Novembro de 2002

Editorial - Religiosos Esclarecidos

Nós nunca duvidamos, nem poderíamos, que o Espiritismo brasileiro é parecido com uma religião. Parecido porque não se determinou claramente como tal. É o falso dilema da abrangência do Espiritismo, como ciência, filosofia e religião, que resulta em quase nada, sob o ponto de vista de repercussão social, no âmbito as idéias.

Entretanto há muitos espíritas esclarecidos, com doutorado em universidades, com saber inquestionável em seu campo de profissionalização, que aceitam o aspecto religioso. São religiosos esclarecidos, que conseguem combinar fatores contraditórios em nome da cultura ou do fato real. Isto é, aceitam esse aspecto popularizado, com restrições, criticas e tentativas, quase sempre vã, de influenciar os dirigentes dos centros a dar uma direção menos mística, estudar um pouco mais Kardec e coisa e tal.

Sabemos que esse aspecto religioso veio para ficar. É o espiritismo cristão, aceito e praticado pela esmagadora maioria dos centros espíritas ou que assim se declaram.

Entretanto, o verdadeiro Espiritismo, o kardecismo, não é religião. Não foi, porque Kardec jamais aceitou essa tendência, Não será porque tem características de atualização que não podem ser aceitas por seitas religiosas.

Estamos nesse paradoxo. Um Espiritismo a brasileira, religioso, místico, cada vez mais se aproximando do esoterismo e outras tendências místico-evangélicas e o kardecismo que pretende resgatar e manter o espírito do Espiritismo estabelecido por Kardec.

Parece que teremos que conviver com essa realidade e manter nossos padrões, sem condenação, mas com intransigência conceptual.

CEPROF, novo Desafio do Lar Veneranda - Da Redação

No dia 7 de outubro, a Comunidade Assistencial Espírita Lar Veneranda inaugurou o CEPROF- Centro de Ensino Profissional para Adolescentes, instalado no edifício "Jaci Regis", à Av. Francisco Glicério, 261, bairro do José Menino, em Santos.

O CEPROF é mais uma frente de trabalho do Lar Veneranda, que mantém, há 48 anos uma creche, atendendo 120 crianças de ambos os sexos, de 0 a 12 anos, instalada à rua Evaristo da Veiga, 211, bairro do Campo Grande, em Santos

O QUE É O CEPROF

Quando foi decidido construir o prédio da Av. Francisco Glicério, 261, que se tornou o edifício "Jaci Regis", o Conselho Administrativo do Lar Veneranda decidiu que ali funcionariam o ICKS- Instituto Cultural Kardecista de Santos e o Centro de Ensino Profissional para Adolescentes.

Inaugurado o edifício em setembro de 2001, já em outubro começaram as atividades do ICKS. Este ocupa uma parte do prédio, composta de sala de reuniões, escritório, auditório e saguão de entrada.

A formatação do Centro de Ensino Profissional, o CEPROF, demorou um pouco mais. Para ele foram reservadas 8 salas de aula e mini auditório.

ICKS e CEPROF usam indistintamente o salão térreo onde está instalada uma lanchonete.

Era preciso criar condições para seu funcionamento. Pensou-se primeiro em consolidar as idéias e, finalmente, considerou-se que seriam possíveis os cursos de Informática, Inglês, Assistente Administrativo e Instalações Elétricas.

Todos os cursos são livres e têm duração de 5 a 12 meses, sempre no período da tarde

VOLUNTARIADO

A direção do CEPROF verificou que teria que encontrar um corpo de professores formado por voluntários.

Para isso, valeu-se dos órgão de imprensa da cidade e lançou apelo.

A resposta foi muito boa. Várias pessoas se apresentaram para lecionar as matérias do currículo estabelecido.

Sucessivas reuniões com esses voluntários levaram à criação da grade de aulas e formulação de conteúdos para os cursos

CURSOS ABERTOS

Decidido o quadro de professores, passou-se à divulgação dos cursos.

Os cursos abertos são Informática, Inglês, Assistente Administrativo. Apenas o curso de instalações elétricas ainda não está funcionando por falta de professor.

A direção do CEPROF é constituída por Jaci Regis, diretor dos cursos, Mauricy Antônio da Silva, tesoureiro, Antônio Ventura Filho, assessor e Terezinha Ventura, diretora de patrimônio.

Fato & Comentário: Mediunidade - Da Redação

A decisão de incluir uma sessão de psicopictografia no programa da EXPOESPIRITA 2002, causou alguma contra-riedade em setores ligados ao nosso trabalho.

Alguns comentaram que a pintura mediúnica era um espetáculo que poderia contrariar a nossos princípios de austeridade e de cautela com as questões mediúnicas. Outros questionaram a validade dessa forma de manifestação mediúnica, dadas as dificuldades em controlar efetivamente o processo.

Entretanto, é preciso convir que a mediunidade faz parte integrante do pensamento kardecista.

Se tem sido muito mal conduzida, talvez a grande maioria das manifestações tidas como de desencarnados não passe de produto das mentes dos supostos médiuns, isso não pode impedir, ao contrário, deve estimular a pesquisa e o acompanhamento restrito da fenomenologia.

É preciso não criar empecilhos e mesmo pre-conceitos. A mediunidade é um instrumento que precisa alcançar um nível de controle e efetiva contribuição para a comprovação da imortalidade da alma, que é seu maior objetivo.

Por isso, a iniciativa de incluir a fenomenologia mediúnica em eventos como a EXPOESPIRITA deve ser estimulada de modo a apresentar a mediunidade ao povo em geral como um fenômeno natural, interessante e útil, sujeito, todavia, a rigoroso controle.

É ainda Possível resgatar o Nome "Espírita" ? - Da Redação

Em sua coluna mensal, Opinião em Tópicos, editada na nossa última edição, Milton Rubens Medran Moreira, presidente da CEPA, relata fato ocorrido na Venezuela, quando ali esteve. Como se sabe, aquele país está sob forte pressão política, arquitetada pelos adversários do presidente Chávez, que foi, inclusive vítima de golpe militar, abortado por interferência internacional.

Diz Medran que um adversário de Chávez, em entrevista radiofônica, atribuiu-lhe o título de "espiritista" em sentido pejorativo, ligando-o à bruxaria.Os espíritas venezuelanos segundo Medran deram risadas pois estariam acostumados com referências estúpidas e pueris que revelam o alto grau de desconhecimento em quase todos os setores da Venezuela sobre o Espiritismo.

Ele relata que em uma das palestras que proferiu na Venezuela alguém teria sugerido que os espíritas criassem um nome que substituísse a denominação espiritismo.

Medran foi contra e pensa que há chance de resgatar o nome Espiritismo.

Há muito tempo que denunciamos a corrupção perpetrada, em grande parte por culpa do movimento espírita, das palavras espírita e Espiritismo, criadas por Allan Kardec. Embora muito conhecido no Brasil, o Espiritismo continua sendo confundido com cultos afro-católicos.

Recentemente o jornal O Estado de São Paulo, noticiou: Grupos Espíritas festejam Cosme e Damião. No teto refere-se exclusivamente a grupos de Candomblé e Umbanda. Na ocasião remetemos à redação do jornal nosso protesto.

Conversando com um livreiro sobre a literatura dita espírita que é divulgada no país ele, dentro dessa lógica destrutiva e conveniente, disse "neste mundo materialista uma palavra sobre a espiritualidade é o que vale. "O resto é o resto". Ao ser inquirido sobre o papel de Kardec respondeu que "o Espiritismo inglês não conhece Kardec". Isso é verdade, mas o que importa é que no Brasil o Espiritismo se diz kardecista e por isso tem sua responsabilidade com a legitimidade do pensamento que ele deixou.

Mas como disse o livreiro, "isso é o resto", daí a proliferação de livros pseudamente psicografados, pseudamente espíritas. Daí a existência de muitos "espiritismos".

Em nossa visão, é quase impossível resgatar as palavras espíritas e Espiritismo para seu verdadeiro sentido. Aliás, que sentido? Uma vez que cada centro espírita desenvolve práticas e teorias que, não raro colidem com o pensamento de Allan Kardec?
Por isso, adotamos a expressão kardecista para designar a doutrina de Kardec.

Quem sou Eu ? - Jaci Régis

-Ah! Isso não tem importância...respondeu mexendo-se na poltrona, enquanto estampava um sorriso pálido.

Ela precisa demonstrar, pensei, que está bem, que mantém a calma, alheia a qualquer perturbação.

Era uma jovem de 25 anos, formada em escola superior. Sua face, como direi, lembrava uma gata assustada, com sua boca grande e pintada. Não era, porém, feia ou desajeitada.

Nada disso. Portava-se com certa elegância e é sem dúvida muito simpática.

Mas seu olhar, atrás dos óculos, espia o mundo algo assustado.

A resposta veio, quando lhe perguntei sobre sua vida sexual.

A questão é pertinente. A sexualidade é um eixo decisivo no equilíbrio mental, comportamental.

Provoquei-a porque ela relutara em vir até mim. Já fizera análise com outro profissional, mas abandonara porque este insistia que ela deveria "arranjar" um namorado.

Inquietava-se, creio que estava arrependida. Afinal viera por insistência do pai.

- E sua família? Inquiri.

- Cada um parece está na sua. Mesmo quando estamos na mesa, juntos, o clima é frio. As palavras não saem, o silencio é maior. Cada um permanece ali, talvez até com algum prazer, mas logo se vai para seu quarto, para sua vida. Diálogo nem pensar.

Perguntei-lhe sobre sua mãe. Nada tinha dizer. Sobre o pai, era o elo mais forte nos laços familiares.

Não namorava. Consumia suas energias em preocupações mais ou menos desnecessárias. Ligava-se, por exemplo, ao irmão quando saia à noite.

-Não consigo dormir sem ele chegar, arrematou.

Disputava com a irmã mais nova, que, ao contrário dela, tinha namorado.

Sim, já namorara, quando tinha 18 anos. Uma paixão. Mas o amado se fora. Sofreu demais.

Agora deseja e teme um novo relacionamento.

-Tive outros mais não demoraram mais de um ou dois meses, quando muito, disse.

Voltei ao sexo.

Não ela nunca tivera uma relação física, sexual.

Era virgem.

Aquela alma vivia o drama da insatisfação. Não, apenas, porque não tivesse até ali provado o ato sexual. Mas desmotivara-se, vivia sem ideais e sem rumo. Alguém poderá dizer que afinal isso era bobagem. Uma moça como ela, poderia ter arranjado um parceiro sexual, se isso fosse seu maior problema, seu ardente e insopitável desejo.

A sexualidade, ao contrário do que se pensa em geral, não se resume ao ato sexual, nem reside nos genitais. É uma energia abrangente do Espírito que mantém o fluxo vital. Mas precisa estar ativa, na textura do Espírito, na sua disposição para participar, viver, ousar, ainda que não se concretize o relacionamento físico.

Os bloqueios psicológicos, vistos de fora, são quase sempre triviais.

Não para quem os vive. São problemas crônicos que tolhem movimentos físicos, atingem a saúde corporal e reduzem, inibem o sonho, a fantasia, a perspectiva do futuro.

Na verdade são angustiosos. A urgência em superá-los aumenta a angústia e acelera a ansiedade, mantendo o bloqueio.

São como um cavaleiro antigo, vestido de uma pesada armadura que lhe tolhe os movimentos, limita o contato e está sempre sujeito a cair pesadamente no chão.

Começam a ser sanados, quando esse hipotético cavaleiro começa a desfazer-se da armadura. Primeiro tira o elmo, livrando a cabeça da rigidez dos pensamentos. Depois vai despindo as partes que cobrem o peito, abrindo-se às emoções e, por fim, livra-se de mangas e sapatos, para mostrar a pélvis aberta e livre.

É uma operação difícil. Pode levar anos. Porque a abertura mental, se dá em determinado momento, apoiada em meses ou anos de batalha mental, num processo de revisão, de recriação de estilos de vida, que afastam o medo endógeno, permitindo que a pessoa vá se vendo por inteiro e respondendo à questão: "quem sou eu?.

Não, não se trata de uma dúvida filosófica do tipo "Ser ou não ser". Esse reconhecimento de si mesmo, por estranho que pareça, representa olhar-se como um ser humano, não desprezível, sem importância.

Essa auto-estima rebaixada não surge do nada. É trabalhada como punhal com que a pessoa se auto-flagela para justificar seu fracasso, para não se reconhecer como é. Elabora uma imagem falsa de si mesma e usa-a como escudo para não se olhar na realidade de seus desejos. Quando isso acontece, entra no perigoso jogo das comparações, gerando ciúmes, isolamentos e julgamentos acerbos dos outros.

Ela é uma jovem mulher que deixou de sonhar.

E sem sonho, a noite é mais escura, sem lua e o dia nebuloso, com sol morno, sem viço.

Trabalha, sai com amigas que não estão namorando.

Claro que a solução não está em "arranjar" um namorado. Nem perder a virgindade.

A solução está na renovação do caráter, na crença em si e no mundo, dentro das circunstâncias.

Poder dizer: "eu sou o que sou" aceitar seus desejos sem camuflá-los, sem idealiza-los.

Por ora, ela está ali, na minha frente, sorrindo seu grande e ansioso sorriso. Vejo-lhe caminhos futuros onde talvez se encontre e deixe fluir as emoções e os sentimentos, sufocados pelo medo de se defrontar com os desafios de ser feliz.

Idéia Nova, Palavra Nova - Eugênio Lara

Bem antes da Semiótica e do desenvolvimento da Teoria da Comunicação, Kardec já era semiótico e comunicólogo. Para idéias novas, palavras novas, eis um princípio básico hoje entre os estudiosos da Comunicação, seja no campo da Semiótica ou mesmo da Semiologia. Logo na introdução de O Livro dos Espíritos, Kardec foi bem claro: "Os vocábulos espiritual, espiritualista, espiritualismo têm acepção bem definida. Dar-lhes outra, para aplicá-los à doutrina dos Espíritos, fora multiplicar as causas já numerosas de anfibologia." (O Livro dos Espíritos - Introdução ao Estudo da Doutrina Espírita - FEB, Grifo nosso). Enfim, em diversas passagens da Kardequiana, os espíritos nos deram um puxão de orelha quanto às palavras:

— "Tudo depende das acepções das palavras. Por que não tendes uma palavra para cada coisa?" (q.139)

— "As palavras pouco nos importam. Compete-vos a vós formular a vossa linguagem de maneira a vos entenderdes. As vossas controvérsias provêm, quase sempre, de não vos entenderdes acerca dos termos que empregais, por ser incompleta a vossa linguagem para exprimir o que não vos fere os sentidos".(q. 28)

"É uma questão de palavras, com que nada temos. Começai por vos entenderdes mutuamente".(q. 138 - Sobre a questão da alma como princípío da vida material).

"Mas isto constitui uma questão de palavras. Chamai as coisas como quiserdes, contanto que vos entendais".(q. 153 - Sobre a perfeição e a vida eterna).

"Uma coisa pode ser verdadeira ou falsa, conforme o sentido que empresteis às palavras. As maiores verdades estão sujeitas a parecer absurdos, uma vez que se atenda apenas à forma, ou que se considere como realidade a alegoria. Compreendei bem isto e não o esqueçais nunca, pois que se presta a uma aplicação geral." (q. 480 - Sobre a questão da expulsão dos demônios).

"Pura questão de palavras". (q. 668 - Sobre as manifestações espíritas e a pluralidade dos deuses).

"Tomai cuidado! Muito vos tendes enganado a respeito dessas palavras, como acerca de outras". (q. 764 sobre a Pena de Talião).

"Guerras de palavras! Guerras de palavras! Ainda não basta o sangue que tendes feito correr! Será ainda preciso que se reacendam as fogueiras? (q. 1009 - mensagem de Platão sobre a questão das penas eternas).

Foi justamente por não existir uma palavra para cada coisa que Kardec rechaçou o uso da palavra religião para conceituar a Doutrina Espírita. Não foi por outro motivo que evitou o uso indiscriminado de espiritual e chamou a nova filosofia espiritualista que fundou de Espiritismo, e os seus adeptos de espíritas ou espiritistas. Este último termo, muito usado nos países de língua castelhana. E o passe, por ser prático e sucinto, encaixou bem na mente dos espíritas brasileiros, como num passe de mágica, sem autorização, permissão, sem pedir licença.

Um processo de atualização do Espiritismo começa pela sua terminologia. Questões conceituais, epistemológicas, axiológicas, cosmológicas etc. são mais complexas, exigem um preparo que nem sempre o movimento espírita possui, mas tem de ser feito. Agora, quanto aos termos próprios, trata-se de um estudo necessário, um levantamento a ser feito por instituições espíritas de mentalidade mais aberta, que deverá envolver estudiosos do Espiritismo, profissionais da linguagem, da área de Comunicação, Filosofia, Pedagogia, enfim, espíritas envolvidos seriamente com a inserção da filosofia espírita na contemporaneidade.

O Saboroso Sucesso da Expo-Espírita 2002 - Da Redação

A EXPOESPÍRITA2002, reali-zada de 18 a 20 de outubro, desenvolveu-se num clima de grande harmonia produtividade. Foi um sucesso saboroso, apreciado por quantos dela participaram.

A programação variada e o ambiente gostoso, inclusive com lanchonete, foi apreciado pelas 300 pessoas que estiveram presentes nos três dias da EXPOESPIRITA.

A sede do ICKS, à av. Francisco Glicério, 261, em Santos, foi festivamente decorada para receber os participantes que, dentro das perspectivas do Instituto, acorreram em massa para as programações previstas.

EXPOESPÍRITA 2002

Esta é a quinta edição da Expoespírita. O evento foi projetado para divulgar o livro e a doutrina espírita e contou, desde o início com a cooperação dos centros espírita Allan Kardec, Maria Emília da Mota Ferreira, Ângelo Prado, Missionários, da Fraternidade Espírita e Lar Veneranda. Inicialmente organizado pelo Lar Veneranda, desde o ano passado tem sido organizado pelo ICKS - Instituo Cultural Kardecista de Santos.

Nas quatro edições anterior foram realizadas, uma no Clube Atlético Santista e três no SESC.

Veja nesta página, os principais lances dessa festa.

No dia 20, domingo, foi realizada uma mesa redonda sobre o papel de Francisco Cândido Xavier, com José Luiz de Souza, presidente da Fraternidade Espírita, Odair da Cruz, presidente do Centro Espírita Maria Emilía da Motta Ferreira e Reinaldo di Lucia, presidente do Centro Espírita. Allan Kardec.

José Luiz, que teve muito contato pessoal com o médium, falou sobre a figura humana de Chico Xavier, que ao contrário do que supõe, sabia perfeitamente estabelecer limites e dizer sim e dizer não. Elogiou o comportamento

impar do médium e relatou alguns momentos que viveu junto com ele.

Odair da Cruz, fez pormenorizada biografia de Chico, com relatos sobre sua infância, seus problemas pessoais e sua dedicação à doutrina. Fez amplas considerações sobre o papel que ele desempenhou, trouxe comentários sobre suas viagens ao exterior e outros detalhes de sua obra doutrinária.

Reinaldo di Lucia, baseou-se em trabalho de doutoranda da Universidade Federal do Paraná acerca do Espiritismo, colocando duas faces: a de Kardec, na França e a de Chico no Brasil. Para a doutoranda, o Espiritismo brasileiro não é igual ao de Kardec, mas recebeu fortes influências da cultura e da mentalidade nacional. Reinaldo disse ainda que é preciso cuidado para evitar a mistificação do médium e lembrar seu carisma, mas na condição de ser humano. Citou, por exemplo, a negativa total de Francisco Cândido Xavier, a respeito da suposição de que ele seria a reencarnação de Allan Kardec. Isso, para di Lucia, liquidou com as especulações. Agora, todavia, como ele desencarnou muitos poderão veicular falas versões e prejudicar, no tempo, o trabalho que ele desenvolveu na literatura e no movimento espírita.

Chico Xavier, o homem só

Ei-lo no acaso da vida

a todos doa-se a esmo,

a alheia dor balsamisa,

mas, tão sozinho em si mesmo

O sofrimento o tortura,

a dor é a sua cruz,

mas seu olhar de ternura

reflete afé em Jesus.

Chico querido amigo,

exemplo vivo do amor

queremos seguir contigo,

as pegadas do Senhor.

Nair Romaniz Diegues

LANÇAMENTO DO CADERNO CULTURAL ESPÍRITA

Para o lançamento do CADERNO CULTURAL ESPÍ-RITA, o saguão do ICKS foi decorado com bolas de gás. Rodeando uma reprodução em tamanho grande da capaz do veículo.

O editor do CADERNO CULTURAL ESPÍRITA, Jaci Regis fez o lançamento antes do início das atividades culturais da EXPO. Ele referiu-se que em 1989, com a colaboração de Ciro Pirondi, foi lançada a primeira e até agora única edição do CADERNO, em nome da Licespe – Livraria Cultural Espírita Editora, que foi sucedida pelo ICKS.

Hoje, disse, estamos lançando praticamente uma nova revista. Reiniciamos a trajetória do CADERNO, com nova apresentação gráfica e temática determinada. A periodicidade será quadrimestral.

Nesta edição, o CADERNO traz três artigos sobre o Perispírito, numa abordagem revolucionária.

Imediatamente vários exemplares foram adquiridos.

Pintura mediúnica agradou

O segundo dia da Expoespírita, sábado dia 19, teve como enfoque a Pintura Mediúnica. A sessão pública, teve a presença de cinco médiuns da Federação Espírita do Estado de São Paulo (FEESP) .

No auditório, foram colocadas mesas para o trabalho dos médiuns. Cada médium teve um ajudante para manuseio das telas. Estas, após serem terminadas, eram mostradas ao público.

Durante todo o tempo em que os médiuns pintaram sucessivamente suas telas, o público circulou livremente em frente às mesas, apreciando e acompanhando o desempenho deles. Foram pintadas 19 telas, com temas variados e assinadas por pintores desencarnados como Rafael, Monet, Tarsila do Amaral, Miró, e outros. Após o encerramento, as telas foram expostas no saguão de entrada e muitas delas adquiridas pelos presentes

Reações

A reportagem ouviu alguns participantes e médiuns sobre o resultado dos trabalhos. "Este foi um dia muito agradável para todos os presentes, afrmou a participante Elena Perez, "Acho maravilhoso, é de emocionar", completou.

Para a artista plástica Andiá Aguiar Silva, o trabalho foi sensacional. "Realmente se percebe que não é o homem que está fazendo a obra. Quem conhece arte, reconhece o estilo dos artistas". Ela acha esta uma boa maneira de divulgar a Doutrina.

Os médiuns da Federação também saíram muito satisfeitos com sua participação na Expoespírita. A médium Claudia Rosa de Arruda Ferreira conta que desenvolve esse trabalho há 35 anos. "Eu apenas acompanho a obra e os artistas regem as minhas mãos". Claudia acredita na divulgação da Doutrina através da arte, mas salienta que "sempre se faz necessário o estudo Doutrinário". Ela lembra que este trabalho não deve ser feito como espetáculo, como um evento isolado. "Deve sempre ser feito dentro do trabalho espírita, em eventos como o de hoje", enfatiza Claudia.

Claudia Renata Xavier Blanes, médium da equipe da FEESP, contou que desde criança já tinha essa sensibilidade, mas só com 15 começou a desenvolver com consciência a pintura mediúnica. "Este trabalho comprova que a vida continua após a morte e que a beleza da vida está na arte".

Nelson Rodrigues Alonso, médium e um dos coordenadores do grupo, desenvolve este trabalho há 15 anos e destaca a importância do evento. "Este tipo de encontro tem grande importância por divulgar a Doutrina e promover, além de tudo, uma grande confraternização, tanto dos encarnados como dos desencarnados", finaliza.

AMOR,CASAMENTO & FAMILIA, 25 ANOS DEPOIS

Jaci Regis, autor do livro Amor, Casamento & Família, editado pela Licespe/ICKS foi o orador da abertura da EXPOESPIRITA2002, na Sexta-feira, dia 18.

Diante da platéia que lotou o auditório do ICKS. O orador falou das mudanças ocorridas no pensamento social nesses vinte e cinco anos, desde o lançamento do livro.

Segundo ele, foram impressas 13 edições, num total de 43 000 livros que, teriam sido lidos, aproximadamente por 80 000 pessoas. Damos a seguir uma súmula dos itens tratados.

O LIVRO 25 ANOS DEPOIS - Ele contínua atual na sua estrutura de pensamento, porque a doutrina sempre teve uma diretriz muito aberta e compreensiva para os problemas humanos. Mas 25 anos depois mudei eu, mudou o mundo, a sociedade. Muitos já cresceram nesse clima de mudança e incerteza. Outros vivenciaram as mudanças, às vezes perplexos, às vezes descrentes. O apelo que se faz para tornar o casamento e a família instrumentos mais eficazes diante dos problemas da juventude por exemplo e as necessidades de mudança nas relações humanas, dependerão, sempre, das mudanças internas das pessoas.

AMOR – O que mudou? Na essência nada, porque o amor continua sendo, como a mil anos atrás, um sentimento muito procurado e de difícil compreensão. Estamos, todavia, num momento de grande individualismo. Isso é bom e é mau.

Bom, no sentido de que o ser humano se recupera como indivíduo importante. Antes era um ser para o futuro, além da morte ou um ser para a morte, na filosofia existencialista. Todavia é mau se significar um "olhar para o umbigo" um crescimento do egoísmo. Mau porque o egoísmo é uma atitude burra, isola, afasta e torna a pessoa infeliz. Amar a si mesmo é bom, mas só se completa no amor ao outro, na troca, na reciprocidade.

CASAMENTO – Houve grande mudança na essência do casamento: 1º - acelerou a desacralização do casamento 2º - o objetivo mudou e continuará mudando. Principalmente porque um dos parceiros, a mulher, tem tido uma ascensão contínua no mercado de trabalho, na auto-educação, de modo que o casamento já não é um caminho único para que a mulher passasse de ser sustentada pelo pai, para ser sustentada pelo marido. Essa nova posição acentua a igualdade e elimina desníveis e subordinação. Essa reciprocidade evoluirá parcerias mais positivas.

As uniões espontâneas, sem vínculo jurídico, se avolumaram, o que não impede que o casamento legal com continue sendo a meta. Mas o que se pode observar é que agora, mais do que antes, as pessoas tendem a encontrar o amor no casamento, o que não era comum. No novo horizonte do casamento, além dessa base afetiva peculiar, os casais são levados a fazer projetos recíprocos e parcerias positivas para a convivência.

O casamento significa união estável, tanto emocional quanto sexual.

FAMÍLIA - O que mudou?

Famílias menores, famílias dirigidas por mulheres, famílias carentes. Os apelos do momento, a juventude, as drogas, o sexo precipitado. A questão do diálogo poderia ser melhor?

AS MUDANÇAS PESSOAIS

O orador referiu-se às mudanças de seu pensamento, após tornar-se psicólogo. Ele disse que o psicólogo aprende a não julgar. A acompanhar os problemas das pessoas sem uma visão pessoal, de crença ou de filosofia. Cada pessoa trás sua bagagem e o profissional precisa entendê-la, para ajudá-la.

Por fim, relendo o livro, afirmou que a leitura mais afetiva e mais abrangente pode ser feita sem alterar ao base espírita, ainda hoje muito avançada para certos setores doutrinários e que no lançamento recebeu forte críticas.

Ele também comentou que seu livro não faz parte das relações de cursos e palestras sobre o amor, casamento e família, promovidas pelo movimento espírita em geral, preterido pelos autores que mantém uma forma conservadora e extremamente moralista, de olhar os problemas humanos.

APRESENTAÇÕES ARTÍSTICAS

Na abertura, sexta-feira, dia 18, apresentou-se o Coral CEAK CANTA, do CE Allan Kardec, dirigido pele musicista Sandra Regis, com repertório de cunho nacional e popular.

No encerramento, dia 20, o Coral Simioniani, sob a regência do maestro Pompeu fechou brilhantemente a EXPO cantando 14 números de fundo regional e popular,.

Ambos os corais foram amplamente aplaudidos.

Foi também projetado o filme Allan Kardec, memória visual

VENDA DE LIVROS

A venda de livros foi bastante produtiva. Tanto livros editados pelo ICKS, quando de outras editoras foram bastante procurados. Os que compraram livros receberam um convite para participar da sessão de pintura mediúnica, realizada no Sábado, dia 19, a partir da 18:00 horas. (ver notícias)

Entrevista com o Engenheiro Orlando Villarraga: O Futuro do Espiritismo depende de Nós - Da Redação

Orlando Villarraga é um Engenheiro Químico, formado pela da Universidade Nacional de Colômbia. E Químico da Universidade Pedagógica Nacional de Colômbia, atualmente radicado no Brasil. Espírita desde a juventude, foi Secretario da Mocidade Espírita Colombiana. Em seu país, dirigiu varias instituições espíritas em Bogotá, Cartagena e Barranquilla (Colômbia). Editor, fundou a dirige a Editora Espírita Rivail. Escreveu o livro "La conservación del médio ambiente físico y psíquico" que será publicado no Brasil no final do ano 2002 com o título Contribuição da Doutrina Espírita para a conservação do meio ambiente físico e espiritual.

Traduziu para o espanhol os seguintes livros: Transcomunicação, de Clovis Nunes. Oito Casos de Reencarnação, de Hernani Guimarães Andrade Manual Prático do espírita, de Ney Prieto Peres.

Orlando Villarraga é conferencista e dedicado divulgador do Espiritismo, com trânsito nos vários segmentos em que o movimento se divide.

Nesta entrevista ele analisa o movimento espírita nas Américas e expõe suas idéias sobre o futuro da Doutrina.

ABERTURAVocê é colombiano, mas viveu nos Estados Unidos e vive no Brasil. Nessas suas andanças, como analisa e compara o movimento espírita de cada país?

ORLANDO -O movimento espírita no Brasil é bastante organizado, numeroso e com impacto na sociedade. Na Colômbia também é organizado, mas ainda é pequeno. Nos Estados Unidos o movimento está formado principalmente por brasileiros residentes nesse país e também por alguns latino americanos.

ABERTURA – Fale sobre o Espiritismo na Colômbia.

ORLANDO -Na Colômbia existe a Confederação Espírita Colombiana que está formada por sete Federações regionais que agrupam perto de 60 Centros Espíritas. A Confederação organiza o Congresso Espírita Nacional a cada dois anos. Neste ano foi o Nono Congresso na cidade de Pereira. A Confederação promove vários eventos nacionais como: o Congresso dos Dirigentes Espíritas, o Encontro Nacional das Mulheres Espíritas, o Encontro Nacional das Crianças e Mocidade Espírita. Seu órgão de divulgação chama-se Colômbia Espírita. A Confederação promove o estudo sistematizado da Doutrina Espírita nos centros espíritas. Além das atividades doutrinárias, os centros espíritas desenvolvem trabalhos na área de assistência social. A Confederação esta elaborando um censo para atualizar os dados sobre todas as atividades realizadas pelos centros afiliados. A Confederação está afiliada ao CEI.

ABERTURA Você tem se dedicado à análise dos problemas ecológicos e do desenvolvimento sustentável. Como encaixa nessa análise a influência do Espiritismo.

ORLANDO - O Informe Brundtland definiu em 1987 o conceito de desenvolvimento sustentável como aquele que atende às necessidades da presente geração sem comprometer a possibilidade das gerações futuras de atender às próprias necessidades. Do ponto de vista da Doutrina espírita esta definição tem dois elementos muito importantes: o primeiro está relacionado com as necessidades da Humanidade e o segundo com o compromisso e a responsabilidade entre diferentes gerações em diferentes épocas. As necessidades básicas dos seres humanos podem dividir-se em dois grupos: 1) as físicas como a alimentação, a água potável, o ar puro, a moradia e 2) as espirituais como a compaixão, a ternura, a solidariedade e o amor. Allan Kardec na pergunta 716 do Livro dos Espíritos nos ensina que "por meio da organização que lhe deu, a Natureza lhe traçou o limite das necessidades; porém, os vícios lhe alteraram a constituição e lhe criaram necessidades que não são reais". Aí surge o consumo exagerado dos recursos naturais e o desperdício de todos eles. Além dos vícios, temos os nossos defeitos que são aproveitados pelos criadores das campanhas publicitárias para levarmos a comprar uma série de coisas que realmente não precisamos, mas que incentivam e tentam satisfazer o nosso orgulho, a nossa vaidade e nossas ambições pessoais.

A Doutrina Espírita definitivamente tem um papel importante para contribuir na implantação do modelo de desenvolvimento sustentável no nosso planeta através da educação moral, do ensinamento das leis morais, das leis universais (reencarnação, causa e efeito) e de alguns conceitos chaves como são o uso dos bens materiais e o que devemos fazer para aprendermos a diferença entre o necessário e o supérfluo.

ABERTURA - Você participou do III Congresso Espírita Mundial realizado na Guatemala em 2001. Conhecendo o pensamento dos ligados à CEPA e dos ligados à CEI que diferença você poderia apontar?

ORLANDO - Eu procuro apontar os pontos comuns a ambos grupos. Os dois estão trabalhando para a divulgação da Doutrina espírita e agindo para implementar as idéias espíritas em ações concretas para melhorar a condição material e espiritual dos lugares onde eles estão localizados. Penso que as diferenças são poucas e os pontos comuns são muitos.

ABERTURA - Você crê que haja oportunidade do Espiritismo florescer na América Latina sem um selo religioso?

ORLANDO - Como bem nos ensinou Allan Kardec na Revista Espírita de Dezembro de 1863 o Espiritismo vai passar por seis períodos até atingir a união, a paz e a fraternidade em toda a nossa sociedade. Kardec classificou esses períodos como: curiosidade, filosófico, de luta, religioso, intermediário e por último de regeneração social. Nas minhas viagens, eu vejo que nos diferentes países e dentro do mesmo país, as instituições espíritas e os adeptos ao Espiritismo se encontram em diversos períodos dependendo de diversos fatores. Cada um deles está procurando avançar. Por exemplo, penso que o Congresso Espírita Mundial na Guatemala pode se encaixar no período de luta. Foi um trabalho titânico dos organizadores do Congresso para poder realizá-lo. Devido a pressões econômicas de um forte grupo religioso-econômico o Hotel onde ia acontecer o Congresso cancelou a reserva poucos dias antes da data marcada. E foi necessária muita luta para conseguir outro lugar. Além de toda a informação negativa e sarcástica publicada em alguns jornais nacionais. Mas foi bom porque muitas pessoas ficaram interessadas no assunto e assistiram ao mesmo para conhecer o que era o Espiritismo.

Penso que todos estamos caminhando para chegar ao período da regeneração social. Por isso devemos fomentar o respeito e a tolerância para aqueles que não pensam igual que nós.

ABERTURA Os poucos centros e entidades espíritas nos Estados Unidos são formados por brasileiros, colombianos, cubanos e outros oriundos de países latinos. Não há abertura para o americano anglo sasão aderir ao Espiritismo?

ORLANDO - Considero que uma barreira que existe é que se tem poucas obras espíritas editadas em inglês. Isso limita a divulgação da Doutrina Espírita. Mas por outro lado vejo cada dia um aumento do numero de livros editados em inglês que apresentam ao público alguns dos fundamentos do Espiritismo. Muitos livros sobre experiências de quase morte, sobre vidas passadas, sobre comunicações de guias e seres espirituais. Allan Kardec no item VII da Introdução do Livro dos Espíritos nos ensina que "quando as crenças espíritas se houver vulgarizado, quando estiverem aceitas pelas massas humanas...". Acredito que ele estava falando sobre a divulgação e aceitação dos princípios espíritas, feitos não só pelo movimento espírita senão também por outros meios. Os fundamentos da Doutrina Espírita são universais, então por diversos meios estamos chegando aos mesmos conceitos e as mesmas leis básicas do comportamento e do relacionamento dos seres encarnados com a Natureza, com os outros encarnados e com os desencarnados.

ABERTURA – Como engenheiro você têm feito em suas conferências vários gráficos projetando o futuro econômico, do mundo. Haveria possibilidade de criar-se um gráfico apontando a evolução possível e esperada do Espiritismo no mundo?

ORLANDO - Sim, eu enxergo esse gráfico como uma espiral ascendente que mais para frente se junta com outras espirais que significam as crenças espíritas ensinadas por outros movimentos e finalmente formando uma espiral só.

ABERTURA – Qual na sua visão, a mais importante contribuição do Espiritismo ao conhecimento humano?

ORLANDO - Penso que tem duas contribuições importantes. A primeira contribuição foi mostrar para a Ciência ortodoxa que o Espírito pode ser o objeto de estudo e com base nas observações deduzir as leis que regem as relações entre os encarnados e os desencarnados.

A segunda contribuição foi mostrar que esses conhecimentos têm conseqüências morais e, portanto devemos trabalhar para melhorarmos nessas duas áreas da evolução do espírito: conhecimento e moral.

ABERTURA – O Espiritismo tem futuro?

ORLANDO- O futuro do Espiritismo depende fundamentalmente de nós, os espíritas. Herculano Pires já disse: "Se os espíritas soubessem o que é o Centro Espírita, quais são realmente suas funções e sua significação, o Espiritismo seria hoje o mais importante movimento cultural e espiritual da terra". Nós temos que trabalhar, ainda mais, para divulgar a Doutrina Espírita, para colocar em prática os grandes ensinamentos tanto no âmbito pessoal como na comunidade onde moramos, para sermos o exemplo a seguir. O Espiritismo é uma escola que tem como objetivo a educação moral e da nossa mente. Portanto a educação espírita das novas gerações é um compromisso fundamental para o futuro do Espiritismo

Opinião em Tópicos - Milton R. Medran Moreira

Caranguejada

Cheguei a Fortaleza numa quinta-feira. Por uma razão que ninguém sabe explicar direito, mas que já faz parte das tradições da capital cearense, quinta-feira é, lá, dia de comer caranguejos. A maioria dos restaurantes oferece esse prato. E lá fomos, juntamente com o casal Néventon Vargas, para o Chico dos Caranguejos, na Praia do Futuro. É verdade que escolhi outro prato: um excelente pargo grelhado, como só no Ceará se sabe fazer. E, ali, sob aquela brisa vinda dos verdes mares tão celebrados por José de Alencar, e que sopra refrescante nesta época do ano, fomos batendo um papo através do qual comecei a sentir o clima de um movimento espírita que, diferentemente do caranguejo, não está andando para trás, não. Ao contrário, avança, mesmo que embalado por contradições neste momento presentes em toda parte, para um futuro que, parece, está decididamente conduzindo o movimente espírita brasileiro e o próprio Espiritismo, enquanto movimento de idéias, para uma nova fase.

Evolução

Durante um fim-de-semana inteiro, que começou com uma conferência por mim proferida para numeroso público no auditório do Centro Espírita Francisco de Assis, na sexta-feira, e que prosseguiu no Grupo Espírita Meimei, GREME, sábado e domingo, num seminário com participação de representantes de várias instituições espíritas locais, tratamos do tema "Evolução do Pensamento Espírita". Fizemos, juntos, algumas análises das projeções que elaborava Kardec acerca do desenvolvimento das idéias espíritas e buscamos confrontá-las com sua realidade atual. Há, senti, um consenso de que estamos vivendo claramente o chamado "período intermediário", aquele sobre o qual, em artigo publicado na Revista Espírita, em dezembro de 1863, Kardec afirmava viria após o "período religioso", que, lenta, mas firmemente, começa a ficar para trás. A propósito, soube que, recentemente, o GREME, a convite do qual visitei Fortaleza, resolveu promover um ciclo de estudos sobre a questão religiosa, debatendo-a por algumas semanas. O consenso do grupo: o Espiritismo não é uma religião. E não convém que seja tratado e apresentado como tal.

Bons Ventos

O bom disso tudo é que, por lá, essas coisas estão acontecendo sem os traumas ocorridos nos Estados do Sudeste e Sul do Brasil, na década de 80 e que fazem com que, até hoje, pensadores de vanguarda e responsáveis por uma contribuição inestimável ao indispensável avanço de idéias, continuem sendo tachados de "inimigos internos do Espiritismo". As mesmas idéias que, por aqui, para serem postas em discussão, exigiram rupturas institucionais históricas, lá estão penetrando ao natural, no jeito manso dos nordestinos. Como os ventos frescos que costumam soprar nos meses de agosto e setembro naquela região, elas vão arejando mentes e criando uma consciência nova em torno da identidade do Espiritismo, que precisa ser continuamente trabalhada. O certo é que, de norte a sul, de leste a oeste, e em toda a parte onde há movimento espírita, brota uma nova consciência de nossa realidade que se multiplica, mesmo que não tenhamos contato uns com os outros. Jung talvez chamasse isso de sincronicidade.

Opção Já

Em qualquer segmento humano que cultiva o pensamento, a construção da identidade é fruto de um lento processo que demanda tempo e que sequer prescinde de conflitos internos que precisam ser administrados inteligentemente. O choque de idéias integra o processo. Ele conduz à síntese. No Seminário de Fortaleza pude perceber claramente que o conflito que hoje se estabelece no meio espírita, num primeiro momento identificado singelamente pela proposição dual religião/não-religião, pede agora de nós posicionamentos que vão além da pura questão semântica. O que precisamos responder a nós mesmos são fundamentalmente duas perguntas: o que somos e para que servimos?Respondendo a essas perguntas, nos situaremos em campos que tanto podem parecer com as igrejas do Bispo Macedo ou do Padre Marcelo, como se ajustarem às previsões de Kardec quando dizia que a força do Espiritismo estaria na sua filosofia. Seja qual for o caminho que escolhermos, seremos igualmente tidos como espíritas. A construção dessa identidade depende só de nós. Mas se quisermos ser respeitados como segmento capaz de exercer alguma influência neste fantástico mundo em transformação, precisamos fazer essa opção já. Caso contrário, estaremos andando para trás. Como caranguejos.

A Ciência e a Experiência Fora do Corpo - Alexandre Cardia Machado

Recentemente os jornais publicaram uma matéria originalmente publicada na revista Nature, não como um artigo técnico mas como uma matéria jornalista, sobre o título "Electrodes trigger out –of –body experience" – Eletrodos disparam OBE (Experiência fora do Corpo) referente a uma experiência conduzida no Hospital Universitário de Genebra e Lausanne, na Suíça.

A experiência ocorreu quando o médico Olaf Balanke estimulava o cérebro de uma paciente com eletrodos, esta paciente era epilética. Quando ele estimulava uma região do cérebro chamada "circunvolução angular no córtex cerebral do hemisfério direito a paciente passou a descrever sensações de estar flutuando sobre o corpo.

O médico então conclui que esta parte do cérebro pode estar relacionada às experiências extra-corporais. Segundo o mesmo estaria descoberto uma forma de estudar estes fenômenos.

Cabe aqui co-mentar de que esta não é a primeira vez que a medicina se confronta com fenômenos aní-micos ou mediúnicos tendo declarado an-teriormente que "descobriu" a sede da "alma, da 3a vista" e coisas assim. É importante para a humanidade que a ciência avance e cabe aos espíritas entenderem estes avanços e combinarem os mesmos com o conhecimento existente na Doutrina. Alterando a Doutrina sempre que algo novo venha a suplantar o conhecimento anterior – disto trata o caráter científico do Espiritismo.

Não é este ainda o caso. Aqui trata-se apenas de uma experiência com um paciente, sabemos que a alma é maior que o nosso corpo, ocupa um lugar no espaço que não se restringe ao corpo físico. Normalmente só sentimos aquilo que afeta o nosso corpo físico por estarmos muito pouco atentos à nossa própria exteriorização.

As práticas do Ioga, da Projectologia ou simplesmente do sono, fazem com que a nossa alma se liberte. A entrada destas sensações no corpo físico, por certo se dá através de alguma região do cérebro. As pesquisas deste médico, caso confirmadas em um número expressivo de pacientes poderia estar localizando esta área. O médico ao estimular esta parte do cérebro pode estar criando condições físicas que permitam ao paciente perceber a exteriorização de sua alma e portanto, podendo relatar o que está sentindo, de forma semelhante ao que ocorre em reuniões mediúnicas, onde muitas vezes nos deparamos com descrições do médium que nada mais são do que a exteriorização da sua própria alma ou animismo.

A descrição bastante completa dos fenômenos de exteriorização podem ser encontradas no trabalho do Prof. Alberto de Rochas – Exteriorização da Sensibilidade da Edicel de 1889, traduzido para o português por Herculano Pires e publicado em 1984.

Hernani Guimarães de Andrade também trata muito bem do assunto no seu livro Espírito, Perispírito e Alma da Editora Pensamento, de 1984.

Retornando ao artigo citado, indo à fonte, na Revista Nature, como complemento da notícia, o médico Inglês John Marshal diz que a OBE (Out of Body Experience) nome científico do fenômeno é extremamente comum e que esta descrição do médico suíço em nada comprova o contrário relativo ao fenômeno. Dr. Marshal é Neurocirurgião da Radclif Infermary em Oxford. Ele é claro em afirmar "Isto não prova que as pessoas que descrevem experiências paranormais estão erradas"

Para saber mais : www.nature.com

Alexandre Cardia Machado é engenheiro, pesquisador, orador e articulista espírita. Reside em Porto Alegre, RS.