Da Redação - Dezembro de 2001

2001: Um Balanço Positivo

O ano de 2001, que agora chega ao fim, foi bastante positivo para o movimento kardecista, especialmente para a Confederação Espírita Pan-Americana (CEPA) e o Instituto Cultural Kardecista de Santos (ICKS). Leia a seguir um balanço resumido das atividades realizadas ao longo deste ano.
ENCOESP – No início do ano o ICKS esteve presente ao Encoesp promovido pela USE, em São Paulo, onde além do estande montado com livros editados pela Licespe, nosso diretor fez palestra muito bem freqüentada.
CEPA – No mesmo evento, a Confederação montou um belo estande, marcando sua presença e vendendo um livro com teses do XVII Congresso Espírita Pan-Americano, realizado em 2000, em Porto Alegre-RS. O presidente Milton Medran, Ademar Arthur Reis e Reinaldo Di Lucia também fizeram palestras.
ABERTURA – Foi publicado regularmente com boa repercussão, mas com um quadro de assinantes ainda bastante reduzido para seus objetivos de divulgar o pensamento kardecista.
57º ANIVERSARIO DO CE ALLAN KARDEC (SANTOS) – As comemorações do 57º aniversário do CE Allan Kardec marcaram um grande momento, ao homenagear Krishnamurti de Carvalho Dias, o espírita de grande tirocínio e pesquisador inteligente. A vida de Krishnamurti, cheia de altos e baixos, foi marcada pelo seu empenho em divulgar corretamente a obra de Kardec.
INAUGURAÇÃO DO EDIFÍCIO “JACI REGIS” – Dia 15 de setembro tivemos a inauguração do Edifício “Jaci Regis“, obra do Lar Veneranda (Av. Francisco Glicério, 261 - Santos) que abrigará um trabalho de ensino profissional para adolescentes e é a sede do ICKS.
REUNIÕES SEMANAIS DO ICKS – No dia 28 de setembro O ICKS iniciou suas atividades doutrinárias em sua sede. Desde então as reuniões semanais têm tido o comparecimento de um público bem razoável, geralmente novo.
VII SIMPÓSIO BRASILEIRO DO PENSAMENTO ESPÍRITA – De 11 a 14 de outubro tivemos o VII SBPE, mais uma vez realizado em Cajamar-SP. O simpósio teve grande êxito, ao qual compareceram cerca de 118 pessoas, com produção de trabalhos de muito bom nível. Foi lançado também os Anais do VII SBPE.
CONFERÊNCIA REGIONAL ESPÍRITA DA CEPA – Durante o VII SBPE foi lançada a campanha da XIV Conferência Regional Espírita da CEPA, a ser realizada na cidade de São Paulo, em novembro de 2002.
50 anos DO CEB ÂNGELO PRADO – Foi comemorado em 15 de novembro com palestras e atividades artísticas.
EXPOESPÍRITA2001 – De 23 a 25 de novembro os CEs Allan Kardec, Maria Emília da Motta Ferreira, Ângelo Prado, Fraternidade Espírita, Comunidade Assistencial Espírita Lar Veneranda e o ICKS realizaram no SESC-Santos, a EXPOESPÍRITA2001, com resultado gratificante, considerando o espaço cedido e as dificuldades com a publicidade, baseada, nos anos anteriores, em faixas distribuídas pela cidade e que foi agora negado.
LAR VENERANDA – Por fim, vale destacar o dinâmico programa de atividades educativas do Lar Veneranda, abrangendo uma gama de promoções que resultaram na promoção humana de crianças e mães. Além disso, deve ser destacado o empenho das voluntárias do Lar, que se empenharam em tarefas e promoções para angariar recursos, a fim de fazer frente aos gastos elevados que foram feitos com o término do Edifício “Jaci Regis”.

A Influência dos Sacerdotes

Uma análise do movimento espírita, desde o tempo de Allan Kardec, constatará a grande influência na Doutrina Espírita de sacerdotes desencarnados. Na época da codificação, Kardec recebeu mensagens de Santo Agostinho, São Vicente de Paulo e outros tantos sacerdotes de renome, publicadas principalmente em O Evangelho Segundo o Espiritismo. Isso talvez fosse inevitável porque esses Espíritos tinham grande interesse em colaborar com novas idéias. O que não significa que estivessem isentos de sua formação religiosa.
No Brasil, considerando que a mentalidade do País sempre foi católica, era natural que sacerdotes desencarnados, talvez movidos por extrema boa vontade, quisessem trazer sua contribuição, o que fizeram, certamente com as melhores das intenções. Todavia, agiram e pensaram como sacerdotes, influenciando atitudes e a visão de mundo das pessoas que dirigem os centros espíritas e as instituições federativas.
Por isso, não seria leviandade admitir que o decantado Anjo Ismael, considerado o coordenador espiritual do Espiritismo no Brasil, tenha sido, na verdade, um alto sacerdote católico. Assim como, tempos depois, apareceu um outro sacerdote, o jesuíta Manuel da Nóbrega, com o pseudônimo de Emmanuel, ambos dotados de razoável inteligência, mas ainda dentro de uma mentalidade católica que exercitaram por séculos. No caso do Espírito Emmanuel, basta ver seus romances aubiográficos, onde diversas vezes aparece vinculado ao catolicismo, seja como crente fiel ou sacerdote.
É notório que esses sacerdotes não tinham conhecimento do pensamento de Allan Kardec e valeram-se da mediunidade para ditar doutrinas pessoais, interpretando os postulados espíritas dentro de sua ótica religiosa. Isso resultou num Espiritismo alheio ao pensamento kardecista, transformando-o numa seita religiosa, sem uma identidade precisa.
Seja como for, não é sem sentido pensar que sacerdotes dominaram o cenário e estejam presentes no movimento, como o Espírito Joana de Angelis, que também teria sido uma freira.
Dentro do quadro de revisão do movimento espírita, esse fato precisa ser considerado.

Fato e Comentário
Palmas para a Ignorância

Comenta-se que muitos dirigentes de centros espíritas rejeitam o estudo porque o que importa é a caridade, o que importa é fazer o bem. Saber, compreender, pesquisar é desperdício, enquanto milhares passam fome, são estropiados e excluídos.
No entanto, essa forma de pensar não é do passado, está presente nos meios espíritas cristãos: onde o saber é elitismo e o limite está na ignorância da maioria.
Em artigo publicado em uma revista espírita, um articulista declara que inteligência demais atrapalha. Desaprova com veemência a ciência e a filosofia e cobra do movimento espírita condições financeiras para que os pobres possam participar de simpósios e congressos sem pagar nada.
Na verdade, não sabemos se esses “pobres” são festejados porque se constituem em instrumento da caridade ou se têm mesmo desejo de discutir, pensar e debater. Coisa que o autor, que certamente não é pobre, não parece disposto.
Espiritismo é doutrina de pensamento e reestrutura de conceitos. Fazê-lo sem exercitar a razão, sem pesquisar e sem debater é impossível.
Certamente para o autor e tantos outros, tudo isso é dispensável, porque é preciso tempo para os pobres e, depois, do “alto”, através da mediunidade, tudo já vem pronto, é só usar, como se faz com certos produtos comestíveis que já vêm preparados e é só esquentar para comer.

A Ética e a Imprensa Espírita

A ética é a ciência do bem viver, parte da filosofia que estuda a moral, os costumes. Ao adquirir uma certa independência, um status de disciplina, pode ser vista quase como uma ciência autônoma, a axiologia, que se conceitua como uma teoria crítica de valores, de normas, princípios morais.
A ética é aplicável em todos os domínios da cultura, no nível profissional, na postura diante das relações sociais, em todas as relações inter-pessoais.
Em relação à imprensa espírita, a ética é de fundamental importância. Sem uma postura ética fundamentada na filosofia kardecista não é possível produzir um jornalismo que seja doutrinariamente apropriado, que possa ser chamado de espírita. Qualquer meio de comunicação de massa voltado para a divulgação espírita necessita estar mergulhado nos valores kardecistas.
A fim de despertar o debate em torno do tema, colocaremos algumas questões para reflexão:
1. O jornalismo é, sobretudo, uma forma de comunicação social. Seu objetivo é informar e, portanto, fazer as pessoas pensarem sobre os fatos. E como forma de comunicação, nunca se pode perder de vista que nesse processo há o emissor e o receptor. O receptor é o leitor. O leitor é a razão de ser do jornalismo, inclusive do chamado jornalismo espírita. O sensacionalismo, a exploração de fatos escabrosos, inconvenientes, que atinjam a integridade social e pessoal é execrável.
2. O leitor deve ser respeitado em sua integridade moral e intelectual. As informações e opiniões, além de serem críticas e conduzirem a um processo de esclarecimento, têm de se pautar pela verdade, não no sentido filosófico, teológico, mas como informação fiel aos fatos, não-mentirosa, verossímil, provável.
3. Nada há para o Espiritismo que não possa ser abordado, pois um princípio ético que aprendemos com Allan Kardec é o da liberdade de consciência. A censura ideológica não faz parte de uma ética fundamentada no Espiritismo.
4. O jornalismo, seja ele de qual natureza for, deve estar a serviço do processo de autoconhecimento, de reflexão. O jornalismo fundamentado no Espiritismo deve fazer as pessoas refletirem e conduzi-las ao ato de pensar. Ele nunca deverá ser doutrinante, sectário, impositivo.
5. Kardec fundou a imprensa espírita ao lançar a Revista Espírita, em 1858. Ele foi o primeiro jornalista espírita. A exemplo de outras correntes de pensamento, se utilizou dos meios de comunicação para divulgar o Espiritismo à sociedade. O referencial ético-espírita de uso da mídia começa com Kardec. (EL)

Chico Xavier no Traço dos Caricaturistas

A caricatura é uma forma de comunicação visual que procura acentuar aspectos formais de algum objeto, notadamente pessoas. Tem a ver com a sátira, o arremedo, o lado burlesco da realidade. Quase sempre o artista apela para a deformação, o exagero de determinada característica fisica. Personalidades célebres, políticos e artistas quase sempre são “vítimas” dos caricaturistas. O médium mineiro Chico Xavier, personalidade de grande destaque no meio social, como médium, espírita e pessoa humana que é, não poderia escapar ileso desses artistas que tentam tornar a nossa vida mais alegre, menos séria, menos amarga. Essas quatro caricaturas que reproduzimos, foram premiadas no 28º Salão Internacional de Humor de Piracicaba, realizado de 25 de agosto a 15 de outubro deste ano e publicadas no catálogo do tradicional evento organizado por artistas gráficos e ilustradores. O Salão de Humor foi criado em 1974, em pleno regime militar. Na época, se constituiu como um pólo de resistência, contestação e resistência democrática à falta de humor e de democracia.