Da Redação - Março de 2001

Para quem Gosta de Estudar
Publicação reúne aulas ministradas pelo escritor espírita Deolindo Amorim

A Editora Circulus, departamento editorial do Círculo Espírita da Oração, de Salvador-BA, lançou no final do ano passado uma obra para quem gosta de estudar o Espiritismo com seriedade. Trata-se do Cadernos Doutrinários - Preleções para o Estudo do Espiritismo, reunindo aulas semanais proferidas pelo escritor baiano Deolindo Amorim (1906-1984), no Centro Espírita 18 de Abril, fundado por ele, em 1946, do qual foi seu primeiro presidente. São cinco cadernos abrangendo os seguintes temas:
Caderno 1: Deus, Matéria, Origem das Coisas, Criação do Universo;
Caderno 2: Noções de História da Filosofia, Princípios Gerais do Espiritismo;
Caderno 3: Fenomenologia, Doutrina (Noções Gerais, Posição do Espiritismo na escala dos conhecimentos, Relações entre o Espiritismo e outros ramos do conhecimento, Noções relativas à parte histórica do Espiritismo, Estudos Complementares);
Caderno 4: Didática Espírita, Mentalidade Espírita, Conhecimento empírico e conhecimento metódico, Etapas do Conhecimento, Atualidade da Codificação de Allan Kardec, Caráter da Doutrina Espírita;
Caderno 5: Origem, Plano e Conteúdo do Livro dos Espíritos, Relações do Livro dos Espíritos com as outras obras da Codificação do Espiritismo, Unidade da Doutrina, Leituras, Estudos Complementares, Literatura.
Estilo Professoral
Krishnamurti de Carvalho Dias, recém-desencarnado, que foi vice-presidente do Instituto de Cultura Espírita do Brasil, também fundado por Deolindo, assim se pronunciou-se sobre o seu estilo de ministrar aulas: “A Tribuna do Movimento modificou-se sensivelmente sob a pressão do seu exemplo: em lugar da oratória nos moldes convencionais, que se arrimava em padrões de eloqüência, ora ao figurino sacro, ora ao estilo parlamentar, de comemorativos sociais etc., Deolindo inaugurou um estilo muito seu, que fez escola e difundiu-se. As aulas de Espiritismo. Ouvindo-o tinha-se a impressão de ter voltado aos tempos escolares, o ambiente do Centro convertia-se numa sala de aula. Era um estilo professoral, comedido, pausado, didático, sem arroubos, mas que transmitia com segurança, que é o que importa. Era o que projetava aonde quer que fosse. Não era propriamente o orador mas o professor, o mestre, pontificava como se estivesse à frente de uma classe, lecionando.” (in Deolindo Amorim, Sua Vida, Sua Obra. Autores Diversos. Ed. CELD/ICEB, 1999)
Eis algumas ponderações, extraídas do livro, deste que foi um dos maiores pensadores espíritas do Século 20: “O estudo da História da Filosofia é necessário à cultura espírita para que se possa ver a posição do Espiritismo em face das escolas e doutrinas filosóficas.” (p. 28)
“O Espiritismo tem os seguintes princípios básicos: imortalidade da alma, reencarnação, existência de Deus. Pelo enunciado destes princípios, qualquer pessoa que não conheça o Espiritismo já sabe que está lidando, ou vai lidar, com uma doutrina imortalista, reencarnacionista e deísta. Tem-se aí a idéia geral da Doutrina.” (p. 29)
“Muita gente, como já dissemos, supõe que o Espiritismo é apenas fenômeno, é “conversar com os mortos”... Se os estudiosos em geral conhecessem o conteúdo moral e filosófico do Espiritismo, compreenderiam a conexão de certos postulados do Espiritismo (parte doutrinária) com os postulados da Sociologia.” (p. 61)
“Há muita gente que estuda e conhece o Espiritismo e nem por isso tem mentalidade espírita. Assim como se encontram pessoas que acreditam no Espiritismo e têm mentalidade católica, porque ainda falam em castigo do céu, ainda aceitam o pecado original, ainda têm medo de Deus, também se encontram pessoas, que embora se digam espíritas, porque acreditam nos fenômenos, ainda têm mentalidade materialista, porque vivem, exclusivamente, em função dos interesses materiais...” (p. 79)
“O homem que duvida, mas duvida honestamente, porque deseja, sobretudo, a Verdade, merece o nosso respeito. Nem todos podem entrar no Espiritismo pela via racional ou pela via sentimental: é necessário que outros se convençam pelos fatos, pelas provas diretas. E tudo isto carece de tempo. Não devemos, nunca, menosprezar a atitude daqueles que buscam o fenômeno com o desejo de firmar convicção. Antes começar duvidando, porque, às vezes, a dúvida é necessária, do que começar acreditando em tudo e, depois, tornar-se fanático.” (p. 87)
“É certo, é indiscutível que, depois da Codificação de Allan Kardec, o Espiritismo recebeu muitos enriquecimentos, muitas contribuições apreciáveis, e é natural que assim seja, porque, se tal não acontecesse, a Doutrina ficaria parada, sem evolução. Acontece, porém, que esses enriquecimentos e essas contribuições não invalidaram as bases da Codificação. Muitos problemas, que estão sendo, hoje, apresentados como novidade, porque trazem roupagem nova, já foram discutidos e interpretados na obra de Kardec.” (p. 97)
Os Cadernos Doutrinários são uma opção para os que desejam iniciar estudos sérios de Espiritismo, discutir e compreender os seus princípios. Para quem se interessar por esta obra segue o endereço da editora: R. do Salete, 179 - CEP: 40.070-200 – Salvador-BA - fone: (02171-328-2031). E-mail: circulus@svn.com.br

Manter o Equilíbrio

O país vive um momento delicado, principalmente com o grande desemprego e a violência. Segundo as versões oficiais, tudo decorreu de várias crises internacionais, que mostraram a fragilidade da estrutura financeira do Brasil.
Embora seja uma das 10 maiores economias do mundo, todos, sem exceção, concordam que a distribuição da renda é injusta e que uma grande parte da população vive abaixo do nível da miséria.
Diagnosticada a situação, variam as soluções.
Os opositores do governo aproveitam-se das circunstâncias e lançam contínuas manifestações populares para desestabilizar o governo e derrubar o presidente da República, eleito pela população, numa versão de golpe de Estado populista.
O pessimismo e as articulações políticas produzem nas mentes desavisadas um ciclo de pessimismo e isso é estímulo para atitudes negativas, gerando agressões e destemperos.
Devemos analisar os fatos e manter o equilíbrio possível. O Espiritismo tem um compromisso com a democracia e repudia golpes, ditaduras e atitudes prepotentes.
Não devemos menosprezar o valor do pensamento e evitar entrar nas ondas negativas, nos discursos demagógicos, sempre aproveitando-se dos momentos de inquietação para lançar dúvidas e provocar reações tempestuosas.
É preciso que mantenhamos nosso pensamento equilibrado, não contribuindo para piorar o ambiente mental. Em princípio, devemos confiar na democracia e na manutenção dos poderes constituídos.
Certamente cada um tem o direito de manifestar sua insatisfação e exigir soluções. Mas não traz benefício algum para o país a baderna, a agitação e a manutenção de slogans anti-democráticos, que são as armas da perturbação.
O pensamento equilibrado e a cautela são também instrumentos para ajudar a sair da crise, na medida em que diminuem as pressões e os desequilíbrios, que acabam por atingir os que detém a difícil tarefa de governar. Certamente, isso por si, não resolve a crise. Mas não podemos desprezar a importância de um clima menos depressivo, a fim de que os responsáveis tenham condições mentais para o encaminhamento da solução dos problemas.

Fato e Comentário
Genoma e Espírito

Em artigo publicado no jornal O Estado de São Paulo, Gary Stix, um dos editores da revista Scientific American, analisa os resultados de divulgação do mapa do genoma humano, anunciado este mês.
Segundo os cientistas, o número estimado de genes é de 30 mil, um terço do que era previsto. E além do mais, segundo o autor, “Albert Einstein tinha apenas 1% mais genes do que um rato e 50% mais do que um nematódio, uma lombriga.” E adiante ele escreve “é preciso algo mais para explicar por que uma espécie elabora uma teoria geral da relatividade, enquanto, para outra espécie , o ápice da realização é escavar um labirinto de túneis por baixo da terra. A resposta imediata para essa charada é a seguinte: - “São as proteínas, seu tolo”...Por fim ele conclui: “Nós sempre teremos a capacidade do bem e do mal, do altruísmo e ou da apatia, do chocolate ou da baunilha e termina citando Robert Elliot Pollack “Estamos presos à liberdade. Não podemos expulsá-la do genoma”.
As pesquisas sobre o genoma mostram que o número de genes não elucida a diferença entre o rato e o homem. A diferença está na natureza espiritual. O homem é um Espírito.

Cartas Abertas
Calmo, pensador emérito, alegre...

Abertura foi muito feliz na publicação, em dezembro de 2000, do trabalho do sr. Jaci Regis, intitulado “Deolindo Amorim, o filósofo e didata do Espiritismo.” Fui discípulo (de 1857 a 1984) e amigo (e sou) de Deolindo e avalizo este trabalho: filósofo, e que filósofo! Dos melhores no Espiritismo, de todos séculos, tanto que pertencia à Sociedade Brasileira de Filosofia, onde ocupava a cadeira nº 8, cujo patrono, por escolha deste saudoso escritor baiano, era um dos seus escritores preferidos, o renomado pensador Léon Denis “o insigne poeta-filósofo do Espiritismo.
E didata, e mais que didata! No meu entendimento, justamente por essa característica: Um dos melhores, porque não dizer, o que mais me agradou, expositor espírita que conheci. Deolindo Amorim, a meu ver, senta-se na primeira fileira dos escritores espíritas de todos os tempos, logo, inclusive no século 20, obviamente.
Certa vez, em visita à minha residência, lembro-me bem e eu guardei essa sua preferência, que me animou ainda mais a segui-la, ele me disse que procurava o “estilo didático”na sua atuação como espírita. E nosso arguto Jaci Regis identificou-a, no profícuo seguidor, em terras brasileiras de Allan Kardec, que foi um grande didata, discípulo de Pestalozzi.
Deolindo Amorim e quanto mais se falar dele melhor, o maior autodidata que conheci, tinha fome de saber, foi um exemplo a seguir. Eu, confesso, jamais o vi “escorregar” doutrinariamente; calmo, pensador emérito, alegre. Que saudades! Vale a pena para nossas reflexões chamarmos Deolindo: “(...) Devemos ser espírita pela doutrina, sempre pela doutrina, acima das instituições e dos homens.
Fraternalmente,
Luiz Damasceno Lemos - Rio de Janeiro-RJ

Radiografia da Deturpação do Espiritismo

A deturpação do Espiritismo começou logo que ele se instalou no Brasil. Os primeiros espíritas não tiveram estrutura mental e emocional para absorver o pensamento de Allan Kardec. Derivaram para o evangelismo, atendendo às próprias tendências: fruto do roustainguismo.
O movimento espírita engatinhou pelo menos 50 anos até que veio o “boom” de Chico Xavier. Desde então verificou-se que o roustainguismo estava visceralmente infiltrado no pensamento espírita brasileiro, influenciado por Bezerra de Menezes e seus parceiros, com a fundação da Federação Espírita Brasileira.
Isso porque Emmanuel, guia de Chico Xavier, só fez acentuar esse desvio fundando oficialmente a religião espírita e referendando a cristolatria inaugurada pelo Anjo Ismael. Ambos afirmaram, como Espíritos Superiores, que o Espiritismo tem por missão restaurar o evangelho e como tal existe entre ele e as igrejas cristãs um laço muito forte, mesmo que estas o rejeitem.
Esse afastamento da real estrutura do Espiritismo Kardecista originou uma sub doutrina espírita, um pseudo-Espiritismo, cujos alicerces repousam claramente nas idéias de Roustaing, Emmanuel e outros ligados ao cristianismo. Tornou-se aceito porque os dirigentes espíritas de todos os níveis, em sua esmagadora maioria, desconhecem o pensamento de Allan Kardec. Oriundos do catolicismo sentem-se “em casa” com essa derivação evangélico-mediúnica a que se reduziu o projeto inicial do fundador do Espiritismo.
A imagem do Espiritismo brasileiro é religiosa, confundida com a umbanda e cultos afro-católicos. Todo o esquema de atuação está assentado sobre os pressupostos do catolicismo, isto é, culpa e castigo e esse é o pensamento central desse pseudo-Espiritismo. Além de Roustaing, outros personagens entram nessa história: Emmanuel (Chico Xavier) Joanna de Angelis ( Divaldo Franco), Edgard Armond e até Pietro Ubaldi, bem como outros que nada têm com o pensamento de Kardec. Aliás, ele é o grande excluído.
Existe um grupo de espíritas que se autodenomina de “autênticos kardecistas” e que se esmera num ferrenho combate à Federação Espírita Brasileira e ao roustainguismo, centrados no detalhe absolutamente desprezível do corpo fluídico de Jesus. No dizer de Krishnamurti de Carvalho Dias, esse é o “boi de piranha” que possibilita a entrada de conceitos contrários à grande contribuição kardecista, que é a imortalidade, a lei da evolução, progressiva e contínua.
Entretanto, esse grupo “autêntico”, curiosamente, aceita o aspecto religioso do Espiritismo e de certa forma a cristolatria roustainguista ao apoiar-se nas teses de Emmanuel sobre a evolução em linha reta e o papel de “governador” do planeta atribuído ao Cristo, quando nada disso pode ser autenticamente encontrado no pensamento genuíno de Kardec.
Enfim, os combates margeiam o político e o imaginário, pois esses tais de “espíritas autênticos” continuam acreditando que Kardec foi apenas o codificador e não o fundador do Espiritismo. E ainda continuam atrás do mito cristão do salvador e do mito judaico do messias.
Não aprenderam a lição histórica da evolução geral e do sentido progressista de Kardec. Apegam-se ao aspecto místico da revelação sobrenatural, na chefia mítica de Jesus Cristo, como “o Espírito da Verdade” e daí por diante.
Há mais de 30 anos estamos lutando, muitas vezes solitariamente, pela instalação da doutrina kardecista, única forma de salvar o Espiritismo fundado por Allan Kardec de naufragar. Porque o Espiritismo que se pratica e se propaga no Brasil, de modo geral, não foi fundado e nem codificador por Kardec.
Pela Internet
Os debates na Internet, através das listas espíritas, às vezes trazem interessantes contribuições para a reflexão dos participantes do Espiritismo. Reproduziremos as opiniões que foram expostas sobre a evangelização e o roustainguismo.
A divulgação da realização de um Curso para Evangelizadores, em Araras-SP, provocou a intervenção de vários espíritas.

Carlos de Brito Imbassahy
Sexta-feira, 5 de Janeiro de 2001.

O conceito de Evangelizador espírita foi introduzido em nosso meio pela Federação Espírita Brasileira (FEB) com o único intuito de difundir Roustaing e “seus quatro evangelhos” inteiramente contrários à posição de Kardec.
A figura do evangelizador nunca foi idealizada por Kardec em nenhum momento, nem mesmo em seu terceiro livro da Codificação que trata dos textos em tela, ele jamais admitiu a sua existência.
Além disso, esta obra não é um panegírico dos livros bíblicos contidos em O Novo Testamento.
Pelo contrário, é um ensaio e crítica do mesmo, chegando a ponto de condenar alguns de seus textos.
Leiamos, por exemplo, o que Kardec diz no cap. XIV do ESE, no item 6, ao fim (tradução da FEB 105ª ed., pg 247), sabendo-se que não é a melhor versão do texto original. Assim mesmo, leiamos, referindo-se a Jesus:
Se certas proposições suas se acham em contradição com aquele princípio básico, é que as palavras que se lhe atribuem foram ou mal reproduzidas ou mal compreendidas, ou não são suas.
Ora, portanto, Kardec não endossa plenamente os evangelhos e, como tal, não poderia adotar o evangelizador cujo único fito, atualmente, é o de tumultuar a divulgação doutrinária em detrimento dos verdadeiros ensinamentos do codificador.
E nem podemos dizer que seja para pregar a moral cristã em nossa meio porque ela fere formalmente os conceitos básicos do Espiritismo.
Senão vejamos:
Segundo os evangelhos cristãos, o que salva a criatura é crer em Jesus, aceitá-lo, mesmo que seja no momento agônico, independente de seus atos de vida. Este terá o lado de Deus no julgamento final, mesmo que tenha tido uma vida de crimes e falsidades. Já aquele que não teve essa oportunidade, estará condenado às penas eternas, independente de ter sido uma boa pessoa e só cometido atos bons.
Outro ponto evangélico controverso e que fere frontalmente o Espiritismo é não aceitar a reencarnação, em hipótese nenhuma nem admitir que nos comuniquemos mediunicamente com os desencarnados.
Poderíamos arrolar uma lista enorme de choques existentes entre os evangelhos e o Espiritismo, mas bastas os dois fundamentais, o primeiro, onde, para a doutrina dos Espíritos, que prega a reforma íntima e o segundo que nos reencarnamos para resgatar nossos débitos cumprindo a lei do equilíbrio universal (a toda ação corresponde uma reação igual e contrária) que, no caso, é o assim como fizeres, assim achareis.
Por outro lado, se analisarmos a obra inteira de Kardec, inclusive o ESE, não vamos encontrar, em lugar nenhuma, sua recomendação que se evangelize o seguidor dos ensinamentos dos Espíritos.
Está na hora de darmos um basta ao igrejismo em nosso meio e abolir as instituições estabelecidas pela FEB com o intuito de difundir Roustaing.

Milton Rubens Medran Moreira

Querido Imbassahy:
A partir do mote “evangelização”, você toca, com o brilho que lhe é característico, num dos pontos mais delicados que precisamos enfrentar agora, quando cresce a consciência de que é hora de precisarmos o que é e o que não é Espiritismo. E aí precisamos ter coragem de dizer que o Espiritismo não é cristão e não é evangélico, porque há, como muito bem você salientou, pontos que são essenciais do cristianismo (enquanto visão de Deus, de homem e de mundo), que são absolutamente inconciliáveis com a filosofia espírita. Você citou alguns que oferecem argumentos irretorquíveis Além de cumprimentá-lo pela bela síntese, gostaria de lhe pedir autorização para publicá-lo em “Opinião” e “Cepa Brasil”.
Um grande abraço.
Carlos de Brito Imbassahy

Meu caro Milton.
Um outro grande inimigo do Espiritismo é o grupo dos jesuítas, no caso, representado por Emmanuel, através do médium Chico Xavier, corroborado por uma irmã de caridade que se subscreve como “Joana de Ângelis”, através do Divaldo, e que tentam, a todo pano, transformar a codificação em mais uma seita evangélica.
Por sinal, como dizia Guerra Junqueiro em versos alexandrinos, no seu famoso “calembour”:

Ó jesuítas, vós sois dum faro tam astuto,
Tendes tal corrupção e tal velhacaria
Que é incrível, até, que o filho de Maria
Não seja inda velhaco e nem inda corrupto
Andando ha tanto tempo em tam má companhia!
Pois Emmanuel foi um deles, expulso do Brasil pelo marquês do Pombal ante os males causados pela sua Ordem Católica.
E os espíritas estão caindo na esparrela por um simples motivo: massificação da Igreja sobre a mentalidade dos nossos cidadãos.
Está na hora de separarmos os verdadeiros espíritas dos espiritólicos, ou seja, dos que continuam sendo católicos.
Você tem toda permissão de usar minhas idéias onde quer que seja. Eu sustento o que afirmo, em qualquer situação.
Aquele abraço amigo.

Jaci Regis
12 de Janeiro de 2001.

Sobre o debate sobre evangelização, muito bem colocado pelo Carlos de Brito Imbasahy, lembro que em 1978 lançamos a Espiritização como forma de afirmação do pensamento espírita. Fomos naturalmente muito combatidos e somos ainda. Fico feliz porque alguns segmentos, bem poucos é verdade, se insurgem contra o catolicismo roustainguista e do domínio de Emmanuel e Divaldo Franco sobre a massa de pseudo-espíritas, acobertados pelo manto do misticismo. Os que Imbassahy chama de espiritólicos e espíritas-cristãos, ficam sempre alegres quando um padre afaga o Espiritismo ou quando participam de cultos ecumênicos, em nome de uma doutrina que não tem culto. Penso se o Espiritismo tem cura

Ademar Arthur Chioro dos Reis

Jaci,
Estive pensando, ao ler essa sua mensagem, se não seria interessante você agregar uma sessão ao Abertura que inclua artigos anteriormente publicados no EU (Espiritismo e Unificação) e que permitisse resgatar o processo histórico de construção desta visão ética do movimento que compartilhamos.
Não sei se deveria obedecer a algum critério cronológico, mas, com certeza, poderia iniciar resgatando a proposta de espiritização (a maioria das pessoas que estão conosco na CEPA - brasileiras ou não , desconhecem toda essa história e sua importância).

Aureci Figueiredo Martins
Evangelização versus Educação

Prezados co-idealistas espíritas.
Li com agrado o texto acima, pois cada vez mais cresce em mim o desconforto ao falar de evangelização no movimento espírita, porque esta palavra está comprometida com o processo autocrático (catequético) de imposição de dogmas pelo cristianismo histórico que, como é óbvio, muito pouco tem a ver com a lídima mensagem do meigo Rabi da Galiléia, pois — como sucessor do Império Romano — moveu-se, e move-se ainda hoje, sedento de poder e de dominaação das consciências imaturas.
Já é hora de nós, espíritas, abandonarmos certos atavismos dogmáticos, inculcados em nossas mentes ingênuas pelos autoproclamados “representantes de Deus” pelo método da repetição sistemática, ao longo dos séculos passados. Estes resíduos de uma hipnose obsidente e profunda, que ainda persistem em nossos mais profundos refolhos mentais, nos levam a confundir a mensagem crística de amor à verdade com mentiras enfeitadas que nada tem a ver com Jesus.
Por que insistirmos com palavras que não expressam corretamente o que pensamos, com o que queremos dizer?
Li, portanto, com bons olhos, a sugestão de substituirmos a palavra comprometida “evangelização” por “educação”. Afinal, não foi o de “educador” o único título reivindicado por Jesus “Vós me chamais mestre! e dizeis bem, porque eu o sou”.
Lembro, por oportuno, que a palavra grega “evangelia” significa apenas “mensagem”. Dizia-se de qualquer mensagem (boa ou má) transmitida por um “evangeliador” (mensageiro). Portanto, tinha um significado muito diferente do que a ela hoje se atribui.
Da mesma forma, o vocábulo grego “soteria”, que nos chega como “salvação”, tem o sentido literal de “libertação”. Portanto, Jesus, com sua “evangelia”, trouxe-nos um roteiro de libertação pelo conhecimento. Conhecimento que se adquire com senso crítico, com raciocínio lógico, alicerces da nossa “fé raciocinada”. Precisamos desenferrujar nossos mecanismos mentais, aprender a pensar livremente, sem sectarismos, sem pieguismos, sem misticismos, sem mitismos, sem igrejismos, sem filosofismos, sem cientificismos, sem fanatismos, sem personalismos...
Afinal, é a verdade que nos libertará, não é mesmo?

Continua no artigo "Roustaing e Pietro Ubaldi"

Roustaing e Pietro Ubaldi

Continuação do artigo "Radiografia da Deturpação do Espiritismo"

Alfredo Marcos
31 de janeiro de 2001.

Vejam aí o pensamento febiano!!!

Caro Fábio,
Enquanto que O Evangelho Segundo o Espiritismo, de Allan Kardec, atém-se ao ensino moral da Mensagem de Jesus, a obra de Roustaing é mais abrangente e, como tal, constitui valioso subsídio para a interpretação do Evangelho na sua totalidade.
Algumas contradições que possa apresentar em relação à obra de Kardec, dizem respeito a aspectos secundários e portanto não essenciais, que podem provocar discordâncias mas nunca constitui motivo de conflito de idéias que levam à desunião no âmbito do movimento espírita. A exata compreensão de algumas passagens do Evangelho, que possam parecer ainda pouco claras para nós, certamente virá com o estudo continuado e o progresso espiritual decorrente da inevitável renovação íntima de cada criatura.
A posição da FEB a respeito da obra de Roustaing acha-se resumida no artigo “Diante da Insensatez”, de Juvanir Borges de Souza, publicado em Reformador, de Fevereiro de 1996, p. 37. Ver também, do mesmo autor “Alerta ao Movimento Espírita”, em Reformador, de Janeiro de 1998, p. 7 e seguintes.

Fraternalmente,
Federação Espírita Brasileira
Presidência

Jaci Regis
7 de fevereiro de 2001.

O problema todo está na inclusão da exegese evangélica no Espiritismo.
Kardec limitou-se no Evangelho a usar alguns trechos em abono às teses espíritas. O roustainguismo é que inundou o movimento espírita dessa desnecessária subordinação ao evangelho como o único corpo de verdade. Basta o que Kardec colheu e bastam as Leis Morais. O resto só deu no que deu. Um evangelismo obtuso, um alinhamento à igreja e o desvirtuamento do pensamento kardecista.

Fábio Campos
8 de fevereiro de 2001.

Mais do que isto, Kardec analisou tais textos, e, de antemão, deixa clara sua dúvida quanto a veracidade dos mesmos, o problema surgiu quando alguns espíritas quiseram converter esse livro numa suposta Bíblia Espírita! Ai encontraram em Roustaing tudo o que pediam a Deus!!!! E pra ajudar, temos a figura de Bezerra de Menezes como introdutor desse pensamento...fazendo com que milhares de seus seguidores abracem o ideal roustainguista sem ao menos saber!!!!!!
Ocorre uma completa estagnação mental nos centros espíritas, uma inundação de “psicografias” de cunho igrejeiro, exortando Maria Santíssima, e outros ícones do Catolicismo, o estudo resume-se a uma verdadeira lavagem cerebral como a proposta pelo curso de Aprendizes do Evangelho estruturado pelo Comandante Edgard Armond, enfim, o cenário espírita brasileiro necessita acordar e perceber onde já quase estamos chegando: na criação da Religião Espírita...será que é isso que queremos?

Carlos de Brito Imbassahy

Para Federação Espírita Brasileira (feb@febrasil. org.br); Assunto: Roustaingismo - Para Juvanir de Souza.
14 de fevereiro de 2001.
Meu caro Juvanir Borges de Souza,

Todos nós, que abraçamos o Espiritismo, temos um dever importante perante a Espiritualidade no que concerne à sua divulgação, pureza e fidelidade.
Como o distinto amigo sabe, nos arquivos pessoais de Kardec, segundo eu e outros amigos vimos, mostrados pelo Dr. Canuto Abreu, há uma carta do nosso codificador dirigida a Jean Baptiste Roustaing acusando-o de ser instrumento da disseminação de discórdias através de difusão de idéias contrárias à nossa doutrina.
Somos responsáveis, como espíritas militantes, pela pureza doutrinária e aquele que servir de instrumento para dilapidar os fundamentos espíritas, responderão perante a Espiritualidade por suas atitudes neste campo.
É claro que o docetismo só teve projeção em nosso meio com o único fito de minar nossa doutrina, criar áreas de atrito e de discordâncias, disseminar a cizânia em nosso meio ou, no mínimo, transformar nossa doutrina em mais uma seita evangélica, desconfigurando-a de sua finalidade.
Todos aqueles que estão abraçando os conceitos roustainguistas responderão por essa atitude, sem dúvida, contra o progresso do Espiritismo, tentando descaracterizá-lo.
Se os roustainguistas tomassem a digna atitude de assumirem a responsabilidade da sua doutrina, completamente fora do que Kardec pregou, evidentemente, estariam defendendo idéias próprias e independentes. Mas, tentar denegrir o Espiritismo como se as suas verdades fossem docetistas, aí, teremos que reconhecer que o intuito não é o de defender idéias próprias, senão, o de tumultuar o movimento doutrinário espírita.
Está na hora de separarmos o joio do trigo.
Não me leve a mal, mas acho que é de minha responsabilidade alertá-lo para o fato de que responderão todos pelos seus atos, não no Juízo Final, mas perante suas próprias consciências, pelo que fizeram com o fito de deturpar a doutrina que Kardec codificou.
Com todo o respeito
USE Diz Que é Kardequiana
O dr. Ary Lex enviou carta à USE –União das Sociedades Espíritas do Estado de São Paulo, criticando a posição da entidade com respeito à questão roustainguista e afirmando que “de repente, há alguns anos, os atuais dirigentes da USE passam a apoiar e FEB integralmente, passam a paparicá-la. Não é possível entender esse “namoro”. Terminando por declarar que. “Esta não é a ÜSE que conheci há 53 anos e que ajudei a fundar. Será que a “mosca azul” picou alguns de seus dirigentes?” (trechos publicados no jornal “Dirigente Espírita”)
O Conselho Deliberativo Estadual respondeu, reafirmando que a USE está “calcada na Codificação Kardequiana”. Ratificando os itens 13 a 15 da Plataforma de Trabalho aprovado em 1982 apresentado por Antonio Schiliró, presidente da Diretoria Executiva da entidade, na época. O jornal Dirigente Espírita publicou, na edição de janeiro/fevereiro de 2001, comunicado sob o título :CDE ratifica a orientação Kardequiana da USE, ratificando a plataforma de Schiliró.
Reproduzimos abaixo alguns trechos desse comunicado:
Item 13 – Ter presente que a USE tem suas atividades calcadas apenas e tão somente na Codificação Kardequiana, não a identificando com a teoria de Roustaing. De acordo com o artigo 63 (73 do Estatuto vigente) de seu Estatuto, “a USE veda em seus órgãos, nas suas dependências, na sua esfera da ação ou em seu nome o ataque a qualquer religião, crença ou doutrina, ressalvada a liberdade de crítica construtiva e de defesa em linguagem respeitosa. Considera, todavia, que a aceitação ou não da teoria de Roustaing ou de outras nunca adotada pela USE em suas atividades, uma questão de foro íntimo, absolutamente respeitável, cabendo a cada qual sua opções..
Item 15 – Continuar colaborando com todas as demais entidades federativas espíritas estaduais que integram o Conselho Federativo Nacional da FEB, constituido no histórico denominado “Pacto Áureo” de 5 de outubro de 1949, participando de todas as atividades desse Conselho, fortalecendo-o e prestigiando-o, como órgão da Federação Espírita Brasileira, dentro dos princípios de autonomia e independência previstos noa artigo 7º de seu Regulamento e Regimento.
Pietro Ubaldi e o Espiritismo
Gélio Lacerda da Silva (Vila Velha-ES) distribuiu alentado trabalho sobre a infiltração ubaldista no Espiritismo. Transcrevemos alguns trechos desse trabalho, criticando sobretudo a queda dos anjos na teoria de Ubaldi:
A exemplo do roustainguismo febeano, a filosofia ubaldista convive com os espíritas numa intimidade como se fosse membro da família. Ubaldi é outro contestador do Espiritismo e que, no entanto, assegura a venda dos seus livros antidoutrinários em nossas livrarias, com suporte de sua propaganda nos jornais espíritas.
À falta de campanha esclarecedora das distorções doutrinárias contidas nos livros de Pietro Ubaldi e, repetimos, nos que divulgam o roustainguismo da Federação Espírita Brasileira, são os espíritas autênticos, kardecistas, que adquirem esses livros, garantindo sua sobrevivência, afirma Gélio.
Em virtude do espaço, sintetizamos as críticas de Gélio Lacerda ao pensamento ubaldista:
1. Queda dos Anjos – se não fora a possibilidade de os “anjos decaídos”se redimirem através das múltiplas encarnações, a tese ubaldista não se diferenciaria da ideologia das igrejas cristãs.
2. Reencarnação – o sistema ubaldista contesta também o princípio espírita da reencarnação, admitindo-o somente se se aceitar a teoria da queda dos anjos . “Se aceitamos a criação apenas progressiva , é necessário abandonar o conceito da reencarnação”diz Ubaldi.
3. Os livros de Pietro Ubaldi, afirma Gélio, se destinam ao público católico por levar-lhe a mensagem da reencarnação, instrumento de redenção dos seus anjos decaídos. Prestigiá-los nos meios espiritas, a exemplo dos livros roustainguistas febeanos, é alimentar dois lobos verozes que tentam a todo custo destruir Kardec e, consequentemente, expor o Espiritismo ao ridículo, desacreditando-o diante dos seus críticos sérios e judiciosos. Esses livros na seara espírita, só provocam polêmicas doutrinárias e a queima de muitos e muitos cartuchos para, pelo menos, deter o avanço de sua ação demolidora.