Julho de 2004

Um Curso para entender a Mediunidade - Capa

Para que as pessoas que possuam essa faculdade em níveis ostensivos ou apenas intuitivo Allan Kardec estabeleceu um roteiro insubstituível para que possam exerce-la com critério, sem perigos ou desvios.

Para isso o ICKS vai promover a partir de 9 de agosto próximo um CURSO SOBRE A MEDIUNIDADE. Serão 10 aulas semanais de 2 horas de duração cada uma, sempre às segundas-feiras, a partir das 20 horas. O Curso terá parte teórica e experimental.

Na parte teórica serão examinados os fundamentos da mediunidade e sua aplicação. Na parte experimental, os alunos farão exercícios progressivos para testar a potencialidade fenomênica, em ambiente seguro e sem possibilidade de criar qualquer desvio ou mal-estar.

FACULDADE NATURAL

Faculdade natural, a mediunidade precisa ser estudada para poder operar com produtividade e fins superiores.

Se é verdade que ela existe ao longo da história do ser humano, na sua trajetória de construção das sociedades, teve um novo curso a partir de maio de 1855.

Foi nesse mês e ano que o prof. Rivail participou da histórica reunião na casa da sra. Plainemaison. Desde aí a Mediunidade tomou um rumo diferente, submetida a pesquisas científicas, a estudos e análises.

Tópicos kardecistas

Vale apena registrar tópicos das impressões que o prof. Rivail teve ao ter contato com os fenômenos da mediunidade, naquela célebre reunião e depois dela.

Antevi, debaixo da aparente futilidade e da espécie de diversão que faziam com aqueles fenômenos, algo sério e como que a revelação de uma nova lei que prometi a mim mesmo investigar a fundo.

Vislumbrei naqueles fenômenos a chave do problema do passado e do futuro da Humanidade, tão confuso e tão controvertido, a solução daquilo que eu havia buscado toda a vida. Era, em suma, uma revolução total nas idéias e nas crenças existentes.

Só o fato da comunicação com os Espíritos, dissessem lá o que dissessem, provava a existência do mundo invisível ambiente. Já era um ponto capital, um imenso campo aberto às nossas pesquisas, a chave de grande número de fenômenos inexplicados.

Agi com os Espíritos como teria feito com os homens foram para mim, desde o menorzinho até o maior deles, veículos de informações e não reveladores predestinados.

INSCRIÇÕES ABERTAS

As pessoas interessadas, devem fazer suas inscrições para o Curso sobre Mediunidade, diretamente no ICKS, Av. Francisco Glicério, 261, Santos, onde o Curso será realizado ou pelo telefone 3284 2918. Taxa de inscrição R$ 15,00.

A Corrupção na Pátria do Evangelho - Editorial

Quando o Espírito de Humberto de Campos lançou o famoso slogan Brasil Coração do Mundo Pátria do Evangelho, refletia, em parte, o conhecimento euforismo verde-amarelo brasileiro, que costuma referir-se sobre os eventos e sistemas geográficos brasileiros como sendo "o maior do mundo", mesmo que não seja exatamente correto.

Além disso, é lendário que o povo brasileiro é cortês, fraterno, acolhedor e, dizia-se sem preconceitos de raças ou discriminações.

Era, então, a década de trinta. Hoje o panorama social brasileiro é bem diferente.

A violência, a miséria campeiam e os políticos quase sempre falham na missão de desenvolver e prover o país, para que ele rompa o eterno "país do futuro".

Mas o que queremos ressaltar é a insurgência avassaladora da corrupção.

Quase que diariamente aparecem notícias sobre o envolvimento de juízes, delegados, empresários, políticos, administradores em corrupção, em verdadeiro assalto aos cofres públicos, quer dizer roubando descaradamente do povo.

Só muito recentemente é que a maior parte da população superou o estigma colonial, herdado do povo português, de que o governo produz dinheiro. Pensa-se a miúdo que "o governo tem dinheiro", o que é fato, mas arrecadado de cada cidadão, por via direta ou indireta, apear da sonegação gigantesca perpetrada por indivíduos e empresas.

Agora vai sendo percebido pela população que somos contribuintes e que o dinheiro roubado, desviado para contas bancárias no exterior retirado, lateralmente, de nossos bolsos.

Talvez pela grande maioria de sonegadores ou dos que por insuficiência de renda não pagam impostos, políticos notoriamente corruptos são eleitos e reeleitos, como se essa parte dos eleitores lhes desse carta branca para se apropriarem dos bens da Nação.

Os espíritas deveriam, no uso de suas prerrogativas políticas e de cidadania, ter em conta esses desvios de dinheiro e saber escolher e eliminar sem complacência da vida pública esses corruptos e corruptores.

O Perfil da Doutrina - Editorial

Segundo definição feita em editorial da revista Reformador, para a Federação Espírita Brasileira, o papel dos centros espíritas deverá centrar-se na caridade, em seu mais amplo aspecto, inclusive o do estudo e divulgação da doutrina.

Embora generosa, essa restrição do movimento doutrinário ao aspecto da caridade é bastante precário, uma vez que a ambição de Kardec era maior. Afinal embora a negligência generalizada, foi ele quem fundou o Espiritismo, portanto com autoridade para definir-lhe os objetivos.

Ele projetou a doutrina para influenciar positivamente o pensamento social e restringir sua ação à caridade, mesmo ampla, mas inevitavelmente confundida com assistencialismo e atitudes paternalistas é reduzir sua ação e seus objetivos.

A imprensa noticia que as igrejas pentecostais que se espalham pelo país, quando se localizam em favelas e locais de grande incidência de violência, conseguem reduzir essa violência a níveis bastante baixos, pelo trabalho de evangelização a que se dedicam.

E o Espiritismo que benefícios concretos produz na sociedade, em termos amplos? Certamente podemos listar as obras de caridade erguidas em nome da doutrina, como objeto de admiração e respeito social. Mas todos fazem caridade e até o governo se dedica a isso.

Todavia, o que Kardec queria e deveríamos querer, é que o Espiritismo influenciasse para mudar a estrutura mental da sociedade, com novos princípios sobre a natureza do ser humano e seu destino.

Isso o Espiritismo poderá fazer. Se não faz mais é porque tem se envolvido com a evangelização, com culpa, castigo e idéias imprecisas sobre a Lei Natural, ficando no limbo das indefinições, confundido com tantas correntes espiritualistas e semelhantes.

Isso se vê à leviandade de dirigentes, médiuns e fundadores e donos de centros que pouco se importam com o que Kardec estabeleceu e faz um "espiritismo a sua moda", frustrando o projeto kardecista e reduzindo a doutrina a um apêndice místico a mais.

O Espiritismo só poderá beneficiar as idéias humanas, conforme definir claramente seu perfil de filosofia de vida, reestruturando as bases da sociedade judaica-cristã e materialista em que vivemos.

CFN, Aquisição de Livros, Endereço - Cartas Abertas

CFN

Caros amigos, na edição do Abertura de abril, de 2004, no artigo de Jaci Regis, "Os princípios do espiritismo estão firmes", na conclusão há uma referência a um comunicado do CFN da FEB. Gostaria de saber em que mês saiu esta notícia. Aguardo resposta, muita paz –Lair Faria, por e-mail.

Caro Lair, a declaração do Conselho Federativo Nacional da FEB, sobre o aspecto religioso do Espiritismo foi publicada na revista Reformador há muito tempo atrás. No momento não temos em mãos o texto que Reinaldo de Lucia leu, mas a decisão do CFN marcou uma posição que até hoje continua sendo aceita e levada a efeito pelos espíritas brasileiros em geral.

AQUISIÇÃO DE LIVROS

Por favor indique-me a forma prática de aquisição de livros de Jaci Regis e de outras publicações – principalmente aos cursos realizados. Obrigado, um abraço a todos – Maria Pia Brito de Macedo –São Paulo – por e-mail.

Prezada Maria Pia, a aquisição de livros e apostilas eventualmente editadas pelo ICKS pode ser feita diretamente por e-mail ickardecista@ig.com.br ou telefone (13) 3284 2918. Após feito seu pedido, enviaremos um boleto bancário, que poderá ser pago em qualquer banco, de sua preferência. Logo que o pagamento seja confirmado será enviada a encomenda.

ENDEREÇO

Pertencendo ao movimento espírita de Cubatão, gostaria de saber o e-mail de Maria Vitória Antunes, que escreve nesse jornal. Antonio da Silva, por e-mail.

Prezado Antonio,

Maria Vitória mudou-se de Cubatão e suspendeu, temporariamente, sua participação no jornal. Todavia, ela prometeu retomar, em breve, sua colaboração com nosso mensário. Logo que tenhamos em mãos seu novo endereço postal e eletrônico poderemos entregar a ela seu pedido de comunicação.

O Peso do Barco - Jaci Régis

Dizem que o Buda, questionado sobre a questão da religião, como era seu costume, fez um comentário judicioso. Disse ele que a religião seria como um homem que tendo de atravessar um rio, construiu um barco para atravessá-lo. Chegando à outra margem, ao invés de deixar ali o barco, colocou-o sobre as costas e saiu com ele. Buda comentou então que a religião era um meio de transição, como o barco, mas que levá-la nas costas era sobrecarregar a vida, aprisionando a pessoa.

Quando percebi, na minha vida, que era preciso desvencilhar-se do peso do barco religioso, deixei-a para trás e segui meu caminho.

Armei uma tempestade sobre mim mesmo. Passei a ser alvo de atitudes antifraternas, mas completamente justificáveis na mentalidade religiosa, que ao longo da história armou guerras, perseguições, acendeu fogueiras contra os que, porventura, ousaram contrariar o que era certo e definitivo.

Ousei contrariar Espíritos como Emmanuel, filósofos como Herculano Pires, médiuns como Francisco Cândido Xavier, autoridades como a Federação Espírita Brasileira. Certamente estava obsediado por Espíritos das Trevas, como é comum analisar nesses casos.

Nunca me isolei, mas fui isolado. Jamais questionei o direito de quem quer que seja seguir seu caminho, com ou sem o barco às costas. Mas questionaram o meu direito de fazê-lo. Foi decretado que quem não mantivesse o barco às costas deveria sair ou expulso do movimento.

Kardec afirmou que o Espiritismo era totalmente avesso ao misticismo e disse que o fato dos espíritas orarem, acreditarem em Deus apenas significava que não eram ateus. Nada mais.

Passados quase 20 anos do entrevero, estou feliz por ter deixado o barco para trás. Nesse intervalo de tempo, as igrejas pentecostais, evangélicas, tiveram um grande salto, tomando o lugar de representantes do Senhor Jesus, de seu poder, de sua capacidade de resolver todos os problemas das criaturas, como saúde, amor, finanças, prosperidade na Terra.

Nem mesmo a existência de Espíritos, chamados de "encostos" que obsidiam as pessoas, deixou a igreja pentecostal de tratar, como também se propõe a curar todas as doenças.

Contaminados pela visão salvacionista do evangelho alguns gostariam que o Espiritismo no seu aspecto de barco às costas, ou melhor, de religião, também crescesse numericamente da mesma forma e chegam a invejar o descortínio de marketing e finanças dessas igrejas.

Entretanto, enquanto tiver um liame mesmo que frágil com o pensamento de Kardec, o Espiritismo jamais se prestará a esse trabalho. Seguirá minoritário, admirado pelo trabalho e seriedade da maioria das instituições, da existência de médiuns como Xavier e sua capacidade de consolar.

Ás vezes lamento que o rio que separa o meu horizonte do horizonte da maioria tenha afastado pessoas que admiro e que tive oportunidade de privar e conhecer. Mas, devido ao fato inexorável que o peso do barco religioso nas costas, estabelece condições psicológicas próprias, vejo amigos e companheiros de outrora me olharem como um apóstata, logo no Espiritismo que veio com a missão de libertar o Espírito das amarras da superstição, da crença cega e criou o lema de Trabalho Solidariedade e Tolerância.

O que fazer?

Trabalho no sentido de incentivar a espiritualidade nas pessoas e na sociedade, cuja definição nada tem a ver com sistemas religiosos, igrejas e semelhantes.

Penso na espiritualidade como a transcendência da pessoa acima da materialidade natural da existência, sem desconhecer que essa materialidade é parceira do Espírito no seu evoluir. A espiritualidade é a descoberta de sensações, emoções e visão desapegada, eticamente definida como resposta satisfatória aos anseios do coração. Espiritualidade que pode ser encontrada em materialistas, religiosos, agnósticos e que pode inexistir em religiosos, crentes e filiados a grupos de idéias mais ou menos fantasiosa, mas tidas como verdades que salvam e pretendem ter o controle da divindade.

Sem o barco às costas, consigo ver sem as viseiras da crença, embora seja não apenas fiel, mas convicto do pensamento kardecista. Por isso tenho aprendido a viver com as diferenças, respeitando opiniões e sentimentos. Creio que enquanto a maioria manter seus barcos será difícil estabelecer uma convivência saudável dentro das contradições, que nos diferenciam.

Essa liberdade me permite abandonar as afirmativas da culpa e do débito diante de Deus e sentir o fluxo positivo da vida a oferecer oportunidade de crescimento, sem pressa, sem salvação, mas abrindo sempre novas e importantes perspectivas para o ser humano.

Um exemplo desse modo de estar na vida é esse. Numa cerimônia falou-se do crescimento da instituição festejada. Um dos oradores, a quem sempre admirei, falou das fases de amadurecimento que ela venceu. Depois ele veio conversar e disse: "Igual ao que o Cristo disse a (o anjo) Ismael, quando este foi conversar, na qualidade de Governador Espiritual do país, com o Cristo que teria transplantado para o Brasil a árvore do evangelho, sobre as aspirações do povo brasileiro de libertar-se de Portugal e depois de tornar-se República. O Cristo teria dito: assim como as pessoas, as nações crescem, desenvolvem-se e amadurecem" Talvez não sejam essas as exatas palavras, mas o sentido é o mesmo.

Vendo-o falar com tanta certeza e sinceridade sobre a existência e um anjo como Governador Espiritual da Terra, e essa conversa com o Cristo, que seria talvez o Líder do Sistema Solar, pensei como cada um de nós cultiva suas crenças e acredita em informações, mesmo que não sejam muito coerentes com a História. Guardadas as proporções, seria o mesmo que acreditar que Santo Expedito é o santo das causas impossíveis e que Nossa Senhora de Fátima apareceu com uma mensagem misteriosa.

E eu que não acredito em nada daquilo, embora jamais negue a Providência Divina que se materializa na condução nem sempre compreendida dos fatores da evolução pessoal e coletiva, admirei-me com aquela posição de um homem que pensa, que tem uma biografia e um acervo de contribuições ao movimento espírita.

Enfim, ao longo do caminho, muitos se desfazem do barco, libertando o Espírito.

Entretanto aqueles que, diante do cansaço com a condução de seu barco, desejam sair, libertar-se do peso, enfrentam o vazio da transição. Porque essa mudança produz um tempo de indagações íntimas, uma falta de parceiros, de velhos companheiros e antigas idéias. Há mesmo uma sensação de que abandonar uma religião, não cultuar um deus, é ficar sem proteção, sem auxílio, entregue a si memo.

E não é isso, afinal, que acontece? Sem deixar de lado, ao contrário, enfatizando a solidariedade entre mortos e vivos, sem sequer duvidar da existência da divindade, cada um deve construir solitariamente seu destino, agora e sempre.

Quando a espiritualidade substitui a crença, verificamos que a vida segue relativamente segura e com retorno de satisfação interna, conforme a alma absorve a certeza do equilíbrio inabalável da criação divina e prossegue buscando, sem aflição, a solução possível para os momentos da existência, bons ou maus.

Sábia Decisão - Eugênio Lara

A liminar concedida pelo ministro Marco Aurélio de Mello, do Supremo Tribunal Federal (STF), autorizando o aborto em casos de fetos anencefálicos (sem cérebro) se constitui num grande avanço ético, jurídico e cultural.

Não há ética que sustente a manutenção de uma vida que não existe e não há, segundo a Medicina, possibilidade alguma de vingar. A Ciência Médica hoje dispõe de recursos que permitem a elaboração de laudos com 100% de acerto.

Do ponto de vista jurídico, o Código Penal, de 1940, inclui o aborto como um crime contra a vida, mas somente em caso de estupro ou de risco de morte para a gestante. Mais de meio século depois, com o avanço da Ciência, é possível se averiguar as condições do feto, possibilidade técnica que não existia naquela época.

E há, sem dúvida, um avanço cultural, pois o Estado, com essa decisão, se insere na modernidade e mostra-se antenado com os avanços tecnológicos e comportamentais.

A reação foi imediata, principalmente da Igreja. O vice-presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, dom Pedro Scherer, foi radicalmente contra alegando um desrespeito grave à dignidade humana e a incompetência humana em questões que, segundo a Igreja que ele representa, seriam somente da alçada de Deus.

Os 11 ministros do STF ainda irão decidir se derrubam ou mantêm a liminar. O tema vem causando muita discussão entre religiosos e filósofos no campo da jurisprudência e da bioética.

Se a sábia decisão for mantida o avanço se dará também em um outro nível: psíquico, espiritual. Uma decisão contrária a essa liminar não teria sustentação alguma na filosofia kardecista.

O Espiritismo aceita o aborto somente quando a vida da mãe corre perigo. Em caso de estupro é ainda polêmico, principalmente entre os espíritas de mentalidade religiosa. No caso de anencefalia, há quem seja contrário ao aborto por considerar que a situação possua um sentido "cármico", reparador e necessário ao reajuste moral da gestante.

Ora, trata-se de uma idéia absurda e contrária aos princípios de uma filosofia espiritualista que se fundamenta na liberdade, no respeito à vida e à dignidade humana. Crianças que nascem sem um princípio inteligente vinculado ao corpo podem ser qualquer coisa, menos um ser humano. É o caso dos natimortos. A prova para os pais se constitui nas circunstâncias em que eles têm de enfrentar, já que a perda de um filho, ainda que não tenha se desenvolvido fisicamente, é uma das maiores dores que existem nesse mundo. Por que então suportar uma gestação de um ser que já está morto, do ponto de vista social, cultural e espiritual?

O masoquismo cristão é estranho à filosofia espírita. É nessas horas que vemos que o Espiritismo é profundamente laico e não deve se imiscuir em questões de natureza bizantina, dogmática ou religiosa. Ele marcha lado a lado com a Ciência e concorda com ela nos fatos que ao menos, podem ser comprovados sem margem de dúvida, como é o caso em questão.

Em nossa modesta opinião, o aborto deveria ser liberado, não somente nesse caso, mas também em outros onde a má-formação genética for comprovada sem sombra de dúvida. Não por uma questão de eugenia, de melhoria da raça, mas em consideração à principal protagonista de todo esse processo que é a mãe. A decisão tem de ser dela e, acima de tudo, quando for tomada, deverá ter todo o nosso respeito, mesmo que não concordemos.

A legislação deve contemplar o livre-arbítrio, a autodeterminação das pessoas, o controle e a gestão de nossa mente, de nosso próprio corpo. Não é preciso ser jurisprudente para saber que a Vida é muito mais rica, mais interessante e criativa do que o Direito ou qualquer ideologia ou teologia "cármica" ou "cristólatra".

A Máquina Humana - Jaci Régis

Após séculos sem ter um acesso mais profundo nos mistérios da criação do corpo humano, a partir da metade do século vinte a Ciência deu importantes passos, através da Genética, começando pela descoberta do DNA. Seguiram-se a seqüência do genoma humano com surpresas como a constatação de que o genoma de um rato e um ser humano são muito semelhantes.

Incursionando no DNA os genetecistas vão descobrindo a função dos gens, inclusive na predição de doenças futuras.

Partindo do princípio de que o ser humano é um organismo inteligente, a ciência debruça-se em descobrir os fatores que influenciam no seu desenvolvimento e apesar das dificuldades de acesso ao cosmo cerebral, muito já se avançou.

Entretanto, tanto num como no outro caso, as evidências não são nem concludentes, nem abrangentes. Mas os cientistas costumam avançar em hipóteses genéricas e mesmo pouco convincentes para estabelecer o que se supõe ser o código da vida, excluindo, naturalmente qualquer fundo espiritual na determinação das vias genéticas.

A máquina

Tratado como uma máquina, o corpo e por conseqüência a pessoa, é analisado e testado estabelecendo padrões de análise da estrutura psicológica como produto de combinações aleatórias.

Dessa forma estabelece-se que certos vícios, como o do alcoolismo e até mesmo das drogas mais pesadas, são doenças hereditárias, transmitidas pelos códigos genéticos. Assim vai sendo construído um princípio de que o indivíduo não é responsável porque a herança lhe é imposta pelo azar, decorrente de distorções criadas, não se sabe como, pelos antecessores biológicos.

Nesse sentido, a ciência caminha para emparelhar-se com as afirmações da astrologia que diz que somos determinados em nosso caráter pelo fato de, com sorte ou azar, naquele momento crucial do nascimento, Saturno, Netuno, Marte ou que astro seja, esteja ali para estabelecer o que seremos, como passaremos por esse mundo.

A galinha e os ovos

Sempre foi uma incógnita saber quem nasceu primeiro a galinha ou ovos. Se for a galinha, como ela foi criada sem que houvesse antes um ovo. Se foi o ovo, quem o pôs?

Assim também essa questão dos defeitos da máquina humana.

Pode-se afirmar que a descendência biológica está plenamente estabelecida pelo DNA. Entretanto, não há uma fatalidade nesse campo. Talvez em alguns poucos casos em que a hereditariedade passa a desenvolver quase que espontaneamente um tipo de doença que ataca se não todos, mas uma boa parte da família. Esses casos, são bastante raros. Na maioria das vezes, o fato do DNA conter genes que possam produzir doenças, depende de condições psicológicas e externas para se desenvolverem esses males.

No caso do caráter da pessoa, a coisa se complica, mesmo quando se estudam casos de gêmeos univitelinos que, todavia, guardam condições particulares próprias.

Sem desprezar a influência da herança genética, nem menosprezar a importância dos fatores ambientais, a doutrina espírita afirma que os filhos não herdam o caráter dos pais.

Isso porque são Espíritos independentes.

Mas, argumentam certos pesquisadores, há abundantes evidências de filhos de músicos, de prêmios Nobel que seguem o caminho dos pais, como se estes transmitissem seu saber através do DNA. Se existem casos desse tipo, há os que são diametralmente diferentes. Há pais razoavelmente equilibrados que produzem psicopatas e perversos, por exemplo. A casais de cientistas que produzem músicos, para citar a diversidade de rumos.

O Espiritismo não diz que o corpo não seja importante ou mero absorvente das realidades psico-mentais do Espírito. Há entre a alma e o corpo uma sinergia completa de interação quase absoluta.

O que o Espiritismo diz é que quem determina o caráter e, grande parte, as doenças físicas é o Espirito.

O que existe, além do DNA é a semelhança ou a contradição de estados evolutivos, desejos e estrutura mental do Espíritos dos pais e o Espírito dos filhos. A atração que o Livro dos Espíritos explica na relação afetiva entre os membros da família está baseada na realidade psicológica de cada um, em princípio e, durante a existência, e fatores de influenciação comportamental e fatores eventuais que exercem a pressão sobre cada um dos seres humanos, na escolha de caminhos e na construção de atitudes mentais positivas ou negativas.

Assim como rejeita o determinismo biológico, o Espiritismo também o faz quanto a um determinismo moral .

O Espírito traz uma carga psicológica que é sua realidade existencial, criada ao longo das existências físicas e nos estágios entre elas a exprimir-se na construção de sua personalidade na encarnação presente.

Todavia ele jamais deixa de exercer seu livre arbítrio, seja por determinação ou omissão.

Em outras palavras, sejam quais forem as pressões internas ou externas, as heranças biológicas ou de influenciação ambiental, o indivíduo sempre escolhe e é responsável pela escolha, mesmo que em certos casos possa ser suavizada pelos fluxos de situações críticas em que não seja fácil escolher.

Maktub, carma, imposição genética ou influência

dos astros

As palavras acima expressam uma corrente de matizes bem diferentes que pretendem explicar o destino, o caráter, a personalidade das pessoas. Todas se unem nos fatores aleatórios, fora do indivíduo que lhe traça um caminho que tem que seguir, mesmo quando dão uma certa possibilidade de reagir contra esse desiderato externo. Todavia, na essência afirmam que o caminho do ser humano é traçado por forças que ele não domina.

Os espíritas mais ligados à moralidade, também entram nesse rol, porque embora enfatizando o livre arbítrio, sob certa forma dizem que o Espírito renuncia a ele, pelo peso dos erros do passado que determinam sua vida presente, num ciclo sem fim, numa sucessão de elos infinitos de culpa, castigo, culpa outra vez e castigo outra vez.

Embora seja muito difícil encontrar definições fáceis e seqüências definidas para a vida do ser humano, se é verdade que ele, segundo a doutrina, constrói seu destino diariamente, somente uma clara idéia do livre arbítrio pode esclarecer comportamentos e angústias.

A Ciência caminha e tropeça porque não encontra o fio da meada. Só encontrará quando admitir primeiro a hipótese e depois a certeza de que o Espírito existe antes e fora do corpo e que se une a ele na aventura da vida corpórea porque anseia ser feliz.

Afinal é para isso que o cientista tem melhorado sensivelmente a vida terrena

Abrindo a Mente : Qual a origem do Passe no Espiritismo ? Como é possível, a alguns Médiuns, ver os Espíritos ? Como são mantidas as Construções no Plano Espiritual ? - Alexandre Cardia Machado

1- Qual a orígem do passe no Espiritismo?

O Passe, como conhecemos vem sendo empregado desde a antiguidade. De uma forma mais descritiva à partir de Mesmer e Gasnner passam a ter explicações racionais para o fenômeno. O Marquês de Puységur passa a estudar o fenômeno e criar grupos de magnetização na França no século XIX. Sabemos que o Prof. Rivail era um conhecedor do Magnetismo, logo a sua adoção pelo Espiritismo seja apenas uma decorrência natural da ampliação do conhecimento das energias envolvidas no processo. Kardec tratou bastante do Magnetismo e da Prece mas muito pouco do passe, é possível encontrar 4 artigos sobre o tema na revista Espírita nos anos de 1864 e 1865. No Brasil o espiritismo desenvolveu-se em paralelo com as práticas magnéticas, a homeopatia e o Esperanto. No movimento espírita brasileiro com influencia muito forte Cristã tendeu a adotar esta prática tão empregado por Jesus de Nazaré, a prática do passe torna-se uma característica Espírita. A FEB através de Edgard Armond sistematiza a sua prática.

Para abrir mais a sua mente leia: Os Fundamentos do Espiritismo – Jon Aizpúrua Editora C.E. José Barroso, São Paulo 2000.

2- Como é possível a alguns médiuns ver os Espíritos? (Beatriz Régis Machado, Santos- SP)

Allan Kardec chamou este tipo de mediunidade de "videncia" esta faculdade consiste na possibilidade, senão permanente, pelo menos frequente, de ver os Espíritos que se aproximam, mesmo que estranhos. Na verdade o Méidum vê com os "olhos" da alma e não com o aparelho de visão físico.

Para abrir mais a sua mente leia: Leia O Livro dos Médiuns – Allan Kardec – diversas editoras.

3- Como são mantidas as construções no plano Espiritual?

Para responder a esta pergunta, só podemos nos basear em relatos de Espíritos, um dos mais famosos é o de André Luiz no livro Nosso Lar psicografado por Chico Xavier – O Espírito chamado Lísias explica a André Luiz que pela força da mente (pensamento) o espírto modela o espaço no plano espiritual, no caso de Nosso Lar, a colônia iniciou a sua formação no século XVI e desde então vem se mantendo e melhorando.

Para abrir mais a sua mente leia: Nosso Lar pelo Espírito André Luiz. Ed. FEB.

Anencefalia - Feto sem Cérebro - Da Redação

Em liminar, o Supremo Tribunal Federal, autorizou o aborto em casos de anencefalia. Como se sabe, o feto anencefálico não desenvolveu o cérebro e, portanto, mesmo chegando ao término da gravidez nasce morto ou vive poucos minutos ou horas. A medida proporciona às mães a possibilidade de abortar quando ficar provado que o feto não possui cérebro.

A Igreja Católica se pronunciou contra, a partir da idéia de que a vida começa no embrião. Para o Espiritismo, a vida que começa no embrião, certamente importante, é apenas orgânica. Porque a vida do Espírito é o que determina o seguimento da existência.

Quando da publicação da liminar foram feitas entrevistas com várias pessoas, de vários credos e posições. A maioria aprovou a idéia. Um dos entrevistados se disse espírita e, embora se posicionasse contra o aborto, declarou que, nesses casos, ele era favorável. Acrescentou, porém, que talvez o aborto pudesse causar cargas "cármicas" na mãe, futuramente.

A palavra "carma" tem um sentido de fatalidade que não se coaduna com o entendimento espírita, baseado no livre arbítrio e, portanto, é inadequada para posições conceituais do Espiritismo.

Sobre o tema encontramos estas indicações no O Livro dos Espíritos;

353 –A união do Espírito com o corpo não estando completa e definitivamente consumada, senão depois do nascimento, pode considerar-se o feto como tendo uma alma?

-O Espírito que deve animar existe, de qualquer maneira, fora dele. Propriamente falando, ele não tem uma alma, pois a encarnação está apenas em vias de se realizar, mas está ligado a alma que deve possuir.

354 – Como se explica a vida intra-uterina?

-É a planta que vegeta. A criança vive a vida animal. O homem possui em si a vida animal e a vida vegetal que completa, ao nascer, com a vida espiritual.

355 – Há, como o indica a Ciência, crianças que desde o ventre da mãe não têm possibilidades de viver? E como que fim acontece isso?

-Isto acontece frequentemente e Deus o permite como prova seja para os pais, seja para o Espírito destinado a encarnar.

356 – Há crianças natimortas que não foram destinadas à encarnação de um Espírito?

-Sim, há as que jamais tiveram um Espírito destinado aos seus corpos; nada devia cumprir-se nelas. É somente pelos pais que essa criança nasce.

356a –Um ser dessa natureza pode chegar ao tempo normal de nascimento?

-Sim, algumas vezes, mas então não vive.

A Face cruel do Fanatismo Religioso - Da Redação

A revista Veja, na sua edição de 23 de junho, publica resposta a 100 questões sobre os temas mais importantes da atualidade. Na página 104, traz uma foto de uma mãe flagelando o próprio filho durante uma celebração religiosa. O rosto do menino está ensangüentado, como está cheia de sangue uma toalha que a mãe colocou. Ela usa uma espécie de facão para bater na criança. Sobre o tema, na edição de 30 de junho da mesma revista, a escritora Lya Luft comenta a foto. Transcrevemos um parágrafo de sua crônica, publicada na página 20 daquela edição. "Contemplo na revista a foto de um menino bem pequeno no colo de sua mãe, que o flagela até tirar sangue (muito sangue) por fanatismo religioso. O menino olha o fotógrafo – e, portanto, é como se me olhasse, eu do outro lado do mundo sem saber o que dizer. Me vem à mente imediatamente a questão de Deus, dos deuses. Questão inesgotável, por encerrar o sentido desta nossa aflita existência. Da qual a gente não sabe quase nada –o que pode ser bom".

Na compreensão da doutrina espírita esses fatos são demonstração de fanatismo e nada contribuem para a felicidade e para o bem.

No O Livro dos Espíritos, no capítulo V da Terceira Parte – da Lei de Conservação, temos alguns tópicos que ilustram o pensamento kardecista.

725. Que se deve pensar das mutilações operadas o corpo do homem ou dos animais?

-A que propósito, semelhante questão? Ainda uma vez: inquiri sempre vós mesmos se é útil aquilo que porventura se trate. A Deus não pode agradar o que seja inútil e o que for nocivo lhe será sempre desagradável. Porque, ficai sabendo, Deus só é sensível aos sentimentos que elevam para ele a alma. Obedecendo-lhe a lei e não a violando é que podereis forrar-vos ao jugo da vossa matéria terrestre.

Na questão 726: " Supões que se adiantam no caminho do progresso os que abreviam a vida, mediante rigores sobre-humanos, como o fazem os bonzos, os faquires e alguns fanáticos de muitas seitas? Por que de preferência não trabalham pelo bem dos semelhantes?

Na questão 727, confirma: Fustigai o vosso espírito e não o vosso corpo, mortificai o vosso orgulho, sufocai o vosso egoísmo que se assemelha a uma serpente a vos roer o coração e fareis muito mais pelo vosso adiantamento do que infligindo-vos rigores que já não deste século.

Entrevista com Dora Incontri : "Negar o Tríplice aspecto do Espiritismo é Problemático" - Da Redação

Nesta entrevista, concedida a Alexandre Cárdia Machado, durante o 1º Congresso Brasileiro de Pedagogia Espírita, do qual foi a coordenadora e principal figura, a educadora Dora Incontri, afirma as possibilidades de existir uma pedagogia inspirada no Espiritismo e analisa alguns aspectos do movimento espírita brasileira. Autora de vários livros e promotora de estudos pedagógicos no âmbito do Espiritismo, ela é também uma crítica do movimento espírita brasileiro. Recentemente escreveu importante trabalho, publicado no Abertura, demonstrando cabalmente que a tentativa de dizer que Chico Xavier seria a reencarnação de Allan Kardec é infundada. Dora Incontri acredita que seria bastante problemático afirmar que o Espiritismo não é religioso, mas condena o igrejismo que domina o movimento e critica o endeusamento dos médiuns que se tornaram estrelas no Brasil.

ABERTURA - O que diferencia uma escola que adote uma pedagogia Espírita de uma escola moderna humanista e construtivista?

DORA - A característica principal é considerar a dimensão espiritual do ser humano. Existe um capítulo do meu livro "Despertar da nova era" onde eu faço a comparação do construtivismo materialista de Piaget por exemplo com o construtivismo Espírita que alias é uma idéia muita antiga que vem de Sócrates onde o próprio sujeito constrói o seu conhecimento. A partir de uma educação ativa e da auto educação. Nós temos esta idéia junto com a compreensão de que quem está passando por esta experiência é um espírito.

ABERTURA - Após o grande sucesso deste Congresso, quais seriam os próximos passos. Um próximo Congresso poderia ser muito mais voltado às experiências práticas?

DORA - Eu espero que sim, pois a grande campanha lançada neste Congresso é a formação de Associações dos Educadores Espíritas no Brasil inteiro. Nós esperamos que estes grupos se formem, estudem, divulguem e pratiquem a pedagogia espírita e aí sim, num próximo congresso, poderemos trocar estas experiências e práticas.

ABERTURA - Qual a sua visão do movimento espírita e quais as perspectivas para o século 21?

DORA - A minha visão seria pessimista se eu não tivesse visto estas 1000 pessoas neste Congresso. Porque eu sou uma das grandes críticas do Movimento Espírita. Não concordo com o que se fez ao Movimento Espírita no Brasil: reduziu-se ao seu aspecto religioso e de uma maneira entendida de forma empobrecida. Eu creio que o caminho do resgate do Espiritismo é através da educação ou nós entendemos o Espiritismo como uma proposta pedagógica, e não é por outra razão que Kardec era um educador. Caso contrário o Espiritismo se transformará em uma nova seita.

Acho que a sensibilização desta platéia com esta idéia é uma esperança. A outra esperança que eu tenho, é que venham espíritos que realmente abram novos rumos, retomando a idéia inicial de Allan Kardec, que é fazer do Espiritismo um movimento social, cultural e que deixemos estes resquícios de igrejismo que ainda há no Movimento. Espírita.

ABERTURA - O que você pensa em relação ao Espiritismo laico?

DORA - Vou te passar a minha opinião. Eu não concordo com o Espiritismo igrejista mas também não concordo com o espiritismo laico. Porque eu acho o seguinte: estudando os antecessores de Kardec, que esta é uma das coisas que fazemos neste Congresso, Comenius, Pestallozi, Rousseau, nós vemos que eles já tinham uma idéia diferente de religião. Ou seja, religião sem dogma, sem hierarquia, isto é, a religiosidade. Quando uma pessoa está fazendo uma prece, ela não está fazendo ciência ela não está fazendo filosofia, está fazendo um ato religioso e eu acho que neste sentido o Espiritismo excede a expectativa de Pestallozi e Rousseau e inaugura uma nova forma de religiosidade e que deve ser preservada de maneira universalista mas que não podemos desprezar esta dimensão, que é uma dimensão importantíssima. É o que Kardec coloca na primeira lei Natural que é a lei de Adoração.

ABERTURA - O grupo dito laico também tem religiosidade, apenas não acredita na religião como dogma, com ritos?

DORA - Então estamos de acordo. É exatamente o que eu penso. Mas a questão é que devemos analisar historicamente. O que é ser laico? Quando houve a separação da Igreja do estado, se pretendia criar o estado laico, a escola laica. Só que, a princípio, não eram anti-religiosos ou contra a idéia de Deus ou da imortalidade da alma. Só nos séculos 19 e 20 ficou assimilada a corrente do materialismo. Por exemplo, hoje em dia uma escola laica representa a idéia oficial da ciência.

ABERTURA - Se usarmos o mesmo raciocínio de análise para o termo religião, não conseguiríamos nos desvencilhar de tudo o que houve no passado?

DORA - Acontece que o termo religião é algo tão imanente que seria até antipático negá-lo.

ABERTURA - Podemos aceitar a transcendência e elevarmos nosso pensamento sem negar ligação direta com Deus e sem sermos dogmáticos.

DORA - Sim, sem dúvida alguma. E acabo de escrever uma obra, que está para ser lançado pela editora Ática, são 4 volumes para crianças de 5 a 8a séries – Todos os jeitos de crer - ensino inter-religioso. Trato nela de todas as religiões inclusive do materialismo.

Kardec sempre dizia isto, o Espiritismo é um coadjuvante das religiões. Na minha opinião, ele provava aquilo que as religiões sempre diziam, que existia que o Espírito como a essência humana. A posição do Espiritismo é resgatar a essência das religiões, não o autoritarismo, dogmatismo. Mas ele não destruiu a essência das religiões que é a idéia de Deus, da imortalidade, da ética.

Agora, falar que o Espiritismo não é religioso, negar o aspecto da religião, o tríplice aspecto é problemático porque o ser humano tem muito forte, dentro de si, o aspecto religioso. É até ante pedagógico. As pessoas resistem muito. A União Soviética, fez durante 70 anos uma doutrinação anti-religiosa e o pessoal está lá .Mas tem que transformar aos pouco, a idéia de uma religião institucional numa religião espiritualizada, livre, não dogmática, mas sem negar o aspecto religioso que é um realidade humana.

ABERTURA - Em qualquer grupo humano sempre haverão alguns que estarão posicionados mais nos extremos: Mas nossa idéia não é negar a religiosidade como essência mas sim combater o igrejismo e seus ritos, sem estudo, sem orientação.

DORA - Até aí eu não concordo em nada com o Movimento Espírita que está aí. Devemos preservar a fonte, criticando mas sem destruir a essência. Alias, neste livro que vai sair em julho, sempre tivemos uma postura empática, mas crítica, com todas as religiões, considerando que todas tiveram idéias de verdade e considerando que todas tiveram abuso de poder e idéias políticas que sempre permeou as religiões.

ABERTURA - O que você pensa da influência dos médiuns no Espiritismo do Brasil? O Abertura é muito mais um jornal dos Espíritos vivos. O movimento espírita é muito influenciado e subordinado ao plano espiritual. O que acha disto?

DORA - Uma das grandes criticas que tenho feito é sobre a idolatria mediúnica, o líder até pode ser médium não deveria criar liderança pelos médiuns, por exemplo na Revista Espirita você nem sabe o nome dos médiuns. Aqui no Brasil criou-se a idolatria ao médium , dos estrelas, aí a vaidade aparece. A liderança deve ser muito mais pela competência. Temos os médiuns que falam de tudo e dizem nada e a turma idolatra.

Acho este um problema sério. Outra conseqüência é que o restante da população que também é médium, não é valorizada como médium. A grande idéia de Kardec de popularizar a mediunidade não acaba acontecendo, não sendo para iniciados, qualquer um em sua casa poderia fazer, segundo Kardec se morresse alguém em sua família, dentro do seu próprio centro você poderia receber a mensagem e não viajar 500km para visitar um médium famoso, estrela, para receber mensagem.

Opinião em Tópicos : O Perdão do Papa, Temos o que merecemos, O poder, É tempo de Promessas - Milton R. Medran Moreira

O Perdão do Papa

No último mês de junho, João Paulo II, em mensagem pública, voltou a pedir perdão dos erros cometidos pela Igreja na Inquisição.

Quem sou eu para dar conselho ao Papa? Mas, se pudesse, pediria a ele que acabasse com esses pedidos de perdão e que liberasse, de uma vez por todas, a cristandade desse complexo de culpa que a atormenta. Os erros da Igreja não são apenas erros da Igreja. São erros de nossa civilização. São erros da humanidade. A História é uma sucessão de erros, de equívocos, de crimes que, todos juntos, devemos assumir. É exatamente assim que se dá o processo de crescimento da humanidade. E do indivíduo também. Errando e aprendendo. Caindo e levantando.

Temos o que merecemos

Ao tempo em que o Tribunal da Inquisição queimava hereges, éramos nós próprios, gênero humano, que lá estávamos, agindo em nome das verdades que tínhamos tudo para pensar fossem absolutas e eternas. E, em defesa dessa verdade, que, afinal de contas, detinha o respaldo da própria palavra de Deus, não hesitávamos em desprezar o homem. As maiores humilhações sofridas pelo homem na sua história foram praticadas pelo próprio homem e em nome de Deus.

Na realidade, cada civilização tem as leis, o governo, a religião, os costumes e a moralidade que for capaz de assimilar.Envergonharmo-nos deles depois não resolve nada. Importante, sim, é esforçarmo-nos, hoje, por remover suas veladas influências que, sorrateiramente, permanecem.

Transportando tudo isso para a atualidade, quando a atividade e os organismos políticos assumem a centralidade de nossa vida, podemos também dizer: cada sociedade tem os políticos que merece.

O poder

Por tudo isso é que é que cada vez tenho mais compaixão de quem está no poder. Mesmo que ele seja um sujeito bacana, bem intencionado, situado à frente de seu tempo e de seus costumes, capaz de, pessoalmente, pôr-se acima dos erros contumazes de sua época, ele sempre será refém das circunstâncias que o rodeiam.

Imagino que todo o governante honesto saia do poder frustrado. O exercício do poder é uma dura prova para o homem.

Por isso, as grandes mudanças que transformam uma nação ou a humanidade como um todo, nunca partem do núcleo do poder. Por melhor que este seja. Partem sempre da periferia. Daí os hereges, cujas verdades foram sufocadas pela Igreja e cujo acerto só o tempo pôde confirmar. Daí também as revoluções que precisaram derrubar reis ou ditaduras para implantar uma nova ordem social. Esta também logo se contaminará, na medida em que se estruturar como poder.

É tempo de promessas

Tudo seria diferente, é claro, se fôssemos governados por deuses, como chegamos a pensar que éramos em outros tempos. Mas somos homens, imperfeitos, que, imperfeitamente, tratamos de nos organizar como sociedade. Não há outro jeito que não seja esse.

É uma pena que a maioria das pessoas bem intencionadas que postulam o poder não pensem em todas essas limitações e condicionamentos. E por isso, prometem. Prometem o que nunca poderão dar enquanto governo. Prometem concretizar sonhos que são justos e que todos sonhamos, mas que pedem tempo para se realizar.

Acho que isso também nós estamos começando a aprender. É bom que seja assim. Pois vem aí um novo período eleitoral.

1º Congresso de Pedagogia Espírita reúne Espíritas de todo o Brasil - Da Redação

Mais de 1000 pessoas de todo o Brasil participaram do 1º Congresso Brasileiro de Pedagogia Espírita, realizado de 10 a 12 de junho nas dependências da Universidade Santa Cecília,Unisanta, em Santos.

A realização do Congresso foi idealizada pelos alunos de um curso de Pedagogia Espírita ,ministrado por Dora Incontri, na Unisanta.

Como conseqüência imediata do Congresso, foi a criação da Associação de Educadores Espiritas com abrangência nacional.

A estrutura do evento constou de palestras, oficinas e atividades pedagógicas.

A coordenação geral esteve a cargo de Dora Incontri. Entre os palestrantes destacamos o prof. Nei Lobo, a prof. Heloisa Pires e o médico Luiz Felipe, que na sua interessante palestra divulgou a Universidade do Espírito, cuja sede que está sendo construída em Guarulhos mas que ja funciona. Os que tiverem interesse podem acessar o site da Universidade do Espírito, www.uniespírito.com.br.

As bases da Pedagogia Espírita

Segundo conclusões do Congresso, as bases da pedagogia espírita viriam dos seguintes pontos básicos:

1)Somos seres interexistênciais, isto é, temos uma dimensão espiritual; 2) a criança é um ser reencarnado; 3) vida é um aprendizado permanente, rumo à perfeição; 4)o objetivo da existência é o desabrochar dos germes divinos da alma; 5) o processo da Educação é sempre um processo de autoeducação; 6) a função do educador é despertar o impulso de auto-educação do educando.

Essa relação pedagógica, de ajudar o progresso do outro, sem imposição, pode se dar em qualquer relação, entre dois seres humanos.

A pedagogia espírita está dentro de um projeto maior que envolve o lar, o Centro Espírita a Escola e a Universidade. Não se tratando de um movimento sectário, vem trazer novas opções de penetração das idéias básicas espíritas.

Os princípios da pedagogia espírita

A pedagogia da liberdade, em qualquer processo pedagógico, estamos lidando com um ser livre, que deve aderir voluntariamente ao convite de evolução que lhe propomos.

A pedagogia da ação, o indivíduo só aprende, agindo, experimentando, ensaiando (inclusive errando). É na ação que o ser desenvolve suas potencialidades.

A pedagogia do amor: o que deflagra todo o processo evolutivo é a lei do amor, presente em todas as criaturas. A relaçao pedagógica deve ser de amor, pois só o amor toca as fibras divinas da alma e depertar a vontade de evolução.

Impressões

A psicóloga e psicopedagoga Cláudia Regis Machado, autora do livro infanto-juvenil, Kadu e o Espírito Imortal, que foi muito vendido no Congresso, analisou o Congresso como bastante interessante. Para ela mostrou que o Espiritismo pode ser visto através de uma abordagem pedagógica.

Cláudia ponderou que o Congresso reuniu pessoas com interesses diversos, como as que estão voltadas efetivamente para o enfoque proposto, as simpatizantes da idéia e aquelas que querem apenas receber informações.

Frente a essa mescla de objetivos pessoais, acrescenta a psicóloga, fica a dúvida sobre a possibilidade do Congresso resultar em trabalhos efetivos. Aliás, o professor Ney Lobo, colocou em suas conclusões ao Congresso, uma inquietante indagação: "E dai?... Qual será o caminho?", concluiu a autora de Kadu e o Espírito Imortal.

Painéis dominarão o temário do XIX Congresso da CEPA - Da Redação

Um dos pontos mais importantes do XIX Congresso da CEPA, será a realização de painéis para debater temas relacionados com a conscientização, tema básico do Congresso.

Damos ao lado a relação desses painéis e seus participantes.

Cada painel, com duração de 90 minutos, com dois ou três palestrantes que relacionarão, educação, mediunidade, auto conhecimento, ação solidária e modelos atuais com a evolução consciente.

Além desses painéis haverá espaço para temas livres e várias oficinas sobre educação, mediunidade. No dia 12, domingo, o tempo será ocupado com jogos e desportos ao ar livre.

Bicentenário de Kardec será comemorado

No dia 9, às 20 horas será realizado um painel especial comemorativo do bicentenário do nascimento de Allan Kardec, que ocorrerá no dia 3 de outubro. Nascido a 3 de outubro de 1804, o fundador do Espiritismo, terá o segundo centenário de seu nascimento comemorado antecipadamente no Congresso.

Assembléia da CEPA

Dia 10, a partir das 15:30 horas será realizada a Assembléia Geral da CEPA que elegerá o novo Conselho Executivo, designará a sede do XX Congresso e discutirá alterações importantes nos estatutos da entidade.

A proposta é desvincular a CEPA de seu aspecto federativo, transformando-a em movimento dinâmico de amplitude mundial.