Artigo de Eugênio Lara - Agosto de 2001

Livro e Leitura

O brasileiro não lê tanto quanto se imaginava, tem preguiça, falta-lhe o hábito, o livro é caro para a grande maioria da população. Esse quadro, revelado por uma pesquisa publicada no diário Folha de S. Paulo em 14 de julho último, mostra que o brasileiro pouco lê. Apenas 1% dos entrevistados declarou ter mais de 500 livros, 18% não possui nenhum livro e somente 20% compram livros.
Por outro lado, há um componente que não pode ser descartado. Com o advento da Internet, as pessoas vêm se comunicando através de e-mails e em chats (bate-papo on line). Nunca se escreveu tanto, afirmou em entrevista recente na tevê o escritor Mário Prata. Quem escreve lê. Trata-se, é claro, de uma leitura rápida, quase dinâmica, uma forma bem diferenciada da tradicional comunicação epistolar, através do correio.
Quem trabalha na área da comunicação, especificamente no campo de divulgação doutrinária, precisa estar atento a esse contexto. Há espaço para a produção intelectual mais arrojada, erudita, o chamado livro difícil. Mas, quando se trata de divulgar o Espiritismo em um nível mais acessível, há alguns complicadores que precisam ser considerados.
A começar pela linguagem. Há uma diferença substancial entre o texto dirigido para espíritas e aquele voltado para o leigo. São critérios diferentes. Considerando a dura realidade, o baixo nível cultural, a pouca informação, o texto ao mesmo tempo em que deve veicular a idéia espírita, também precisa dar conta de preencher a lacuna informativa, cultural. Há casos ainda mais extremos, em centros espíritas no interior do País, freqüentados por pessoas que não sabem nem ler nem escrever.
Da mesma maneira que os centros espíritas tentam suprir a falta de condições materiais, mediante o trabalho assistencial, o ensino aos carentes e aos analfabetos torna-se imprescindível a fim de que as pessoas cresçam, evoluam em termos de informação e cultura, para que possam compreender adequadamente os princípios doutrinários.
Não é função do centro espírita oferecer a educação formal, muito menos saciar a fome e as necessidades de pessoas que se encontram num nível de miserabilidade. Isso é tarefa do Estado. No entanto, não dá para ficar de braços cruzados vendo a deficiência dos programas governamentais e o estado de carência material e cultural. Mesmo não sendo sua função, o centro espírita deve entrar nessa área contanto que o estudo e a divulgação do Espiritismo não sejam prejudicados. Em primeiro lugar o Espiritismo, tudo parte daí, seja o assistencialismo mediúnico, social até o cultural, com a organização de cursos e eventos voltados para a educação popular.
Normalmente, o que se vê é o contrário dissto. Todos os recursos humanos e materiais são carreados para a “caridade”, prejudicando o estudo e a divulgação doutrinária. Pesquisa, então, nem pensar. Fazem-se sorvetadas, bingos, atividades, sempre com o objetivo de angariar recursos para a obra assistencial, enquanto que o Espiritismo acaba ficando em segundo plano. A boa intenção, louvável, obscurece o que é essencial em um centro espírita. Perde-se o sentido de tudo. A necessidade imediata dos carentes materiais e morais se sobrepõe ao grande preventivo disso tudo, que deveria ser a filosofia espírita.
Por conta disso, construímos no Brasil um grande complexo assistencial e mediúnico. Há centros que se orgulham da quantidade de pratos de sopa e de passes que são oferecidos, mas o Espiritismo... Seus dirigentes não ficam nem um pouco corados com a ausência de bibliotecas, cursos, debates, eventos culturais, de palestras didáticas, doutrinárias, sem os apelos emotivos e moralistas próprios de quem desconhece a filosofia kardecista, fixando-se no que poderíamos chamar de um “Espiritismo de resultados”, imediatista, pragmático e sem conteúdo. Mesmo sem querer, o movimento espírita acaba dando sua parcela de contribuição ao processo de alienação das pessoas, que ao invés de se sentirem dependentes dos médiuns, dos Espíritos, da esmola mediúnica e assistencial, deveriam se sentir livres para conduzirem seu próprio destino.
A liberdade começa a ser adquirida através do conhecimento, da informação. E, no caso do Espiritismo, o livro espírita ainda é o meio mais tradicional e eficaz de se conhecê-lo.