Dezembro de 2003

2003, Ano de grandes Realizações do ICKS - Capa

O balanço das realizações do ICKS – Instituto Cultural Kardecista de Santos, foi mais do que positivo.

Apesar das dificuldades inesperadas, o VIII SBPE, foi concre-tizado em Santos, com a presença de mais 100 partici-pantes que tem sido a média dos Simpó-sios nas suas realizações. As teses do VIII serão lembradas nas próximas edições com mini entre-vistas dos seus autores.

Foram também promovidos 2 cursos de Iniciação à Doutrina Kardecista, reunindo, nos dois cursos cerca de 70 pessoas. Com oito aulas semanais o Curso de Iniciação à Doutrina Kardecista é o primeiro passo para os que desejam conhecer o pensamento de Kardec.

O Seminário sobre Mediunidade também teve muito boa repercussão, tanto quanto o Curso sobre Mediunidade, que atraiu mais de 100 inscrições.

Realizamos também o FIM DE SEMANA KARDECISTA com palestra de ótimo nível.

Deve ser mencionado o Seminário sobre a Família que abordou temas de grande atualidade com um público todavia pequeno.

Outro programa realizado foi o lançamento de 2 edições do CADERNO CULTURAL ESPÍRITA e a continuidade da publicação do ABERTURA.

NOVAS METAS PARA 2004

O ICKS prepara desde já sua programação para o ano de 2004, seja com a previsão de Curso de Iniciação e Mediunidade, este totalmente refor-mulado, Seminários e programas espe-ciais como o FIM DE SEMANA KARDECISTA, e a comemoração do Bicentenário do Nascimento de Allan Kardec, a Expoespírita2004.

Além disso, além da publicação das edições do ABERTURA, serão lançados 2 edições do CADERNO.

A VOLTA DA EDITORA

Em 2004 a Editora do ICKS (antiga Licespe) voltará com mais força. Além da reedição do AMOR, CASAMENTO & FAMÍLIA, cujo estoque está terminando, teremos uma atitude mais agressiva no mercado livreiro espírita. Não está descartada, ao contrário, o lançamento de novos títulos.

UM SITE PRÓPRIO EM 2004

Tudo está sendo feito com muito cuidado, mas teremos, com certeza, um site do ICKS no ano de 2004. Será um site ativo, dinâmico. Aguardem...

Expo Espírita 2003 alcançou Sucesso - Capa

Realizada de 27 a 29 de novembro, a EXPOESPI-RITA2003, cumpriu seu papel na programação do ICKS, atraindo um público razoável, que se deliciou com a pintura mediúnica da médium Valeria Maria Teixeira dos Santos, com palestras de Jaci Regis, Décio Iandoli Jr. e Reinaldo di Lucia e apresentações artística da banda Four Flake e Grupo de Dança Cigana Bach Kalin.

A venda de livros foi modesta, mas o lançamento de Kadu e o Espírito Imortal causou muito boa impressão.

Opiniões Sensatas - Editorial

Em O Livro dos Médiuns há uma frase interessante, oportuna, básica: "Os Espíritos bons só dizem o que sabem, calando-se ou confessando a sua ignorância sobre o que não sabem. Os maus falam de tudo com segurança, sem se importar com a verdade". (Livro dos Médiuns, capítulo XXIV – Identidade Dos Espíritos –ITEM 267 – 7º)

Esse pensamento deve nos orientar não apenas nas questões mediúnicas, mas serve de parâmetro para analisar as declarações e apresentações que diariamente se dão em entrevistas veiculadas pelos jornais, revistas e televisão, sobre problemas psíquicos, espirituais e mentais.

Uma série de pessoas, cheias de certezas totais, destilam soluções fáceis sobre todos os males físicos e afetivos, através de " terapias alternativas" que prometem praticamente a felicidade, com banhos, ungüentos, práticas corporais e meditações superiores.

Isso para não falar dos astrólogos, uma multidão de pretensos adivinhadores do futuro, definindo a personalidade humana pelo suposto estudo da posição dos astros. Essa bazófia tem sido desmentida pela ciência e pelos fatos.

Em várias oportunidades, os astrólogos propagam catástrofes e eventos porque – por exemplo - haveria um hipotético alinhamento dos astros, como foi veiculado tempos atrás – e os astrólogos deitaram falação sobre catástrofes e eventos, o que foi desmentido pelos fatos, pela astronomia e pela continuação da vida, pois nada ocorreu.

É totalmente contrário ao pensamento kardecista supor que o destino, a personalidade da pessoa possa ser definida a partir da ascendência ou posição dos planetas.

Os verdadeiros cientistas são cautelosos, não se aventurando em afirmações precipitadas.

Apenas como exemplo desse procedimento, mencionamos uma recente entrevista televisiva do Dr Vicente Gentil, professor titular de psiquiatria da Faculdade de Medicina da USP e diretor do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas de São Paulo.

O médico marcou sua posição com equilíbrio e demonstrando que a ciência não possui todas as respostas, ao contrário, tem poucas respostas e analisou os distúrbios mentais com parcimônia e cautela, reconhecendo que o caminho a percorrer é longo e que existem zonas que remédios e terapias não conseguem alcançar, porque, isso é nossa versão, são problemas do Espírito imortal que decide seu caminho, responde a estímulos de forma muito pessoal.

A entrevista mostrou que homens sensatos, equilibrados e sensíveis à realidade jamais se descambam para afirmações fúteis e levianas.

Esse exemplo deveria ser seguido pelos espíritas ou que assim se dizem, que em entrevistas muitas vezes se desmandam em opiniões e afirmações que não encontram respaldo no corpo doutrinário da doutrina kardecista.

O Crepúsculo dos Deuses - Editorial

A figura patética do papa João Paulo, carregado em seu papa-móvel ou em cadeira de rodas, pendendo sua cabeça para um lado, balbuciando suas palavras, mostrada diariamente na televisão, dá uma dimensão das condições atuais desse líder da Igreja.

Houve tempo em que a figura do papa, recolhida no Vaticano, propiciava a imaginação dos crentes e de modo algum mostrava-o decadente ou doente. Apenas se noticiava que o papa estava doente. Sua substituição era um mistério para a maioria e chegava-se a desconhecer o mecanismo das votações entre os cardeais eleitores.

Agora ei-lo doente, arrancando piedade e comentários, alguns querendo que ele renuncie e morra para dar lugar a outro. Outros rezando pela sua saúde mas, como sabemos, a oração, por mais sincera não é, por si só, capaz de remover o caminho implacável da vida orgânica, quando entra no declive da decadência e da morte.

Outro líder espiritual, o Dai-Lama, supremo sacerdote do budismo, antigamente isolado nas montanhas quase inacessíveis do Tibet, tinha uma aura de misterioso poder, tanto quanto sua escolha o era.

Um escritor canadense tornou-se famoso (ninguém praticamente sabia quem era ele e chegava-se a pensar que era tibetano) com uma série de livros sobre o Tibet, dada a curiosidade que despertava.

Expulso ou fugindo do Tibet, quando a China ocupou e integrou o país, ele vive dando conferências pelo mundo e tornou-se humano, tanto quanto o Imperador do Japão, também considerado "divino" pela tradição japonesa.

O crepúsculo desses deuses antigos, tornados simples mortais nas telas da televisão, mostrando suas fragilidades e problemas de saúde ou políticos, dá uma nova visão ao mundo simbólico das religiões.

E sem mistério, sem figuras divinizadas, as religiões mais antigas perdem o brilho ou fervor. Os crentes reconhecem que seu líderes por mais sábios ou poderosos, são simples homens que são guindados aos postos de liderança por injuções políticas, combinações ou prestígio, mas que não podem mais se apresentar como "representantes de Deus", como antigamente.

O crepúsculo desses deuses podem ser, sob certa forma, perigoso para a fé das pessoas mais crentes e místicas.

Representam, também, uma nova forma de ver a religião. Não sabemos quão positivo ou negativo seja isso.

Leitores Interativos - Da Redação

O ABERTURA quer criar um forte vínculo interativo com seus leitores.

Precisamos estabelecer uma ligação mais rotineira, contínua, permanente entre a redação e o leitor do jornal.

A interação pode ser feita de todas as formas.

Seja escrevendo artigos, enviando notícias, criticando artigos e editoriais.

Essa interação é crucial, porque é a forma mais positiva para estabelecer um diálogo possível entre as partes envolvidas na comunicação.

A interação é um processo reversivo, isto é, ora somos emissores, ora somos receptores da mensagem, tanto os redatores, articulistas, como os leitores,.

Nossa seção Cartas Abertas, muitas vezes não é publicada por falta de cartas.

Precisamos mudar o perfil dos nossos leitores. Queremos manter com ele uma ligação constante.

Hoje, além do telefone, da carta, do fax, temos a Internet.

Vamos criar uma relação interativa?

Jornais, rádios e televisões procuram atrair seus usuários através de uma dinâmica interativa. Além da seção de cartas dos leitores, os grandes jornais utilizam massivamente da Internet, o mesmo sucedendo com a televisão, que tem uma grande parte de sua programação baseada no atendimento aos telespectadores e, além disso, oferece sites na Internet para dar mais detalhes e receber sugestões, participações. Os programas de rádio, com ligação direta com os ouvintes, atendendo a pedido de músicas, dando conselhos e outros serviços são cada vez mais abundantes.

Na entrevista que publicamos em nossa edição passada, Salomão Benchaya, analisando os objetivos de Simpósios, Seminários e Congressos Espíritas, sinaliza que os temas são, muitas vezes, de grande profundidade e oportunidade, mas lamenta a falta de retorno, de interação.

Isso é verdade. Raramente vemos a crítica, o comentário, a análise dos trabalhos pelos que participaram desses eventos ou leram seus Anais. Fica-se num mutismo ensurdecedor.

Existem algumas listas na Internet onde circulam idéias e às vezes se dão alguns debates enriquecedores, embora a maioria dos e-mails sejam banais.

Chamamos nossos leitores para essa integração intelectual e afetiva. Vamos criar um perfil de leitor interativo?

Escreva-nos, envie e-mails, telefone, mande fax.

Endereço postal: Av. Francisco Glicério, 261, CEP 11065-401, Santos, SP

Telefax ( 13) 3284 2918

e-mail: ickardecista@ig.com.br

O Negão - Jaci Régis

Ele é afro-brasileiro, alcoólatra. Ela portuguesa, branca, quase loira. Andavam os dois pela rua, atraindo olhares e gentilezas como "você está bem? ", dirigidos à mulher.

Existe um preconceito contra os afro-brasileiros, ligando-os ao crime, à delinqüência e aquela jovem senhora poderia estar sendo seqüestrada, afinal.

Mas não era nada disso.

Ele tentava, com pouco mais de 50 anos a aposentadoria por invalidez.

E ela, antiga empresária, procurava ajudá-lo.

Em certo momento, ele lhe disse: " agradeço-lhe por ter me dado identidade..."

Ela ficou surpresa: como?

- Quando me empreguei em seu estabelecimento, ainda muito jovem, ninguém me chamava pelo nome. Era apenas "negão".

Entrava um, e dizia "oi negão". Saia outro e se despedia "até logo negão".

De tal forma, prosseguiu o homem, que quase esqueci meu nome.

Mas a senhora não. Sempre que se dirigia a mim, dizia meu nome "Mário...Mário".

Graças a isso eu compreendi minha identidade, que eu não era um "negão", mas que tinha nome e sobrenome....

Esse episódio aparentemente tão simples, significou para aquele homem um momento importante.

Afinal, o nome que nos dão quando reencarnamos, nos identifica para sempre. Com ele e o sobrenome, passamos a participar de uma família e, de resto, alcançar a cidadania.

O nome singulariza a pessoa, por mais que existam tantos outros iguais. Pois o nosso é o que nos liga à família, à profissão, à vida.

A identidade não se resume a um documento legal. É todo um complexo de relação conosco mesmo, um certo orgulho ou não de pertencer a esta ou aquela família. Temos exemplos de pessoas que têm quatro ou cinco nomes para conservar nomes de famílias ilustres ou que significa muito pra elas, mesmo que não tenham propriamente uma significação social ou histórica..

Uma vez um operário da Petrobrás, quando ali eu trabalhava, pediu demissão e voltou para sua cidade natal, no Nordeste brasileiro. Perguntado sobre a razão, além de outras, ele disse que aqui, era um desconhecido, anônimo. Mas em sua terra pertencia a uma família tradicional. E citou o fato de quando chegou a uma cidade, a rádio local anunciou que ele se encontrava visitando-a, e pertencia à prestigiada família tal....

Isso é tão significativo que se temos um nome, por exemplo, com dois eles ou dois tes, como Danielle ou Motta, fazemos questão que sejam gravados corretamente. Avisamos Motta com dois tes...

Alguns nomes são comuns, outros resultam de anagramas, nem sempre muito sonoros. Há também os que nos marcam como nome de pessoas famosas, do passado ou do presente. Chamar alguém de Allan Kardec é marca-lo de modo muito específico. Menos marcante, mas significativo, é chamar um filho de Elvys ou Anthony embalados pela admiração a artistas da moda., transferindo para os filhos um ônus nem sempre agradável.

Muitas vezes pessoas vão à Justiça para mudar seu nome ou acrescentar, como fez o atual presidente da República que adicionou ao nome de registro o apelido que o consagrou "Lula".

Certa vez perguntei ao meu pai porque me chamou de Jaci. Este é um nome comum para mulheres e não para homens. Em minha vida tenho sido chamado de "senhora", "senhorita" e "dona" Jaci. Afinal o nome é, segundo se diz, de origem indígena e significaria Lua.

Meu pai não se lembrava porque escolheu esse nome, uma vez que não existe na família ninguém assim chamado, Meu avô paterno chamava-se Juvêncio e o materno José.

Esses fatos nos levam também à ponderação das coisas simples e muitas vezes menosprezadas na relação com nossos filhos, com nossos amigos, conosco mesmo afinal.

Nunca sabemos quanto é importante para a pessoa, a omissão de pequenos detalhes, tanto quanto desconhecemos o resultado de atitudes e formas de relação que podem introduzir na alma um quisto emotivo.

Esse quisto emotivo, guardado como marca de prejuízos reais ou imaginários, cresce no interior do Espírito, produzindo barreiras afetivas, impondo restrições ao bom desempenho da vida.

Não é raro, passados muitos anos, alguém relembrar um episódio que nos passou despercebido, mas que criou um trauma de tamanho variado na alma, sentido-se desamada, rejeitada, atingindo sua auto estima, sua visão de si mesma e prejudicando uma relação afetiva que poderia ser produtiva.

É certo que não podemos ficar nos detendo em minúcias, mas temos que aprender o valor das pequenas coisas, dos momentos e dos gestos que atingem a pessoa com que nos relacionamos e que nos parecem irrelevantes, mas que são recebidos, conforme o momento, de maneira peculiar por elas.

Muitas vezes nossos amigos, filhos, se sentem um "negão", sem nome, sem amor, ainda que não tenhamos qualquer intenção de magoa-los ou ofende-los.

São espinhos da vida, mas que precisamos considerar, tentando usar a palavra com equilíbrio e olhar o outro com respeito e dignidade, seja quem for.

A Redução da Maioridade - Eugênio Lara

A morte do casal de estudantes Liana Friedenbach, 16 anos e Felipe Caffé, 19, causou uma comoção nacional, principalmente pelo fato de ter sido provocada por adolescentes. Isso foi a gota d’água para que a questão da redução da maioridade penal voltasse à pauta. Cerca de 5.000 pessoas fizeram passeata em frente à Assembléia Legislativa do Estado de São Paulo, no final do mês de novembro, a fim de pressionar os deputados a promoverem mudanças no Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). Até a apresentadora de TV Hebe Camargo entrou nessa onda.

Segundo os partidários dessa idéia, a redução da maioridade para 16 anos reduziria a violência e permitiria que adolescentes infratores possam ser punidos, ao invés de serem protegidos pelo ECA, considerado por essas pessoas, paternal e generoso demais.

O ministro da Justiça Márcio Thomaz Bastos, com muito bom senso, posiciou-se contrário à medida por entender que além de não resolver o problema, seria um ônus muito pesado para adolescentes ainda em formação. Já o cardeal dom Aloísio Lorscheider, arcebispo de Aparecida (interior de SP), defende a redução da maioridade para que a violência seja combatida com vigor.

Questões como essa precisam ser analisadas com muito bom senso. No calor da revolta e em meio a protestos a sociedade pode contribuir para agravar o problema ao invés de resolvê-lo. Em outros países a experiência não deu resultados satisfatórios. Segundo estatísticas da Febem, cerca de 10% dos crimes são cometidos por adolescentes entre 16 e 18 anos. Não se resolve um problema criando outro. É preciso investir na educação e fortalecer as instituições, principalmente o núcleo familiar.

Por outro lado, adolescentes a partir de 16 anos podem votar e uma legislação mais avançada poderia permitir que quem vota possa ser votado, mesmo com essa idade. A infância e a adolescência, nos ensina o Espiritismo, não são uma fase de plena inocência. A criança traz consigo suas mazelas. A aparência doce e ingênua é apenas um verniz que encobre vícios e imperfeições. A tendência evolutiva é de que essa etapa de formação tenda a se reduzir. Em mundos superiores, ensinam os Espíritos, a infância e a adolescência não são fases tão estúpidas como em nosso mundo.

Há uns 50 anos meninas de 12 a 15 anos brincavam de boneca, quando não eram oferecidas a algum marmanjo para desposá-la. Hoje elas brincam de sexo, engravidam e acabam tendo de assumir precocemente a maternidade. Amiúde, sobra para os avós cuidarem. Todavia, há uma evidência: os novos jovens não são tão ingênuos assim. Novos espíritos estão reencarnando, mais maduros, mas experimentados. E o contexto também é outro, bem mais estimulante. É a nova geração.

Sou plenamente a favor da redução da maioridade, não pelos motivos alegados por essa turma afoita e inconsequente. Ao invés da legislação andar à reboque da realidade ela pode servir para transformá-la, impor novos valores. Quando foi aprovada a obrigação do cinto de segurança todo mundo chiou, mas hoje esse bom hábito se incorporou à vida do brasileiro. Ninguém mais reclama. Essa redução deverá servir para estimular a responsabilidade no jovem, que poderá usufruir de novos direitos e, claro, de deveres a serem cumpridos.

O Modelo Espírita - Jaci Régis

O mundo real não é o que as religiões criaram. Judeus, cristãos, maometanos e todos os demais movimentos místicos e religiosos desenvolveram uma interpretação adequada ao seu tempo, à sua possível visão das coisas, conforme os instrumentos que dispunham.

Na verdade, é produto da tentativa de compreender o mundo, a divindade e as pessoas produzida por mentes ora visionárias, idealizadoras e, também, para atender aos interessadas da classe sacerdotal.

Isso se refere a Deus, ao universo, às pessoas.

No cristianismo mantivemos a idéia primitiva dos profetas judeus, revelando um deus frágil e briguento, cruel e intolerante. É certo que Jesus de Nazaré suavizou o tema chamando-o de pai e dizendo de sua misericórdia e amor.

Todavia, ficamos sujeitos aos humores divinos e jamais compreendemos muito bem seus desígnios, não raro nos parecendo demasiado frios e distantes de nossos rogos.

Foi preciso que essas religiões, à força, insistissem que Ele é bom, mesmo que não pareça, que é justo ainda que o mundo respire injustiça.

É todo um esquema mental, social, político, humano. De tanto repetido foi considerado verdadeiro, real, insubstituível, criando uma cultura que se sedimentou até hoje.

Esse modelo foi, naturalmente, o usado pelos Espíritos que estiveram com Kardec na construção do pensamento Espírita. E ele mesmo admitiu que a "revelação espírita" era divina porque provinha dos Espíritos, o que não é necessariamente verdade, embora ele estivesse pensando nos Espíritos superiores que teriam sido encarregados por Deus, como está nos Prolegomenos de O Livro dos Espíritos, para implantar o reino de Deus na Terra.

Cada vez mais parece-nos razoável pensar que Deus age e atua de maneira bem diferente desse modelo. A atuação divina difere das diretrizes superficiais das religiões, que figuram-No como um ser autoritário, distribuindo castigos e prêmios. Há também os que, diante das dificuldades, afirmam que Ele está fora da humanidade, longe do dia a dia das pessoas.

O Espiritismo insiste em mostrar a presença divina na vida. Parece-nos impossível não identifica-la na existência humana. Para isso desenvolve todo um esquema teórico que daria sentido à existência sem, todavia, esgotar a questão.

Para nós, a interferência divina fica mais consistente, lógica e palpável somente ao longo da história e no longo prazo e não no imediatismo de nossas aspirações, desejos e exigências.

CONHECE-TE A TI MESMO

Se a compreensão da divindade nos é quase interdita, também temos enormes dificuldades em compreender natureza psicológica da pessoa humana. O que se passa na mente, no interior da alma, modela as pessoas de forma tão diferenciada que a tentativa de cataloga-las uniforme-mente sempre fracassa.

As pessoas dificil-mente podem gabar-se de conhecer-se. O "conhece-te a ti mesmo", defraldado no templo de Delfos, continua um desafio quase tão grande quanto a decifração do enigma divino.

Continua a ansiosa expectativa do ser humano diante da divindade.

Prossegue a perspectiva insolúvel do desvelamento completo da alma humana.

Essa reflexão não procede de um ceticismo, nem de uma falta de fé.

Apenas nos incita a pensar com mais humildade sobre as nossas necessidades.

Impossível encontrar respostas prontas e efetivas nas religiões, nas filosofias e nas ciências. Tudo é provisório, transitório, verdadeiro e falso, num jogo contínuo de busca e encontro, de busca e desencontro.

O que sobra é que estamos vivos, viventes, capazes de amar e odiar, de construir e destruir.

Cada vez mais surge à nossa frente a necessidade de decisão, de determinar um caminho que, não sendo embora definitivo, nos dê uma razoável sensação de estabilidade, de felicidade, de utilidade.

Talvez a vida se defina cada vez mais, no interior de cada um e na sua projeção social, como resposta de utilização positiva e produtiva dos recursos próprios e do ambiente.

Quando Victor Hugo pôs na boca de seu personagem em Os Miseráveis "a felicidade consiste em dar e não reter" estava enunciando um princípio de felicidade nem sempre compreen-dido, porque o egoísmo supõe que estar seguro e sobre-vivente, é ter, poder e posse de bens e sentimentos fechado em si mesmos.

É aí que reside o engano.

É aí que fica muito difícil entender, por menos que seja, a presença de Deus na vida.

Este mundo azul, girando em torno de seu eixo e transladando-se preguiçosamente em busca do Sol, cuja população continua, por ora, solitária num universo infinitamente grande, foi considerado, no modelo idealizado pelas religiões, um lugar de dor, sofrimento e degredo. Onde um ser solitário e, sob certa medida, mau, perambula até que a morte o apanhe e destrua.

O MODELO ESPÍRITA

Embora calcado, em linhas gerais, sobre os mesmos alicerces das civilizações de todos os tempos, o Espiritismo tenta redimensionar a visão humana sobre Deus, sobre o mundo e sobre a criatura.

Dentro das possibilidades, o modelo espírita atende a uma série de requisitos que a inteligência reclama para a tentativa de entender o complexo da existência.

O Espiritismo procura responder às questões básicas para o ser humano: quem somos, de onde viemos e para onde vamos. Fá-lo com uma revolucionária compreensão da natureza do ser humano, enquanto um Espírito imortal, em processo de crescimento.

Enunciado assim de forma objetiva e simples parece irrisório, mas esse princípio, na sua extensão e complexidade mostra o caminho possível de entender não apenas as diferenças pessoais e sociais, mas delineia todo o percurso evolutivo da própria humanidade.

Ele contém os princípios da Criação, a potencialidade intrínseca do ser, sua ascensão, suas descobertas na relação afetiva, sua angústia no desenvolvimento de si mesmo e na união com o outro, como caminho para superar as barreiras de sua solidão.

Tudo começou como afirmou Kardec no "simples fato de poder o homem comunicar-se com os seres do mundo espiritual". Ou seja, como a descoberta dos microrganismo tudo mudou, todas as coisas pareceram outras, porque destruiu-se a barreira que envolvia a base dos fenômenos que hoje são corriqueiras, mas que revolucionaram o conhecimento.

É isso que Kardec referia-se. Uma nova dimensão se abria ao entendimento das coisas, do ser humano e, em decorrência da atuação divina na vida.

Foi por isso que na casa da Sra., Plainemaison, em maio de 1855, o professor Rivail entreviu "debaixo da aparente futilidade e da espécie de diversão que faziam com aqueles fenômenos, algo sério" e a partir daí uma nova visão de Deus, do ser humano e do mundo, começou a desenhar-se.

Mundo Paranormal: PEAR, Princeton Engineering Anomalies Research Laboratory - Marcelo Coimbra Régis

 "The Princeton Engineering Anomalies Research (PEAR) Laboratory" foi estabelecido na Universidade de Princeton (New Jersey, USA) em 1979 pelo Prof. Robert G. Jahn, então chefe da Escola de Engenharia e Ciências Aplicadas. O objetivo do PEAR é pesquisar com rigor cientifico as interações entre a consciência humana e aparelhos, sistemas e processos comuns às práticas modernas da engenharia. Desde sua fundação um time interdisciplinar de engenheiros, físicos e psicólogos tem conduzido uma extensa gama de experimentos científicos e desenvolvido modelos teóricos que facilitem o entendimento do papel da mente humana e sua relação com a realidade física.

As atividades do PEAR são motivadas por três objetivos:

· Ciência pura: as implicações dos fenômenos estudados nos modelos e paradigmas científicos;

· Aplicações tecnológicas provenientes das pesquisas e do entendimento das relações mente/ matéria;

· Implicações culturais: as relações mente/matéria podem alterar significativamente o entendimento que temos de nós mesmos, de nossas relações com o próximo e de nosso papel no cosmo;

Campos de Pesquisas:

I- Interações Mente-Máquina:

A maior parte das pesquisas realizadas pelo PEAR analisa anomalias resultantes das interações mente/máquina. Nesses experimentos agentes voluntários tentam influenciar o comportamento de equipamentos mecânicos, eletrônicos, ópticos e acústicos. Quando calibrados os sofisticados equipamentos utilizados nessas pesquisas produzem resultados estritamente randômicos. Porém sob a ação dos agentes, os resultados obtidos apontam para alterações estatísticas que só podem ser atribuídas a influencia da mente humana.

II- Percepção extra-sensorial

Uma outra classe de experimentos estuda a capacidade do ser humano de adquirir informações sem a utilização dos cinco sentidos conhecidos. Nesses experimentos os agentes tentam obter informações sobre pontos geográficos escolhidos de forma aleatória pelos pesquisadores.

III- Modelos Teóricos

Como forma de avançar nas pesquisas e no entendimento das interações mente/ matéria, o PEAR vem desenvolvendo diversos modelos teóricos que explicam os resultados dos experimentos realizados. Entre os modelos propostos destacam-se:

"Science of the Subjective" (Ciência do Subjetivo);

"On the Quantum Mechanics of Consciousness, With Application to Anomalous Phenomena". (Mecânica Quântica da Consciência, com aplicações nos fenômenos anômalos).

"A Modular Model of Mind/Matter Manifestations (M5)" (Um modelo Modular das manifestações mente. Material (M5)

Publicações e outras atividades:

As pesquisas do PEAR são publicadas em inúmeros jornais científicos tais como o Journal of Scientifc Exploration, The Alternative Therapies Journal, Foundations of Physics. etc.

Como parte de suas atividade o PEAR oferece aos alunos de graduação da Universidade de Princeton o curso Interações Mente/ Matéria e coordena o International Consciousness Research Laboratories, um consórcio internacional dedicado às pesquisas no campo das interações mente matéria.

Para saber mais: Visite o site do PEAR: http://www.princeton.edu/~pear/index.htm

Planejamento no Espiritismo - Luiz Lemos

"Todos falam de Espiritismo, bem ou mal. Mas poucos o conhecem(...)", assim, Herculano Pires inicia o livro Curso Dinâmico de Espiritismo( PIRES, Herculano. Curso Dinâmico de Espiritismo. São Paulo: Paidéia, 1979).

Partindo deste diagnóstico, que estamos supondo continuar válido, infelizmente, até os dias de hoje, cumpre-nos não ficar estacionados, somente no diagnóstico: apontando apenas a enfermidade, denunciando unicamente. Mister se faz, ir adiante, ao prognóstico: elaborando uma agenda de ações para o futuro, não só buscando curar a doença, mas principalmente, criar "vacinas" profiláticas; afinal de contas: " Mais vale prevenir: com saudáveis profilaxias; a remediar: com dolorosas terapias". Não é verdade?

Primeiro há que se diagnosticar a atual realidade, conhecendo, assim, o ambiente em que estamos inseridos, com os fatores que o influenciam, entre os quais, sócio-econômico-político-ambiental-cultural e, principalmente, ético, divisando, também, o provável cenário, que imaginamos para o porvir.

Isto posto, tendo em vista este diagnóstico( que considerou o atual ambiente e o provável cenário futuro), elaborar-se-á um Planejamento Estratégico, que nos permita desenhar um Plano Estratégico de Superação do Desconhecimento do Espiritismo, segundo um Modelo competente, porque deverá estar baseado em Valores positivos( reais: imperecíveis, inalienáveis), permanentes e universais, os quais deverão ser assumidos pelos implementadores das mudanças(sujeitos protago-nistas das transformações para melhor). Modelo de Plano Estratégico este, que por ser confiável, conquistará credibilidade, diante da Opinião Pública.

Este Planejamento Estratégico, deve ser pensado a prazo razoável( não é imediatista), de natureza estrutural( e não contingencial), irá construir uma Estratégia, segundo a qual propõe-se viabilizar as transformações que se fazem necessárias,a partir do presente, visando a conquista de uma outra, bem melhor: realidade prognosticada, para o futuro; tudo devidamente justificado.

Simultaneamente, há que se estabelecer um Sistema de Avaliação, que nos permita um acompanhamento contínuo, capaz de fornecer "indicativos" confiáveis,que nos propicie constantes enriquecimentos, com aper-feiçoamento contínuo em todo o processo de comunicação, particularmente, nos seus três elementos básicos: transmissor, receptor( aquele que melhor poderá avaliar a qualidade da comunicação), e entre eles, o canal de comunicação.

Se é assim, então, o Planejamento Estratégico, a ser elaborado pelo Movimento Espírita, deverá estar respaldado na "lógica Kardeciana", ou seja, baseado nos Valores Espíritas, os quais fornecerão o ‘modelo ’de Projeto de Comunicação da Doutrina,com o qual se pretende alavancar sua divulgação. Em função deste Planejamento, poderá acontecer uma Gestão Estratégica.

Por oportuno, lembremos de, entre outros, dois Agentes de Mudanças, que poderão ter significativas atuações:

Gestores- que são generalistas-, os quais pensam estrategicamente, têm "espaço" para a atuação no atual Movimento Espírita. E para o gerenciamento dos mais variados projetos, que acontecem nas diversas instituições espíritas, também, têm utilidade os Gerentes de projetos, estes já são especialistas, sendo capazes de viabilizarem projetos- os quais têm princípio, meio e fim-, nas múltiplas áreas dessas instituições, nas quais eles se fazem necessários. Ambos os Agentes de Mudanças(Gestor e Gerente) deverão, também, facilitar o diálogo, a comunicação, a solidariedade, propiciar um ‘clima’ de cooperação mútua, de fraternidade, favorecer e incentivar o desenvolvimento integral das pessoas...: os Gerentes de projetos (doutrinários, informativos, radiofônicos, bibliotecários, patrimonial, promoção social...) , conectando variados setores, exercem, entre outras, funções na administração, no gerenciamento de processos, na coordenação de pessoas, na identificação de elementos que atendam às demandas de nossa clientela, buscando criar, principalmente, serviços de utilidade pública, os quais, pela sua excelência, dão, ainda mais, credibilidade ao Movimento Espírita; enquanto o Gestor, que cuida da gestão da instituição, atua em toda a Organização, inclusive, na área de projetos, trabalhando, portanto, com os diversos Gerentes, e dentre outras, procura integrar todas as áreas da instituição(do planejamento à operacionalização), sendo capaz de lidar com pessoas, mobilizar equipes, administrar, habilmente, as pessoas, inclusive, os gerentes dos projetos, os quais(projetos) estão sendo planejados, elaborados ou estão em andamento.

Neste ponto, alguns atributos há de se considerar numa avaliação gerencial, entre as quais citamos: Honestidade, Competência e Liderança.

Honestidade: é indispensável, enfatizando o trabalho com transparência, honestidade dispensa exposição de motivos, justificando-a, e dela depende, no encadeamento, os outros atributos.

Competência: não basta ser honesto e, até, bem intencionado, há que ser competente. Um homem honesto, mas incompetente para uma determinada função e que se apresente ápto para exercê-la, por exemplo, para comandar, deixa de ser honesto e passa a ser um charlatão.

Liderança: não é suficiente ser honesto e competente, há que ter vontade e disponibilidade para contribuir, também, como líder, a fim de, entre outros, escalar e monitorar uma Equipe, sendo capaz de ajudá-la a caminhar na busca do objetivo colimado.

Entrevista com Mauro Mesquita Spíndola e Jacira Jacinto da Silva: "Consolidando os Temas do VIII SBPE" - da Redação

O VIII SBPE, reuniu doze trabalhos de grande atualidade, mostrando faces interessantes do pensamento espírita.

Com o objetivo de consolidar as propostas elaboradas para o VIII SBPE, resolvemos entrevistar os autores dos trabalhos debatidos e publicar suas respostas em edições sucessivas do ABERTURA.

O inteiro teor dos temas abordados estão nos Anais do VIII SBPE, que foi editado em CD room e que está à venda por R$ 10,00. Quem estiver interessado em adquirir o CD, deve dirigir-se ao ICKS, pelo telefax (13) 3284 2918 ou pelo e-mail ickardecista@ig.com.br, fazendo seu pedido.

"O Método de estudo de caso e sua aplicação em pesquisa sobre o animismo".

Este trabalho foi apresentado em parceria entre Jacira Jacinto da Silva e Mauro Mesquita Spíndola. Advogada, professora universitária e Juíza de Direito em Birigüi, líder espírita e fundadora do Centro Cultural Espírita daquela cidade, Jacira Jacinto da Silva aplica seu talento no estudo cada vez mais profundo e na divulgação da doutrina de forma objetiva e atuante. Mauro Mesquita Spíndola é engenheiro, professor universitário e consultor especializado em informática. Ele é também um animador e estudioso do movimento espírita, desde muito cedo.

Pergunta dirigidas ao engenheiro Mauro Mesquita Spíndola

1. Você acredita que o movimento espírita tem estrutura para desenvolver métodos de pesquisa dos fenômenos mediúnicos?

Ainda é precária essa estrutura. O movimento espírita não prioriza a pesquisa, nem mesmo a análise das comunicações espíritas. Há hoje boas iniciativas de pequenos grupos que se formam com o objetivo específico de desenvolver estudos e pesquisas. O intercâmbio entre esses grupos é ainda precário, o que coloca em risco a preservação de sua contribuição. Uma dificuldade até agora sentida é a falta de clareza sobre os objetivos de uma pesquisa e os métodos aplicáveis à pesquisa espírita. Com o estudo que temos desenvolvido sobre os métodos de pesquisa e sua potencial utilização na pesquisa espírita pretendemos contribuir para dar aos grupos melhores instrumentos para realizar pesquisa.

2. Pela formação da maioria dos dirigentes de sessões mediúnicas e grupos espíritas há espaço para pelo menos pensar em promover pesquisas ou isso é totalmente descartado pela maioria?

Realmente os dirigentes espíritas vêem o fenômeno exclusivamente como uma oportunidade de assistência (a pessoas e aos próprios espíritos), sem qualquer preocupação com o aprofundamento dos estudos sobre os próprios fenômenos ou como instrumentos para obtermos junto aos espíritos informações que contribuam com estudos de temas diversos de interesse do homem moderno. Kardec moveu-se sobretudo pela motivação da pesquisa. Observou os fenômenos para buscar compreendê-los, e usou a mediunidade para discutir com os espíritos uma gama variada de temas de interesse do homem. Nossos dirigentes movem-se sobretudo pela busca de atender alguém.

3. Você escreveu um livro "O Centro Espírita", nele você acrescentou um método para a pesquisa mediúnica?

O livro "O centro espírita" apresenta reflexões e propostas para uma revisão conceitual e estrutural dos centros espíritas. Possui um capítulo sobre "Estudos e pesquisas". Lá defendo a idéia de que a pesquisa deve ser uma das bases para um centro espírita que busque consistência com a proposta kardequiana. Nenhum método está proposto ali, mas tento mostrar que a pesquisa baseia-se, antes de tudo, na atitude de descoberta. Havendo essa atitude, o método mais adequado poderá ser buscado e utilizado.

4. O que você acha da declaração do dr. Fiorini de que as Federações não tem nada a ver com pesquisa?

As Federações refletem as preocupações dos dirigentes espíritas, que nenhum valor dão, em geral, à pesquisa. Creio que a mudança dessa mentalidade poderia ser mais rápida no movimento se as Federações contri-buíssem, criando espaço para discussão e difusão de conceitos, métodos e técnicas relacionados a pesquisa. Elas poderiam congregar todos aqueles que trabalham com isso e criar condições para que mais pessoas conhecessem e colaborassem. O intercâmbio entre os grupos sendo dinamizado, as pesquisas seriam mais produtivas e úteis.

As perguntas abaixo foram formuladas à dra. Jacira Jacinto da Silva

1. O animismo é um problema para a comprovação do fato mediúnico?

Entendo que não; pois o fenômeno mediúnico pode ser comprovado por muitas maneiras, como, de resto, tem sido largamente demonstrado na experiência espírita; todavia o animismo pode ser considerado um complicador se aceitarmos que em alguns casos será difícil discernir se o caso é de fenômeno espírita (comunicação de um desencarnado através do mediunismo) ou de animismo não mediúnico ou puro.

2. Como diferenciar o "animismo" do médium que fala como se estivesse realmente mediunizado e do "animismo" estudado por Bozzano que se consubstancia num processo de intercomunicação entre encar-nados, semelhante ao da mediunidade?

Conforme propusemos em nosso trabalho, a mensagem pode ser de três origens:  da pessoa (consciente) do médium; do espírito encarnado no médium em processo de emancipação (pessoa inconsciente)  e de um terceiro encarnado ou desencarnado através de um médium. Uma das hipóteses que levantamos em nosso trabalho foi a de que seja possível identificar a primeira e a terceira das possibilidades mencionadas, sendo bastante complicado se convencer que o caso se enquadra na segunda, de animismo puro.

3. Podemos, com facilidade, distin-guir uma comunicação anímica e de uma comunicação mediúnica?

Pelos indicadores (méto-dos) propostos por Kardec no capítulo XIX do Livro dos médiuns, seria fácil saber se a mensagem provém da própria pessoa tida como médium e quando houver meios de identificar com clareza a identidade do terceiro que se comunica também é possível concluir que se trata de comunicação espírita (mediunismo). Difícil é, no nosso entendimento, e aí os recursos indicados por Kardec no referido capítulo seriam insuficientes, discernir quando se trata de animismo puro. Assim entendemos, pois nessa classe de fenômeno se enquadraria a comunicação.

4. Como estimular o uso do método de estudo de caso nos centros espíritas?

Nosso trabalho consiste justamente em uma tentativa de estimular a utilização de métodos apropriados para a pesquisa científica no espiritismo. O método de estudo de caso é um deles, mas o próprio trabalho apresenta outros, embora de forma mais superficial.

Penso que só através de métodos reconhecidos pela ciência nossas pesquisas alcançarão o respeito que espera do mundo acadêmico.

Opinião em Tópicos (Barcelona-Valência, Brilho nos Olhos, Eventos Espíritas, Estratégias de Divulgação) - Milton R. Medran Moreira

Barcelona-Valência

Com espantosa velocidade, o trem nos conduzia de Barcelona para Valência. Pela janela, à minha esquerda, podia ver o sol recém nascendo, naquela manhã de outono, a derramar fracos raios de luz sobre as águas muito verdes do Mediterrâneo. Iniciando uma segunda etapa dessa jornada espírita pelo país, já dava para se ter uma idéia do denodado esforço que esses companheiros de Espanha vêm realizando para que não se apague a chama espírita, outrora tão forte em toda a nação, mas que as duas Guerras Mundiais e os 40 anos de ditadura, subseqüentes à Guerra Civil, haviam praticamente sepultado. Um dia antes, acompanhados de Guillermo Reyes e sua esposa, Sílvia e eu percorremos grande extensão do Parque La Ciudadela. Em alguma parte dele é que teria ocorrido o Auto de Fé de Barcelona, naquele 9 de outubro de 1861, quando, por ordem do Bispado local, um sacerdote com seus acólitos presidiu a queima dos livros espíritas importados por um livreiro diretamente de Paris. Na oportunidade, escreveu Kardec na Revista Espírita: "Podem queimar-se livros, mas não se queimam idéias: as chamas das fogueiras as superexcitam, em vez de abafar".

Brilho nos olhos

Em Barcelona, eu tivera a honra de conhecer uma legenda viva do espiritismo espanhol. Josep Casanovas Llardent, que já ultrapassou os 80 anos, honrou-me com sua presença à conferência por mim proferida no Centro Barcelonês de Cultura Espírita, tão adequadamente dirigido por David Santamaria e Pura Argelich, que, juntamente com o velho Casanovas, fundaram-no, há mais de 20 anos atrás, quando a Espanha mal saía da ditadura, responsável pelo desaparecimento do movimento espírita no país. Na Estação de Valência, lá estava o vice-presidente da "Asociación Espírita de Valencia", José Lanzuela Verona, esperando-me com um cartaz escrito com meu nome. Não seria necessário. Sempre consigo identificar, nessas viagens, os companheiros espíritas. Há algo de invisível e indescritível que identifica a gente. Ademais, em Valência, como em Sevilha, em Córdoba, em Montilla, em Jaén e em Madrid, cidades onde tive contatos e atividades espíritas, há uma marca forte a identificar os espíritas. Eles têm um brilho nos olhos que, desconfio, são chispas saídas da fogueira dos livros de Barcelona e que viajaram no tempo para iluminar a visão dessas teimosas lideranças que crêem firmemente poder restituir a mesma força que teve o movimento espírita espanhol nas primeiras décadas do Século 20.

Eventos espíritas

Mesmo na Espanha livre e democrática de nossos dias não é nada fácil organizar um evento público assumidamente espírita. Durante anos e anos, a ditadura política e a casta clerical por ela protegida enfiaram na cabeça do povo a noção de que espiritismo era sinônimo de bruxaria, de satanismo, de feitiçaria, etc. É preciso muita coragem para alguém se dizer espírita e, nessa condição, por exemplo, solicitar do Poder Público a cedência de um local para uma atividade pública ou, mesmo, a locação de um hotel para uma Jornada Espírita como a realizada, em Sevilha, pela Associação Espírita Andaluza Amália Domingo Soler, que foi a atividade mais importante de que participei nessa gira pela Espanha. Só a determinação e a coragem de pessoas como Mercedes Garcia de la Torre, Francisca Ribert e Manoel Martinez Pardela, organizadores daquele evento nas excelentes dependências do Meliá Hotel Los Lebreros, de Sevilha, poderia ser capaz de administrar todas essas dificuldades e a própria carência de recursos materiais, reunindo um público de aproximadamente 350 pessoas num evento que contou com a participação de excelentes expositores espanhóis, com a presença também de portugueses, um venezuelano (Jon Aizpúrua) e este brasileiro. Em Córdoba, soube que a conferência por mim proferida nas dependências de um centro cultural da municipalidade local (ayuntamiento) teve um significado histórico: foi o primeiro ato espírita em local público ocorrido naquela cidade. Para sua cedência, seus organizadores precisaram garantir aos administradores do local de que não se tratava de um ato religioso.

Estratégias de divulgação

Não há espaço, na Espanha, para a implantação de um movimento espírita evangélico-religioso, nos moldes daquele que vingou no Brasil. A estratégia que melhores resultados tem dado na divulgação do espiritismo e no investimento da criação de uma imagem culturalmente adequada a seus padrões é vinculá-lo a temas da área, por exemplo, da Parapsicologia ou da Psicologia Transpessoal. Na mesma época em que lá estive, o psicólogo espírita venezuelano Jon Aizpúrua, participou, a convite de uma Associação Internacional de Parapsicologia, de um evento reunindo mais de 700 pessoas. Estrategicamente, vinculou sua abordagem a temas de conotação espírita, possibilitando-lhe desenvolver considerações sobre imortalidade do espírito, reencarnação e comunicabilidade de espíritos. Esses temas são sempre bem aceitos. As conseqüências éticas que deles naturalmente advêm não precisam e não devem ser revestidas de conotações religiosas. Tudo o que leve a conceitos que possam ser interpretados como de uma religião formal é naturalmente recusado pelo espanhol. Opera-se naturalmente uma associação entre religião e supressão de liberdade. Entre religião e poder. O que não mais serve a seus interesses nacionais. Assim, há uma mensagem clara que nos passam os espanhóis: o modelo de espiritismo que teve sucesso no Brasil não pode ser levado para lá como um produto de exportação. É preciso que os entendamos e os respeitemos nos exatos termos da recomendação de Kardec de que o espiritismo, em cada país, teria sua fisionomia e sua peculiar organização.

A Mulher na Cultura Oriental e Mulçumana - Maria Vitória Antunes

Analisando o papel e a situação da mulher nas culturas orientais, africana e muçulmana, encontramos um quadro desalentador. Enquanto na cultura ocidental a mulher ascende social, profissional e humanamente, ali ela continua sendo desprezada, humilhada e colocada em patamar inferior.

Algumas vezes temos um quadro paradoxal, como por exemplo, a ascensão de mulheres ao poder máximo desses paí-ses, onde a maioria delas, são, segundo a imprensa, desalen-tadoramente marginalizadas. Cita-se, por exemplo, a Índia, que teve Indira Gandhi como líder do governo e enquanto, devido à execrável pela tradição do dote exigido pelos maridos e impagável pelos seus pais, muitas chegam a ser assassinadas.

Na China o martírio das mulheres é revoltante. São deixadas, quando nascem, segundo se propala, aban-donadas para morrer, depois, principalmente da lei que obriga os casais a terem apenas um filho. Nas províncias chinesas a mu-lher é espancada pelos maridos, sogras e cunha-dos, dentro de uma cultura do absurdo. Na África ainda so-bre existe o costume da retirada do clitóris e na cultura muçulmana ela possui um grau social desprezível.

Essas culturas são machistas e estabelecem a opressão feminina, em nome de tradições e interpretações das regras religiosas.

Esse panorama lamen-tável, principalmente para os cultores da suposta superioridade das doutrinas orientais, cultivadas pelos ocidentais dentro da fantasia do mistério.

As filosofias orientalistas são extremamente teóricas e particularmente machistas. Elas construíram um sociedade geralmente injusta, miserável e cheia de superstições. Essas superstições são absorvidas pelos ocidentais de forma infantil, como se fossem realmente superiores.

Evi-mente uma doutrina budista é cheia de princípios interessantes, mas propicia uma certa passividade que é a característica dessas culturas.

A excelência de uma idéia pode ser testada pelos efeitos que produz.

Se as doutrinas orientais não produziram sociedades mais equilibradas, economicamente justas, falharam porque ficaram no individualismo, na busca do zen e do nirvana, que são caminhos extremamente individualistas e, sob certa maneira, egoístas pela indiferença e pelo valor que se dá à sua própria e exclusiva ascensão.

O Espiri-tismo é uma doutrina essencialmente ocidental. Calcada no cristianismo, em cuja moral se baseia, livrando-se, todavia, de cultos, rituais e mandamentos obsoletos.

A doutrina foi montada sobre a idéia da igualdade de direitos de homens e mulheres na sociedade e na unissexualidade do Espíritos, de modo que, sob sua compreensão, não há qualquer justificativa para o horror que ainda existe na maior parte das civilizações não cristãs, que massacram as mulheres, as humilham e desprezam.

Expo Espírita 2003 - Da Redação

Promovida pelo ICKS- Instituto Cultural Kardecista de Santos e patrocinado pelos Centros Espíritas Allan Kardec, Ângelo Prado, Missionários da Luz, Maria Emilia da Motta Ferreira e Fraternidade Espírita, a EXPOESPIRITA2003, foi realizada com êxito de 27 a 29 de novembro último.

A EXPOESPIRITA é um evento anual destinado a promover a venda de livros espíritas a preços promocionais.

Paralelamente são realizadas palestras, apresentação de pintura mediúnica e artísticas.

APRESENTAÇÃO DA MÉDIUM VALÉRIA

Convidada pelo ICKS, a médium Valéria Maria Teixeira dos Santos, do quadro de médiuns do CE Missionários da Luz, de Santos, apresentou-se no dia 27, abertura da EXPOESPIRITA, pintado em cerca de 60 minutos, 7 quadros de 50 x 70 cm. com tinta a óleo. A médium pintora utiliza das mãos para pintar. Os quadros possu-em grande beleza e claridade, o desempenho da médium foi acompanhado diretamente pelos presentes junto à mesa em que ela trabalhou em pleno auditório do ICKS. As pinturas foram assinadas por pintores como Vicent, Renoir e Portinari e tiveram ótima aceitação pelos presentes. Os quadros foram em seguida expostos e postos à venda com a renda destinada ao ICKS.

ARTE

Participaram de momentos de arte, no dia 28, a Banda Four Flake, composta de jovens estudantes do segundo grau, que agradou pela espontaneidade. No dia 29, o Grupo de Dança Cigana Bach Kalin , mostrou sua arte com números com coreografia baseada nas tradições dos ciganos. Foi também muito aplaudido.

PALESTRAS

Dia 27, o psicólogo e escritor espírita Jaci Regis, falou sobre A mediunidade como instrumento de Progresso. O orador mostrou como a mediunidade se transformou e pode se transformar em instrumento do progresso das idéias e alteração da estrutura social. Mencionou que a partir do trabalho de Allan Kardec, metodizando o estudo e o uso da mediunidade, vários cientistas se interessaram em analisar os fenômenos e criaram ciências como a Metapsiquica e a Parapsicologia. Ele também lembrou do rigor que Kardec estabeleceu para a prática da mediunidade.

Dia 28, o médico Dr. Décio Iandoli Jr., abordou o tema Ser Médico e Ser Humano, que é o título de seu livro, também colocado à venda após a palestra. Na sua conferência o Dr. Décio discorreu com grande equilíbrio sobre a prática médica em relação à cura das doenças e mostrou como pode o Espiritismo influenciar a ciência médica e a prática médica em particular para que a relação entre o médico e o paciente seja humanizada.

Dia 29, o engenheiro Reinaldo di Lucia, discorreu sobre Curas mediúnicas. Ele abordou o tema mostrando os parâmetros da pesquisa científica e a recusa dos cientistas em investigar os fenômenos da cura não médica, relatando as peculiaridades do médium José Arigó, o famoso "cirurgião da faca enferrujada". Com a verve que lhe característica, Reinado di Lucia, mostrou fatos que ocorrem sem uma intervenção de desencarnados e os que decorrem da pessoa do curandeiro.

A Feira de Livros

Esta EXPOESPÍRITA2003, teve atrações especiais como o lançamento da 3ª edição do CADERNO CULTURAL ESPÍRITA. O redator chefe do Caderno, Jaci Regis, apresentou a nova edição do veículo discorrendo brevemente sobre seu conteúdo, que trata da Reencarnação. Vendido pelo preço de R$ 10,00 o CADERNO está a disposição dos interessados de todo o país.

KADU E O ESPIRITO IMORTAL, livro da psicóloga e psicopedagoga Cláudia Regis Machado, foi também lançado em grande estilo, com mural reproduzindo a capa do livro. Destinado especialmente para o público infanto-juvenil, o livro foi também bem aceito pelos adultos. Ele é uma interessante e dinâmica gincana, com jogos dinâmicos para ensinar a doutrina espírita. O preço de capa é R$ 14,50, mas na EXPOESPIRITA2003, foi vendido ao preço promocional de R$ 12,00.

Além desses lançamentos, o livreiro Florêncio montou um grande stand com centenas de títulos, muito procurados durante a EXPOESPIRITA2003.