deu certo. Significa dizer que Deus teria errado na criação do homem comum. Para ela não existe evolução . Para Roustaing, ilustre desconhecido da história humana, mas que temos que citar por causa da influência que tem nas fileiras organizadas pela FEB, o espírito humano é um "criptógamo carnudo" que embora criado ótimo, rebelou-se contra o criador e por isso deve sofrer o castigo da involução, sendo projetado na carne para aprender e tentar voltar ao rebanho de Deus. Nada mais incoerente. Aliás essas teorias da queda do espírito são antigas e a própria Igreja as rejeitou em seu meio.

Por que a insistência em querer admitir que o espírito tinha que ter nascido perfeito ? Naturalmente pela razão já exposta de que Deus sendo perfeito não poderia criar nada imperfeito. E, o espírito humano, por suas manifestações de maldade, ignorância, inteligência limitada ( mas que tem evoluído extraordinariamente) é considerado imperfeito. Daí, essas extravagantes teorias para tentar explicar o que não tem explicação. Admitindo-se a perfeição em Deus, não se concebe uma criação imperfeita. Então o homem-espírito é perfeito?

Difícil também é entender o que é perfeição em termos de Deus e Universo. Será o perfeito exatamente aquilo que a nossa micro visão enxerga e concebe? Inútil divagar por esse caminho. Como explicar então o aparente caos em que vive a Humanidade, a espera de algum milagre ou ação direta do Criador, que já tarda ? É exatamente aí que entra o raciocínio construído sob as luzes do Espiritismo.

O que é um processo? Segundo o Aurélio, "ato de proceder, de ir por diante; seguimento, marcha; sucessão de estados ou de mudanças." E, o que é a vida do espírito e da Natureza em geral, senão um seguimento, marcha, sucessão de estados ou mudanças ? Portanto, consideramos a criação um processo. Um processo perfeito, em que as etapas se sucedem e se interrelacionam. Tudo se transforma na Natureza, resultando sempre o melhor de cada operação. Esse processo foi concebido e materializado em todos os seus detalhes com a precisão necessária e uma vez posto em funcionamento, caminha automaticamente sem a necessidade de ajustes. Existe uma incrível semelhança, o que denota o traço do criador em tudo, entre os vários fenômenos de desenvolvimento dos seres vivos na Natureza. Podemos até enumerar alguns princípios comuns: 1- todos começam pequenos; 2 - todos fazem esforço para nascer e desenvolver; 3- todos sofrem ação externa contra o seu desenvolvimento; 4- todos são dotados de uma incrível força íntima que supera as pressões externas; 5 - todos fenecem fisicamente e revivem em outro ser. Vejamos o exemplo notável da árvore. Uma pequena semente, que possui dentro de si o potencial da grande árvore, que enterrado na terra bruta, penetra-lhe as entranhas, fixa suas raízes, desabrocha e vence a pressão terrível do seu peso, aflorando , crescendo contra todas as intempéries e até contra a ação devastadora dos animais e do homem , encorpa, dá folhas e frutos e se multiplica pela semente recomeçando o processo. E esse processo espetacular , perfeito, é comum em toda a Natureza.

Essa semelhança nos demais reinos, nos leva a concluir, que sendo esse o critério estabelecido pelo Criador, não poderia ser diferente para o espírito, apesar de sua posição especialíssima em relação aos demais seres. Tal qual a pequena semente, o princípio espiritual (que dá a idéia de "pequeno"), é mergulhado na matéria . Trazendo dentro de si o potencial evolutivo para chegar à condição pré-determinada pelo Arquiteto ( a grande árvore que dará frutos) , sofrerá todo tipo de pressão, lutará para vencer, usará a grande força íntima de que é dotado. Esse caminho será longo, muito longo e ele precisará de várias etapas,( falecendo e renascendo) extraindo a experiência necessária em vários tipos de matéria, em infindáveis relacionamentos entre os demais seres da Natureza e os da sua espécie. Por tudo isso sua evolução será trabalhosa, repetitiva, sofrida, cheia de derrotas e de vitórias. Será sempre melhor e alcançará limites inimagináveis. Quem poderá dizer que isso não é perfeição ? Quem não enxergará nesse processo, toda a grandeza e beleza da criação?

Diante desse espetáculo deslumbrante da evolução, rendemo-nos á sabedoria divina e entendemos que o Espiritismo lançou a semente de sua compreensão futura , porque até hoje ainda não despertou a atenção do homem em geral e os espíritas, em particular, parecem que não se deram conta dessa "profecia", aceitando teorias arcaicas e tolas ou "construindo" céus especiais que conquistarão após a próxima desencarnação.