Dezembro de 2005

Doutrina Kardecista: Uma Releitura da Obra de Kardec - Capa

Com esse título estamos lançando um livreto com o discurso proferido no início do 9º SBPE por Jaci Regis.

Debater a proposta de uma Doutrina Kardecista que resgate o pensamento original do fundador do Espiritismo e amplie os horizontes de nosso entendimento e, por conseqüência, a influência do Espiritismo fora dos padrões religiosos a que se submeteu o movimento no Brasil é a proposta que apresentamos.

Acreditamos que é hora de tom ar uma posição se não quisermos ficar permanente à margem, como mero grupo rebelde sem conseqüências práticas, girando em torno de um círculo restrito. Pior é que sem essa luta, ideal estabelecido por Kardec se consolidará como uma seita religiosa,.

O propósito que anima é criar condições para que a sociedade conheça o verdadeiro pensamento de Allan Kardec e coloque sua doutrina na trilha do progresso e da ação agressiva na análise de todos os fatores humanos e sociais transformadores do comportamento e das perspectivas da vida terrena.

O livreto será distribuído gratuitamente a quem o solicitar, correndo as despesas do correio por sua conta.

O Trem - Jaci Régis

A voz grave e de timbre algo melancólico de Milton Nascimento ecoava na sala.

Cantava "A estação" refletindo, nos versos do poeta, a mobilidade permanente dos sentimentos humanos.

"Há quem parta, querendo ficar. E quem chega querendo voltar", diz a canção.

E depois, "o trem que chega é o trem da partida... é a vida, é a

vida...".

A melodia bonita e o poema bem urdido traziam para minha alma sentimentos de reflexão e paixão.

Paixão pela vida, pela expectativa do hoje, sem certeza do amanhã.

Sim, a vida é como a estação do trem, com suas partidas e suas chegadas. Como as almas que devem seguir, impelidas por necessidades e compulsões. E de almas que chegam sem querer chegar, ligadas ao passado, ao que foi, sem disposição para enfrentar o que virá.

Mas também há os que chegam querendo ficar e os que partem para nunca mais voltar. Os primeiros trazem na mala das recordações, o pacote de esperança de que tudo vai mudar para melhor, à vezes tentando esquecer cenas e momentos que magoaram ou que criaram um abismo que é necessário superar.

E os que partem cheios de mágoas e de sarcasmos, não querendo sequer olhar para trás. Seguem olhando para o horizonte, nem sempre com destino acertado, mas desejando apenas livrar-se do peso das angústias geradas pelos mal-entendidos, pelos amores perdidos, pelos fracassos.

Nesse vaivém da vida, há lágrimas de saudade, dor de amor entre espinhos de rosas desfolhadas pelo vento da morte ou de desilusão. Há também sorrisos porque quem chega é muito bem vindo, traz alegrias e alegrias. O abraço apertado, sentindo o calor dos corpos colados como a penetrar reciprocamente todos os momentos de solidão, de medo ou de saudade.

Lenços acenando entre olhares ansiosos para dar a última olhada, na janela do trem que parte, e ver o perfil do amado que sai em busca de horizontes, aventuras e compromissos. Ou de quem deixa um lugar vago na alma de quem fica, sem uma razão maior.

Falamos de quem chega ao berço, de quem parte no túmulo. Dos que quiseram experimentar a aventura de sobreviver por si mesmos e, muitas vezes, voltam cabisbaixos e frágeis. Ou dos que partiram entre abraços e sorrisos, na construção de uma nova vida longe dali e que, apenas um volta, desfeita a união, separadas as esperanças.

Quem sabe o que se passa no coração, na mente de quem ombreia conosco nos caminhos da vida, nas estações de trem de nosso caminhar nesta existência?

A canção termina, os acordes acabam. Volta o silêncio.

O silêncio, a solidão que permite o pensar, o rodopiar da memória, o concerto virtuoso do pensamento que se desprende, volta ao passado, projeta-se para o futuro.

Muitas vezes perguntamos o porquê da vida.

Os que refletem filosoficamente crêem que somos imortais, em processos cíclicos de chegadas e partidas na estação da vida. Então, pensam, estamos aprendendo ou, os mais radicais, estamos sofrendo as conseqüências de nossos atos maus. Para esses a vida é uma cruz pesada, nem sempre trazendo satisfações.

Há os que não pensam nada. Vivem produzindo ou simplesmente caminhando "contra o vento, sem lenço sem documento".

Mas seja como for, parece que a vida não precisa ser explicada. Ela se auto explica, embora desejemos que seja mesmo imortal, que além do sepulcro continuemos sendo a mesma pessoa, falha ou deficiente, mas viva.

Porque a vida é a vida, com sua carga de afeto, emoção, lágrimas e sorrisos.

No apartamento vizinho, uma criança recém nascida chora, pedindo atenção e afeto. É quem chega pedindo amor e diretrizes para ser feliz...

Na rua, um grupo de jovens passa fazendo o alarido próprio da idade, que pede a expansão de sentimentos. A juventude é a renovação da vida. Passageiros que chegaram a pouco no trem do nascimento e que seguem pelos trilhos da vida, enfrentando os enigmas, os conflitos, a paixão, a sede de emoções, de prazeres, de sexo, do amor.

Para os que estão já no adiantado da vida terrena, o trem da partida todo o dia sai com sua carga de emoções e saudades, sendo que todos, um dia, serão passageiros desse trem inevitável.

Agora está anoitecendo. Olho na grande janela e vejo o espetáculo brilhante do sol como uma bola incandescente, escondendo-se no horizonte, rodeado de nuvens coloridas pelos raios, a se despedirem dando lugar à noite.

O sol parte, a noite chega no rodízio prodigioso do dia.

Amanhã um novo dia raiará oferecendo oportunidade de ser melhor, de buscar a felicidade, de realizar o bem, enfim, viver a plenitude do dia e das oportunidades.

Amanhã de manhã, o apito sonoro nos despertará avisando que é preciso seguir. Voltar a caminhar, indo ou chegando, cruzando pessoas, trabalhando ou descansando. Cheios de amor para dar ou carregados de ódio pestilento.

E seguimos multidões anônimas pelas ruas, avenidas e praças, correndo atrás do tempo. Vibrando de ideal ou anestesiados pela indolência da negação da própria capacidade de ser e viver. Porque muitos carregam seu próprio cadáver enquanto esperam o trem da partida.

É a vida... é a vida.

As propostas de Maria Helena - Da Redação

Médica há 34 anos, a Dra. Maria Helena Saad, tem sido assídua assinante do ABERTURA, inclusive participando com artigos.

Ela nos escreve pedindo artigos discutindo temas como o aborto e outros assuntos cadentes e que geram controvérsias nos meios espíritas e em geral.

Desde que o poder regulador das igrejas caiu e avançou a liberação sexual e a liberdade em geral, houve mudança nos comportamentos humano e social...

Diz Maria Helena em sua carta: Sou favorável 1) ao abortamento em determinados casos; 2) ao uso de células embrionárias pela ciência; 3) à eutanásia desde que o próprio paciente tenha se manifestado a favor ou seu responsável aprove, caso ele esteja impossibilitado de opinar, 3) a igualdade de sexos nas profissões (e de ganhos, é claro); 4) ao combate da ausência feminina como líder religiosa seja nas chamadas seitas evangélicas proliferadas a exaustão no Brasil (e só aqui) ou na Igreja católica: 5) ao combate da idéia arcaica que a mulher deve se ocupar acima de tudo da educação dos filhos pois isso é atribuição dos pais e mães, juntos, assim como dos cuidados domésticos, etc. Gostaria de artigos discutindo esses temas com maior profundidade no jornal Abertura, pois Espiritismo sendo filosofia de vida, pode ampliar essas discussões.

As posições de Maria Helena, certamente, encontrarão oposição ferrenha dentro do movimento espírita, extremamente conservador. Não abrindo a discussão sobre eles, permanece amarrado a conceitos cristãos sobre a vida e o ser humano, sem a abertura que o Espiritismo propõe.

O ABERTURA está aberto e tem feito ponderações sobre esse tema.

No 9º SBPE foi aprovada uma declaração favorável ao uso de células embrionárias, curiosamente rejeitada pela Associação dos médicos espíritas.

É preciso ter abertura para debater sem extremismos esses temas.

Os conceitos espíritas permitem uma ponderação equilibrada sobre todos esses temas. Fechar o entendimento e lançar anátema não é a posição traçada por Allan Kardec.

Fica o apelo de Maria Helena, inclusive a ela mesma, para que mais pensadores entrem no debate, com suas idéias a favor ou contra.

É ilusão supor que basta uma autoridade, seja a Federação Espírita, sejam os Espíritos, ditarem uma regra e tudo está resolvido. A dinâmica do processo existencial rompe com os limites, no caminho da compreensão maior dos fenômenos da vida.

Cartas Abertas (Sobre o Desarmamento) - Da Redação

Estranho a posição adotada por ABERTURA, veiculada no exemplar de Outubro de 2005.

Porque não me considero dono do certo e do errado votei no "não". Se o fizesse no "sim" eu manifestaria minha vontade de proibir a produção e a venda de armas e atingiria, com isso, também a vontade de quem tem entendimento diferente. E, votando no "não" eu não interferi na vontade dos outros, de adquirir ou não armas, e assegurei o meu direito de escolha.

A realidade brasileira revela que a eventual proibição de compra de armas atingiria apenas àqueles (ordeiros) que adquirem armas e as registram na forma da lei. E o resto? Os demais que usam armas para delinquir? Esses estariam fora da proibição. João José Guedes - Rio Grande - RS

Prezado João José,

A direção do ABERTURA colocou sua posição, como você fez a sua, sobre o referendo. Entretanto, abriu espaço tanto para a ABRADE, como para Homero Ward Rosa. Se a ABRADE era a favor da não comercialização, Homero foi a favor. Jornal aberto publica as opiniões e tem as suas. Por isso, se chama ABERTURA. Continue conosco.

Mercadores da Fé - Editorial

Chamar os missionários, bispos e pastores das igrejas pentecostais de mercadores da fé, não significa, explicitamente, que eles praticam fraudulentamente seu ministério religioso.

Identifica apenas uma fase da sociedade moderna.

São mercadores, mesmo tirando qualquer sentido financeiro, de compra e venda de artigos da fé.

Referimo-nos ao fato de que essas igrejas, consideradas fundamentalistas do protestantismo, nascidas nos Estados Unidos atendem à angústia do tempo que vivemos.

São mercadores no sentido de que oferecem aos crentes um "kit" de facilidade para a felicidade aqui e agora.

Nascem, vivem e prosperam na medida que a clientela que busca seus serviços se sente recompensada. Se isso exige generosas e explícitas contribuições em dinheiro é um outro setor, porque as contribuições são voluntárias e estão dentro do esquema de dá para receber benefícios.

No confuso mercado da fé, há todo uma transferência de fieis.

A Igreja Católica sente na pele a debandada de seus fieis em proporção que assusta o Vaticano. O Brasil, considerado o maior país católico e também o maior país espírita do mundo, embora com diferenças abismais, vai se tornando um país pentecostal. Porque as denominações evangélicas tradicionais também sofrem a redução ou pelo menos a estagnação do número de seus adeptos.

Alguns vêem nessa movimentação de crentes uma revigoração da fé e das religiões.

Todavia, podemos encontrar nessa revoada de crentes pentecostais, não apenas a busca da fé em termos tradicionais. Mas o desencanto das populações diante do sofrimento e da incapacidade das religiões em geral para explicar as anomalias da existência.

As contradições do mundo e a crescente visão niilista e materialista da vida, gerando tumulto emocional e econômico, leva as multidões para a última possibilidade: a intervenção divina.

Por isso, os mercadores da fé apelam insistentemente para esse lado: se você tiver fé, Deus te atenderá e multiplicam, nos programas televisivos, os depoimentos dos que, afortunadamente, foram atendidos conforme encontraram Jesus.

Porque nessa fé petencostal, a figura de Jesus, talvez mais do que na Igreja Católica e dos cultos tradicionais protestantes, assume o papel total de Deus. Jesus é Deus e ele fará tudo o que você pedir se tiver fé.

Embaladas pela possibilidade de ter a sorte nessa loteria divina, multidões se comprimem nos templos cada vez maiores, contribuindo generosamente paras as finanças divinas, isto é, das igrejas pentecostais.

A contribuição dos fieis às suas igrejas é tradicional e os protestantes estabeleceram o dizimo. Mas as igrejas pentecostais, na verdade, extrapolaram e investem vigorosamente no marketing. Oferecem seu pacote de facilidades, desde as grandes matrizes até as igrejas pessoais desse ou daquele missionário. É um negócio entre as instituições que se afirmam representantes do divino e a massa de crentes, que não quer deixar para o Além a felicidade. Quer automóveis, progresso nos negócios, recuperação da saúde e dos amores desfeitos.E as igrejas pentecostais estão a dispor para quem tiver a fé capaz de mover montanhas.

O que resultará disso não sabemos.

A Fé de Kardec - Editorial

Allan Kardec foi um homem de fé.

Abandonou, aos 51 anos, um tipo de vida para entregar-se, sem reservas, ao que considerou a obra de sua vida: a codificação e a fundação do Espiritismo.

Quis inaugurar um novo tipo ou exercício da fé: "Fé inabalável só o é a que pode encarar frente a frente a razão, em todas épocas da humanidade", sentenciou ao abrir seu livro O Evangelho segundo o Espiritismo, que afinal, trata da fé.

No capítulo XIX – A Fé transporta montanhas - ele afirma "A fé necessita de uma base, que é a inteligência perfeita daquilo em que se deve crer. E, para crer, não basta ver; é preciso, sobretudo, compreender (...) A fé raciocinada, por se apoiar nos fatos e na lógica, nenhuma obscuridade deixa. A criatura então crê, porque tem certeza, e ninguém tem certeza senão porque compreendeu."

Analisando um trecho evangélico, na abertura do capítulo, Allan Kardec pondera sobre o poder da fé . "No sentido próprio, é certo que a confiança nas suas próprias forças torna o homem capaz de executar coisas materiais que não consegue fazer quem duvida de si.". E adiante: "Noutra acepção, entende-se como fé a confiança que se tem na realização de uma coisa, a certeza de atingir determinado fim. Ela dá uma espécie de lucidez que permite se veja, em pensamento, a meta que se quer alcançar e os meios de chegar até lá, de sorte que aquele que a possui caminha, por assim dizer, com absoluta segurança. Num como no outro caso, pode ela dar lugar a que se executem grandes coisas. Mas adverte " Cumpre não confundir a fé com a presunção. A verdadeira fé se conjuga à humildade; aquele que a possui deposita mais confiança em Deus do que em si próprio, por saber que é simples instrumento da vontade divina, nada pode sem Deus".

Essa fé mista, entre a crença em Deus e a importância da razão é o desafio maior que ele mesmo enfrentou. Homem crente, buscou na ciência, na razão, o sustentáculo capaz de manter a fidelidade cristã em Deus e superar os limites da fé cega. Todavia, no último parágrafo reproduzido ele fecha o círculo ao minimizar o poder da fé pessoal, tudo submetendo, cristãmente, à vontade divina.

Sem desmerecer o poder divino, parece extremamente limitado dizer que "nada pode sem Deus". Tomado como verdade absoluta, torna o livre arbítrio uma fantasia. Temos que evoluir nessa compreensão da relação de Deus com a pessoa, enfatizando a abrangência da Lei, mas sabendo que dentro dela, o livre arbítrio é soberano.

A fé de Kardec, portanto, combina os fatores espirituais, mas não fica à espera da ação divina para resolver os problemas. Reforça o poder interior, a força interior, que cada um tem e que precisa ser mobilizada pela perspectiva de vida . O que falta é decisão e sobra preguiça mental, espiritual e humana e muitos..

O Balanço e o Projeto - Editorial

Estamos terminando 2005.

Conseguimos realizar praticamente todo o planejamento para o ICKS, ao iniciar o ano.

Este jornal saiu regularmente. Medidas administrativas foram e estão sendo tomadas para aperfeiçoar nosso trabalho. O número de leitores aumentou, não talvez quanto desejávamos.

Iniciamos timidamente nossa inclusão na Internet. Além do site www.ickardecista.com.br, ainda bastante precário, lançamos um Informativo Semanal que teve boa repercussão. O diretor criou seu blog, jaciregis.blog.uol.com.br, com a esperança de aumentar a interação e o debate.

Os cursos programados foram realizados com maior ou menor êxito.

Sobretudo, o 9º SBPE corou o ano, com resultados excelentes.

O ano de 2006 abre novos desafios.

Queremos ampliar nosso espaço na Internet. A proposta da Doutrina Kardecista precisa ser ampliada e divulgada e a Internet é, no momento, o espaço mais apropriado.

Começamos e continuaremos a edição de CD com livros editados pelo ICKS, como O Laço e o Culto de Krisnamurti Dias, esgotado na sua edição impressa. Outros livros e livretos serão lançados por esse meio, uma vez que a Editora está bloqueada pelo movimento espírita religioso, que não divulga ou vende as obras por nós editadas.

O ABERTURA deverá ser aperfeiçoado tanto gráfica, quanto editorialmente. Nosso sonho de ampliar sua edição continuará sem esmorecimento.

Cursos que estão se tornando tradicionais, serão reorganizados com recursos de ilustração eletrônica. Seminários estão também no programa, alguns abertos em promoção mais ampla e outros inseridos nas reuniões semanais de sextas-feiras, como foram em 2005, com êxito.

O ICKS é um trabalho de longo prazo por trazer inovações relativamente aos centros e entidades espíritas em geral. Abriremos, em 2006, um espaço para a juventude. Será uma experiência que medirá o interesse de jovens de ambos os sexos para o estudo e o conhecimento do Espiritismo fora dos centros espíritas.

Enfim, muito trabalho e ânimo.

2005 foi vitorioso. 2006 inicia-se como desafio. Vamos à luta.

Posições Políticas (Imprensa Espírita) - Da Redação

Duas posições marcaram o movimento espírita, através dos meios de comunicação.

De um lado a ABRADE-Associação Brasileira dos Divulgadores do Espiritismo, emitiu nota posicionando-se decididamente a favor do "sim", no recente referendo nacional sobre o comércio e a produção de armas, vencido espetacularmente pelo "não".

A posição da ABRADE foi clara. Ao invés de permanecer no silêncio, ela decidiu tornar pública sua posição, que, aliás, era a mesma do ABERTURA.

De outro lado ao IPEPE -Instituto de Intercâmbio do Pensamento Espírita de Pernambuco, tomou a decisão de se pronunciar sobre a crise política, face ao desmando e a corrupção denunciada no país e que motivou a criação de Comissões Parlamentares de Investigação. O Instituto manifestou, enfim, seu apoio aos anseios de rápida apuração de responsabilidades e renovação da vida política brasileira.

Tanto a ABRADE, como O IPEPE, abriram uma clareira no movimento espírita, sempre muito fechado nos centros, no comércio com os mortos ou na distribuição de bens materiais, como se a realidade do mundo fora das paredes das instituições fosse estranha aos espíritas e espíritos.

As duas entidades representam uma ponta de esperança entre as atividades espíritas do movimento religioso, que segue a orientação de Emmanuel que pregava que os espíritas não deveriam participar da política e das atividades fora ao âmbito da pregação evangélica, para não se iludir com "o prato de lentilha" das glórias humanas.

Allan Kardec, em sua viagem a Lion, em 1861, tratou, no seu discurso perante os operários presentes, da questão do comunismo, tanto quanto o Espírito de Erasto, em sua Epístola de Erasto aos Espíritas Lionenses. O fundador escreveu uma monografia, As Aristocracias, que é proposta política, tanto que o é, o trabalho Liberdade, Igualdade, Fraternidade, publicados em Obras Póstumas.

Léon Denis escreveu o livro Socialismo e Espiritismo, debatendo Marx e a revolução russa. Isso para não falar do argentino Manuel S. Porteiro, desconhecido pelos espíritas brasileiros, em seu livro Espiritismo Dialético.

É salutar pensar que espíritas brasileiros, alguns das novas gerações compreendem que o isolamento preconizado pelos líderes do movimento tornará o Espiritismo ainda mais uma seita religiosa, preocupada com o além e desprezando as realidade sociais e políticas que vivemos, desprezando o que Allan kardec escreveu em A Gênese sobre o papel social da doutrina.

A Corrupção avançou em 2005 (Problemas Sociais e Políticos) - Da Redação

O panorama político brasileiro teve um ano de extraordinária degradação. As denúncias de corrupção praticada pelo PT foram praticamente comprovadas, mostrando a face nem sempre tão oculta dos meandros políticos. As Comissões Parlamentares de Inquérito transbordaram de encenações grotescas de culpados dizendo-se inocentes, esquecidos e tentando articular esquemas em que se safassem e alguns conseguiram e conseguirão.

O que ressalta dessa maratona de maldades é o caráter humano, a improbidade pessoal dos que se acreditam espertos e capazes de abocanhar o dinheiro do povo em proveito próprio ou de projetos de supremacia de seus partidos políticos.

A figura do presidente da República foi enfraquecida e todos, no íntimo, acreditam que ele sabia de todas as mazelas. Não obstante, no próximo ano ele se candidatará para um novo mandato.

Não sabemos se a desilusão da classe média que o levou ao Planalto será suficiente para derrotá-lo.

Há uma impressão de lassidão, de desinteresse pela coisa pública, culpa, segundo analistas, devido à incapacidade dos partidos de oposição de agitar o povo, ficando tudo num marasmo e num estado morno, de desilusão e desesperança.

O que sobressai é a prática do mal.

Na questão 638, de O Livro dos Espíritos, analisando ponderações de Kardec, os Espíritos responderam: "Embora necessário, o mal não deixa de ser o mal. Essa necessidade desaparece, entretanto, à medida que a alma se depura, passando de uma a outra existência. Então, mas culpado é o homem quando o pratica porque melhor o compreende".

A pergunta 640 traz o questionamento: Aquele que não pratica o mal, mas que se aproveita do mal praticado, é tão culpado quanto este?

"É como se o houvesse praticado. Aproveitar o mal é participar dele. Talvez não fosse capaz de praticá-lo, mas desde que, achando-o feito, dele tira partido, é que o aprova: é o que teria praticado Se pudera, ou se ousara".

O Espiritismo é radical na questão dos atos das pessoas. Ninguém é inocente e seja o mal desencadeado por um e aproveitado por outros, é sempre o mal.

Nessas circunstâncias, não há desculpas para mandatários do povo ou membros de partidos eventualmente no poder, seja este ou qualquer partido, agora ou antes ou depois, de praticar o mal, roubando, mentindo, mal empregando os recursos públicos. Até a incompetência é um mal porque, nesse caso, prejudica a milhões.

O Brasil tirou um presidente da República eleito por corrupção há alguns anos. Vê-se, outra vez envolvido em esquemas, em valeriodutos que canalizam os recursos para fins pessoais e partidários.

É preciso tirar a limpo essa sujeira.

Um Manifesto para a História, Olhos no Futuro, Vida e Dignidade, Nosso Tempo é Hoje (Opinião em Tópicos) -  Milton R. Medran Moreira

Um manifesto para a história

Mauro de Mesquita Spínola, dileto amigo, comentava, dias atrás, comigo ter sido uma iniciativa muito feliz a aprovação, no 9º Simpósio Brasileiro do Pensamento Espírita, do documento "Manifesto em Defesa da Vida". Nele, um importante segmento do pensamento espírita brasileiro, que, desde 1989, exercita, de dois em dois anos, em Santos/SP, a tarefa de pensar o espiritismo a partir de uma ótica progressista e livre-pensadora, posicionou-se em favor da pesquisa com as chamadas "células-tronco criopreservadas". Criopreservadas quer dizer: conservadas em baixíssimas temperaturas. A maioria dessas células pertence a embriões descartados, há vários anos, em clínicas de fertilização. São células-tronco embrionárias que, no entanto, jamais serão utilizados para outro fim. Já não estão mais destinados à implantação em um útero com o fim de gerar uma nova vida, pois foram descartadas. Mas têm um imenso potencial terapêutico que outros tipos de células-tronco não possuem.

Como se sabe, religiosos de diversos matizes (tanto católicos como espíritas), têm repudiado a manipulação de células-tronco embrionárias. Entendem que sua utilização atenta contra a vida.

Olhos no futuro

Para Mauro, daqui a uns 50 anos, quando, com certeza, a utilização desse tipo de células estará consagrada, aqueles que hoje a combatem por razões religiosas serão apontados como exemplos do atraso. Mas quem decidir investigar melhor irá localizar um segmento menos numeroso, dentro do movimento espírita, que apoiou esse tipo de pesquisa e fez publicar, inclusive, um manifesto nesse sentido.

Diferentemente, a Associação Médico-Espírita, em sua Carta de Princípios condena a utilização de células-tronco embrionárias. Expressamente diz que "uma vida (a do embrião) não pode ser interrompida em benefício de outra".

A que tipo de vida se refere? À vida biológica, naturalmente. Seria insustentável afirmar que num conjunto de células guardadas em um freezer por três ou quatro anos, haja a presença de uma entidade espiritual.

Ora, a todo o dia e a toda hora, interrompemos bilhões de vidas em benefício da vida humana. Não fazemos outra coisa quando comemos uma folha de alface, saboreamos um filé ou tomamos um chá de ervas para dor-de-barriga.

Vida e dignidade

A vida que, prioritariamente, devemos preservar é a vida do espírito, garantido-lhe a dignidade. O espiritismo é uma generosa proposta de humanismo que tem por base a realidade do espírito como sujeito de obrigações mas também de direitos.

Nesse sentido, todo o avanço da ciência que torna o homem (espírito encarnado) mais feliz deve, em princípio, merecer o apoio da comunidade espírita.

Essa visão tem outras conotações que, facilmente, passam desapercebidas por quem visualiza a vida sob o prisma religioso. É comum, por exemplo, quando se trata do processo de criação da vida humana, reconhecerem-se direitos exclusivos ao nascituro, negando-os à gestante. O espiritismo rompeu com essa visão, até hoje adotada pelo catolicismo, quando reputou legítimo o abortamento em caso de perigo à vida da gestante. O Direito, depois do advento do espiritismo, avançou, admitindo outras causas excludentes de criminalidade para o aborto. De maneira geral, os espíritas não as reconhecem. No entanto, sob um aspecto ético, humano e moral, como condenar, por exemplo, um aborto autorizado em caso de feto anencéfalo? Ou quando, sob o império da lei, uma jovem abusada sexualmente pelo pai ou padrasto, interrompe a gestação daí advinda?

Nosso tempo é hoje

É preciso dar conhecimento à sociedade de que, no âmbito do movimento espírita, essas questões merecem discussões e conclusões que nem sempre são as das Associações Jurídico-Espíritas ou Médico-Espíritas. Muitos juristas e médicos espíritas não integram esses organismos. Não porque não o queiram, mas porque não são convidados. Suas agendas de debate são, ali, previamente rechaçadas, em nome de princípios tidos como inamovíveis. E, no entanto, seus argumentos são genuinamente espíritas: têm base na própria obra de Kardec e reclamam exame e debate sob um prisma progressista e livre-pensador.

Mauro tem razão. O Manifesto em Defesa da Vida marca uma posição que teria, necessariamente, de ser tomada hoje, para que não se percam, amanhã, os valores humanísticos sobre os quais foi edificada a proposta espírita.        

Uma Solução Mágica - Jacira Jacinto da Silva

Ah! Quantas e quantas vezes desejamos uma solução mágica em nossa vida! Desde um bom emprego à morte do marido inconveniente, seria muito bom que alguém, uma força maior, poderosa, intercedesse em nossa vida e tirasse da nossa frente aquele obstáculo à nossa felicidade.

Há muitos anos, depois de passar em alguns concursos públicos, um amigo que me conhecia muito bem e sabia toda a trajetória de trabalho, esforço e dedicação que me levaram àqueles resultados nos referidos certames, indagou-me o que deveria fazer para passar também, pois rezava, rezava, rezava, mas não conseguia passar. Sem pestanejar, respondi-lhe que estava gastando tempo demais com reza e que o seu sonho não dependia disso para ser alcançado. Não sei o que pensou, mas posso imaginar.

Uma conhecida muito religiosa e demasiadamente mal amada sentia-se infeliz ao lado do marido, que a agredia verbal e fisicamente; desejava muito se livrar dele, mas evidentemente não poderia tomar nenhuma atitude concreta que a permitisse viver livremente, pois o medo, a culpa e as pragas da igreja, certamente lhe impingiriam uma pena maior do que suportar aquela presença indesejada. Rezava, então, para o marido morrer, como me confessou certa vez.

Admiro as pessoas que conseguem se libertar das amarras da religião. Conversando certa vez com uma moça muito simples, empregada doméstica de pouca instrução, constatei uma vez mais que a construção do conhecimento e a libertação do espírito pela sabedoria, constituem processo extremamente vagaroso que passa por infinitos graus e diferentes etapas até que um espírito possa reunir vasto cabedal, que lhe garanta condições de viver bem e agir bem em diversos campos de atuação. Ela me disse que a religião é construção humana com o fim específico de conferir a certos homens poderes especiais sobre outros. Afirmou, ainda, que os gurus religiosos pregam regras de comportamento das quais eles próprios passam longe. Refleti no profundo conteúdo da sua afirmação e avaliei que se tratava de uma manifestação inteligente, evoluída nessa questão tão relevante para o bom aproveitamento da existência.

De outro lado, uma professora universitária, minha conhecida de longos anos, com quem estou sempre conversando sobre os postulados espíritas, carrega um pequeno rosário no carro, mantém uma santa sobre a penteadeira, participa de procissões, é extremamente devota e dependente das bênçãos dos padres e do papa, mas não se encontra. Não sabe a quem culpar pela escassez de sucesso profissional, procura desestimular iniciativas do marido para o próprio crescimento e me confessou que quando quer muito alguma coisa reza para o santo da sua devoção, solicitando que interceda junto a Deus para favorecê-la.

Nos limites da sua simplicidade, a empregada doméstica que conheci é muito feliz; batalha pelas aquisições e busca meios de crescer, independentemente de crença. A professora, coitadinha, está amarrada, truncada, não cresce, mas continua beijando o crucifixo, ajoelhando para rezar e culpando Deus pelos fracassos profissionais.

Não consigo compreender de onde vem essa dificuldade tão grande que certas pessoas demonstram para assumirem a responsabilidade integral de suas vidas, seus sucessos e seus fracassos. Não vislumbro maior complexidade no tema, a ponto de algumas pessoas se sentirem vítimas o tempo todo, fingindo que não fizeram nada, ou que fizeram tudo o que podiam, quando na verdade estão sonhando e rezando, beijando o santinho e esperando.

O caso da professora universitária me levou a escrever este texto, pois me recuso a acreditar que ela não tenha condições de avaliar a farsa que tem sido a sua vida. Mostra-se insegura, sonha com soluções milagrosas, não enfrenta desafios e quando os enfrenta esmorece, e vitimiza-se constantemente por ter de atuar ao lado dos seus; reclama do pai porque se mostra dependente dela; do marido porque não lhe dedica exclusividade, gosta de estar com amigos e nas atividades profissionais; do trabalho porque vem sendo injustiçada o tempo todo. Ah! Também desistiu do curso de inglês por incompatibilidade com o grupo de alunos.

Para que serve a religião? Será que essa professora seria pior se não fosse religiosa? Acredito que não; até porque as pessoas religiosas crêem estar, de certa forma, imunes ao erro. Só o fato de se declararem religiosas já lhes dá um status interior de pessoa boa, diferenciada, autorizada a cobrar comportamento dos outros, só dos outros.

Sei que existem ótimas pessoas religiosas, mas não compreendo porque muitas delas crêem na possibilidade de alcançarem o bônus sem o ônus. O sabor da conquista é indefinível, a satisfação do dever cumprido e a superação de um forte obstáculo podem ser considerados a supremacia da felicidade; sendo assim, todas as pessoas devem ser estimuladas a produzir, a trabalhar, a conquistar e a superar as barreiras; mais ainda, devem ser conscientizadas da sua capacidade realizadora, do seu potencial intelectual e construtivo, não sendo justo escravizá-las na crença de que um santo, um deus, um papa, ou seja lá quem for, poderá facilitar a sua vida, pois soluções mágicas não existem, exceto na ilusão dos crentes.

Jacira Jacinto da Silva - Juíza de direito em Bragança Paulista, espírita de nascimento, membro do CPDoc e delegada da CEPA no Brasil.

Repercussão dos Temas do 9º SBPE (Notícias) - Da Redação

Na região de Santos, os temas apresentados no 9º SBPE por autores radicados na cidade, foram reapresentados.

O próprio ICKS promoveu no mês de novembro a apresentação de quatro temas: A Ressurreição de Deus, por Jaci Regis, Análise da necessidade de recorrermos à exobiologia -quer física quer espiritual- para explicar o desenvolvimento das civilizações na Terra, por Alexandre Cárdia Machado, Um breve estudo comparativo sobre a reflexão socialista de Leon Denis e Manuel Porteiro, por Ricardo de Morais Nunes e Assinado, eu! por Reinaldo di Lucia.

Ricardo, apresentou seu tema no centro Espírita Allan kardec, Reinaldo no Missionários da Luz e Alcione Moreno, de São Paulo, foi a oradora do 54º aniversário do CEB Ângelo Prado, de Santos, com seu tema Células tronco- um estudo à luz do Espiritismo.

Possivelmente em outras cidades o temas tenham sido repetidos e estudados, uma vez que todos os assuntos estão no CD editado pelo ICKS, com temas do 9º SBPE.

Um Ano complicado (Mundo Atual) - Da Redação

O ano de 2005 termina com o panorama mundial confuso e imprevisível.

A guerra do Iraque ensangüenta o país com dezenas e às vezes centenas de mortes diárias produzidas pelos que se opõe, não raro em nome de Deus, à ocupação americana. Ao apelo do presidente eleito para o diálogo, os terroristas propõem sangue e espada aos infiéis.

No Oriente Médio, houve algum progresso com o fim da lintifada dos palestinos e a desocupação da faixa de Gaza, mas prosseguem os atos de terrorismo e o enfraquecimento do primeiro ministro pelos seus partidários que se opõem a qualquer facilidade aos palestinos.

A queda de popularidade do presidente Bush indica problemas na grande nação americana, enquanto as epidemias de gripe aviária, a aids e outras doenças prosseguem avançando.

A grande esperança, no campo da saúde são as células tronco cujo aproveitamento pela medicina avança com sucesso, embora ainda inicial.

A economia parece caminhar com dados positivos e as conferências internacionais entre países ricos e pobres prosseguem tentando vencer as barreiras alfandegárias, os subsídios e outros fatores que produzem déficits nos pobres.

As realidades da Europa, em relação ao grande número de emigrantes foram mostradas em conflitos de rua na França e em outros países. As diferenças culturais, os níveis de escolaridade e religiosos, explodiram em protestos e vandalismo, assustando a sociedade européia.

Bem, não há ano que esses e outros problemas não surjam num mundo cheio de problemas e conflitos de interesses corporativos, nacionais, religiosos e culturais.

Há uma frenética produção científica, derrubando ou tentando derrubar os pilares da crença religiosa. O número de não religiosos cresce, enquanto o comportamento humano, em geral, principalmente na cultura ocidental caminha célere para o niilismo, o uso de drogas e da sexualidade, de forma assustadoramente irresponsável e até criminosa.

A religião mulçumana encontra-se no entro de questões como o terrorismo, a morte pelo suicídio de jovens e até crianças, manejados pelos líderes ocultos numa guerra sem fim e de previsões nada confortáveis. Nesses paises e cultura, a posição da mulher contrasta com a ocupada pelas mulheres do mundo ocidental.

Enfim, o panorama permanece mais ou menos igual aos anos anteriores, com guerras, guerrilhas, atos terroristas, manipulação da opinião pública e o avanço da industria do sexo, o consumo de drogas.

Certamente serão contabilizados avanços em muitos setores e talvez as partes negativas sobressaiam mais do que as positivas, pela ação da mídia

O que é Energia e sua relação com o Espiritismo ? (Abrindo a Mente) - Alexandre Cardia Machado

Tradicionalmente define-se Energia como sendo a capacidade de realizar trabalho. Este conceito está correto para sistemas fechados como por exemplo numa represa onde a energia potencial da água, definida pela altura do reservatório pode ser transformada em energia cinética capaz de mover uma turbina. Esta turbina por sua vez movimenta o campo magnético do gerador e com isto transforma este trabalho em energia elétrica. Hoje a cada dia mais utilizamos o termo energia no Espiritismo para substituir os termos "transmissão de fluídos", "passe" entre outros. Sendo a energia passível de varios adjetivos, nós podemos usar os termos "emissão energética à distância" para melhor representar a conhecida "vibração", por exemplo. O termo vibração é muito mais utilizado para ondas mecânicas como o som. Já as energias espirituais são sistematicamente definidas como sendo ondas eletromagnéticas aquém dos comprimentos de onda da luz visível, não sendo portanto mecânicas, donde então a denominação onda é muito mais efetiva do que vibração. Como diz André Luiz, " Em nosso plano, ... as moléculas do perispírito giram em mais alto padrão vibratório, com movimentos mais intensivos que as moléculas do corpo físico" - atualizando a forma de expressar poderíamos dizer que os psi-átomos são mais energéticos do que os átomos físicos e tem um padrão ondulatório mais intenso.

Para abrir mais a sua mente leia: Psi- Quantico – Hernani Guimarães Andrade. Ed. Pensamento.

A Ressurreição do "meu Deus" - Denize de Assis Ribeiro

Jaci Regis apresentou no 9º SBPE-Simpósio Brasileiro do Pensamento Espírita, um trabalho intitulado – "A ressurreição de Deus.." Embora sem ouvir, mas com o material de apoio (projeção), e com a colaboração também da minha incansável irmã, amiga e terapeuta Zuleica, que escrevia rapidamente trechos das falas dos diversos trabalhos ali apresentados, pude participar mais. Hoje tenho tudo na íntegra pelo CD.

Mas, naquele instante ali no Simpósio, fiquei refletindo sobre "o meu Deus". Lembrei-me que certa vez, um conhecido evangélico, já desencarnado (como se expressam os religiosos – "que Deus o tenha!") disse que eu estava sendo castigada, daí a perda auditiva, mas se eu quisesse, eu seria curada por Jesus. Numa outra ocasião, um amigo, brincando logicamente, disse-me que em outras vidas, ficara com os ouvidos atrás das portas para ouvir segredos alheios, e agora ...

Voltei a questionar sobre esse Deus. Penso que o tenha ressuscitado, porque "... podemos apresentar uma forma mais consentânea com nosso próprio entendimento, porque afinal, Deus é sempre formulado a partir de nosso entendimento, de como nos situamos na vida e na compreensão possível dos fatos...".1 

De que forma eu o teria ressuscitado? Acredito que meu entendimento sobre Deus sempre foi mais livre; não podia crer num Deus que me punia pelo que fiz de "errado", palavra esta aliás, que também risquei do meu vocabulário vivencial. O "Deus assim permite", para mim, tinha agora um outro significado – " tranqüilize-me, não se culpe, você terá outras oportunidades...".

Penso que desta vez, na presente reencarnação, vivendo experiências, mas tendo como sustentação as bases espíritas, pois elas vêm de berço, senti-me mais preparada para enxergar mais além. Mais alimentada em conhecimento e, possivelmente, mais estruturada psicologicamente, através do "conhece-te a ti mesmo" pude adentrar séculos ao longe.

Com apoio da terapia transpessoal e alicerçada no conhecimento espírita, naturalmente fui adentrando em alguns pontos do passado. As muralhas foram sendo derrubadas; os medos foram-se dissipando. Fazia-se necessário o reconhecimento dessas sombras que me impediam ver outras partes de mim mesma.

As cenas que se me apresentavam, ou melhor, que eu vivenciava, eram realmente bastante dolorosas. Eu me sentia frágil, mas ao mesmo tempo segura, amparada tanto profissional, como espiritualmente. Os estágios vividos, ora em um século, ora noutro, deixavam claro a ignorância do espírito em seus passos indecisos, trôpegos; a estrutura psicológica ainda frágil, sem discernimento de melhores caminhos a seguir.

E assim foram várias reencarnações sem programação, apenas querendo estar aqui, atraída por mecanismos que desconhecia. Sentimentos foram-se acumulando, raiva, mágoa, dor, retardando meus passos, fazendo-me prisioneira do orgulho, do desamor. Quantas e quantas vezes gritei de forma revoltante aos que queriam de mim uma palavra, uma aproximação, àqueles que só pediam perdão – "eu não quero te ouvir!". As marcas da violência foram-se fazendo presentes, documentando fisicamente minhas rejeições.

Mas o fio de Ariadne estava em minhas mãos. Eu poderia ir em frente e cada momento vivenciado, era como se aquelas leis naturais gravadas em minha consciência estivessem agora transparentes, mais inteligíveis. Não procurava culpados e nem tão pouco assim me sentia. Tudo era um processo natural, através do qual eu crescia. Eu estava bem com o mundo porque podia perceber o outro, mesmo que não o ouvindo.

Deus ouviu minhas preces? Não é assim que eu penso. Sei, que busquei entender as leis naturais com suas causas e seus efeitos e que estão na minha consciência e à qual também somente a mim é dado o direito de acesso, as chaves estão em minhas mãos.

 1 Jaci Regis em seu trabalho A ressurreição de Deus

Vede Jesus - Jaci Régis

624. Qual o tipo mais perfeito que Deus ofereceu ao homem, para lhe servir de guia e modelo?

- Vede Jesus.

Inserida na cultura cristã e com a participação ativa de antigos prelados e santos da Igreja, a doutrina teria, por natural conseqüência, que ter em Jesus seu roteiro moral. .

Mas que Jesus era o apontado como modelo?

Herculano Pires em Revisão do Cristianismo (1977) faz uma distinção básica.

Há um abismo entre o Cristo e o cristianismo, tão grande quanto o abismo existente entre Jesus de Nazaré, filho de José e Maria, nascido em Nazaré, na Galiléia e Jesus Cristo, nascido da Constelação da Virgem, na Cidade do Rei Davi em Belém da Judéia, segundo o mito hebraico do Messias. Por isso a Civilização Cristã, nascida em sangue e em sangue alimentada, não possui o Espírito de Jesus mas o corpo mitológico do Cristo morte e exangue"

Portanto, qual o modelo que nos inspira?

Para nós, o modelo proposto pelos Espíritos, tem que ser factível. Isto é, não adianta apresentar um modelo inatingível.

O Cristo modelado pela Igreja é Deus e quem pode igualar-se a Ele?

O MODELO ESCOLHIDO

PELOS ESPÍRITAS

No Espiritismo brasileiro o modelo escolhido é o Cristo nascido da Constelação da Virgem, como diz Herculano. Se não é confundido com Deus, é porque isso foi taxativamente negado por Kardec. É, porém, vestido com as mesmas roupagens da Igreja. Revistas espíritas estampam em suas capas a figura tradicional dos pintores cristãos. Há mesmo instituições que distribuem santinhos com a figura do Cristo, como as igrejas.

Emmanuel, no seu livro Consolador, psicografado por Francisco Cândido Xavier e editado pela FEB em 1940, eleva-o aos píncaros. Eis alguns trechos escritos por ele (os números remetem às questões do livro):

85- Jesus foi o divino escultor da obra geológica do planeta;

225 – Jesus é o Modelo Supremo;

235 –(...) razão porque o modelo de Jesus é definitivo e único para a realização da luz e da verdade em cada homem;

243 – (...) com exceção de Jesus-Cristo, fundamento de toda a verdade neste mundo, cuja evolução se verificou em linha reta para Deus, e em cujas mãos repousa o governo espiritual do planeta, desde os seus primórdios.

261 – Deus é amor e vida e a mais prefeita expressão do Verbo para o orbe terrestre era e é Jesus.

277 – O Eleito, porém, é aquele que se elevou para Deus em linha reta, sem as quedas que nos são comuns sendo justo afirmar que o orbe terrestre só viu um eleito que é Jesus - Cristo.

289 (...) pouquíssimos (Espíritos) alcançaram a pureza indispensável para a contemplação do Mestre no seu plano divino.

Não bastasse isso, surgiu, em 1938, o livro Brasil Coração do Mundo, Pátria do Evangelho, psicografado por Francisco Candido Xavier, onde o escritor recém desencarnado, Humberto de Campos, faz um relato (hipotético?) de uma visita decisiva de Jesus ao plano terreno. Afinal, ele vive na esfera crística, onde segundo Emmanuel, no livro Renúncia, um grupo de Espíritos de escol vive numa atmosfera parasidaica, estudando música divina, uma espécie de reprise do céu de todas as religiões.

Pois bem, Humberto de Campos, narra assim, a visita do Governador à região do nevoeiro, onde, segundo a expressão de André Luiz (Espírito), vivemos nós, pobres mortais, para sacralizar o Brasil:

"Foi após essa época, no último quartel do século XIV, que o Senhor desejou realizar uma da suas visitas periódicas à Terra, a fim de observar os progressos de sua doutrina e de seus exemplos no coração dos homens."

Anjos e Tronos lhe formavam a corte maravilhosa. Dos céus à Terra, foi colocado outro símbolo da escada infinita de Jacob, formado de flores e de estrelas cariciosas, por onde o Cordeiro de Deus transpôs imensas distâncias, clarificando o caminho de trevas.

-Helil – disse a voz suave e meiga do Mestre a um dos seus mensageiros, encarregados dos pro lemas sociológicos da Terra – meu coração se enche de profunda amargura vendo a incompreensão dos homens, no que se refere às lições do meu Evangelho. ("...) Infelizmente não vejo senão o caminho do sofrimento para modificar tão desoladora situação.".

"A amargura divina empolgara toda a formosa assembléia de querubins e arcanjos. Foi quando Helil, para renovar a impressão ambiente, dirigiu-se a Jesus com brandura e humildade" e propõe que se visite "os continentes ignorados". "Nessas terras, para além dos grandes oceanos, poderíeis instalar o pensamento cristão, dentro das doutrinas de amor e da liberdade." Helil - pergunta ele – onde fica, nestas terras novas, o recanto planetário do que se enxerga no infinito, o símbolo da redenção humana?

Essa narrativa, tomada ao pé da letra é uma verdadeira estória da carochinha. Mas retrata a nossa genérica incapacidade de separar o divino do profano. O divino é triste, melancólico. Portanto, não poderia ser diferente, que esse Jesus trazido por Humberto de Campos, logo se veja obrigado a servir-se da dor como único caminho, seguindo o modelo estabelecido pela Igreja.

Em contraposição a essa melosa descrição do Jesus Cristo divino, ultimamente, surgiram controvérsias a respeito do Nazareno. Ele teria casado com Maria Madalena, elevada ao posto de discípulo preferido. A reação é de nojo, por comparar pó cristo a um homem comum, com desejo, sexo.

Outro fator foi à composição do tipo de pessoa que viveu no tempo de Jesus. Era baixo, cabelos pretos, tez escura. Um retrato simulando o tipo de homem da época, dado como uma possível imagem de Jesus Nazareno, causou revolta principalmente entre os espíritas, que se baseiam na suposta descrição do senador Publio Lêntulus, uma das encarnações nobres do Espírito Emmanuel, onde o Nazareno é retratado belo, olhos profundos, com imagem semelhante à dos pintores europeus, esbelto e portentoso.

MEU TESTEMUNHO PESSOAL

Felicito-me por desprezar tudo isso.

É, porém, uma visão minha, particular. Por isso não quero compará-la nem criticar os que aceitam, acreditam e estão formalmente ligados a essas imagens. Afinal, cada um tem a liberdade de crer, aceitar o que melhor lhe aprouver.

Mas, não me importa se ele foi casado (e por que não?) se foi baixo e moreno (talvez seja a verdadeira imagem dele). Nada disso tem importância na medida em que essa barreira entre o divino e o profano deixou de existir marcantemente na minha visão.

Amo Jesus de Nazaré humano. Admiro-o e certamente sua presença em minha vida tem sido básica, porque vejo nele a semente da verdadeira paz entre as pessoas, não apenas pela sua doutrina, já existente nas tradições do mundo oriental, mas pela força que imprimiu ao seu recado de vida e ascensão. Por detrás da roupagem divina, impõe-se a figura humana, radiosa do Homem de Nazaré.

Não costumo orar misticamente. Mas, por vezes, tento captar como um ser desse nível orava. Como uma alma desse calibre vibra, como seu pensamento e seu amor se espraiam na direção de Deus.

Tento vê-lo normal. Lembro-o no episódio da mulher adultera, escancarando a hipocrisia de todos nós nos julgamento do próximo. Penso nas suas palavras "vim ao mundo para dar testemunho da verdade", porque a verdade moral dele é diretriz segura para a vida e para a harmonia interior. Ou quando afirma sobre os discípulos, "não quero que os tire do mundo, mas que os livre do mal", estabelecendo a realidade do homem que andava com as pessoas chamadas de má vida, que bebia e comia nos banquetes e sabia dizer a palavra exata no momento certo. Quando, respondendo à mãe de João e Tiago, que queria que seus filhos fossem promovidos, "aquele que quiser ser o maior, seja o servidor de todos".

Como disse Kardec, no Evangelho Segundo o Espiritismo, o que importa é o ensino moral de Jesus.

Não se trata de salvar, de ser o único caminho místico para Deus, mas um caminho de elevação difícil, mas produtiva, único, é verdade, capaz de tornar cada um de nós feliz, amar a si mesmo e ao próximo.