Nascido em família católica,
batizado aos 7 anos de idade, Cairbar Schutel cumpria
suas obrigações perante a Igreja de Roma. Entretanto,
já adulto e vivendo em Matão, passou a receber, em
sonhos, a visita constante de seus falecidos pais, porque
ele ficara órfão de ambos com menos de 10 anos de
idade. Insatisfeito com as explicações de um padre para
o fenômeno, Schutel procurou Quintiliano José Alves e
Calixto Prado, que realizavam reuniões de práticas
espíritas domésticas, logrando então entender a
realidade do mundo extrafísico.
Convertido ao Espiritismo, cuidou logo de legalizar o
Grupo (hoje Centro) Espírita Amantes da Pobreza, cuja
ata de instalação foi lavrada no dia 15 de julho de
1905. Resolvido a difundir a Doutrina Espírita pelos
quatro cantos do mundo - e mesmo vivendo em uma pequena e
modesta cidade no interior do Brasil -, o
"Bandeirante do Espiritismo", como ficou
conhecido Cairbar Schutel, fundou o jornal "O
Clarim" no dia 15 de agosto de 1905, e a RIE -
Revista Internacional de Espiritismo no dia 15 de
fevereiro de 1925, ambos circulando até hoje.
Além disso, o incansável arauto da Boa Nova, com todas
as dificuldades da época e da região, viajava
semanalmente até a cidade de Araraquara para proferir,
aos domingos, as suas famosas 15 "Conferências
Radiofônicas", pela Rádio Cultura de Araraquara
(PRD - 4), no período de 19 de agosto de 1936 a 02 de
maio de 1937.
Escritor fértil, entre 1911 e 1937 escreveu os livros O
batismo, Cartas a esmo, Conferências radiofônicas,
Histeria e fenômenos psíquicos, O diabo e a igreja,
Espiritismo e protestantismo, O espírito do
cristianismo, Os fatos espíritas e as forças X...,
Gênese da alma, Interpretação sintética do
apocalipse, Médiuns e mediunidades, Espiritismo e
materialismo, Parábolas e ensinos de Jesus, Preces
espíritas, Vida e atos dos apóstolos, A questão
religiosa, Liberdade e progresso, Pureza doutrinária, A
vida no outro mundo e Espiritismo para crianças.
Para publicá-los, Schutel não mediu esforços: adquiriu
máquinas, papel, tinta, cola e outros insumos para
impressão, procurando escolher sempre material de
primeira categoria. Desse esforço surgiu a Casa Editora
O Clarim, que hoje emprega inúmeros funcionários em
Matão, tendo publicado mais de cem títulos de obras de
renomados autores, encarnados e desencarnados.
Consciente de sua responsabilidade como cidadão, cuidou
de regularizar a sua união com Dª. Maria Elvira da
Silva e Lima, com ela se casando no dia 31 de agosto de
1905; o casal Schutel não teve filhos carnais, porém
sua dedicação aos semelhantes ficou indelevelmente
marcada na história de Matão, uma vez que ambos jamais
deixaram de atender aqueles que os procuravam.
Depois de curta enfermidade, Cairbar Schutel faleceu em
Matão, no dia 30 de janeiro de 1938. Durante e após
suas exéquias, inúmeras pessoas de Matão, das
cercanias, do Estado de São Paulo e de diversas regiões
do Brasil prestaram-lhe comovente tributo de gratidão e
reconhecimento pelo trabalho desenvolvido, tendo
certamente cumprido a sua missão.
Aliás, o prestigioso jornal 'A Comarca', de Matão, em
sua edição de 6 de fevereiro de 1938, consignou o
seguinte: "É absolutamente impossível em Matão
falar-se quer da nossa história passada, quer da nossa
história hodierna sem mencionar Cairbar Schutel. Cairbar
Schutel foi, para Matão, um dínamo propulsor do seu
progresso, um arauto dedicado e eloqüente das suas
aspirações de cidade nascente. Mais do que isso foi o
homem que, como farmacêutico, acorria com o seu saber e
com a sua caridade à cabeceira dos doentes, naqueles
tempos em que o médico era ainda nos sertões que
beiravam o 'Rumo', uma autêntica 'avis rara'.
"Militando na política por algum tempo, a sua
atuação pode ser traduzida no curto parágrafo que
abaixo transcrevemos, fragmento de um discurso
pronunciado em 1923, na Câmara Estadual, pelo Deputado
Dr. Hilário Freire, quando aquele ilustre parlamentar
apresentou o projeto da criação da Comarca de Matão.
Ei-lo: 'Em 1898, o operoso, humanitário e patriótico
cidadão Sr. Cairbar de Souza Schutel, empregando todo o
largo prestígio político de que gozava, e comprando com
os seus próprios recursos o prédio para instalação da
Câmara, conseguiu, por intermédio de um projeto
apresentado e defendido pelo Dr. Francisco de Toledo
Malta, de saudosa memória, a criação do município de
Matão'.
Dizem algumas comunicações mediúnicas que o Espírito
Cairbar Schutel está, no mundo espiritual, encarregado
pela divulgação do Espiritismo na Terra; sendo
confirmada tal informação, essa nobre tarefa está
muito dirigida, porque o movimento espírita deve muito
ao querido "Bandeirante do Espiritismo", assim
como à sua digníssima esposa Dª. Maria Elvira da Silva
Schutel, pois, como diz a sabedoria popular, ao lado de
um grande homem há sempre uma grande mulher!
Eliseu da Motta Júnior é escritor, orador e diretor da
Revista Internacional de Espiritismo - RIE, de Matão-SP.
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