Da Redação - Outubro de 2001

Expo-Espírita 2001 agita Movimento Espírita de Santos

Nos dias 22 a 25 de novembro acontecerá a ExpoEspírita 2001, promoção conjunta de vários centros espíritas de Santos, sob a coordenação do Instituto Cultural Kardecista de Santos (ICKS).
Como nos anos anteriores, o evento será também dirigido para os não-espíritas, em local público, no Sesc-Santos, na R. Conselheiro Ribas, em Santos.
Local amplo e dinâmico, o Sesc oferece espaço para a plena realização da ExpoEspírita, que será realizada nos seguintes horários:
Dias 22 (quinta-feira) e 23 (sexta-feira), das 18 às 22 horas; dias 24 (sábado) e 25 (domingo), das 13 às 18 horas. Os interessados terão a sua disposição palestras diárias sobre Espiritismo, venda de livros espíritas com desconto e apresentações artísticas.

Lançada Campanha de Divulgação da Conferência da CEPA na Capital

Durante o VII SBPE, a CEPA realizou uma assembléia, coordenada por seu presidente, Milton Rubens Medran Moreira. Ele expôs os objetivos, a estrutura e os planos da entidade que, graças ao trabalho da gestão anterior, presidida por Jon Aizpurua, está cada vez mais se consolidando no Brasil. Falou também o 1º vice-presidente Dante Lopez, da Argentina.
Na ocasião, foi lançada a campanha de divulgação da Conferência Regional, a ser realizada de 14 a 22 de novembro de 2002, na Capital. O presidente da comissão organizadora, Mauro Spíndola e o 2º vice-presidente da CEPA, Ademar Arthur Chioro dos Reis, apresentaram o projeto do evento. Foram abertas as inscrições para a Conferência, com amplo prazo para o pagamento. Cerca de 50 inscrições foram imediatamente feitas no local.
Foram entregues Certificados de Adesão a três novos membros da CEPA: Centro de Cultura Espírita Livre Pensar(Curitiba-PR), Centro Espírita Maria Emília da Motta Ferreira (Guarujá-SP) e o Instituto Cultural Kardecista de Santos (ICKS).

Fato e Comentário
Censura e Obscurantismo

O presidente da Confederação Espírita Pan-Americana (CEPA), Milton Rubens Medran Moreira, foi convidado para proferir palestra em Londrina-PR. A atividade, promovida pelo Núcleo Espírita Universitário (NEU) daquela cidade, atuante centro de cultura londrinense, seria realizada no Centro Espírita Nosso Lar.
Todavia, na última hora, a direção do centro, pressionada pela Federação Espírita do Paraná, suspendeu a cessão do local, obrigando o NEU a providenciar um espaço alternativo, fora do meio espírita.
A atitude das federações estaduais, notadamente do sul do País, censurando e combatendo a CEPA, enquadra-se no processo de censura e obscurantismo, que não encontra respaldo no espírito livre-pensador e liberal do Espiritismo.
Essas entidades pretendem tapar o sol com a peneira e evitar que as idéias liberais e progressistas, defendidas pelos espíritas kardecistas, se propaguem. Mas as idéias, quando positivas e verdadeiras, sempre vencem.
O espiritismo-cristão está engessado nas idéias e nos propósitos. Tenta defender-se evitando o debate, a revisão de posturas, mantendo uma posição sectária e intolerante, como se fosse uma seita de fanáticos.
Deveria, se tivesse coragem para isso, fazer como o filho pródigo do Evangelho que tanto prega: retornar ao pensamento de Allan Kardec e abandonar o cristianismo, que se recusa a admiti-lo em seu seio.

Cartas Abertas: Mudando de Opinião

O jornal Abertura publicou no seu número 160 (junho/2001) matéria intitulada “Laicos ou Anti-clericais?”, assinada por Osvaldo Iório, mas, surpreendi-me ao ler a mesma e perceber que além do título, o conteúdo foi escrito por mim em épocas passadas. Osvaldo Iório, que assina a matéria, escreveu apenas os três parágrafos finais, dando-me uma resposta. Sendo assim, pediria que o referido jornal publicasse minha réplica ao referido articulista. Marcio Sales Saraiva. 
Nota da Redação – O “direito a resposta”, pretendido por Saraiva, não tem o menor sentido, uma vez que Ioro apenas transcreveu suas idéias, deixando claro a sua autoria. Por isso, publicamos o que Saraiva tem a dizer, não como resposta, mas como manifestação de sua nova posição anti-kardecista.
Não mais compartilho do “espiritismo laico” como nesse antigo e-mail que publicou, até mesmo (além das razões doutrinárias) por perceber nos “laicos” uma agressiva pregação anti-religiosa e anti-cristã. Kardec nunca agiu dessa maneira e, pelo contrário, percebeu claramente o Espiritismo como continuidade do Cristo, o Consolador por Ele prometido.
É estranho como o “kardecismo” - que és um dos defensores - é cuidadosamente seletivo, pois aproveita apenas as linhas que interessam e ocultam tudo o mais que Allan Kardec (que, aliás, nunca foi ‘kardecista’ e tinha aversão a tal idéia) pensou sobre o Espiritismo.
Osvaldo, tuas palavras demonstram preocupação maior com o purismo conceitual (enquanto o mestre Kardec estava mais preocupado com a essencia dos ensinamentos dos Espíritos) e há nelas uma secundarização do sentimento de fraternidade e amor, que são essenciais, especialmente, na Doutrina dos Espíritos.
Para você, “desvio” é estar com Cristo e Kardec. Isso não é novo, esse combate ao Cristo é antigo, essa hojeriza também, os “laicos” apenas são os novos instrumentos e eu não gostaria de alistar-me nesse sombrio “exército”.
Divergir e optar é direito de todos e, sendo assim, eu opto por Allan Kardec, pela FEB e pelo Espiritismo, tendo por guia e modelo Jesus, conforme nos ensina O Livro dos Espíritos.
Marcio Sales Saraiva
Rio de Janeiro-RJ 

Cartas Abertas: O que é Kardecismo

Gostaria de saber o que vem a ser Kardecista. Seria, a meu ver, a pessoa que segue o Codificador da Doutrina Espírita, Allan Kardec? Sendo assim, seria uma nova corrente de pensamento, distinta do Espiritismo ?
Alexis BH MG (por e-mail)

Prezado Alexis,

Kardecista é o que segue a doutrina kardecista, ou seja, o Espiritismo. 
Não se trata de uma nova doutrina, mas da Doutrina Espírita em si mesma, que é, como é provado, uma obra de Allan Kardec. 
O fato de a “iniciativa” ser dos Espíritos não invalida nem diminui, ao contrário, a “elaboração” realizada pelo professor Hippolite Rivail.
Assim, kardecista pode, até certo ponto, ser um sinônimo para espírita, na medida em que esta palavra se enquadre perfeitamente no pensamento de Allan Kardec, acima e fora dos modismo, infiltrações e desvios perpetrados pelo movimento espírita brasileiro.
Jaci Regis
Editor

A Caminho da Paz

Em meio a tantos conflitos que a humanidade vem enfrentando, a paz parece ser apenas uma esperança, não mais do que uma luz tênue no fim do túnel. Principalmente pelo fato de muitos desses conflitos possuírem raízes que se perdem no tempo. Parece uma guerra sem fim. Árabes e judeus não se entendem. Os muçulmanos que odeiam o Ocidente, que por sua vez, parece ignorar a exclusão econômica nos países do Oriente Médio e do continente africano.
Religiões, que deveriam ser um farol para almas sedentas de justiça, tornam-se instrumento de terror e dominação de consciências. O fundamentalismo islâmico é apenas uma das facetas desse mal que ainda aflige o mundo nesse início de milênio: a intolerância religiosa, a impregnar as atitudes de povos e nações. Difícil saber qual fundamentalismo é pior.
O fundamentalismo cristão já provocou muitas guerras, as Cruzadas, a Inquisição e continua gerando cisões, conflitos exacerbados como os que ocorrem na Irlanda, entre católicos e protestantes. O sionismo, movimento político e religioso de origem judaica, de caráter nitidamente fundamentalista, é um dos maiores obstáculos ao conflito, ainda insolúvel, entre judeus e palestinos.
Quando se imaginava que o mundo caminharia para uma relativa paz, surge o terrorismo religioso a infernizar a vida de todos nós, ampliando ainda mais o fosso cultural entre o mundo islâmico e o Ocidente.
Interessante notar que todos invocam a divindade, tanto os cristãos norte-americanos que se imaginam sob a proteção de Deus como os muçulmanos, que se consideram fiéis depositários das bênçãos de Alá. O Deus judeu, Jeová, é o Senhor dos Exércitos.Os que partem para a guerra, ainda são abençoados pelos sacerdotes. Três deuses se chocam, o Deus cristão, o Deus judeu e o Deus muçulmano. Qual deles é o verdadeiro Deus?
Diante desse quadro dantesco, o exemplo de Gandhi ainda permanece vivo. A não-violência, protagonizada por ele, deve ser muito mais do que um movimento pela paz. Ela tem que penetrar em nossas mentes, em nossos corpos, a fim de que a postura diante do mundo se modifique.
É preciso respeitar aquele que é diferente, seja ele negro, homossexual, nordestino, muçulmano, espírita cristão ou judeu. A intolerância é um fruto perverso do egoísmo e do orgulho. A conquista da paz passa pela eliminação desses sentimentos torpes e movediços. 
Engana-se quem imagina que esses sentimentos perversos durarão para sempre. A paz, apesar de estar distante de nossa realidade, é um objetivo a ser alcançado, um devir, um projeto que está sendo construído a cada passeata pela paz, a cada exemplo de tolerância em nosso dia-a-dia, a cada sorriso no início de um novo dia.

Clima de Dinamismo foi a Marca do VII Simpósio Brasileiro

A realização do VII Simpósio Brasileiro do Pensamento Espírita (VII SBPE), de 11 a 14 de outubro, em Cajamar-SP, foi marcado pelo clima de dinamismo dos participantes, que apresentaram idéias e projetos para uma constante reciclagem das propostas espíritas com abordagens inovadoras.
O programa foi totalmente cumprido e a participação ativa de mais de 100 pessoas durante os três dias do evento foi a base das discussões, confraternização e debates.
Neste simpósio foram incluídos um seminário, dois workshops e um curso, dando uma movimentação mais ampla ao debate de alguns temas. No dia 11, às 21 horas, o engenheiro Alexandre Cardia Machado coordenou seminário sobre Espiritismo e Genética. No dia 12, das 14h30 às 17h30, foram desenvolvidos simultaneamente: Curso sobre Contribuição da Lingüística para a Atualização do Espiritismo, pela professora Dinorá Fraga da Silva; dois workshops, sobre Estresse e Depressão, pelo psicólogo Jaci Régis e Avaliação da Pesquisa Mediúnica, pelo engenheiro Reinaldo Di Lucia.
O VII SBPE contou com a presença de 118 pessoas, sendo que 110 se alojaram na Cooperativa de Cajamar, onde o evento se realizou.
A Mocidade Espírita Estudantes da Verdade, de Santos, realizou uma pesquisa-debate sobre O papel do jovem na Doutrina Espírita. Os jovens apresentaram quatro questões, discutidas à parte por quatro grupos de adultos. Após a discussão, cada grupo apresentou sua posição. Seguiram-se debates muito esclarecedores, todos apontando a necessidade de maior participação da juventude no movimento espírita e na sociedade. Os jovens terminaram apresentando duas canções, acompanhados pela família Vidili, que mostrou no início do evento, várias músicas com apresentação teatral.
Doutrina
n Ação de Deus na concepção espírita
Rui Paulo Nazário de Oliveira
n Mediunidade hoje
Carlos Grossini
n O perispírito na gestação
Jaci Regis
n Seremos todos espíritas?
Wilson Garcia
Ciência
n Para uma semiologia no estudo da reencarnação
Sady Carlos de Souza Jr
n Genética e Espiritismo
Ademar Arthur Chioro dos Reis
Cultura
n Sócrates e Platão: precursores do Espiritismo?
Reinaldo Di Lucia
n O pensamento pós-moderno e o Espiritismo
Luiz Fuchs
Educação
n Educação espírita e o desenvolvimento sustentável
Orlando Villarraga
Medicina e Terapias
n Sono: uma abordagem médica e espírita
Maria Cristina
n Musicoterapia
Bertha M. Andrade Vidili
Música
n Panorama da canção no movimento espírita
Saulo de Meira Albach
Outros
n Ensaio sobre o modelo matemático dos Espíritos e do mundo dos Espíritos
Renato Gomes dos Reis 
n Apometria
Sebastião Catai
Biografia
n Amélie: uma mulher de verdade
Eugenio Lara

Quadro de Participação

São Paulo (97)
Santos – 64
São Paulo – 10
Guarulhos – 5
São Vicente – 5
Birigu – 6
São José dos Campos – 2
Araraquara – 4
Osasco – 1
Rio Grande do Sul (12)
Porto Alegre – 12
Paraná (3)
Curitiba – 3
Santa Catarina (2)
Itajaí – 2
Ceará (1)
Fortaleza – 1
Mato Grosso (1)
Cuiabá – 1
Exterior (2)
Argentina – 2

Total: 118 participantes

Entrevista com Renato Gomes: "A Matemática ajuda a Entender o Espírito"

Renato Gomes tem 26 anos e é espírita há cerca de 9 anos. Começou na parapsicologia. Quando chegou em determinado ponto de estudo desta ciência, em que ela não oferecia mais respostas a suas indagações, buscou no Espiritismo um esclarecimento para suas dúvidas, após a leitura do livro Psi Quântico, do psicobiofísico Hernani Guimarães Andrade, emprestado por um amigo da mesma cidade onde mora, em Birigui. Solteiro, é formado em Matemática e professor desta disciplina em escolas estaduais do ensino médio e fundamental. Leia a seguir os principais trechos de sua entrevista concedida durante o VII Simpósio Brasileiro do Pensamento Espírita.
Abertura – Você tomou contato primeiramente com o fenômeno, com o estudo do fenômeno paranormal e depois, ao começar a freqüentar um centro espírita, não sentiu uma diferença de abordagem?
Renato Gomes – A diferença eu senti muito. Entretanto, também vi muitas coisas semelhantes. Mas, quando tomei contato com as obras de Allan Kardec, eu notei que a semelhança com a parapsicologia era muito grande. Aquilo me deixou mais seguro, pois era o que eu esperava para me responder às perguntas que a parapsicologia não me respondia. O clima era outro, pois havia todo um trabalho de fraternidade, de solidariedade, de cooperação. E além disso se estudava uma ciência diferente que eu não conhecia até então. 
Abertura – Você chegou a ter contato com o Hernani?
Renato Gomes – Sim. A gente conversou primeiramente por telefone e depois eu fui lá, na cidade de Bauru, ele me deu alguns livros e a gente passou a ter contato com telefone quase que direto, por correio eletrônico também. Já há algum tempo que mantemos esse contato.
Abertura – Você tem divergências com ele?
Renato Gomes – Eu tenho mais afinidades do que divergências. Ele é uma pessoa fantástica, maravilhosa, que eu tenho um respeito e um carinho muito grande, como se fosse de neto para avô. Temos uma afinidade muito grande, apesar de nossas linhas de pesquisa serem ligeiramente divergentes, mas o objetivo nosso é o mesmo. E a meta final é a mesma.
Abertura – Qual é a divergência?
Renato Gomes – O Hernani e outros pesquisadores dessa área partiram de um modelo semelhante ao da mecânica quântica, que é o mundo do infinitamente pequeno. Enquanto eu parti para uma analogia para o mundo do infinitamente grande, que é a teoria geral da relatividade, do Einstein. Embora seja uma divergência científica, não é pessoal, absolutamente. O respeito que tenho pelo trabalho dele é muito grande, pela contribuição que ele tem dado para nós pesquisadores e para toda a humanidade também.
Abertura – O Hernani é engenheiro e foi um dos pioneiros na divulgação da Transcomunicação Instrumental, da Kirliangrafia colorida, mas tem uma formação diferente da sua, que é no campo da Matemática. O engenheiro é um profissional mais pragmático do que o matemático. Considerando essa diferença de formação, sem querer comparar, você poderia responder qual a contribuição da Matemática para o estudo dos fenômenos espíritas?
Renato Gomes – A Matemática é uma ferramenta que permite você observar com os olhos da mente, o que os olhos físicos não vêem. A Matemática ajuda nessa parte. Então, se você não enxerga um átomo, com ela você consegue construir um modelo que você pode, por assim dizer, enxergar esse átomo, mas não ver. O verbo ver aí não se aplica. Estamos usando o verbo enxergar, pois não é essa a acepção própria da palavra. Ela faz você observar o que os olhos físicos não vêem. Ele tem a propriedade de nos fornecer esses olhos e nos mostrar vários mistérios da natureza até então indecifráveis.
Abertura – Dê um exemplo bem didático de como a Matemática pode ser utilizada para se compreender determinado fenômeno.
Renato Gomes – Isso é relativamente simples. Vamos pensar no modelo atômico, vamos fazer uma analogia. Para localizar um elétron, num modelo atômico bem atual, você não o localiza num determinado lugar do espaço. Ele tem uma probabilidade muito maior de se encontrar próximo ao núcleo, por assim dizer. Se você fizer uma analogia e pensar qual o lugar mais provável de encontrar uma pessoa que você conheça, é na casa dela. Você começaria pelo país, o estado, a cidade, o bairro e a casa. A casa dela ou nas proximidades é o lugar mais provável de localiza-la. Quer dizer, o raciocínio da mecânica quântica é esse: você não sabe onde está o elétron, mas sabe o lugar mais provável. A mesma coisa você pode aplicar, fazendo uma comparação, uma analogia que eu fiz, utilizando esse modelo bem simples de raciocínio, com uma amiga sua que você vai procurar.
Abertura – Considerando essa diferença entre ver e enxergar, é possível usar a matemática para enxergar, no sentido filosófico e abstrato, uma inteligência extra-corpórea, um Espírito, que não está plotado, não está localizado, e que, portanto, está errante, no sentido espírita do termo?
Renato Gomes – Isso é possível. Eu construí um modelo matemático que tenta fazer uma geometrização do Espírito. Eu construí uma geometria a cinco dimensões, numa primeira aproximação. Nós temos as quatro dimensões que são as usadas na teoria geral da relatividade e uma quinta em que a dimensão do espaço e o tempo não são originários, não são da mesma forma como nós entendemos. Nessa quinta dimensão o Espírito seria colocado e seria considerado um ente geométrico. Ele causa, nessa dimensão, uma perturbação do espaço.
Abertura – Mas esse espaço não é o que conhecemos, o espaço físico, tridimensional. Seria um espaço abstrato, um espaço matemático?
Renato Gomes – Exatamente. As quatro dimensões, é fácil de entender o princípio. As três dimensões é o que a gente conhece e vê todo dia.
Abertura – Altura, largura e profundidade. A quarta seria o tempo...
Renato Gomes – Sim. Quando você marca um encontro com uma pessoa tem que marcar o lugar e a hora, caso contrário não será possível encontra-la. É preciso marcar o espaço e o tempo, simultaneamente. Agora, a quinta dimensão é uma abstração matemática para se explicar alguns fenômenos que ocorrem no mundo extra-físico.
Abertura – Seria então através de equações, de modelos, de ícones matemáticos?
Renato Gomes – É desse jeito mesmo, quando a gente trabalha com a geometria. No caso, estou usando a geometria de Riemann (matemático alemão, nascido em 1826 e falecido em 1866, que contribuiu para o estudo das funções abelianas na álgebra moderna e que inspirou estudos de geometrias não-euclidianas). Essa geometria é descrita com símbolos matemáticos, com letras, números e com um conjunto de equações que nós matemáticos conhecemos como equações tensoriais. Ou seja, nós utilizamos uma matemática chamada de análise tensorial. Além desse ingrediente nós utilizamos uma topologia algébrica chamada Álgebra de Grassmann (matemático alemão, um dos primeiros a conceber a geometria em várias dimensões), a geometria diferencial e alguns elementos da matemática elementar. É uma teoria difícil, não é nada simples, mas ela oferece um belo resultado, um resultado bonito e fiz um resumo didático, bem pedagógico, para que o leitor que não tenha iniciação em Matemática possa compreender as nuances do meu trabalho.
Abertura – Você está usando a Matemática para tentar visualizar, no sentido mais filosófico, algo que nós espíritas chamamos de Espírito. Mas não partiu já do pressuposto de que essa entidade existe? E vai atrás com a tecnologia, com a linguagem matemática para tentar justificar sua hipótese, algo que, de antemão, você já estabelece como um princípio verdadeiro...
Renato Gomes – Na realidade esse modelo não se aplica somente a Espíritos. Eu poderia abstrair para outras coisas. Só que esse modelo geométrico que eu desenvolvi permite pensar no mundo extra-físico como sendo um mundo virtual. Quer dizer, eu posso partir do princípio de que os Espíritos são existentes e construir com essa geometria um modelo, ou possa aplicar e explicar a realidade física deste mundo. Posso partir dessa geometria e tentar entender fenômenos espirituais de uma maneira indireta. Mas aí é um caminho mais complexo. Então, os dois caminhos são possíveis, embora eu tenha seguido o primeiro por ser uma primeira aproximação. Eu já parti do pressuposto da existência do Espírito e então estou tentando entender o mecanismo de funcionamento do mundo dos Espíritos através dessa geometria. 
Abertura – Você parte, portanto, da hipótese de que existe uma inteligência extra-corpórea que produz fenômenos no espaço não-físico. Considerando isso, lembremos que os parapsicólogos russos, materialistas, começaram a estudar os fenômenos paranormais partindo do pressuposto de que tudo é produzido pela mente, de que não haveria nenhum tipo de interferência além das forças materiais. E pelo fato de serem financiados por um Estado também materialista, marxista, eles não poderiam formular hipóteses como a sua. Se você fosse um cientista russo e formulasse tal teoria iria para o paredão ou pra Sibéria. Aqui, no chamado “mundo livre”, você não teria verba nem para comprar giz. No entanto, os parapsicólogos russos chegaram a conclusões contrárias a suas hipóteses iniciais. O que pensa a respeito disso?
Renato Gomes – A contribuição dos russos é admirável. Sou apaixonado pela literatura parapsicológica de origem soviética. Antes mesmo da Rússia formar a federação, foi uma experiência maravilhosa enquanto durou. As experiências soviéticas no campo da Parapsicologia foram de uma contribuição sem tamanho porque eles realmente partiram do princípio de que não havia alguma coisa além da matéria e provaram exatamente o contrário. Eles se chocaram com as conclusões que eles obtiveram, com métodos extremamente rigorosos. Eles positivaram que existe algo além da matéria que eles não definiram claramente e que não era explicável pelas leis da física convencional. Então, todo o trabalho da parapsicologia se deve muito aos soviéticos. Dali nós tivemos a máquina Kirlian, explicações teóricas, experiências de vários tipos. 
Abertura – Qual a utilidade desse teu projeto de pesquisa? Você conseguiria uma bolsa de pesquisa para poder se aprofundar nessa temática?
Renato Gomes – Admitindo a hipótese de conseguir uma bolsa, que eu creio ser profundamente improvável, eu teria que mudar a terminologia, algumas coisas teriam que ser mudadas, adaptadas, enfim, possivelmente a pesquisa teria que ser direcionada para um outro caminho. Existe uma relutância muito grande em relação a essa área de pesquisa. Embora você possa utilizar um outro nome, que é a psicobiofísica, uma disciplina com uma certa aceitação acadêmica razoável. Acho que daria para viabilizar um projeto de pesquisa usando essa terminologia. Poderia usar um outro rótulo, a psicotrônica, termo criado pelos soviéticos. Mas o que está em voga hoje é a psicobiofísica, que tem uma penetração nos círculos científicos e não tem a rejeição que sofre o kardecismo nos meios acadêmicos.
Abertura – Parece que em termos acadêmicos, somente na área sociológica e antropológica que o kardecismo é aceito, mas enquanto objeto de estudo e não como corrente filosófica, como fundamentação filosófica para determinado trabalho. E quanto ao VII Simpósio, você gostou do nível de discussão?
Renato Gomes – O simpósio apresentou um nível de alta qualidade, as discussões foram muito boas. Elas são diferenciadas. Fui em vários encontros espíritas e todos que vi anteriormente são absolutamente diferentes. Os outros que fui eram bons na confraternização, no calor humano, mas infelizmente ruins na parte metodológica, filosófica e científica, que ficavam abandonadas, relegadas mesmo a segundo plano, talvez porque os dirigentes considerem a necessidade de se tomar esse rumo. Vejo esse encontro como um evento extremamente positivo para pessoas criativas, que querem inovar, avançar e progredir, que querem fazer uma coisa nova e diferente.
Abertura – Muito obrigado e, quem sabe, nos reencontremos no próximo simpósio.