Outubro de 2002

Editorial - É preciso prestigiar a CEPA

A realização da XIV Conferência Regional Espírita da CEPA, a realizar-se de 14 a 17 de novembro próximo, em São Paulo, deve receber todo o apoio dos espíritas kardecistas.

A união de esforços, a mobilização de todos, a decisão de estar presente e participar será uma mostra cabal de que a CEPA veio para ficar.

E essa decisão cabe a todos os que pensam o Espiritismo de forma dinâmica e progressista.

Não há que ignorar ou não participar.

É um momento importante, talvez decisivo.

Se não mostrarmos que os espíritas progressistas são ativistas, decididos, cooperadores e unidos, ficará a imagem de que só se fala, só se discute, só se debate, mas as mãos continuam vazias de realizações.

A CEPA deve ser agregadora de talentos, de pessoas decididas e não dúbias, que escolheram um caminho e querem seguir por ele.

Nesse sentido seria até covardia renunciar, sob qualquer pretexto, a maciça presença desses espíritas que são olhados e se dizem prontos para defender a doutrina de Allan Kardec, diante dos desvios perpetrados e que podem comprometer o seu futuro.

Por isso, mais do que um apelo fazemos uma convocação a todos os espíritas progressistas para que adiram, participem e estejam presentes na Conferência de São Paulo.

Programação Especial na Expo-Espírita 2002

A EXPOESPIRITA2002, durará apenas3dias, mas terá programação especial

Dia 18 – As 20 horas - Lançamento do CADERNO CULTURAL ESPÍRITA.

Palestra de Jaci Régis sobre Amor, Casamento & Família.

Dia 19 – Às 17:30 horas –Demonstração de mediunidade psicopictográfica, com a presença de 5 médiuns pintores da FEESP

Dia 20 – Às 15:30 horas - Debate sobre o papel de Francisco Cândido Xavier, com Reinaldo di Lucia, José Luiz de Souza e Odair da Cruz.

Dia 18 – Coral CEAK Canta

Dia 20 – projeção do filme ALLAN KARDEC - Memória Visual

Apresentação do Coral Simoniani

A EXPOESPIRITA é uma Feira Anual de Livros Espíritas. Durante sua realização, serão oferecidos centenas de livros, a preços promocionais.

A Feira de Livros terá os seguintes horários: dia 18, a partir das 19 horas e nos dia 19 e 20 a partir das 15 horas.

Visando dar oportunidade a um número maior de pessoas participar, a sessão de pintura mediúnica será dividida em dois momentos, um às 17:30 horas e outro às 18:25 horas. Para participar os interessados deverão ter convites que permitirão a entrada no auditório durante a apresentação.

Os convites serão distribuídos gratuitamente a quem comprar qualquer livro na EXPOESPIRITA2002. Assim, os interessados em participar dessa sessão especial, deverão obter seus convites a partir da 19 horas, do dia 18 quando será aberta a Feira de Livros

Venda de quadros

Os quadros pintados durante a apresentação de mediunidade psicopictográfica, serão vendidos após o termino da sessão, no local

Cartas Abertas : Problemas com a Mediunidade - Da Redação

Sr. Jaci Regis

Gostaria de agradecer pelo exemplar do jornal que me foi enviado. Exatamente no dia em que chegou estava eu a pensar no que faço dentro da casa espíritas que freqüento e, mais ainda, o que faço na doutrina.

Que Espiritismo é esse que tenho vivenciado no ambiente em que atuo. Confesso que tenho andando muito desanimada. Não que me sinta melhor ou pior que os outros. A questão é a seguinte: Estou muito descrente das manifestações mediúnicas que tenho presenciado. Sinceramente, perdoe-me se estiver errada, mas não dá para acreditar em tantos pássaros dourados pousando sobre os assistidos que vão à casa em "espírito"que dizem exatamente o que o médium ou o dirigente pensam, sentem... Massageando o seus egos, "espíritos"que chegam ao ponto de dizer àquele que busca ajuda que seus familiares não o amam, etc,e tal. Que assistência é essa?

Por esses motivos e outros mais, deixei de freqüentar reuniões mediúnicas. Não aceito as histórias mirabolantes que ouço por parte de médiuns e "espíritos".

Acredito que há uma responsabilidade muito grande naquilo que se vai dizer. A alguém em nome dos espíritos. E o médium é idolatrado. Meu Deus! quantas vezes me pergunto se estou errada! Será que estou julgando mal o que vejo?

Com tudo isso decidi dedicar-me somente às atividades ditas não-mediúnicas e buscar mais aquilo que posso fazer para minha real mudança, naquilo que a doutrina ensina, sobre nossa transformação em todos os sentidos da vida, na nossa participação social.

Estou engatinhando no conhecimento, mas buscando aprender mais.

Tudo isso estava fervilhando em minha mente quando abri o jornal e li as duas matérias da página 3. A sua e a do senhor Eugênio Lara. Pus-me a pensar mais ainda. Cheguei à conclusão de que estou muito parada. Preciso me movimentar e agir mais.

Suas palavras foram precisas para mim. Obrigado. Mais uma vez do fundo do meu coração.

Espero não ter invadido seu espaço e digo também que não passei a limpo, pois se o fizesse com certeza alteraria tudo e talvez até desistisse de enviá-la.

Talvez não tenha sido suficientemente clara ao expor minhas idéias, mas não tenho muito jeito para escrever e também minhas idéias não estão tão claras.

Um abraço carinhoso no senhor e a todos que colaboram neste trabalho de divulgação maravilhoso.

Vânia.

Prezada Vânia.

Publicamos sua carta porque ela espelha a angustia e os problemas que milhares de espíritas estudiosos enfrentam pelo país afora.

A mediunidade é o calcanhar de Aquiles do Espiritismo.

Se ela é, sem dúvida, a porta que nos abre a certeza da imortalidade dinâmica está, todavia, sujeita a tantos percalços, fraudes e desvios que é, também o caminho de deformação doutrinária.

O que você transcreve é realidade cotidiana. Isso porque a maioria das casas espíritas não estuda e nem pratica a mediunidade conforme estabeleceu Allan Kardec no O Livro dos Médiuns.

Se assim fizesse, todas as comunicações seriam passadas pelo crivo da razão. Isso não acontece porque a mediunidade foi sacralizada e o médium tomado como um ser à parte. Isso começa pela adjetivação de oradores que são apresentados como "o médium fulano de tal", como isso fosse profissão ou condição de garantia de que sua palavra é orientada pela "espiritualidade superior" outra invenção corriqueira.

Acerca da imunidade dos médiuns vale a pena transcrever o que está no O Livro dos Médiuns:

Qual seria o médium que poderíamos considerar perfeito?

- Perfeito? É pena, mas bem sabes que não há perfeição sobre a Terra. Se não fosse assim, não estarias nela. Digamos antes bom médium, e já é muito, pois são poucos. O médium perfeito seria aquele que os maus Espíritos jamais ousassem fazer uma tentativa de enganar. O melhor é o que, simpatizando somente com os bons Espíritos, tem sido enganado menos vezes

Além disso Kardec anota que o orgulho " é um dos elementos que mais devem despertar a desconfiança sobre a veracidade das suas comunicações. Começa por uma confiança cega na superioridade das comunicações recebidas e na infabilidade do Espírito que as transmite. Disso resulta um certo desdém por tudo o que não procede deles, que julgam possuir o privilégio da verdade" e mais "rejeição de conselhos, repulsa a qualquer crítica, afastamento dos que podem dar opiniões desinteressada.. (Livro dos Médiuns , capitulo XX –Influência moral do médium. Itens 226 e 230)

Por isso cara Vânia não desanime. Continue estudando e divulgando a doutrina. Vale a pena.

Fato & Comentário: Um Globo Repórter Correto - Da Redação

A TV Globo exibiu na Sexta-feira, dia 13 de setembro, o Globo Repórter, sobre questões de curas espirituais. O programa foi direcionado praticamente para o trabalho realizado por espíritas. Dona Isabel Cury, de Juiz de Fora, mostrou seu trabalho de quase quarenta anos no campo mediúnico, com resultados muito importantes, com posições equilibradas. O programa mostrou também, esforços de pesquisadores, como Júlio Peres, na área das vivências passadas, do dr. Luís Felipe, no estudo da epífise e outros trabalhos, mostrando a influência das vibrações fraternas sobre as doenças, incluindo uma participação de Carlos de Brito Imbassahy, submetendo-se a uma prova de médium baiana que, curiosamente, como que absorve temporariamente a personalidade do consulente, como uma personagem que interpreta e o trabalho de Tadeu que mantém o Hospital em Araxá, Minas Gerais, onde o afeto sobrepuja o tratamento psicoterápico e famacológico.

O que importa ressaltar foi a imoarciaidade e a discrição com que o programa foi realizado, sem apelos ao misticismo, nem ao mágico, mas com seriedade e honestidade.

Devemos parabenizar a Globo pelo excelente trabalho, tão diferente de alguns em que o problema da cura e fenômenos mediúnicos foram mostrados de maneira pouco elegante e quase sempre desfavorável ao Espiritismo.

Allan Kardec Sempre - Da Redação

Quando compreendeu a amplitude e o descortino que as idéias que começou a coletar, Allan Kardec compreendeu que era a obra de sua vida.

Até aquele momento, o prof. Rivail estivera em atividades intelectuais e aliara ao magnetismo, mas aspirava por uma visão mais ampla dos problemas humanos.

A histórica reunião na casa da Sra. Plenamaison mostrou o caminho. Era catarse mental e emocional que se operava. Enquanto os circundantes se divertiam e banalizavam a "dança das mesas" ele percebeu que naqueles fenômenos toscos estava a chave para uma revolucionaria revisão das bases da cultura.

Atirou-se ao trabalho sem demora e sem descanso.

Legou-nos uma obra ainda desconhecida – a começar por grande maioria dos que se dizem espíritas e pela cultura geral - mas que, provavelmente, será consultada na medida que as teses que defendeu a partir de O Livro dos Espíritos forem consolidadas pela pesquisa, pela evolução dos fatos e pensamentos.

Flammarion disse que ele não era propriamente um cientista. Outros afirmam que não podemos classificá-lo como um filósofo. E muito menos poderíamos inclui-lo entre os reveladores religiosos.

A figura de Allan Kardec, todavia, firma-se distinta, sólida, própria, como um homem que se não foi um cientista, pensou cientificamente. Se não se lhe dá o título de filósofo, filosofou extensa e intensamente e embora não tenha sido um místico ou profeta, lançou sobre a confusa trama religiosa, a luz de um pensamento positivo acerca de Deus, da alma e do futuro do ser.

Essa ampla, ora objetiva e simples, ora complexa e extensa capacitação intelecto-moral de Allan Kardec precisa ser compreendida, conhecida, estudada, a principiar entre os espíritas

Os Estranhos Caminhos do Coração - Jaci Régis

Conclui meu curso de psicologia há, apenas, 20 anos.

Nesse período tenho acompanhado os caminhos do coração humano.

Diante da realidade das pessoas, o psicólogo precisa refletir com isenção e situar-se acima de suas próprias convicções, sob pena de cair no desvão do julgamento e da condenação.

Ele não pode e nem deve colocar-se como paradigma do comportamento, nem pensar que suas idéias, seus sentimentos, sua filosofia de vida, seja o ponto de equilíbrio e a linha básica do julgamento do comportamento humano.

Ao contrário, deve admitir caminhos próprios, limitações e loucuras dos que o procuram, porque a variedade dos sentimentos, a tomada de decisões e não-decisões, faz parte da natureza humana, sempre tão surpreendente.

Alguém poderá dizer que afinal quem procura um profissional deve ter realmente problemas, anormalidades, desvios.

Entretanto, a verdade é que, quase sempre, quem procura um profissional como um psicólogo, já não suporta o próprio sofrimento, a angústia e as dúvidas que tomam conta de seu ser.

Muito raramente alguém vai ao consultório do profissional movido pela consciência de que precisa conhecer-se mais profundamente. Porque a primeira forma de começar a conhecer a si mesmo, é aprender a ouvir-se.

E a psicologia é o lugar onde a pessoa aprende a ouvir-se, a escutar suas próprias idiossincrasias.

Ao contrário das doenças do corpo físico, que abalam imediata e visivelmente o viver, os problemas da alma corroem e vicejam no íntimo e nem sempre são constatáveis externamente.

Por isso, milhões permanecem com suas dores e seus sentimentos dolorosos, suportando-os, acomodando-se a eles e aceitando viver não integralmente ou pelo menos satisfatoriamente sua própria vida.

As dúvidas sobre sua sanidade e os conflitos internos, não lhes dão coragem para expor-se e duvidam que a terapia possa ajudá-los.

Além disso, a procura de causas externas para seus sofrimentos internos faz com que milhares andem a procura de médiuns, curandeiros, simpatias, terapias alternativas que prometem cura a curto prazo, através de meios diversos.

O que eu tenho aprendido é não surpreender-me.

Olhar quem me procura e sente-se seguro para colocar suas idéias, seus pensamentos e seus sofrimentos como um ser humano a caminho de seu destino.

Na verdade, cada um traça "destinos temporários" que, muitas vezes, seguem caminhos obscuros, insatisfatórios, provocando situações de dor e conflitos.

É fácil teorizar sobre a necessidade de construir um destino satisfatório, que responda aos anseios mais felizes e nobres do Espírito. Mas, movido o coração, confundida a mente diante dos fatos, dos desafios que cada um tem que enfrentar na edificação de si mesmo, esse "destino temporário" não raro é nebuloso, inseguro, aflito...

Há um mecanismo não facilmente constatável que vai acumulando suspeitas, idéias, sentimentos que determinam o modo de estar no mundo. E desde aí, o olhar para o mundo, a relação com os outros, passa por níveis de integração e desintegração, de amor, desejo, animosidade e de medo, afastando, isolando a pessoa em si mesma.

Tenho pensado como o Espírito elabora seu conteúdo de idéias, medos, conflitos, agressividade e amor.

Observo que nossa mente, como expressão do ser espiritual, trabalha em dois níveis. O nível racional, cognitivo e o nível afetivo, emocional. O equilíbrio desse dois níveis é o fiel da balança vivencial.

Quando o nível cognitivo domina , a pessoa trabalha em condições de inflexibilidade e rigidez e tenta afastar o afetivo ou pelo menos procura racionaliza-lo. E toda racionalização da emoção cria estruturas mentais doentias, porque impede que a vida se escoe em harmonia consigo mesma.

Da mesma forma, quando o nível afetivo domina soberano, a emotividade enevoa o raciocínio e a vida descamba para situações de desequilíbrio comportamental, uma vez que o olhar se centraliza em formas sensíveis descontroladas.

Além desses casos extremos, costumam ocorrer situações em que o nível cognitivo avança demasiado no afetivo ou o afetivo satura o cognitivo. Nesses casos, não há um caminho razoavelmente satisfatório, pois a indefinição flagrante é produto da ansiedade , isto é, do medo endógeno a configurar um mundo incerto, perigoso.

Então, a pessoa se esconde no próprio íntimo e consola-se em viver à margem de realizações, camuflando desejos, congelando afeições.

Então, essa meia-vida, esse não-sentir e sentir, esse medo e esse desejo irrealizado, conturbam a mente, desintegram o caráter e o amanhã ora é um inferno ou uma esperança milagrosa.

A psicologia pode ajudar, quando a pessoa sente que não pode mais suportar e suporta, entretanto, a paulatina reelaboração de novas idéias, novos conceitos e abre um olhar para si mesma com mais alegria e certeza de vitória.

Tenho sentido que o que separa, muitas vezes, esse mal-estar íntimo, essa insatisfação interna, de um modo de estar no mundo mais harmonioso, produtivo e feliz, não é um muro alto e intransponível.

É apenas uma simples linha.

Ultrapassa-la é a cura

Sem Medo do Fim do Mundo - Eugênio Lara

Um ano após o ataque terrorista às torres gêmeas do World Trade Center, nos EUA, as previsões de pensadores, intelectuais e analistas especializados em política internacional não se realizaram. Muitos, como o célebre intelectual norte-americano Gore Vidal, imaginaram que seria o início de uma série de ataques e atentados em todo o mundo, que conflitos bélicos se intensificariam, resultando numa destruição em escala mundial. Nada disso aconteceu e, como sempre ocorre com acontecimentos dessa magnitude, houve sim a exploração comercial e emocional do fato, numa enorme quantidade de produções artísticas, teatrais e musicais sobre o tema.

Todavia, à margem dessa interessante produção cultural, o que se viu foi a retomada da ideologia do fim do mundo. Novamente os religiosos apocalípticos de plantão saem de suas catacumbas para disseminarem aos quatro ventos que o fim está próximo. Para esses profetas de meia-tigela, o 11 de Setembro foi o começo do fim, o prelúdio da destruição do planeta.

Nada de novo. Os maias, os astecas, os egípcios, Zoroastro, quase todas as culturas da Antiguidade tinham no "fim do mundo" um componente importante de seu imaginário, como uma espécie de arquétipo, um mito presente em quase todas as formas de culto, das mais antigas às mais contemporâneas.

Quase todas as grandes religiões da Humanidade apregoam que um dia o planeta terá um fim, segundo um esquema místico, profético, pré-determinado pela Divindade. Pois é justamente nos períodos de crise econômica e social, nas fases de transição no calendário que surgem movimentos de caráter milenarista, atiçando o medo e o terror nas pessoas.

Não poderia ser diferente nesse exato momento em que a humanidade atravessa uma crise econômica sem precedentes, em que o planeta se acha devastado após séculos de destruição do meio ambiente. Nunca existiram no mundo tantas pessoas famintas e nunca a opulência chegou a níveis tão altos. Possuímos uma tecnologia com um poder de destruição incomparável. O Oriente Médio atravessa os séculos como um imenso barril de pólvora, sempre a ponto de explodir. A retomada de ideologias racistas e retrógradas em nível globalizado é preocupante.

Diante desses fatores é compreensível que seitas e religiões anunciem pela enésima vez o fim do mundo, assistidas que são pelo ceticismo, pelo hedonismo e a descrença materialista.

No tempo de Allan Kardec a movimentação milenarista não foi tão intensa como agora, mas causou comoções, estimulou seitas e muitas religiões a hastearem a mesma bandeira apocalíptica que agora vemos flanando por toda parte. O fundador do Espiritismo assumiu, como sempre, uma postura de equilíbrio e de bom senso. Quanto às palavras proféticas acerca do fim do mundo, declarou: "para os incrédulos, nenhuma importância têm; aos seus olhos, nada mais exprimem que uma crença pueril, sem fundamento. Para a maioria dos crentes, elas apresentam qualquer coisa de místico e de sobrenatural, parecendo-lhes prenunciadoras da subversão das leis da Natureza. São igualmente errôneas ambas essas interpretações; a primeira, porque envolve uma negação da Providência; a segunda, porque tais palavras não anunciam a perturbação das leis da Natureza, mas o cumprimento dessas leis" (A Gênese – cap. XVIII – Sinal dos Tempos).

Para Kardec, a transformação no planeta ocorre por ele se achar sujeito à inevitável lei de progresso. Assim como os habitantes, a habitação também evolui, se transforma, num processo muitas vezes contraditório e imprevisível. "De duas maneiras se executa esse duplo progresso: uma, lenta, gradual e insensível; a outra, caracterizada por mudanças bruscas, a cada uma das quais corresponde um movimento ascensional mais rápido, que assinala, mediante impressões bem acentuadas, os períodos progressivos da Humanidade" (A Gênese – idem).

O fundador do Espiritismo rejeita a idéia de destruição apocalíptica: "A Terra, no dizer dos Espíritos, não terá de transformar-se por meio de um cataclismo que aniquile de súbito uma geração. A atual desaparecerá gradualmente e a nova lhe sucederá do mesmo modo, sem que haja mudança alguma na ordem natural das coisas" (A Gênese – idem).

Nesse mesmo capítulo, escrito em 1868, Allan Kardec prevê uma nova sociedade, alicerçada em uma ordem moral isenta dos antigos vícios. As mudanças por ele previstas deveriam acontecer no século 20 e o Espiritismo iria desempenhar o papel fundamental de secundador desse processo de transformação moral. Estamos no início do século 21 e ainda há muito para ser radicalmente transformado. O Espiritismo ainda permanece atual em seus princípios filosóficos e sua ética muito pode contribuir para que o inevitável progresso intelecto-moral se efetive, sem medo do fim do mundo, sem apocalipse, sem Armagedon, sem previsões trágicas e torturantes.

Conferência CEPA 2002: Temas Livres e Cursos Pré-Congresso
ganham Destaque - Da Redação

Marcada para o período de 14 a 17 de novembro, a Conferência 2002 da Cepa já tem seu sucesso garantido. Cerca de 30 trabalhos inscritos para o Fórum de Temas Livres disputam o espaço reservado na programação. E novos nomes importantes já confirmaram sua presença no evento.

 Painéis, cursos, palestras, mesas redondas e o Fórum de Temas Livres prometem um evento em São Paulo dos mais importantes para o espiritismo. Trata-se da Conferência 2002, tradicional evento organizado pela Confederação Espírita Pan-americana (Cepa), com realização programada para as excelentes instalações da Universidade Cruzeiro do Sul (Unicsul), Campus Anália Franco, Bairro do Tatuapé em São Paulo

PROGRAMA GERAL

Embora ainda sujeito a alterações a Comissão Organizadora já tem pronta a programação do evento.

No dia 14 de novembro começara a Conferência com uma série de cursos e oficinas.

Cursos

Manhã:

1) Embriogênese Médica e Espiritual – Rafael Castilho – VE

2) História do Espiritismo, do Movimento Espírita e da CEPA – Alfredo Quintana – AR

Tarde:

1) Espiritismo e Parapsicologia – Jon Aizpúrua - VE

1) O processo de atualização do espiritismo (o quê e como?) – Ademar Arthur C. dos Reis e Reinaldo Di Lucia - BR

2) Comportamento espírita diante do stress, da obsessão e depressão – Jaci Regis – BR

3) Infância Espírita – Roseli Regis dos Reis e Sandra Regis – BR

4) Oficina de Trabalho sobre Mediunidade – Dante Lopez - AR

Noite:

Conferência Pública:

O mundo em crise: qual a contribuição do Espiritismo?

Com Jon Aizpúrua - VE

Temário das Mesas Redondas e Painéis

Epistemologia, Atualização do Espiritismo - Identidade Espírita – Alteridade e pluralismo / Metaespírita

Comunicação Social - Atualização da Linguagem -O papel dos Espíritos Desencarnados no Processo de Atualização do Espiritismo

A evolução das práticas mediúnicas e a atualidade do método de Kardec - Energia Vital e Matéria: redefinindo conceitos - Espiritismo e Cidadania - Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável

Como estabelecer o diálogo com jovens espíritas de hoje e de amanhã? - O Espiritismo frente a Globalização e o Neoliberalismo - É possível estabelecer diálogo entre as diferentes correntes espíritas? Infância Espírita: atualizando o processo de aprendizagem – Novos paradigmas e desafios pedagógicos para a Infância – Reconceituação da Educação Espírita na Sociedade Contemporânea

Alguns convidados:

Alejandro Ruiz Dias (AR) - Cristina Dubrich (AR) - Dante Lopes (AR) -Alfredo Quintana -(AR)Matias Quintana (AR) - Raul Dubrich (AR) - Orlando Villarraga (CO) -Jon Aizpúrua (VE) -Denizard Souza (BR) - Gezler Carlos West (BR) - Jaci Regis (BR) - José Rodrigues (BR) - Júlia Nezu (BR ) - Luiz Signates (BR) - Milton Rubens Medran Moreira (BR) - Ney Albach (BR) - Ademar Arthur Chioro dos Reis (BR) - Reinaldo Di Lucia (BR) - Roseli Regis dos Reis (BR) - Salomão Benchaya (BR) - Saulo M. Albach (BR) - Wilson Garcia (BR)

Fórum de Comunicação Social

No dia 16, Sábado, haverá um Forum de Comunicação Social, coordenado pela ABRADE – Associação Brasileira de Divulgadores Espíritas

Fórum de Temas Livres e Atividades de Encerramento

No dia 17, o Fórum de Temas Livres movimentará a Conferência com a apresentação de mais de 30 trabalhos simultaneamente.

Atividades artísticas e culturais

Todo o evento será marcado, também, por atividades artísticas e culturais, com música, exposição de quadros, apresentação de corais, exposição e venda de livros, além das exposições de Pôsteres , da Imprensa Espírita e uma exposição especial sobre a vida e a obra do patrono da Conferência, José Herculano Pires

Inscreva-se já! A taxa de inscrição é de R$ 160,00 ou US$ 50,00

 Jovens até 21 anos terão 50% de desconto

 Secretaria do evento:

conferencia2002@cepanet.org / sandra@consaude.com.br

Tel.: 55 13 3227.0389

Rua São José, 38 cjs. 918 / 920 – Embaré – Santos/SP – CEP 11040-200

Contato: Sandra Regis

CPFL doa Computadores ao Lar Venerenda

Atendendo pedido do Lar Veneranda, a CPFL – Companhia Piratininga de Força e Luz, doou à Comunidade Assistencial Espírita Lar Veneranda, entregou no dia 12 de setembro, 5 computadores.

Esses computadores serão utilizados para o Curso de Informática do CENTRO DE ENSINO PROFISSIONAL –CEPROF, instalado no Edifício Jaci Régis, na Av. Francisco Glicério, 261.

Para entregar os computadores, compareceram os gerentes da CPFL na região, srs. Mauricio Vilela de Andrade e Nelson Vieira Braga. Em cerimônia simples, a presidente do Lar, Valéria Regis e Silva, agradeceu a doação e Mauricio Vilela de Andrade referiu-se ao programa social da empresa.

Diretores e voluntários do Lar estavam presentes.

ICKS abre seu Espaço de Arte

Com o vernissage da artista plástica Rosa de Paula, no dia 26 de setembro, foi inaugurado o Espaço de Artes do ICKS.

O Espaço de Artes do ICKS é mais uma iniciativa do Instituto Cultural Kardecista de Santos, ampliando sua atuação cultural. Ele estará aberto a exposições de artistas plásticos que desejarem mostrar seu trabalho, em telas e esculturas.

O amplo saguão de entrada do Edifício Jaci Régis foi adaptado para a mostra, com a exposição dos quadros e painéis divisórios.

A decoração do Espaço foi realizada por Maria Alice Figueiredo Mota e Lucila Figueiredo Mota e foi muito elogiada.

O coquetel de abertura esteve à altura do acontecimento que reuniu cerca de 60 convidados.

No mesmo saguão está montada a livraria do ICKS.

.A ARTISTA

Rosa de Paula reuniu 30 quadros em pintura geralmente na técnica óleo sobre tela. A artista expôs quadros com marinhas, paisagens e outros motivos. A impressão colhida entre os presentes foi muito positiva.

Rosa de Paula, 54 anos, tem longa carreira artística. Durante oito anos pintou porcelana e nos últimos quatro dedicou-se à pintura sobre tela, passando por um período de pintura em aquarela.

Sua orientadora é a professora Miriam Alvim. Estudou também com o professor L.Victor.

Ela confessou-se muito emocionada porque esta é a sua primeira mostra individual. Anteriormente participou de várias exposições coletivas.

Casada e com dois filhos, um advogado e outro arquiteto, ela encontra na pintura a realização de sua vida.

Seus planos para o futuro é continuar pintando e se aperfeiçoando

Curso é encerrado com Entrega de Certificado

O Curso de Iniciação à Doutrina Kardecista realizado pelo ICKS, chegou ao fim no dia 24 de setembro, com a entrega de Certificados de Conclusão a 40 (quarenta) alunos. Estes freqüentaram entre 80 e 100% das aulas..

Iniciado no dia 6 de agosto, o Curso desenvolveu um programa para dar uma vis"ao geral da doutrina kardecista.

Os temas foram¨caracter da doutrina espírita, princípios básicos ,lei da evolução, reencarnação, mediunidade, imortalidade dinâmica e leis morais. Jaci Regis, Júnior da Costa e Oliveira, Eugênio Lara e Roberto Rufo, foram os expositores.

AVALIAÇÃO

O Curso, foi avaliado pelos alunos.

94% consideraram o Curso excelente e bom.

33,3% não tinham conhecimento da doutrina.

97,7% avaliaram o desempenho dos expositores como excelente e bom.

63,6 gostariam de outros cursos com maior duração e 36,4% com a mesma duração

Entrevista com Dr. Milton Teixeira: Kardec foi um iluminado - Da Redação

O Dr. Milton Teixeira é figura importante na comunidade santista e da região metropolitana da Baixada Santista. Advogado, escritor, político esportista, criou o complexo educacional que hoje é a Universidade Santa Cecília. Mantém, também, o Colégio Santa Cecília com Educação Infantil. E Cursos do Primeiro e Segundo Graus.

Chanceler da Universidade, é o patriarca de uma família, cujos filhos comandam tanto administrativa como pedagogicamente a UNISANTA. A Universidade, além das faculdades, possui a Televisão Santa Cecília e a FM Santa Cecília, jornais internos e grande atuação esportiva.

Milton Teixeira pode ser considerado um espiritualista, simpatizante do Espiritismo. Nesse sentido abriu as portas da UNISANTA, para a realização de cursos e eventos espíritas. Ali, por exemplo, funciona o curso "Cérebro, Mente, Corpo e Espírito" dirigido pelo médico José Nilson Freire, com aulas aos sábados.

Nesta entrevista, realizada no escritório da Chancelaria da UNISANTA, o Dr. Milton Teixeira, revela a sua simpatia com a doutrina kardecista e expõe suas idéias sobre a educação e as práticas místicas.

ABERTURA - Qual a motivação para criar na UNISANTA um curso de doutrina espírita, dentro da Universidade?

MILTON TEIXEIRA - Abrimos esse espaço, como uma forma acadêmica de expor as idéias espíritas, por um grupo liderado pelo Dr. Salum. Atualmente o Dr. José Nilson Freire, lidera um curso sobre Cérebro, Mente, Corpo e Espírito, aos sábados. Acreditamos que assim contribuímos para a divulgação das idéias espíritas para todos os interessados.

ABERTURA - A alguns anos, o Sr organizou e protagonizou uma homenagem a Allan Kardec, em sessão da Câmara Municipal de Santos, por iniciativa do saudoso vereador Noé de Carvalho. Qual a sua visão da obra de Kardec?

Milton Teixeira – Allan Kardec foi um iluminado. Divulgou suas idéias enfrentando muitos obstáculos, mas hoje é conhecido e admirado em todo o mundo.

ABERTURA - Segundo o IBGE, os espíritas seriam cerca de 4% da população brasileira. O Sr pensa que esse percentual representa a realidade?

Milton Teixeira – Creio que existem muito mais. Esse dado é oficial. Oficiosamente creio que o número é bem maior. Hoje o Espiritismo é aceito pela sociedade. Muitos, todavia, omitem sua condição de espíritas, por vários motivos.

ABERTURA - Na sua visão, qual a representação social do movimento espírita no Brasil?

Milton Teixeira – Desde cedo, o movimento espírita se impôs pela caridade e isso foi e é importante como contribuição social.

ABERTURA - O país é muito desigual. Qual o papel da educação no futuro do Brasil?

Milton Teixeira – A educação é fundamental. Hoje temos a maior parte da população nas escolas. A vitória está na erradicação do analfabetismo.

ABERTURA - O Sr pensa que o nível ético e moral da humanidade decaiu ou evoluiu nos últimos séculos? Acredita que a doutrina espírita possa desempenhar um papel na evolução positiva da ética social?

Milton Teixeira – Sou otimista e creio que as nova gerações têm melhorado muito. Sem dúvida a doutrina espírita pode contribuir muito para a melhoria do nível moral da humanidade.

ABERTURA - O projeto educacional da UNISANTA visa, sobretudo, atingir que ideal?

Milton Teixeira – Queremos dar sempre o melhor para criarmos profissionais que encontrem um lugar no mercado. Nossos engenheiros, arquitetos, enfim, todos os alunos sempre têm oportunidade real na busca de empregos

O entrevistado, a certa altura, iniciou o seguinte diálogo com o Repórter:

MT —O que o Sr. pensa a respeito de Umbanda e Espiritismo?

Repórter – A Umbanda é um sincretismo mediúnico, afro-católico. Talvez o suposto ponto de relação seja o mediunismo. Mas a prática mediúnica preconizada por Kardec, difere radicalmente da forma anímica adotada na Umbanda. Mas a Umbanda não tem nada a ver com o Espiritismo.

MT – Nós temos um centro Espírita. Éramos kardecistas, mas não ia para frente. Então, foi sugerido que também usássemos a Umbanda. Não se trata de pessoas ignorantes, muitos professores aderiram. Por isso, nosso centro tem três sessões mensais de Umbanda e uma de "mesa branca", com estudo de Allan Kardec.

Repórter – O misticismo não tem relação direta com o raciocínio.

MT – Nossa base é a doutrina de Jesus, enviado por Deus.

Repórter – É a Casa de Allan Kardec, que vi aí na frente?

MT – Sim, não alteramos nada.

Em seguida, a reportagem foi convidada a visitar o centro espírita mencionado.

É uma pequena casa que, curiosamente, ostenta na fachada a frase "Casa de Allan Kardec". Na entrada, alinham-se poucas cadeiras e, em seguida, existe um pequeno salão com altar característico com muitas imagens de santos católicos. Sobre esse altar está aberto um livro, que o dr. Milton diz, batendo com a mão, " É o livro sagrado".

Parece uma bíblia. Mas é uma edição que reúne as obras de Kardec. Forma um grosso e largo volume com gravuras religiosas típicas, de modo que visualmente fica muito parecido as edições em tamanho grande da bíblia.

Repórter – Essa edição falseia visualmente porque dá a impressão que as obras de Kardec são uma bíblia.

O anfitrião mostra uma edição de O que é o Espiritismo de Kardec, tradução de J Herculano Pires.

Repórter – Esse sim, deve ser estudado e lido.

Na saída, olhando as gravuras da Virgem Maria, de Jesus e de Bezerra de Menezes o anfitrião declara:

MT – Nossa crença está na Virgem Maria, em Jesus e Fora da Caridade não há Salvação.

Repórter – Essa é de Kardec

Opinião em Tópicos - Milton Medran Moreira

Chávez "espiritista"

Na companhia dos amigos espíritas venezuelanos, viajávamos, naquele 7 de agosto para a bela praia de Tucacas, no Mar do Caribe, aproveitando dois dias de folga nas atividades espíritas que ali realizávamos. No rádio, falava-se sobre o único assunto que tem se tratado na Venezuela: a dura crise política, social e econômica que vive aquele país. No centro dos acontecimentos, como não poderia deixar de ser, o polêmico presidente Hugo Chávez. O entrevistado, um militar que fora seu colaborador e que com ele rompera, fazia uma grave acusação a Chávez: ele é "espiritista". Dizia que, nessa condição, invocando o espírito de sua mãe, o presidente faz "trabalhos" e "feitiçarias" contra seus inimigos políticos. E é, acrescentava o entrevistado, graças a esse expediente que Chávez tem se mantido no poder. Nossos companheiros de viagem, todos espíritas, deram boas risadas. Estão acostumados com essas referências estúpidas e pueris que revelam o alto grau de desconhecimento em quase todos os setores da Venezuela sobre o Espiritismo.

Um Exemplo

É nesse contexto que os espíritas venezuelanos precisam trabalhar. Para minimizarem essa situação, cavam espaços no rádio, televisão e jornais não apenas para esclarecer o que é o Espiritismo, mas, antes disso, para dizer o que ele não é. Mesmo diante dessas dificuldades, o Movimento de Cultura Espírita CIMA, a maior e mais autêntica referência espírita que a Venezuela tem, firma-se como uma instituição de nítido caráter cultural. À sua testa, o intelectual espírita Jon Aizpúrua, ex-presidente da CEPA, realiza um trabalho que honra o Espiritismo. Às conferências públicas, oferecidas aos domingos, em seus auditórios nas cidades de Caracas e Maracay, e onde tive oportunidade de falar, acorre sempre um público com perfil bem definido: constituído de pessoas interessadas no conhecimento espírita. São atraídas precisamente por aquilo que se constitui na própria razão de ser do Espiritismo. O Movimento CIMA é um exemplo de que uma casa espírita não precisa fazer concessões ao misticismo, ao assistencialismo e ao socorrismo para atrair gente. Quem procura o Espiritismo como fonte de conhecimento, termina por valorizá-lo, aderindo às suas propostas e divulgando-o corretamente.

O Resgate

Resgatar a mensagem kardequiana implica também no compromisso que os espíritas têm de contínuo resgate do próprio nome "espiritismo". Se tivéssemos sido mais ciosos dessa responsabilidade, nunca teríamos permitido que feiticeiros, curandeiros, fazedores de trabalho, pais e mães de santo, místicos e médiuns de todas as categorias sem nenhum compromisso com a ciência, a filosofia ou a ética espírita, houvessem se adonado dessa denominação. Fomos invigilantes enquanto afirmamos ou permitimos que se afirmasse que espiritismo e fenômenos mediúnicos eram a mesma coisa. Deixamos a porta aberta para que se intitulassem "espíritas" centros, tendas e templos religiosos das mais diversas categorias, muitos deles voltados, inclusive, à prática do bem, cheios das melhores intenções, mas totalmente desprovidos de uma base teórica e doutrinária que justificasse minimamente se autodenominarem espíritas. Agora, temos esse desafio constante, que em alguns países é dramático: explicar à sociedade o que é e o que não é espiritismo.

Nome e Patrimônio

Na Venezuela, após uma das palestras públicas que proferi, e quando passei a responder as perguntas formuladas pelos assistentes, alguém levantou essa questão: já que a denominação espírita presta-se a tanta confusão conceitual, por que os espíritas não criam outro nome que substitua a denominação espiritismo? Disse-lhe que devemos esse resgate a Kardec, que cunhou o termo e lhe deu uma conceituação precisa. Esse é um desafio do qual não podemos fugir: valorizar o espiritismo a partir de sua proposta histórica, original, onde o nome integra o patrimônio cultural que representa. Houve tentativas históricas de mudança de nome que, no entanto, nunca prosperaram. A mais famosa talvez tenha sido a protagonizada pelo pensador francês André Dumas, desencarnado há poucos anos. Desencantado com a presença de tantos curandeiros e feiticeiros dizendo-se espíritas em seu país, ele, que era um autêntico líder espírita, criou uma instituição que se utilizou de eufemismos diversos para designar a idéia encerrada no termo original. A própria instituição que dirigiu, no entanto, sem a âncora segura do nome, terminou por perder o referencial kardequiano. Visitei-a, em Paris, há alguns anos. Pelos títulos de palestras que vi anunciadas num quadro em sua portaria, estava muito mais para "new age" do que para espírita.

Desenvolvimento Sustentável: um Desafio Mundial - Roberto Rufo

"A vida só pode ser compreendida olhando-se para trás, mas só pode ser vivida olhando-se para frente". (KierKegaard)

"Um erro cometido com a melhor das intenções continua a ser um erro". (Daniel Piza)

Definido pela ONU como aquele que "satisfaz as necessidades do presente sem com-prometer a capa-cidade de as futuras gerações satisfazerem suas próprias necessidades", o conceito de desenvolvimento sustentável engloba as dimensões econômicas, ambientais e sociais das atividades humanas no planeta.

Isso é importante, pois o conceito de sustentabilidade, da sua compreensão à operacionalização, deve percorrer todas as instâncias governamentais e não apenas os órgãos ambientais.

A Rio – 92 foi um grande passo nesse processo, no entanto, passados dez anos, na prática não houve grandes desdobramentos na sociedade. Especificamente o cidadão comum tem dificuldade de entender e aceitar que, sem a mudança de hábitos de consumo não é possível compatibilizar crescimento econômico da qualidade de vida, cidadania, com a conservação dos recursos naturais.

É preciso criar nas pessoas, na feliz expressão dos espíritos em resposta à pergunta 733 (L.E.), o "horror à destruição, que só cresce com o desenvolvimento intelectual e moral".

Os indicadores traduzem um desafio maior do que se imaginava quando se lançou a Agenda 21, em 1992 (convenção e acordos assinados na ocasião, tais como a convenção do clima e a biodiversidade), pois segundo avaliação feita pela ONU, em julho de 2002, há fatores preocupantes:

Ø Um terço da população mundial vive com menos de US$2, por dia.

Ø O uso de combustíveis fósseis, que induzem o aquecimento global,
continua a crescer de forma incontrolável.

Ø Os padrões atuais de produção e consumo utilizam os recursos naturais em ritmo superior à capacidade de recomposição da natureza.

Ø Apenas na última década, uma área de florestas do tamanho da Venezuela desapareceu da face da Terra.

Poderíamos citar outros fatores, a atestar que seria preferível que não tivéssemos cometido erros infantis, apesar da "melhor das intenções".

Agora é hora de olharmos para frente e a Rio + 10 (a cúpula de Johannesburgo) é a oportunidade de aperfeiçoarmos a sobrevivência do ser humano no planeta Terra, para se evitar que ocorra a "predominância da bestialidade sobre a natureza espiritual" (pergunta 735 L.E.).

Na Rio + 10 estão vários líderes mundiais, em-presários, fazendeiros, cientistas, sindicalistas, jovens, etc. O que se espera são planos de implementação viáveis, parcerias entre governos, empresas e sociedade civil e a já tradicional declaração política, importante pelo seu comprometimento moral.

Há um certo pessimismo pelo boicote de países, como EUA, Canadá e Austrália. Contudo, a esperança persiste dada a expansão da democracia no mundo, que traz consigo uma utilização mais responsável e consciente do livre-arbítrio.

Em 1948, segundo dados do Banco Mundial, a ONU consultava 41 organizações não-governamentais no cotidiano de suas operações. Hoje, são 2091. Atualmente, 10% dos valores totais envolvidos em ajuda internacional são concedidos por intermédio de organizações não-governamentais.

Estas são pessoas que, espiritualistas ou não, acabam corroborando a assertiva de que "toda destruição que excede os limites da necessidade é uma violação da lei de Deus" (pergunta 735 L.E.).

Erradicação da pobreza, mudança de padrões de produção e consumo são tarefas complexas para se alcançar o sonho de um mundo sustentável, mas não impossíveis. Na frase da resposta à pergunta 756, os espíritos nos ensinam: "a humanidade progride". A prova disso está no surgimento de mentes esclarecidas, pessoas de ponta, que percebem na mudança de hábitos e atitudes a única opção para a sobrevivência do planeta e da vida que nele habita.

Roberto Rufo - Licenciado em Filosofia e Vice- Presidente do Instituto Cultural Kardecista de Santos