Artigo de Jaci Régis - Janeiro / Fevereiro de 2002

Por quê as Drogas ?

O suicídio da cantora Cássia Eller, dada a sua popularidade, foi manchete de jornais e televisões. Viciada em drogas, ela possivelmente sucumbiu a uma dose mais alta de cocaína, misturada com álcool. Diante desse suicídio, a sociedade se encolhe e a mídia, com raras exceções, evita mostrar a crueza da denegeração humana dos viciados em drogas, no álcool. Em muitos ambientes, o uso de drogas é tão normal como fumar, ainda que fumar seja pernicioso e mortal, a longo prazo.Todo drogado é um suicida em potencial.Fraco, imaturo, afetivamente doente, procura a morte no uso de drogas.Às vezes o suicídio é demorado, mas acontecerá se a pessoa persistir no uso de drogas. Seja maconha, cocaína, heroína, álcool ou outro aditivo do mesmo naipe.A capa da revista Veja, mostrando a cantora e enfatizando que ela morreu pelo uso de drogas, repercutiu mal em algumas pessoas que, curiosamente, parecem preferir a insensatez de mascarar a realidade do mal que as drogas fazem.Cássia Eller, Elis Regina e tantos outros artistas são apenas uma ínfima ponta do iceberg do consumo de drogas no mundo. O tráfico de drogas movimenta bilhões de dólares e se infiltrou, talvez definitivamente, na mente vazia de Espíritos que não conseguem suportar a própria intranqüilidade interna e se refugiam nesse canto escuro da vida.Perguntei à jovem em minha frente: por que usas drogas?Ela respondeu: por prazer.A questão do prazer é importante, porque difere de gozo. Prazer é uma forma de evitar tensões, é a volta ao nível mais instintual, primário. O gozo é uma forma de usufruir as oportunidades de maneira mais ou menos equilibradas, talvez mais conscientes, dizendo respeito à essência do próprio ser.A jovem é simpática. Tem 20 anos. Desde os 16 anos usa drogas. Experimentou várias: LSD, ecstay, cocaína, maconha.— Quanto usei ecstasy, conta ela, fiquei três dias perambulando pelas ruas como um zumbi. Diz que anda com uma "galera" da pesada, que se reúne para beber, usar drogas, em níveis diferentes, mas de toda a maneira usuários constantes de maconha e cocaína.Ela gosta também de beber. Houve tempo, narrou, que levantava-se às quatro horas da tarde e começava a beber vinho até dormir e fazia esse círculo vicioso constantemente, até um certo momento.Desde cedo foi uma menina problemática. "Aprontava" em colégios e era "convidada" a sair, passando por vários estabelecimentos. Até que, no segundo grau, repetiu três vezes o primeiro ano. O recurso foi mais tarde fazer um supletivo para recuperar o tempo perdido e entrar numa faculdade de estilistas. Durante dois anos permaneceu ali, mas praticamente não freqüentava as aulas.Agora, estava comigo para tentar uma nova vida.Será que conseguirá? É possível.Mas para superar uma pressão de vícios e desequilíbrios será exigido mais do que boa vontade. Será preciso uma reprogramação vivencial. Criar motivações existenciais, ligar-se a pessoas relativamente equilibradas. O apoio da família será indispensável.Ela lembra que sempre foi uma garota que se sentia rejeitada e usava de suas atitudes para chamar a atenção.— Eu era a palhaça da turma. Todos riam... Até bem pouco tempo era eu quem trazia a droga para todos nas festas. Depois, eles me deixavam de lado e ficava sozinha, conta ela.Conta seus planos de mudar de vida. Diz que se sente cansada de sua rotina e anseia novos ares.— Agora, prossegue, que tento sair, a "galera" me pressiona. De fato, depois de uma semana sem beber ela e o irmão beberam cerveja e fumaram maconha. Não se sai do círculo vicioso sem uma determinação decidida, não apenas pela privação consciente. Mas pela redefinição dos caminhos da vida. Isso implica em novas idéias, novos sentimentos a respeito de si mesmo e dos outros.O pai teria "desistido" dela. A mãe parece uma borboleta arisca, sem saber onde pousar, perdida em si mesma, intranqüila e antigamente alcoólatra.O quadro é bastante complexo.Sair dessa será difícil. Por isso, nunca deveria ter entrado. Ela está com apenas 20 anos. Se persistir no vício o suicídio potencial se transformará em realidade.Personalidades como a moça cheia de tatuagens, pierces, orelhas com furos enormes e até uma frase tatuada no peito, existem em variadas formas. Nada realmente as interessa senão o próprio umbigo. Ressentem-se da falta de afeto, às vezes fazem, como ela, o papel de "conselheira" de membros de sua "galera", porque ainda assim, diz, vem de uma família mais ou menos estruturada.