Da Redação - Novembro de 2001

"Ângelo Prado" comemora 50 anos

O Centro Espírita Beneficente Ângelo Prado (Cebap), R. Almirante Tamandaré, 238, Santos-SP, comemora seus 50 anos de fundação com palestras, apresentações artísticas e almoço de confraternização, de 14 a 18 de novembro. Para falar sobre a data entrevistamos o presidente do Cebap, Milton Albuquerque.
ABERTURA - Milton, como foi fundado o “Ângelo Prado”?
MILTON - O “Ângelo Prado” foi fundado em 15 de novembro de 1951, por orientação do Espírito que lhe dá o nome, para D. Manoela Seara Caetano, sua médium. Instalado inicialmente na R. Borges, 103, em 1974 mudou-se para sede própria, construída à R. Almirante Tamandaré, 238, no Estuário. Reúne cerca de 100 pessoas, entre associados e colaboradores, no estudo e prática da Doutrina, reuniões mediúnicas e pequena assistência social, onde se distribui cestas básicas e enxovais para recém-nascidos.
ABERTURA - Qual a principal característica do “Ângelo Prado”?
MILTON - O estudo da Doutrina Espírita. Para isso, mantém regularmente um Curso Básico de Espiritismo, aplica também o COEM (Centro de Orientação e Educação Mediúnica), além de outros estudos.
ABERTURA - “O Ângelo Prado” foi pioneiro no COEM em Santos. Como analisa, passados tantos anos, a eficácia desse método? Quantas turmas já foram treinadas”?
MILTON - O “Ângelo Prado” adotou o COEM em 1974, porque viu neste método valioso recurso para solucionar deficiências na prática da mediunidade. Hoje o programa, que tinha duração de 18 meses, encontra-se bastante sintetizado, sendo aplicado em cerca de oito meses, por alteração de metodologia, mantendo, entretanto, significativa eficiência. Já passaram 35 turmas pelo COEM, tendo mais de 400 pessoas concluído o curso.
ABERTURA - O Centro tem algum projeto especial em andamento? Como pretende encarar os desafios do século 21?
MILTON - Projetamos criar no próximo ano a Infância Espírita, pois consideramos sua inexistência uma lacuna a ser preenchida, urgentemente. Estamos desenvolvendo o planejamento do trabalho e otimistas quanto ao seu sucesso.
A modesta participação que desenvolvemos no movimento espírita não nos habilita a pretender exercer grande influência para superar os imensos desafios com que a Doutrina se depara, porém, na medida do possível, nos empenharemos para que continuemos divulgando-a com fidelidade o pensamento de Kardec, sem descuidar de procurar assimilar as idéias e constatações que se definam contribuidoras e suplementadoras à base kardecista.

Ecos do SBPE

Respondendo a correspondêncioa eletrônica enviada pelo nosso diretor, alguns participantes do VII SBPE exernaram suas impressões: 

Saulo Albach – Curitiba -PR
Jaci, quem deve agradecer somos nós por você manter viva a chama do SBPE que cada vez mais torna-se um espaço de estudos, de amizade, de encontro... Gostei muito deste VII SBPE e espero que possamos estar juntos em muitos outros. 

Salomão Benchaya – Porto Alegre-RS
Segundo os depoimentos dos delegados do CCEPA que estiveram em Cajamar, o VII SBPE foi um sucesso. Houve unanimidade em reconhecer que o clima do simpósio estava muito bom e excelente o nível dos trabalhos.

Jacira Jacinto da Silva – Birigui-SP
Caro Jaci,
Não imagina a imensa satisfação que tenho de poder participar deste encontro com a cultura espírita. Na verdade nós é que precisamos agradecer a todos vocês, mas especialmente a você, que soube superar os desafios, sempre buscando as últimas energias para nunca esmorecer. Vi neste Simpósio o início de um novo tempo. 
Posso estar equivocada, mas acredito que novos horizontes estão se abrindo e que aos poucos, nossos pequenos esforços, somados ao gigantesco trabalho que você desenvolveu começa a produzir bons frutos.
Por aqui vamos indo bem com o nosso pequeno grupo de estudos e acredito que brevemente também nos institucionalizaremos e logo estaremos também filiados à Cepa.

Jailson Mendonça – Santos-SP
Prezado Jaci
Nós é que agradecemos pela oportunidade ímpar de podermos juntar o útil ao agradável. Sim, isto foi literalmente possível no VII SBPE, pois além dos conhecimentos adquiridos, com excelentes trabalhos em sua maioria, a possibilidade de integração com os velhos e novos amigos.

Maria Cristina Zaina – Curitiba-PR
Oi Jaci,
A opinião de alguém com a sua bagagem é realmente estimulante para quem , como eu, está começando a aprender e a estudar.
Aproveito para também agradecer seu esforço em realizar eventos como este, que permite-nos ouvir pessoas que nos acrescentam novos conhecimentos, mas que também são exemplos de caráter e sentimento. Obrigada por me permitir a possibilidade de conviver com pessoas tão especiais.

Sebastião Catai – Santos-SP
Na verdade quem deve agradecer sou eu. A oportunidade de expor minha experiência foi muito importante. Divulgar a apometria é um trabalho que só é possível si houver compreensão de amigos como voce.

Neventon Vargas – Fortaleza-CE
Prezado Jaci
Agradeço as amáveis referências a minha presença no VIISBPE e concordo que tal fato alarga seus horizontes, pelo menos geograficamente, pois pelo que me consta Fortaleza foi a cidade brasileira mais distante que teve representante no simpósio.
Esperamos que também ideologicamente possamos demarcar esta nova fronteira. Foi um prazer conhecê-lo.
De uma lista da CEPA, tivemos este depoimento:
Dante Lopez - Argentina
Queridos amigos: este correo de Neventon, a quien tuve el gusto de conocer en el Simposio, me inspiró para agradecer a los organizadores por los gratos momentos vividos en esos dos hermosos días de intercambio de conocimientos y afectos que vivimos.
Es realmente destacable la simpleza de actitud y la profundidad de conceptos que se perciben en ese ámbito, en el que se prioriza la calidad humana y la verdadera práctica del Espiritismo.
Me conmovió ver numeroso grupo de jóvenes, y al conversar con ellos aprecié su frescura y su formación humana.
Si estaría en condiciones de felicitarlos, los felicito, pero más que nada les agradezco la calidez con que nos recibieron y la sencillez del conocimiento expuesto con sabiduría y profundidad.
Para los que nunca fueron, es una experiencia para no perdérsela.

Fato e Comentário
O Espiritismo não é Cristão

O cardeal d. Eugenio Salles, escreveu artigo no jornal O Globo, sobre reencarnação. De cordo com o prelado católico, dentro do pensamento definido como cristão, a reencarnaçò não tem lugar. Para ele, as escritura são bem claras e definem a a vida como unia. Portanto, para o cardeal, quem crê na reencarnação não pode ser considerado cristão.
A mesma opinião foi claramente exposta na revista evangélica , que analasisou a reencarnação e também considerou que espírita não pode ser cristão, porque os fundamentos doc cristianismo não se afina com as teorias da doutrina kardecista.
Não obstante os espíritas continuam se declarando ora espíritas-cristãos, ora cristãos-espíritas, expressão criada no Rio de Janeiro, onde os espíritas se consideravam primeiro cristãos e depois espíritas. é o tal do Espiritismo segundo evangelho.
Embora o espiritismo cristão seja uma criação tipicamente brasileira, baseada no misticismo católico de muitos dos iniciadores do movimento e sob o império dos Quatro Evangelhos, de Roustaing, há os que querem justificar o imbróglio referindo à palavras de Kardec, em O Livro dos Médiuns,(capítulo III – Do Método item 28- 3º) segundo às quais o verdadeiros espíritas seriam os “espíritas-cristãos” ou seja “os que não se contentam em admirar apenas a moral espírita, mas a praticam e aceitam em todas as suas conseqüências.... esforçando-se para fazer o bem e reprimir as suas más inclinações...” mais tarde reafirmada na expressão “reconhece-se o verdadeiro espírita “pela sua transformação moral, e pelos esforços que faz para domar suas más inclinações “O Evangelho segundo o Espiritismo, capitulo XVII –Sêde Perfeitos – Os Bons Espíritas”). 
Como se vê a definição é baseada no desempenho pessoal e não na crença ou ligações com os sacramentos cristãos.

Critério Kardecista

Que Allan Kardec é menosprezado pelos espíritas religiosos e por pseudo-espíritas, é fato comprovado. Embora muitos elogiem seu caráter, sua inteligência, poucos estudaram sua obra. Há os que não conseguem absolver as diretrizes que ele traçou para o Espiritismo. E, finalmente, a tentativa de subestimar seu trabalho, com o propósito de introduzir concepções que não têm o respaldo de seu pensamento.
Kardec defende a integridade da Doutrina dizendo que ela é o resultado do pensamento coletivo e não a opinião de um Espírito. “Sem embargo da parte que toca à atividade humana na elaboração desta doutrina, a iniciativa da obra pertence aos Espíritos, porém não constitui a opinião pessoal de nenhum deles. (A Gênese, Introdução)”.
Para Kardec, “a terceira revelação (...) tinha ela que ser ao mesmo tempo o produto de um ensino e o fruto do trabalho de pesquisa e do livre exame”. Tal declaração desmistifica o sentido de revelação religiosa dado pelos místicos à palavra “revelação” que ele atribui ao Espiritismo. Alias, perfeitamente elucidada no início do capitulo “Caráter da Revelação Espírita” do qual retiramos a expressão grifada.
Desvinculados do pensamento central de Kardec, abriu-se oportunidade para o surgimento de seitas marginais, algumas esdrúxulas, mágicas e místicas. O que se viu foi a interpretação dos postulados doutrinários ao bel prazer de Espíritos e médiuns, de grupos e movimentos, todos com a bandeira da bondade, da espiritualidade e da universalidade.
Rejeitam o pensamento kardecista a pretexto de serem liberais, não ortodoxos, mas perpetram a descaracterização do Espiritismo, como uma colcha de retalhos, muitas vezes para dar vazão à vaidade.
No Brasil, temos “doutrinas” de determinados Espíritos, incrustradas no corpo doutrinário. Comecemos por Ismael, o famigerado Anjo que determinou que a missão do Espiritismo era pregar o evangelho. Os líderes do movimento no fim do século 19 entenderam que esse “evangelho” era o que a Revelação da Revelação de Roustaing trouxe.
Temos a doutrina de Emmanuel, com seu triângulo místico e que serve de base para a religião espírita brasileira, influenciando indivíduos que não estudam Kardec e entendem o Espiritismo a partir das idéias emmanuelinas.
O menosprezo pela obra de Kardec, em seu sentido completo e não superficial, principalmente quando baseada no “Evangelho”, dá azo ao surgimento teorias sem qualquer sustentação lógica ou científica ou sem qualquer base de pesquisa e análise. Em centenas de lugares surgem pseudo-reveladores, Espíritos e médiuns se dizem tocados pela revelação divina e criam logo uma sub-doutrina, que na verdade torna-se a doutrina central, em detrimento do pensamento de Kardec. 

A CEPA vive seu grande momento

Milton Rubens Medran Moreira, advogado, Procurador da Justiça aposentado, radialista, jornalista e escritor espírita, preside hoje a Confederação Espírita Pan-Americana (CEPA). Desde há muito trabalhando no movimento espírita, Medran assumiu uma posição importante no cenário espírita mundial, no momento em que a CEPA volta, com toda força, a ter presença no Brasil.
Abertura — A entrada da CEPA no Brasil aglutinou núcleos doutrinários dissidentes do movimento oficial. Esse grupo aumentou ou permanece estático?
Milton — Tem aumentado. Agora mesmo, por ocasião do 7º Simpósio Brasileiro do Pensamento Espírita (SBPE), formalizamos o ingresso de três importantes instituições espíritas, que têm o inteiro perfil das entidades que, hoje no Brasil, têm se acercado da CEPA. São elas: o Instituto Cultural Kardecista de Santos, o Centro Cultural Espírita Livre Pensar, de Curitiba-PR e o Centro Espírita Maria Emília da Motta Ferreira, de Guarujá-SP. 
Também recentemente ingressou na CEPA o ICONE - Instituto de Comunicação Social Espírita, de Goiás. Todas essas entidades são dirigidas por espíritas de larga experiência e de plena vivência no movimento espírita nacional, alguns tendo sido dirigentes de Federações, Uniões Estaduais ou Municipais, das quais não são, necessariamente, dissidentes. É o caso, por exemplo, do ICONE, presidido pelo jornalista Luiz Signates, que, até o ano passado, ocupava uma vice-presidência da Federação Espírita de Goiás, à qual o ICONE continua filiado. Eles entendem (e a CEPA concorda) que não há nenhuma incompatibilidade em manter-se participando do movimento espírita tradicional e ingressar na Confederação. 
O “Maria Emília”, assim como outras casas espíritas paulistas, historicamente ligadas à USE, aderiram à CEPA, mantendo íntegros os vínculos com a União das Sociedades Espíritas de São Paulo. Reputo isso muito saudável: todos devem ser livres para estabelecer os vínculos que desejarem.
Abertura — Olhando o mapa do Brasil, vemos que os grupos adesos à CEPA estão localizados principalmente no Rio Grande do Sul, Paraná e São Paulo. Como ela pretende ampliar esse leque?
Milton — A estratégia de relacionamento da CEPA com o movimento espírita brasileiro, nesta fase mais recente, estabelecida pelo presidente que me antecedeu, o venezuelano Jon Aizpúrua, inteligentemente partiu da relação pessoal, feita precipuamente com indivíduos. Jon apreendeu o quadro de heterogeneidade do movimento espírita brasileiro. Sentiu que, aqui, há um contingente enorme de espíritas que, de há muito, transcenderam a fase religiosa, mística, igrejeira que caracteriza a maciça maioria de nossas casas. 
Mas, que, apesar disso, continuam nessas instituições, impotentes para influir no seu perfil, mas com credibilidade suficiente para representarem institucionalmente uma entidade internacional, como é a CEPA, que, historicamente, tem uma concepção laica, livre-pensadora e genuinamente kardecista. 
Ora, sabemos que, por uma realidade histórica, o processo dialético, gerando conflitos ideológicos no movimento, tem se dado precisamente no Sul. Lá, a mensagem da CEPA chegou no momento certo. Então, a estratégia foi a nomeação de Delegados, de pessoas que passaram a deter uma legitimidade pessoal para essa divulgação. 
O que está acontecendo, hoje, é que, pouco a pouco, pessoas com esse nível de entendimento vão se agrupando, constituindo pequenos núcleos de estudo, de divulgação espírita, que terminam aderindo à CEPA. Por razões históricas, geográficas, por condicionamentos culturais, no Norte e Nordeste esse processo se faz com mais lentidão.
Assim mesmo, já temos Delegados em algumas capitais do Nordeste, como Fortaleza e Recife. E algumas excelentes instituições, que, embora não adesas formalmente à CEPA, mantém conosco um relacionamento muito rico, como é o caso, por exemplo, do IPEPE, de Recife, que, abrigando pensadores espíritas de qualidade, desenvolve um belo trabalho no campo do intercâmbio espírita com diversificadas áreas do pensamento científico, filosófico e social e que participou ativamente do último Congresso da CEPA em Porto Alegre.
Abertura — O último SBPE reuniu 118 pessoas. É um número expressivo, mas certamente ainda muito pequeno. Considerando os núcleos que aderiram à CEPA, esse público é bem maior mas não se motivou?
Milton — Na verdade, a CEPA no Brasil, exatamente pela consistência de suas propostas, parece ser maior do que é. Isso, de uma certa forma, retrata sua própria maneira de ser. Ela é muito mais uma idéia, grande, generosa, abrangente, do que uma instituição formal. 
Como idéia, reflete o pensamento de um número enorme de espíritas que vivem esse processo de mudança, de busca de um novo modelo, mais próximo de Kardec. Como instituição, ela enfrenta a natural acomodação das casas, o conservadorismo das instituições, a sua própria carência de recursos materiais etc. Mas, se você observar, verá que 90% dos participantes do SBPE são pessoas institucionalmente comprometidas com a CEPA. Tanto assim, que na reunião da CEPA, realizada durante o Simpósio, quase todos os seus participantes estavam ali. Então, me parece que a CEPA contribuiu decisivamente para o sucesso do SBPE, e inclusive, trouxe alguns companheiros que só souberam da existência desse núcleo de pensamento porque, antes, conheceram a CEPA. É o caso, por exemplo, da Nícia Cunha, Delegada da CEPA em Cuiabá-MT; da Cynthya Michelin Locatelli, Delegada em Itajaí-SC; da Maria Cristina Zaina, Coordenadora do Centro Cultural Espírita Livre Pensar, de Curitiba-PR; do Néventon Vargas, Delegado da CEPA em Fortaleza-CE, e outros mais. Enfim, acho que essa parceria, formalizada no SBPE, entre CEPA e ICKS, só vai fortalecer os próximos simpósios e, naturalmente, dar maior consistência aos próximos eventos da CEPA no Brasil. 
Essa parceria é perfeita, até porque se vocês, de Santos, não tivessem realizado o trabalho que realizaram, não teria havido condições para esse ingresso da CEPA no Brasil.
Abertura — Nos demais paises latino-americanos nos grupos adesos à CEPA, está havendo um movimento de aglutinação com novos participantes ou isso ainda não foi conseguido?
Milton — A CEPA vive seu grande momento no Brasil. Em outros países, especialmente a Argentina, que foi seu berço, e a Venezuela, graças à excelência do Movimento de Cultura CIMA, presidido por Jon Aizpúrua, ela se consolidou. Ali, e em outros tantos países, como é o caso de Porto Rico, a CEPA já nasceu com esse perfil livre-pensador, laico, dinâmico e contestador. 
Aqui, o processo de igrejificação levou o movimento de roldão. Criou-se o mito do sagrado que, uma vez rompido, produz uma sensação de orfandade só superada por homens e instituições realmente vocacionados para a liberdade de pensamento, sem tutelas, como deve ser o perfil do espírita. O movimento espírita brasileiro está amadurecendo para essa realidade. Está, pouco a pouco, rompendo com esse mito do sagrado, da hierarquização, do modelo igrejificado, vaticanizado. E aí a CEPA aparece como a instituição capaz de agregar sem subordinar, dentro de um clima de respeito ao pensamento, à autodeterminação, preservados, sempre, os fundamentos básicos kardequianos, que se constituem na sua bússola.
Abertura — Está em estudo uma nova estrutura para a CEPA. Ela deixará de ser “confederação” e se transformará em um movimento cultural espírita? Essa nova forma aumentará a sua penetração? A adesão giraria em torno de quais objetivos? Qual será o seu papel?
Milton — Bem é um pouco prematuro falar nesse assunto. Na verdade, essa é apenas uma idéia. É que a CEPA vive um processo de atualização institucional. De há muito, se sentiu a necessidade de alterações em seu estatuto social, já que ela tem mais de 50 anos de existência. Então, todas as instituições filiadas foram convidadas a oferecer subsídios para o novo estatuto. 
O Centro Cultural Espírita de Porto Alegre propôs um modelo menos hierarquizado, mais horizontal, congregador, menos formal e que abandone aquela idéia da “unificação”, um sonho da primeira metade do século 20 e que hoje está ultrapassado. Nessa linha de pensamento, parece que não faz muito sentido seguir sendo uma “Confederação a filiar federações”, mas um genuíno movimento de cultura, livre-pensador, reunindo pessoas e instituições, sem esse sistema piramidal, trabalhando, enfim, em torno da união ao pensamento de Kardec, e deixando de perseguir esse mito da unificação, que cria um sistema rígido, facilmente descambando para a prática de atos de poder e intransigência. 
Diante da proposta do CCEPA, o Conselho Executivo resolveu fazer uma consulta informal a diversas pessoas e instituições historicamente importantes para a CEPA, mesmo antes de submeter essa proposta aos fóruns decisórios. Para nossa surpresa, estamos verificando que, majoritariamente, quase que unanimemente, os espíritas ligados à CEPA aprovam essa idéia. Não querem mais saber de Confederação, mas desejam preservar o nome CEPA, dado seu peso histórico e sua própria simbologia semântica. O que é certo é que essa caminhada não tem mais volta: o perfil assumido pela CEPA, com essa visão humanista, fraterna, não autoritária, privilegiando a excelência das relações humanas e o próprio pluralismo de sentimentos, dentro do contexto genuinamente espírita, isso tudo está consolidado na CEPA, seja como confederação ou um movimento institucionalmente mais leve e menos burocratizado.
Abertura — A próxima Conferência Regional, que será realizada em novembro de 2001, em São Paulo, terá um papel importante na divulgação da mensagem da CEPA?
Milton — Eu tenho a plena convicção de que a XIV Conferência Regional Espírita, de 14 a 17 de novembro, em São Paulo, vai consolidar esse movimento que toma vulto no Brasil. 
Será um momento importante nesse processo de dessacralização do Espiritismo, que contém uma visão de homem e de mundo que pode, perfeitamente, se alinhar a inúmeras correntes do pensamento contemporâneo, sendo capaz de lançar alguma luz a enigmas que são objeto de importantes perquirições científicas. Enquanto for visto e tratado como uma religião, ou, simplesmente, mais uma religião cristã, ele não poderá cumprir esse importante papel. 
No Congresso de Porto Alegre lançamos o convite à atualização. Esse processo continua e tem a dimensão do infinito, tal como a própria consciência humana. Temos companheiros brilhantes trabalhando em prol dessa Conferência, coordenados pelo Mauro Spínola. Será a grande oportunidade de a CEPA se mostrar ao Brasil, principalmente ao Brasil espírita, do qual é ainda escassamente conhecida. 
São Paulo oferece condições para isso. O próprio movimento espírita paulista, mais plural e que tem sabido resolver suas contradições de forma, por exemplo, muito mais civilizada e inteligente do que no Rio Grande do Sul, onde está sediada a CEPA, trará essa contribuição pluralista e dialética de que necessitamos para alcançarmos o equilíbrio no movimento espírita.