Lins de Vasconcelos
por Saulo de Meira Albach

Nasceu no dia 27 de março de 1891, na Vila da Serra do Teixeira, na Paraíba do Norte. Teve uma infância pobre no sertão nordestino. Alista-se no Exército; transferido para Santa Catarina, ele que era católico, toma contato com o Espiritismo na cidade de Florianópolis.

Por volta de seus vinte e um anos de idade Lins chega a Curitiba, onde passa a freqüentar a Federação Espírita do Paraná. Trabalha como cartorário e forma-se engenheiro agrônomo. Inicia sua luta em defesa do estado leigo, questionando privilégios concedidos pelo Estado à Igreja Católica.

Por conta dessa defesa intransigente, Lins foi demitido do Cartório e submetido a processo criminal. Com ajuda do Sr. José Leprevost, paga fiança para não ser preso. O mesmo amigo arruma-lhe emprego em sua firma comercial. Lins consolida-se socialmente ao fundar a Companhia Pinheiro Indústria e Comércio, empresa do ramo madeireiro, no Rio de Janeiro.

Com 25 anos incompletos Lins é eleito presidente da Federação Espírita do Paraná, entidade da qual foi secretário-geral por cinco vezes e presidente por seis mandatos, num período de dezoito anos.

Integrou a Federação Espírita do Paraná à Liga Brasileira Contra o Analfabetismo em 1916; propôs a criação de cursos especiais de médiuns em 1914; teve notável atuação no campo da assistência social.

Em sua atuação política manifestou-se contra a subvenção aos bispados católicos, proposta feita pelo Presidente do Estado do Paraná, em 1925; contra a entrada de capelães para a marinha de guerra (Lins convenceu seus pares da FEP a enviar telegrama ao Presidente da República, em fevereiro de 1918); contra o ensino religioso nas escolas públicas.

Em 1946 encaminhou proposta à Constituinte visando resguardar o estado leigo, a liberdade de consciência religiosa, a laicidade do ensino público, a secularização dos cemitérios e a absoluta separação entre a Igreja e o Estado.

Destacou-se, também, como jornalista espírita, atividade que culminou com a compra do jornal "Mundo Espírita", fundado por Henrique Andrade. Lins transferiu este jornal e suas oficinas para Curitiba como órgão oficial da FEP.

Lins demonstrou grande preocupação com o estudo doutrinário. Em 1949, Lins proferiu discurso no 2º Congresso Espírita Pan-Americano, realizado no Rio de Janeiro. Eis alguns trechos de seu discurso:

"É belo dulcificar o coração, é mesmo grandioso e até sublime, mas é sensato iluminar o templo para que os morcegos não o invadam, fazendo do Espiritismo um instrumento de cegueira ou um anestésico para as horas de dores".

"No Brasil, o Espiritismo tomou um franco aspecto de aplicação social e exemplificação evangélica. E a tal ponto isso vem ocorrendo que as sociedades, antes de terem sede própria, já estão fundando creches, ambulatórios, orfanatos, abrigos, lares, albergues, hospitais, amparos, etc. Fazem isso com ardor evangélico e pouca preocupação de instruir e fazer adeptos. Conquistam o coração e desprezam o entendimento, deixando o convertido na superfície com risco de submergir ao embate da primeira procela".

"Não deixa de ser caridade auxiliar os pobres com pensões, isso é incontestável. Mas entre um benefício dessa ordem, passageiro, exclusivista, e um outro de feição geral concretizada em obra perfeitamente consolidada e transmissível à posteridade, a diferença é tão grande que se assemelha à penumbra comparada com a luz."

Lins teve destacada atuação na propagação do Pacto Áureo, tentativa feita pela FEB para unificar o Espiritismo no Brasil, participando da Caravana da Fraternidade ao lado de Leopoldo Machado, Francisco Spinelli e outros.

Lins aplicou boa parte de sua fortuna no movimento espírita. Deixou obras em inúmeras cidades brasileiras, financiou eventos (como o I Congresso de Mocidades Espíritas, em 1948, no Rio de Janeiro). O patrimônio da FEP, por exemplo, deve-se a Lins que em seu testamento legou a metade da meação do seu patrimônio . O Colégio Lins de Vasconcelos, legado de Lins foi recentemente vendido pela diretoria da FEP, sob a alegação de prejuízos financeiros. No testamento de Lins foram agraciadas com quantias em dinheiro todas as entidades federativas regionais existentes, inclusive a Liga Espírita do Brasil.

Desencarnou no dia 21 de março de 1952, na cidade de São Paulo. Foi inumado nos jardins do então Sanatório Bom Retiro, conforme vontade sua manifestada em vida.