Da Redação - Janeiro / Fevereiro de 2002

A Onda dos Sequestros

A onda de seqüestros que invade o nosso País traz em seu bojo uma dura realidade: a incompetência das polícias, a ausência de uma política de segurança, desemprego, o egoísmo social exacerbado e uma maligna distribuição de renda.A audácia dos bandidos chegou a tal ponto que seqüestros simultâneos ocorrem em diversas regiões, há o resgate de presos com helicóptero em plena luz do dia e vemos vidas aniquiladas sem a menor piedade.O seqüestro é um crime bárbaro, pra lá de hediondo, atenta contra a liberdade de ir e vir. Enquanto as pessoas, inseguras e apavoradas não sabem se estarão vivas ao chegarem em casa do trabalho, do shopping, as autoridades debatem alternativas e medidas com o objetivo de deter essa enxurrada de crimes que assola a sociedade e não se limita somente ao seqüestro.Pena de morte, prisão perpétua, unificação das polícias civil e militar, criação de penitenciárias federais: projetos e mais projetos vêm sendo debatidos. Surgiu até a idéia absurda de se proibir a venda de celulares pré-pagos a fim de inibir a ação dos bandidos, esquecendo-se que quase 70% dos celulares usados pela população se enquadram nessa categoria. O prejuízo seria enorme.Os adeptos da pena de morte ressurgem e querem impor uma prática que não deu certo em país algum. Está mais do que provado que a pena capital, esquadrões da morte, grupos para-militares de extermínio não reduzem a violência.Medidas imediatas serão e devem ser tomadas. Mas serão paliativas se não houver uma nova política penitenciária voltada efetivamente para a recuperação e reintegração de delinqüentes. O investimento maciço em educação, em cultura. A valorização do trabalho, a implantação de uma política de distribuição de renda. Tudo isso fere os interesses da elite, incapaz de abrir mão de seus interesses e privilégios. Uma política econômica que se pretende eficiente em detrimento da eqüidade tenderá ao fracasso. O resultado está aí, ninguém mais se sente seguro, vivemos numa situação social quase caótica.As observações de Allan Kardec acerca do tema, feitas há mais de um século ainda são atuais e merecem a nossa reflexão: "Considerando-se o aluvião de indivíduos que todos os dias são lançados na torrente da população, sem princípios, sem freio e entregues a seus próprios instintos, serão de espantar as conseqüências desastrosas que daí decorrem? (...) A desordem e a imprevidência são duas chagas que só uma educação bem entendida pode curar. Esse o ponto de partida, o elemento real do bem-estar, o penhor da segurança de todos." (O Livro dos Espíritos – questão 685).

Sem Teologia e Livros Sagrados

Convidada pelo Instituto Cultural Kardecista de Santos, a professora de filosofia e dra. Conceição Gmeiner abordou, em suas palestras, os temas A Virtude em Platão e A Virtude em Aristóteles. No decorrer de sua explanação ela fez importante ponderação. — Por que os gregos foram tão longe? inquiriu. E respondeu: — porque não tiveram um livro sagrado, nem teologia. Refletindo sobre a afirmativa da conferencista, verificamos não apenas o acerto de sua ponderação, mas poderemos analisar o "mal" que os livros sagrados, a teologia e os reveladores fizeram ao longo do tempo.A primeira conseqüência é que quando se estabelece um livro sagrado, reduz-se o pensamento, condiciona-se o horizonte mental aos limites do revelador ou da revelação que, invariavelmente, fala em nome de Deus, o que lhe dá a condição de intocável e perfeita.A Bíblia e o Alcorão, por exemplo, estabelecem limites estritos para o pensamento. Até hoje milhões se subjugam aos seus ditames como porta-vozes do divino, num mundo extremamente mutável.Os gregos foram mais liberais, filosofaram livremente.Seus deuses eram sexualizados, humanizados. Por isso, os filósofos gregos permanecem na raiz da cultura ocidental, imbatíveis e insuperáveis. Pois o cristianismo foi buscar em Platão e Aristóteles os fundamentos de sua teologia.Jesus de Nazaré, como Sócrates, nada escreveu, não estabeleceu nenhuma norma rígida, nem se preocupou em criar uma teologia. Foi direto, objetivo e simples.A adoção da Bíblia pelos cristãos e a criação de uma teologia cristã estabeleceram uma barreira entre o ensinamento natural e universal de Jesus de Nazaré e o mito do Cristo, criação teológica para ocupar o lugar do messias judaico, citado na Bíblia. Esse mito transformou-se no mito do Salvador, mistificando a obra divina e mantendo a mesma má vontade bíblica a respeito do ser humano, sua condenação e seu pecado.Embora Allan Kardec tenha criado o Espiritismo a partir da relação com os Espíritos desencarnados, abrindo uma brecha para a imortalidade dinâmica, ele referiu-se à Doutrina como uma "revelação cientifica", o que significa um processo contínuo de progressividade e aperfeiçoamento, que é o padrão característico da ciência.O Livro dos Espíritos, O Livro dos Médiuns, suas obras básicas, não têm quaisquer características de sagrado. Ao contrário, são formulações teóricas e fundamentais, norteadoras, iniciadoras de um processo dinâmico, que ele, em vida, complementou com a Revista Espírita e obras de comentários e complementares, como O Evangelho Segundo o Espiritismo, Céu e o Inferno e A Gênese.Inconformado e mal informado, o Espiritismo brasileiro voltou-se para o sagrado, rompendo com Kardec, que era laico, e entronizaram o Evangelho como livro sagrado e o mito do Cristo como o Redentor, o Governador do Planeta, que evoluiu em linha reta, mantendo a mesma disposição sobre o ser humano, culpado e o sentido punitivo para a vida.O Espiritismo, repetindo a expressão da professora Conceição, não tem livro sagrado, nem teologia. É uma filosofia de bases científicas e, por isso, pode se expandir, se aperfeiçoar e progredir.

Ajude o Lar Veneranda. É só Clicar

Com apenas um clique-donativo no endereço www. filantropia. org/veneranda. htm a Comunidade Assistencial Espírita Lar Veneranda será beneficiada com 50% do valor do clique. A iniciativa é do site Filantropia 400, que reúne as 400 maiores entidades assistenciais do País. Patrocinado pelas empresas Brazil Realty e Credicard, o site tem como objetivo identificar as maiores entidades do Brasil, "estimular para que cresçam e disponibilizar estas informações na Internet para serem facilmente acessadas por todos". De 28 de janeiro a 3 de fevereiro o Lar foi beneficiado com essa campanha, que destinou-lhe obrigatoriamente cerca de 50% das clicadas no site. "Missão Lar Veneranda: promoção da criança, através de um programa que abranja a saúde, a educação e orientação básica, bem como a escolarização e a promoção profissional e pessoal de suas mães", objetivo que pode ser lido no site, onde o internauta poderá conferir informações sobre demonstrativos financeiros da entidade, referentes a 1999, número de voluntários e outras informações sobre seu funcionamento. Quem quiser fazer diretamente algum donativo é só efetuar um depósito no Bradesco, agência 2066-4 – conta 743-9, conforme consta em um link nessa página. O site também traz informações sobre o Prêmio Bem Eficiente, recebido pelo Lar Veneranda em 1998, cuja finalidade é homenagear as entidades do Brasil, "divulgando sua eficiência e seriedade a fim de atrair maior atenção e empenho do setor privado à causa social".

Fato e Comentário
Clonagem

Parece inevitável a clonagem de seres humanos. A controvérsia é principalmente ética, embora estejam quase superados os problemas científicos e técnicos. Um dos obstáculos refere-se às tentativas de se conseguir a clonagem. Para clonar a ovelha Dolly inúmeros testes foram feitos e fracassaram, tendo que se sacrificar o clone defeituoso.O debate prossegue. Talvez demore alguns anos até que se chegue a um consenso e também para avaliar as vantagens e desvantagens do processo de clonagem de seres humanos.Nos meios espíritas o assunto é discutido com certa reserva. Não apenas quanto ao aspecto ético, mas também quanto à relação Espírito-matéria.Tem-se como certo nos meios espíritas que a reencarnação é um processo laborioso, programado com exaustão. Isso pode ser aceito sob condições muito especiais.De um modo geral, a reencarnação não demanda qualquer preparação exaustiva e se processa como uma forma natural, bio-espiritual, dentro de certas relações mentais e magnéticas.Isto é, quando existe a germinação no organismo feminino, cria-se uma atmosfera magnética específica, que produz uma atração para o centro genético de Espíritos disponíveis e relativamente ligados ao núcleo familiar ou pessoal da mãe, do casal.Alguns espíritas acreditam que, necessariamente, haverá um Espírito em caso de clonagem, para que se processe a formatação orgânica. Isso porque se preconiza, sem qualquer prova, que é o perispírito quem tem o modelo organizador biológico, quando esse trabalho, está provado, compete ao DNA.Claro que sem Espírito não haverá um ser humano, apenas um organismo reproduzindo o DNA do doador da clonagem.Mesmo que haja um Espírito que se ligue automaticamente ao clone, o papel do perispírito não é essencial, porque parece que ele não exerce papel definido na gestação, ao contrário do que se tem propagado e afirmado como verdade final.

Abrade

A Associação Brasileira de Divulgadores do Espiritismo (Abrade) agora está na Internet no endereço http://www.abrade. com.br. O e-mail é abrade@abrade. com.br. A instituição também tem nova diretoria, eleita em janeiro deste ano: Presidência - Gezsler Carlos West (PE); Diretoria Administrativa - Marcelo Henrique Pereira (SC); Diretoria de Política de Comunicação - Luiz Antônio Signates Freitas (GO); Diretoria de Parceria com as ADEs e congêneres - Wilson Garcia (SP); Diretoria Financeira - Marcus Vinícius Ferraz Pacheco (PE); Coordenadoria do Núcleo de Parcerias na Sociedade - Éder Fávaro (SP); Coordenadoria do Núcleo de Metodologias de Comunicação - Denizard Lopes Augusto de Souza (DF); Coordenadoria do Núcleo de Tecnologias de Comunicação - Marcelo Firmino Dias (PB); Coordenadoria do Núcleo de Infra-Estrutura Financeira - Luis Jorge Lira Neto (AL); Assessoria Jurídica - Ricardo Nascimento de Araújo (MS).

Cartas Abertas
A Mulher Islâmica

Prezados Srs. do jornal Abertura: Li o artigo de Eugenio Lara da edição do Abertura de outubro de 2001, ainda há pouco, no site da Internet.Não posso deixar de expressar a minha tristeza com as palavras do autor do artigo, que mostra estar totalmente mal informado acerca do islamismo.Além de extremamente preconceituoso, o referido artigo não traz informações verdadeiras. Acredito que o seu autor deva ser ele próprio um fundamentalista.A mulher tem sido muito mais respeitada nos países islâmicos, há séculos, do que no Ocidente. Confundir o Talibã com o Islã é demonstrar falta de cultura.Sugiro aos irmãos não deixarem de ler, se possível. no fascículo número 56 - novembro de 2001 - da revista Caros Amigos, o artigo As Leis do Islã, entrevista com o sheik Ali Abdune, que os esclarecerá sobre a verdade dos fatos em relação à mulher nos países islâmicos.Ressalto que não sou muçulmano. Sou brasileiro e cristão.Paulo Lemos 

Resposta de Eugenio Lara: Há um abismo entre o islamismo e o fundamentalismo pregado pelo Talibã, da mesma maneira que existe um abismo entre o cristianismo e as idéias de Jesus de Nazaré. Qualquer pessoa bem informada sabe que as conseqüências desse fato têm sido desastrosas, notadamente em relação aos direitos da mulher muçulmana. O islamismo é uma religião que prega o amor, a liberdade e o desenvolvimento das pessoas, sem distinção de sexo, etnia, classe social, e que merece o devido respeito. Já o fundamentalismo islâmico, impregnado de fanatismo e intolerância, deve ser eliminado da face da Terra, pois contribui para o atraso intelecto-moral da humanidade. Sugiro que releia o artigo com o coração aberto, deixando de lado sua intolerância, pois assim talvez possa perceber que há um abismo entre o que escrevi e o que o companheiro entendeu.
São Paulo-SP

A Luta Continua

Querido Jaci!Fiquei emocionado ao ler teu artigo intitulado Chorei Diante de Todos, que mostra a sensibilidade de alguém que sempre se preocupou e criou alternativas para que o movimento espírita pudesse reler Kardec numa perspectiva emancipadora. Hoje estou retornando aos meus compromissos espíritas, pois estive afastado por um bom tempo. Já freqüentei o Centro Cultural Espírita de Porto Alegre e tive o prazer de conviver com Milton Medran, a quem muito estimo, e com Salomão Benchaya, a quem devoto muita consideração. Hoje moro em Bagé-RS e, na casa onde retornarei, ainda se encontra enraizado o mesmo pensamento que desvirtua Kardec. Mas, pretendemos com o tempo irmos colocando outros pensares para que o movimento espírita fique mais humanizado e possa cumprir com o seu compromisso maior que é o esclarecimento das pessoas e o seu comprometimento com a sociedade. Um grande abraço, e como dizia um grande político (de esquerda): a luta continua...Gerson Yamin – Bagé-RS.